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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

O IMPERATIVO DAS LUZES NO SÉCULO XXI (UM TEXTO DE 2007)




O texto a seguir é a Conclusão da minha obra, lançada em 2007, com o seguinte título: Luz nas trevas - Ensaios sobre o Iluminismo (Guarapari ES: Editora Ex-Libris, 2007, 260 p.). Pela atualidade do tema tratado, reproduzo esse texto agora, na esperança de iluminar o atual momento, uma de cujas caraterísticas marcantes é a descrença nas Luzes da Razão, para equacionar os grandes problemas com que o Brasil se defronta.
Ao longo desta obra destaquei o importante papel das Luzes na Modernidade. O processo de ilustração no Brasil ficou a meio caminho, em decorrência das nossas decisões erradas. A estrutura patrimonial do Estado, ligada à mentalidade contra-reformista, terminou polarizando a dinâmica da nossa história, pelo torto caminho da privatização do poder por grupos e estamentos e da execração do lucro, da riqueza e do progresso como se fossem realidades contrárias à moral e à reta razão. Terminamos cativos de uma idéia deformada de modernidade, como a realização de uma ordem doméstica que nos daria mesada a todos, sem precisarmos trabalhar. E ficamos presos aos chavões politicamente corretos, que não nos deixam sacudir a poeira do passado, a fim de enveredarmos por caminhos novos. Hoje o gramscismo está na ordem do dia e ai de quem esboçar opiniões contrárias ao populismo em voga, às bolsas-família, às cotas raciais, aos estatutos legais que fazem dos adolescentes e jovens eternos irresponsáveis perante a lei. Ai de quem criticar a conivência das autoridades para com os mal chamados movimentos sociais, que fazem tabula rasa da lei e dos princípios morais, inspirados no pressuposto totalitário de que “os fins justificam os meios”.
Intelectuais e mestres são ameaçados, na sua integridade física, por militantes que simplesmente procuram impor, a qualquer preço, os slogans oficiais, sem que se possa duvidar da conveniência dos mesmos. Racismo proveniente dos antigos discriminados, pode! Já foi ouvida essa barbaridade, de boca de alta funcionária governamental, que tem, entre as suas incumbências, a de lutar contra a discriminação. O fascismo entrou pela porta da frente na já combalida vida pública brasileira. Hoje, mais do que nunca, é preciso ter coragem para pensar, neste país! A Imprensa, amordaçada pela autocensura e premida pelas ajudas oficiais, é vítima de uma legislação autoritária que ameaça com pesadíssimas multas aqueles que ousarem criticar os novos donos do poder. Operações policiais para amedrontar as denominadas “elites” são deflagradas com estardalhaço, sem que se observem, em não poucos casos, as normas prescritas nos códigos de processo. Enquanto isso, a criminalidade corre solta pelas nossas cidades, eliminando os indefesos cidadãos que caem vítimas do fogo cruzado entre os meliantes e a polícia. E os corruptos de sempre, os do mensalão, os dos sanguessugas, os da patifaria do momento que é focalizada pelos noticiários mas que logo é esquecida, saem de cara lavada pregando moralidade e civismo. Cínica encenação que causa asco aos cidadãos de bem, já cansados com tanta irracionalidade e com a quebra dos valores morais.
Mas podemos mudar as coisas. O esforço da Ilustração é algo que pode ser retomado. Precisamos de coragem para isso. Gostaria de lembrar, aqui, o “Imperativo das Luzes” formulado por Immanuel Kant em 1783: “O que é a Ilustração? É a saída do homem da sua menoridade, da qual ele mesmo é responsável. (...) Sapere aude! Tem coragem para te servir do teu próprio entendimento! Essa é a divisa das Luzes!”. Com a coragem de ousarmos ver o que se passa diante de nós, poderemos, abertos ao legado da Filosofia Ocidental e da Tradição Humanística, identificarmos as soluções para superarmos o abismo de mediocridade que ameaça engolir as nossas instituições e a paz social.
Confio nas novas gerações. Sinto que elas se cansaram da desfaçatez dos políticos e dos burocratas carreiristas, e almejam uma sociedade nova. Vejo ressurgir o interesse pelo estudo da Filosofia Brasileira, após uma década de indiferença do meio acadêmico em face do conhecimento aprofundado da nossa realidade cultural. Ao longo dos anos 80 e 90 do século passado, foram sendo fechados, por pressão da Capes, os Cursos de Mestrado e Doutorado em Filosofia Brasileira, existentes no Brasil, primeiro na PUC do Rio de Janeiro e, depois, na Universidade Gama Filho e na Federal de Juiz de Fora. Isso num momento em que as exigências da Globalização estavam levando outros países a iniciarem ou a retomarem pesquisas acerca das respectivas filosofias nacionais, como aconteceu em Portugal, na Espanha, no México, no Peru, na Colômbia, etc.
Felizmente para nós, a nova geração de alunos que cursa Filosofia e Ciências Humanas, tanto na UFJF como em outras Universidades brasileiras, está dando ensejo a iniciativas em prol da pesquisa das nossas origens filosóficas e culturais. Por pressão dos meus alunos de graduação vi-me obrigado a voltar aos empoeirados livros e documentos do pensamento nacional, a fim de retomar os estudos que, com desesperança, tinha deixado para mais tarde, apenas para a minha curiosidade intelectual, ou para manter vivo o intercâmbio que continuei a fazer com Universidades e centros de pesquisa de outros países, interessados no estudo sistemático dos nossos pensadores. Para canalizar as iniciativas dos meus alunos criei, em 2003, o Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos da UFJF, que já deu os seus primeiros resultados na publicação regular da Revista Ibérica e que acaba de realizar o primeiro Colóquio para a comunidade acadêmica da UFJF, acerca do tema: “Filosofia, Estado Patrimonial e Imaginação Literária na América Latina”.

