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terça-feira, 2 de maio de 2017

A VENEZUELA NO CENÁRIO: ATÉ ONDE O PATRIMONIALISMO PODE AVANÇAR?


A triste saga de corrupção, autoritarismo e violência que os nossos irmãos venezuelanos sofrem não pára de piorar. A seguirem assim as coisas, o maduro-chavismo descambará em mais uma ditadura totalitária, na trilha da que, há mais de sessenta anos, se apossou de Cuba sob a férula de ferro dos irmãos Castro e da sua revolução comunista. 

Como frisava, em artigo recente, o cientista político Bolívar Lamounier ("A Venezuela e as esquerdas brasileiras", O Estado de S. Paulo, 23/04/2017, p. A2), "Passo a passo, o legado chavista vai destruindo a Venezuela. Em vez de agir no sentido da reconciliação da sociedade, Nicolás Maduro, o sucessor de Hugo Chávez, parece querer dividi-la ainda mais. A realidade cotidiana do país é o desabastecimento generalizado e a miséria. Dias atrás os jornais estamparam uma foto de venezuelanos disputando restos de comida com urubus num aterro sanitário de Boa Vista (Roraima). A alucinação de Maduro é de tal ordem que a hipótese de uma guerra civil não pode ser descartada. Informações divulgadas na semana passada dão conta de que ele estaria disposto a recrutar e armar um milhão de milicianos para defender a soberania nacional".

Esses males de ditaduras megalomaníacas não aparecem da noite para o dia. A ditadura cubana foi o primeiro balão de oxigênio que deu fôlego ao autoritarismo chavista. Houve estreita colaboração entre o maluco coronel-presidente Chávez e o regime de Havana, a tal ponto que o ministério venezuelano que cuidava da informação e da segurança do Estado passou a funcionar na ilha caribenha "assessorado" por militares cubanos da área de informação, no contexto da estratégia da guerra revolucionária para o continente latino-americano traçada há mais de três décadas pelo Barba-roxa cubano, o amigo de Fidel, Manuel Piñeiro. 

O projeto era transformar o ensaio venezuelano numa revolução continental que teria como eixo Havana. A idéia, megalomaníaca, foi de Fidel Castro e de Chávez. Este não piscou em comprometer seriamente a soberania do seu país entregando a gestão da informação estratégica e a segurança a estrangeiros. Mais uma vez se verifica que para a esquerda messiânica a ideia de Pátria é relativa. O que importa é a grande revolução mundial dos "oprimidos" contra os "opressores". Os primeiros, sabemos a-priori quem são: os povos latino-americanos. Os segundos concentram-se nos Estados Unidos. Duas simplificações catastróficas das quais somente saem lucrando os administradores da "salvação coletiva" habilmente manipulada pelos revolucionários de plantão. Referir-me-ei logo mais, no presente comentário, a este último ponto.

Mas ainda falando do tema que mencionei no parágrafo anterior, a revolução bolivariana não surgiu do dia para a noite porque, além da ajuda cubana, houve o compromisso de regimes esquerdistas latino-americanos com o seu sucesso. 

Lembremos que, quando Chávez foi desalojado do poder na tentativa de golpe ocorrida em abril de 2002, um dos que colaboraram mais estreitamente com o coronel venezuelano, uma vez abortado o golpe, foi Lula, ao longo do seu primeiro mandato. Diante da ameaça de crise de abastecimento de petróleo (paradoxalmente sofrido pela Venezuela, grande produtora mundial, quando das medidas estatizantes da petrolífera PDVSA por Chávez), Lula colocou à disposição do colega bolivariano um navio cargueiro da Petrobrás para suprir as necessidades prementes do governo chavista. Essa foi a primeira "ajuda" do governo petista ao autocrata venezuelano. 

Na trilha dessa generosidade patrimonialista viriam outras "ajudas" como a do falido projeto da refinaria Abreu e Lima, que consumiu bilhões de reais sem que os venezuelanos aportassem (como prometeram) os fundos a que tinham se comprometido. Ora, esses bilhões não se traduziram em obras, mas em engorde das contas bancárias dos petralhas e associados. Outra "ajudinha" dos petralhas a Chávez correu por conta de uma das suas "reeleições", sendo que a campanha foi feita pelo marqueteiro de Lula.