Dentre as iniciativas estrangeiras vigentes em prol do estudo da Filosofia Brasileira, vale a pena mencionar o Projeto Ensayo, iniciado em 1986 por José Luis Gómez Martinez, na Universidade de Georgia, nos Estados Unidos, bem como as pesquisas que, na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, desenvolve Juan Carlos Torchía Estrada, ou os estudos realizados pelo Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, em Lisboa, sob a direção de José Esteves Pereira, António Braz Teixeira, Antônio Paim e o saudoso Eduardo Soveral, que frutificaram nos Colóquios Luso-Brasileiros de Filosofia, realizados ininterruptamente, a cada dois anos, em Portugal e no Brasil (ao longo dos últimos quinze anos). Vale a pena mencionar, também, as pesquisas sobre pensamento brasileiro que Zdenek Kourim realiza, na França, sob os auspícios do Centre National de la Recherche Scientifique; os estudos sobre filosofia jurídica brasileira, efetivados na Universidade de Milão por Mário Losano e Marcela Varejão, assim como os projetos dedicados à pesquisa da Filosofia Latino-Americana, adiantados pelo Institut de Philosophie, de Paris, vinculado à Unesco. Dignos de menção são, também, os estudos das idéias políticas luso-brasileiras realizados no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica de Lisboa, sob a direção de João Carlos Espada, bem como o Primeiro Congresso Luso-Galaico-Brasileiro, que será realizado pela Universidade Católica Portuguesa, na sua sede do Porto, no final de 2007, sob a coordenação de Arnaldo de Pinho.
Teimosos e destemidos pesquisadores brasileiros continuaram o trabalho esquecido pelas pós-graduações stricto sensu das Universidades, programando eventos, publicando revistas, aglutinando os remanescentes dos antigos cursos de mestrado e doutorado em Filosofia Brasileira. Os nomes de alguns desses quixotes: o recentemente falecido Miguel Reale, o maior filósofo brasileiro do século XX, à frente do Instituto Brasileiro de Filosofia; Antônio Paim, do IBF, que doou a sua biblioteca pessoal para organizar o maior acervo existente de pensamento filosófico e social brasileiro, no Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro, criado por ele em Salvador, na Bahia, em 1982; Leonardo Prota, do Instituto de Humanidades, em Londrina, que realizou, ao longo dos últimos quinze anos, os famosos Encontros Nacionais de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira; Jorge Jaime, Ricardo Moderno, Aquiles Côrtes Guimarães, Francisco Martins de Souza, Anna Maria Moog e Luís Antônio Barreto, da Academia Brasileira de Filosofia, no Rio de Janeiro; José Maurício de Carvalho, da UFSJ; Tiago Adão Lara e José Carlos Rodrigues, da UFJF; Constança Marcondes César, da PUC-Campinas; Selvino Malfatti, das Faculdades Franciscanas de Santa Maria, no Rio Grande do Sul; monsenhor Urbano Zilles, da PUC de Porto Alegre, etc.
As iniciativas da nova geração em prol dos estudos da Filosofia Brasileira deram continuidade, sem dúvida nenhuma, a essa fonte de luz que não se apagou, apesar dos preconceitos neocolonialistas dos burocratas. É nessa nova geração que aposto e para quem dedico as últimas palavras da minha obra. Lembro a esses jovens as palavras do filósofo alemão: Sapere aude!

domingo, 26 de janeiro de 2020

ALFONSO VÉLEZ RODRÍGUEZ (1947-2019) - IN MEMORIAM





Alfonso y su familia, en Medellín. Album de familia, 2015.


Alfonso y Ricardo en Bogotá, Iglesia de Lourdes, julio de 2017. (Álbum de familia),
      Revivo aqui varios recuerdos comunes a mí y a mis hermanos. Tal vez la vivencia más arraigada en la memoria de mis orígenes sea la de la doble circunstancia campo-ciudad. Comencé mis días en esta última. Me acuerdo de mi hogar, en la Calle 63B, número 25-25 del barrio Muequetá, vecino del tradicional barrio de Chapinero, al norte de Bogotá. Mis primeiros recuerdos son los de la casa paterna, de estilo español, construída por mi papá con la ayuda de un arquitecto ruso, cuyo nombre (Boris Sigoronov) él borró de la placa de piedra en que estaba escrito. Este arquitecto se había asilado en Colombia y lloró con amargura la muerte del “papacito”, cuando el cruel dictador Stalin murió, em 1953. Esta bella casa de dos pisos fué el escenario de mis primeiros años de vida.
Recuerdo aún el terror de las noches al comienzo de la guerra civil, después del asesinato del líder liberal Jorge Eliécer Gaitán, ocurrida el 9 de abril de 1948, cuando yo tenía 4 años de edad, (iría a completar los 5 solamente en noviembre). El cuarto que yo compartía con mi hermano Alberto, en esos días violentos, quedaba al frente de la calle. Me acuerdo de mi papá empuñando la carabina Winchester y empujando el viejo armario de madera, colocándolo frente a la ventana, para bloquear, con él,  la entrada de las balas y los reflejos rojos, provocados por el incendio del Colegio Mayor de Nuestra Señora del Rosario, en la Quinta Mutis, situada frente a nuestra residencia. Mi viejo pasó la noche postado en una ventana entreabierta del cuarto vecino, que servía de oratorio, para disparar contra los  milicianos que tentaban arrojar trapos empapados en gasolina contra las ventanas de madera, con la finalidad de provocar un incendio. A partir de esa noche de valiente vigilancia, mi papá comenzó con una ciática que lo atormentó por el resto de la vida. Me acuerdo del pavor que sentí con el incendio y el tiroteo en la calle. Recuerdo a mis hermanos Alberto, María Victoria, Alfonso (aún de brazos) y yo,  refugiados con mamá debajo de la cama, para protegernos de las balas perdidas. Me acuerdo de ella rezando esa vieja oración que comenzaba así: “Señor Dios, Rey omnipotente, en vuestras manos están puestas todas las cosas, si quereis salvar a vuestro Pueblo nada podrá oponerse a vuestra voluntad...”. Nuestra casa era considerada un blanco por los revolucionarios “gaitanistas”, porque mi mamá era hija del general Amadeo Rodríguez, uno de los principales líderes conservadores. Nuestra residencia era vecina de la que fué casa de mi abuelo y estaba separada de ésta apenas por un lote.
Para huír de la guerra, nos fuimos a vivir a la casa de la vieja hacienda “El Carmen”, situada a pocos kilómetros del pueblo de La Calera, al oriente de Bogotá, que mi abuelo Amadeo había heredado de sus padres. Allí, en el viejo caserón español de quince cuartos, que databa de la segunda mitad del siglo XIX, nos refugiamos después de la sangrienta semana que siguió al asesinato de Gaitán, y que se conoció como “El Bogotazo”. Vivimos, mis hermanos y yo, días de plena libertad en el campo. Corríamos como cabritos sueltos por las verdes praderas que circundaban la enorme casa.
Observo hoy, al ver las fotografias de la época, dos escenas: cuando llegamos y algunos meses después. En las primeras, aparecemos tomados de la mano, con sombreritos bien colocados, vestidos deportivamente como galanes de telenovela que posan para sus fans. En las segundas, aparecemos con el rostro quemado por los aires andinos y por el sol de las lindas mañanas pasadas al aire libre en los trigales y los montes, con aire de chinitos montañeros y traviesos.
“El Carmen” fué nuestro refugio para la violência que se vivía en Bogotá. Allí conocimos otra dimensión de la vida, con las vacas lecheras del rebaño que mi papá tenía, con el establo, con las instalaciones para la refrigeración de la leche, con la quesera, en donde los trabajadores preparaban los quesos y las mantequillas, con el mercadito dominical en la plaza de La Calera, después de la misa, con mi pavor por los voladores domingueros que producían, para mí, un ruido ensordecedor. Me acuerdo de las noches de fiesta de Navidad y Año Nuevo, yo refugiado, debajo de la cama, para protegerme del ruido de los voladores, con la compañía fiel y temblorosa del perrito negro “Temerón”, miedoso como yo...


Los cuatro hermanos: Ricardo, Alfonso, Marisa y Gabriel.
Bogotá, julio de 2017.