Lula, desde o seu eterno palanque, não perdeu nunca a  oportunidade para engrandecer a figura de Chávez e a sua maluca revolução caribenha, afirmando que o problema da Venezuela é que ali havia "até democracia demais", como frisou num dos seus arroubos retóricos quando o líder venezuelano já estava doente, mas não piscava em mandar as hordas repressivas para assassinar oposicionistas ao regime. O antiamericanismo do Lula, aliás, ajudou a disseminar esse clima de admiração a Chávez e às demais propostas comunistas para a região, desde a criação, no início dos anos 90, do famigerado "Foro de São Paulo", cujo nascimento teve dois padrinhos: Lula e Fidel Castro, sendo o batismo do mostrengo ministrado por Frei Beto, representante dos bispos progressistas encarrapitados na direção da CNBB. O braço militar do Foro, é bom que se lembre, foi nomeado por Fidel na pessoa do coronel Chávez....

A propósito  da defesa incondicional do regime bolivariano por Lula e patota, Bolívar Lamounier frisa no artigo acima citado: "Ora, Lula é o líder inconteste da esquerda brasileira. A maioria dos políticos, clérigos e intelectuais que se autointitulam 'de esquerda' se dedica diuturnamente a cultuar sua personalidade. Voltemos, pois, à Venezuela. Ao evocar o que há anos se vem passando naquele país, é inevitável que nos vejamos como testemunhas da atitude das esquerdas brasileiras. Estas, com as exceções de praxe, notabilizam-se, como diria Nelson Rodrigues, por um silêncio 'de estourar os tímpanos'. Não defendem os direitos humanos como conceito universal, e sim os direitos humanos de uma determinada faixa ideológica. Quem quiser compreender tal atitude deve começar pelo antiamericanismo. Para o esquerdista brasileiro (ou para o latino-americano, em geral), ser indiscriminadamente contra os Estados Unidos é a credencial sine qua non de quem luta pelo progresso social e pelo bem da humanidade. O corolário desse posicionamento é que qualquer regime antiamericano é bom. Cuba é excelente; a teocracia iraniana é excelente; o chavo-madurismo pode não ser excelente, mas não é o caso de criticá-lo É, no mínimo, um aliado em 'nossa' luta contra o imperialismo. Mas o antiamericanismo é somente a ponta emersa de um grande iceberg. A parte submersa, em geral estruturada em torno da vulgata marxista, é a missão que as esquerdas se arrogam de conduzir a humanidade a algum paraíso terreno (...)".

Voltemos aos administradores da salvação coletiva. A ideia foi inventada por um filósofo genial e maluco do século XVIII, Jean Jacques Rousseau, fundador da ditadura de massas da modernidade. Como fazer para arregimentar os milhões de seres humanos que compõem os países na era moderna, perguntava o filósofo (lembremos que na França da Revolução Francesa havia 26 milhões de habitantes). Rousseau, no 8º capítulo do seu Contrato Social fornece a receita: crie-se um "credo político" em que todos devam acreditar. Quem não acreditar, seja jogado "nas trevas exteriores", ou seja, excluído do pacto político e da existência. Por que isso? Porque a unanimidade é o estado de felicidade coletiva da Humanidade. Logo, conseguir a unanimidade implica em garantir a felicidade geral. Quem consegue implantar a unanimidade? - Os "puros", responde Rousseau, ou seja aqueles que renunciaram aos seus interesses individuais para construir o interesse coletivo. Eles são os chamados a chefiar a grande transformação revolucionária. Como? Aterrorizando e chegando até a eliminação dos dissidentes. O resultado será o reino da Unanimidade ao redor do Legislador, que garantirá a felicidade coletiva.  Ele ocupará o lugar que na antiguidade Platão assinalava ao Rei Filósofo.