En la cena oferecida en julio de 2017 por el primo Joaquín, en su apartamento situado en el bello barrio residencial de Rosales, al nordeste de Bogotá, al borde de los cerros, estuvimos presentes los cuatro hermanos aún vivos: Marisa, Alfonso, Gabriel y yo. Fué una cena maravillosa en la que pudimos recordar viejos tiempos de cuando vivíamos en Medellín, en los años 60 del siglo passado, o de cuando vivíamos en la hacienda “El Carmen”, al final de los años 40. Gabriel aún no había nacido, pues, siendo el más joven, su fecha de nacimiento es 21 de noviembre de 1953. Revivimos, también, los años que pasamos en nuestra casa de Muequetá, en Bogotá.
Fué maravilloso encontrar a mis hermanos. Este, certamente, constituyó el principal motivo que me llevó a programar la ida a Colombia. Doy gracias a Dios por haber logrado encontrarlos y convivir con ellos, a pesar de que fueron pocos días. Es curioso cómo, cuando nos encontramos después de tantos años, parece que la última vez fué el día de ayer. Es una vivencia emocional que nos enriquece y que se yergue sobre el fluir del tiempo.
Después de ese encuentro con los hermanos, enriquecido por la convivencia con Joaquín y los otros primos, salí renovado. Fué como si hubiera cargado las pilas del corazón! Mi amigo Thiago, sicólogo em Londrina, me decía que le encantaba verme tan animado, después del viaje a Colombia. Sólo me hizo falta la compañía de mi hijito Pedro y de mi querida Paula. La compañía de mi hija Victoria fué muy gratificante y ella también le sacó mucho jugo al viaje, al haber encontrado a sus primos y tíos.
Me alegro de ver a todos los hermanos realizados en las escogencias profesionales que hicieron. Alfonso, quien se graduó em Filosofía, como yo, pero que se encaminó por el área del Desarrollo Organizacional en sus estudios de postgrado, especialidad que ejerció en sus asesorías en la Universidad EAFIT, de Medellín. Marisa, abogada por vocación, quien trabajó muy duro para organizar su clientela cuando aún era professional del Derecho en Cali, antes de irse para los Estados Unidos en los años 2.000 y que, en el Canadá, revalidó su título de abogada para trabajar en Derecho Inmobiliario, que pero que le saca jugo, especialmente, a su creatividad artística, realizando trabajos de artesanato fino. Gabriel, quien escogió el área de la Ingeniería Electrónica, habiéndose graduado en la Universidad de Antioquia y quien, cuando era un joven profesional, dió pruebas de gran capacidad para la producción de aparatos de precisión en el área de la biomedicina. Desempaña actualmente, con éxito, su profesión como ingeniero, en el Canadá.
Admiro a mis queridos hermanos y me siento feliz por sus realizaciones familiares. Alfonso, con sus cuatro lindos hijos y abuelo de varios nietecitos. Marisa, con sus dos hijas maravillosas, Lina y Anita, cada una con sus proyectos muy bien definidos: Lina, en el Canadá, en una gran empresa de produtos químicos y Anita, en el sur de Francia, como productora de vinos en ese pequeno paraíso que es Quarante, el pueblo medieval fundado por Carlomagno más o menos en el año 800. Gabriel, con sus hijos ya profesionales: Ricardo, ingeniero espacial, que trabaja en una seccional de la empresa Bombardier, en México, y Esteban, administrador, que trabaja en la Universidad de Toronto. Me encantó encontrar, junto con Alfonso y Gabriel, a sus esposas, Eugenia y Beatriz. Recuerdo a los lindos nietecitos de Gabriel y Beatriz, hijos de Juliana, la hija mayor, que vive en Estados Unidos. Me alegró volver a ver a Alejandro, el marido de Marisa, ingeniero con muchos éxitos en el Canadá. Todos ellos, maridos y mujeres, aún con apariencia joven, a pesar de la edad que no podemos negar.
Regreso en el tiempo para recordar a los hermanos que ya partieron: Ricardito, mi tocayo, falecido em 1942, un año antes de que yo naciera; María Victoria, muerta prematuramente em 1982, con 37 años. Alberto el hermano mayor, fallecido en 2004, con 64 años y Alfonso, que murió recientemente en Medellín, el día 28 de diciembre de 2019, con 72 años.
La Medellín de los años 60 y 70 fué la ciudad de mi bohemia tardía. Viví las aventuras juveniles en compañía de mi querido hermano Alfonso, cuatro años más joven que yo, y del primo Joaquín, dos años más joven, que vivió con nosotros a lo largo de esos años, pues adelantaba el curso de piloto en la empresa SAM (Sociedad Aeronáutica de Medellín), para pilotar los famosos Electras, aquellos turbohélices cuatrimotores para 98 pasajeros y tres tripulantes que tenían, en la parte de atrás, uma holliwoodiana sala para fumadores. Eran los famosos Lockeheed L-188. Joaquín se integró a nuestras aventuras bohemio-académicas.
Alfonso había salido del Instituto Tihamer Toth algunos años después de mí y, como era graduado em Filosofía, trató de conseguir clases en la Universidad. Tardó en realizar su sueño académico y comenzó la vida professional como vendedor, tal vez influído por mi experiencia en la Editora Aguilar.
Entre mis hermanos, Alfonso tocaba guitarra y Gabriel aún practica esa habilidad artística. María Victoria fué pianista profesional y concertista. Alberto tenía talento para el piano; habiendo comenzado clases en la Academia de Luisa Maniguetti, las abandonó por presión de mi papá, que argumentaba que si se dedicara al piano se volvería marica. La verdad era que don Alfonso había escogido las profesiones para los hijos mayores. Alberto, como cabeza de família, seria su sucessor al frente de los negocios. Yo iría para el seminario, pues debería haber un hijo cura. Como el escogido para la profesión religiosa había muerto poco después de su nacimiento, yo, que le seguía, recibí esa responsabilidad, además del nombre: Ricardo. La compulsión vocacional de mi papá desapareció con los hijos menores: Alfonso, Marisa y Gabriel fueron dejados en paz.