O corolário do maluco arrazoado é evidente: os rios de sangue que, à luz do rousseaunianismo, correram no mundo moderno, por conta das Revoluções em busca da Unanimidade, a começar pela Revolução Francesa, que inventou a maquininha para cortar cabeças de dissidentes, seguida pela Revolução Russa que, chefiada pela Minoria ("Bolcheviques", em russo) impôs o paraíso da unanimidade na ditadura totalitária bolada por Lenine e Trotsky e aperfeiçoada por Stalin e seguidores. É o paraíso que Lula et caterva queriam implantar no Brasil e que Maduro, ouvindo os trinos do "passarinho" de Chávez, está tentando impor a ferro e fogo, na vizinha Venezuela.

O troglodita metroviário virou chefe de Estado. E, com um exército de milicianos de um milhão de fanáticos armados de rifles kalashnikov, implantará o paraíso no país vizinho. Os descontentes já estão sendo mortos a tiros ou pulando fora. Os venezuelanos que disputam com urubus comida em Boa Vista formam parte dessa turma de amaldiçoados. Outros capítulos bastante cruéis desse drama estão por vir. Venezuela não merecia um desfecho tão trágico.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

VENEZUELA - ELEIÇÕES E DESPOTISMO BOLIVARIANO


O assassinato, por militantes dos coletivos chavistas, de Luis Manuel Díaz do partido oposicionista Ação Democrática, num comício em Guárico, no centro da Venezuela, bem como os atentados a bala de que foram vítimas vários outros políticos da oposição ao longo do país durante a campanha, revelam que não há clima de tranquilidade para os cidadãos venezuelanos nas eleições legislativas que terão lugar no próximo domingo 6 de Dezembro. Tudo por conta da truculência de Maduro e dos seus militantes, aos quais se somam os "avispas negras", policiais cubanos que agem livremente na Venezuela, diretamente comprometidos no combate à oposição.

Assim, o pleito eleitoral de domingo será marcado pelas trapaças do Maduro e pelas dúvidas quanto à lisura do evento, levando em consideração que os observadores internacionais sumiram (o primeiro a anunciar que não participaria como observador foi o ex-presidente americano Jimmy Carter), em decorrência da falta de garantias por parte do governo venezuelano, ou simplesmente devido à agressiva atuação do atual Presidente para impedir que a fiscalização do pleito fugisse ao seu controle.

A única entidade internacional autorizada para fazer a vistoria do evento foi a UNASUL (União de Nações Sul-Americanas), criação do finado Chávez e que sempre faz o que os bolivarianos querem, haja vista que o seu secretário executivo é a execrável figura de Ernesto Samper Pizano, o corruptérrimo ex-presidente colombiano que, décadas atrás, protagonizou o que hoje o PT faz no Brasil: a corrupção generalizada para se perpetuar no poder.

Acontece que, na Colômbia, houve mobilização geral da sociedade. O famoso “Processo 8.000” foi instaurado pela Justiça e pelo Parlamento e terminou sendo brecada a tentativa de colocar as instituições republicanas desse país a serviço dos corruptos de plantão. Chávez, é claro, gostou de início de Samper Pizano e passou a considera-lo seu amigo do peito. Corruptos se atraem. Assim, essa obscura personalidade virou secretário executivo da UNASUL.

O Brasil, que sob o império lulopetralha dobrou a coluna vertebral diante dos bolivarianos, engoliu em seco a humilhante decisão de Maduro de rejeitar a indicação, por Dilma, do ex-ministro Nelson Jobim, para que presidisse a comissão da UNASUL que acompanharia as eleições do dia 6 de dezembro. Em mais uma humilhação imposta ao governo petista, foi rejeitado também o nome do ex-chanceler Celso Amorim, apresentado às pressas para substituir Jobim. Ernesto Samper Pizano, pressionado pelos bolivarianos, indicou então o ex-chanceler argentino Jorge Tatana.

Se a honorável Comissão de Verificação Eleitoral da UNASUL foi assim integrada, certamente não haverá objetividade nenhuma na sua missão fiscalizadora e os chavistas poderão agir à vontade para forjar o resultado que mais lhes agradar. O governo Maduro, aliás, tomou todas as providências para que o resultado das urnas não fuja ao seu controle.