Casas del abuelo Amadeo en Bogotá\; Arriba, en el  Barrio La Candelaria; abajo: en Chapinero (Fotos: álbum de familia),

Marisa dió un bello testimonio de la complicidad de la infancia que vivió con Alfonso. Ambos se volvían gamines que hacían de las suyas constantemente. Hace poco, con motivo de la enfermedad que consumió la vida de mi querido hermano, Marisa escribió en un post de Whatzapp dirigido a él: “Mi querido Poncho: hoy hablé con Ricardo, quien me contó que acababa de hablar contigo. Yo no quiero molestarte, pues sé que te da trabajo hablar. Te quiero desear ausencia de dolor y de molestias. Sé que estás muy sereno, cosa ésta que te ayuda mucho en esta difícil situación. Afortunadamente, estás en casa, rodeado de toda tu família. Lo único que quisiera es estar cerca de tí, para poder hablar de todo. De cómo, gracias a tí, tuve uma infancia muy, muy feliz. Hiciste que mi adolescência, a pesar de haberte tenido lejos unos años, fuera alegre como tú. Cómo fuiste de solidario conmigo, al ayudarme a pintar la casa para mi matrimonio. Igual de solidario en la época, cuando salíamos a gastarnos la plata de mi ajuar en onces deliciosas y películas maravillosas. Gracias a tí tuve la gran oportunidad de disfrutar la vida, ya que en tu compañía, nos íbamos a conquistar montañas y a que nos atacaran los chivos en nuestras largas caminatas. A escribir teatro del absurdo donde nos burlábamos de papi y mami, de sus vidas y desfortunas. Mi gran diversión fué tu complicidad con mis Pilatunas, cómo inventábamos canciones remedando las que papi cantaba, pero con letras nuestras donde intercalábamos una que outra palabrota prohibida. Cómo jugábamos a los vaqueiros malos del oeste. Tú me salvaste de que me trataram como a uma niña, lo cual contribuyó a mi felicidad de entonces y de ahora, ya que siempre he sido más cercana a um gamín que a uma niña, gracias a tu cercania. Parte de esta historia la he vivido con mis  hijas, a las cuales las salvé de ser tratadas como niñas y han podido pensar y ser ellas mismas, pues como  les conté muchas veces, contigo tuve la posibilidad de tener un amigo cercano que me aceptó incondicionalmente. Has dejado em mí maravillosos momentos de alegría, risas, aceptación y amor. Te quiero infinitamente, mi querido hermano, compañero de andanzas infantiles y juveniles. Gracias por ser quien eres”.
Victoria, nuestra mamá, trató de vivir con cada uno de nosotros, después de la muerte de mi hermana María Victoria, en 1982, quien pasó a vivir con ella desde la muerte de mi padre, em 1977, en Medellín. La cosa no funcionó ni con Alberto, ni con Gabriel, ni con Marisa, ni con Alfonso, ni conmigo. Ella, con mano diplomática, pero con aquella voluntad de hierro entre bambalinas, trataba de organizar la vida a su manera. Y a las nueras, o a la hija, logicamente, no les gustaba esa política. Hasta que, haciéndole frente a la verdad, mi viejita decidió, con coraje, cuando aún vivía con Marisa en Cali, en los años 90, irse para Medellín, al Hogar Vizcaya, en el Poblado, a una casa para personas de edad administrada por monjas. Ella misma negoció con ellas, hizo la inscripción, fué aceptada y, un bello día, con la maleta en la mano, le comunicó a Marisa su decisión, tomada sin dramatismo y sin reproches. “Mijita, decidí que voy a vivir sola, en Medellín, en el Hogar Vizcaya. Ya todo está negociado. Puedes visitarme, cuando quieras”.

Los cinco hermanos Rodríguez Téllez (Foto: álbum de familia, cedida por Clara Eugenia Mosquera).

En el restringido mercado antioqueño de entonces, al salir del Instituto Tihamer Toth, Alfonso solamente consiguió lugar en una compañía de seguros, en el sector de venta de tumbas y servicios fúnebres. Era muy divertido escuchar a mi hermano contando sus aventuras de vendedor de produtos macabros. Él tenía, con certeza, más aptitudes que yo para las ventas: le gustaba conversar con todo el mundo, las personas lo consideraban simpático y les parecia divertida su forma de contar las cosas, sin problemas para enfrentar  ambientes desconocidos. Alfonso tenía, en fin, el feeling del buen vendedor. Un final de tarde, en el barrio de Belén, cerca a la Universidad de Medellín, llegó a una casa ofreciendo sus servicios fúnebres y, al contrario de lo que se imaginaba (pues las personas daban por terminada la conversación cuando oían hablar de tumbas y entierros), el dueño de la casa, un padre de familia con una prole inquieta y numerosa, lo hizo entrar y sentarse a la mesa, pues la família iba a comer.
El patriarca hizo el siguiente discurso: “Mis hijos, vean a este muchacho que podría estar, a esta hora, bebiendo aguardente en el bar de la esquina o vagando por ahí, sin hacer nada. Tiene casi la edad de ustedes. Y vean lo que hace: trabaja en un empleo difícil, pues tumbas o servicios fúnebres nadie quiere comprar con esta vida tan cara. Pero él no se da por vencido. Felicitaciones, mi joven vendedor. Usted es un ejemplo de disciplina y dedicación para esta manada de vagos que no quieren hacer nada en la vida”. Con este discurso animador, Alfonso salió sin que el patriarca diera muestras de querer comprar tumbas o servicios fúnebres...
La poca suerte de Alfonso en la venta de tumbas no lo hizo desanimarse. Dueño de un temperamento alegre y divertido, mi querido Poncho no le daba importancia a las desgracias del mercado. Por el contrario, hacía de esos pequeños fracasos, motivo de chiste. Muy sociable y un comunicador nato, el querido hermano encontró su “nicho de mercado”. Mi amigo René Uribe Ferrer, que había sido decano de la Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad Bolivariana y a quien conocí en esa posición, fué nombrado, por el gobernador del Departamento de Antioquia, como Secretario de Educación. Me llamó para colaborar con él, como rector de un gran gimnasio departamental situado en Sabaneta, un municipio perteneciente al área metropolitana de Medellín. Yo estaba organizado en el cargo de profesor de la Universidad Bolivariana y no queria cambiar de trabajo por una función de administración escolar, perspectiva que consideraba poco interessante para mí, pues carecía de experiencia en ese ramo y prefería dar clases. Conversé entonces con Alfonso, ponderando que, por su modo de ser y por el hecho de ya estar trabajando en el importante colegio Mary Mount, para niñas, en funciones docentes y administrativas, tal vez tuviera éxito dirigiendo un establecimiento de enseñanza oficial de gran porte. Al fin y al cabo, él sabía muy bien lidiar con las personas. Alfonso aceptó la oferta y fué nombrado, entonces, rector del Gimnasio Departamental de Sabaneta. Su trabajo al frente de ese establecimiento fué um completo éxito, según me manifestó, algún tiempo después, el próprio Secretario de Educación departamental.
Alfonso se encaminó, después, por los estudios del desarrollo organizacional, habiendo cursado, con brillo académico, la maestria en la Universidad de Siracusa, en Champagne, Urbana, Estados Unidos. Poco antes de viajar, había recibido invitación  de la Universidad EAFIT, para dar clases de Humanidades en la Facultad de Administración de Empresas, justamente en la misma Institución en que yo, en 68, había iniciado mi carrera docente. Enseñé Humanidades en EAFIT hasta el final de 1970, justamente en la época en que Alfonso se vinculó a esa Universidad.