Em primeiro lugar, a empresa encarregada de indicar os eleitores hábeis foi entregue aos cubanos que, diga-se de passagem, desde os mandatos de Chávez, já controlavam o “Ministério Venezuelano del Poder Popular para las Comunas y los Movimientos Sociales” que, pasmem os leitores, é administrado desde Havana e monitorado por 30 mil militares cubanos infiltrados nas Forças Armadas e nos Movimentos Sociais, garantindo o controle dos eleitores pelos “Comitês de Defesa da Revolução”.  Elias Jagua, o truculento Ministro dessa pasta (que tentou entrar armado no Brasil, no ano passado, para “dar palestras” aos dirigentes do MST), é apenas um títere dos cubanos. A soberania da Venezuela há tempo que voou pelos ares! É controlada pelos comunistas da Ilha caribenha.

Em segundo lugar, Maduro colocou na cadeia as principais lideranças da oposição: Antonio Ledezma (prefeito de Caracas) e Leopoldo López. Eles amargam pesadas condenas forjadas pela Suprema Corte, a pedido do governo e sem que tivessem sido garantidas a livre defesa nem a transparência no processo.

Recordemos que a empresa cubana encarregada de emitir as listas dos eleitores hábeis já protagonizou, em eleições passadas, verdadeiras orgias de falsificação, ao arrolar sistematicamente os defuntos entre os eleitores. Comissão do Senado Americano que estuda as eleições venezuelanas informava que foi muito acima do normal o aumento do número de eleitores entre 2003 e 2004 (ano em que a eleição aprovou o novo mandato de Chávez): eles passaram de 11,9 milhões para 14 milhões. Semelhante fenômeno de fecundidade ectoplasmática ocorreu na eleição de Maduro em 2013: houve um súbito aumento de 60% no número de eleitores hábeis (que chegaram a 18,9 milhões de votantes). 

Pesquisa recente realizada pela Universidade Católica Andrés Bello, de Caracas, informava, por outra parte, que em 14 dos 24 Estados há mais votantes que pessoas vivas. Como diria Érico Veríssimo (lembrando a frase dos positivistas gaúchos), na Venezuela chavista “os vivos são governados pelos mortos!”

Assim, dos 1799 candidatos inscritos para as eleições legislativas de 6 de dezembro, surgirá provavelmente uma nova Assembleia Nacional de 167 membros (164 deputados eleitos pelas entidades federais e 3 pela representação indígena) obediente ao governo chavista. Seria um verdadeiro milagre se isso não acontecesse. O sistema eleitoral venezuelano é misto, entre eleitos pelo voto maioritário (116 vagas) e pelo sufrágio proporcional em lista (51 vagas). Os Partidos são: o oposicionista Mesa de la Unidad Democrática (MUD), o oficialista Partido Socialista Unido da  Venezuela (PSUV) e o Gran Polo Patriótico Simón Bolívar (CPPSB), aliado do governo.

O presidente Nicolás Maduro mostrou-se intolerante e violento para com a oposição quando esta exigiu, no ano passado, que fosse criado um novo Tribunal Eleitoral independente do governo, que desse à oposição o mesmo tempo concedido aos candidatos oficialistas, nos debates na TV. Na época em que essas exigências foram feitas pelo movimento estudantil, houve uma brutal repressão por parte do governo, com um saldo trágico de 43 jovens assassinados pelas forças policiais.Com um quadro desses, Socorro Hernández, presidente do Conselho Eleitoral pôde afirmar cinicamente em dias passados, ao rejeitar as missões internacionais de observadores independentes: “Diante do avanço significativo do sistema eleitoral e do processo democrático venezuelano, não cabe falar em missões de observação”. Lula diria, novamente, que na Venezuela “há democracia demais”. 

Pelo menos, na Argentina que elegeu o liberal Macri para a Presidência, há um raio de esperança de que a subserviência aos déspotas bolivarianos comece a ser contida no seio do MERCOSUL. A decisão do novo Presidente argentino de aplicar à Venezuela a "cláusula democrática" vigente no bloco, será o início da retomada das práticas democráticas. Esperemos a posse de Macri. Dos petralhas, certamente, o único que podemos esperar é mais roubalheira ("Minha casa, minha vida" da Dilma é o seu "Petrolão" particular) e mais subserviência aos trogloditas bolivarianos e aos irmãos Castro.