Los tres tenores (Medellín, 2003). (Foto: álbum de familia).


Según me decía Alfonso cuando conversábamos sobre los rumbos de la docencia de la Filosofía en uma Facultad de Administración, solamente tendría sentido hablar de Humanidades, si se partiera para uma humanización de las relaciones interpersonales en el terreno de la gestión, haciendo que los conceptos filosóficos fueran siendo assimilados en el plano concreto de la vida y de la tomada de decisiones. Alfonso consideraba que el cultivo de las Artes y de la Filosofía deberían ir juntos con la Ciencia de la Administración de Empresas, anticipando un concepto nuevo de gestión integral, que terminó siendo implantado en esa Universidad, cuando fué creada, en décadas posteriores, la Orquesta Sinfónica de EAFIT, no como un cuerpo extraño a la enseñanza de la Administración, sino como una privilegiada ventana para aprehender, vivencialmente, los nexos entre valores artísticos y funcionamiento de la inteligencia emocional, en las relaciones empresariales. Alfonso estaba muy adelantado, para su época, en la comprensión del papel de las Humanidades y de la Filosofía para la formación empresarial!
Sentí profundamente el fallecimiento de mi querido Alfonso (Poncho), después de que un fulminante cáncer terminal lo acometió, a lo largo del segundo semestre de 2019. Enfrentó las largas temporadas de hospital y sus últimos días con espírito cristiano y gran coraje, nunca perdiendo su buen humor y aquella “politesse du coeur” que siempre lo caracterizó. Me queda el recuerdo del hermano jovial, siempre optimista y dispuesto a extraer de la vida lo que hubiera de bueno, sin detenerse en las minucias del día a día. Poco antes de falecer, en la última charla que tuve con él por el Whatzapp, la noche de Navidad, me dijo, con la voz debilitada por la enfermedad, pero con la tranquilidad de siempre: “Hermano, parece que de esta aventura no salgo vivo. El cáncer se extendió a todo el organismo. Bueno, hermano, que se haga la voluntad de Dios. En sus manos estamos. Estoy tranquilo”. Recuerdo a mi papá cuando me recomendaba imitar el “bello temperamento” de Alfonso, a fin de superar los malos recuerdos de mis años de seminario. Su lección de vida y de coraje quedará, para siempre, en mi alma.
Alfonso tenía una especial capacidad para le gestión académica de nivel superior, habiendo dejado pruebas de esto en la magnífica obra de docencia y de consultoria en el área empresarial, por él desempeñada durante más de treinta años, en la Universidad EAFIT, de Medellín, una de las más sobresalientes en Colombia y en la América Latina. Da testimonio de esta realización la nota de pesar con motivo de su fallecimiento, emitida por las autoridades, directivas y la comunidad académica de la mencionada Universidad, en los siguientes términos: “Alfonso Vélez Rodríguez, un maestro, consejero, estratega, negociador y un ser humano con cualidades excepcionales, quien con un espíritu siempre alegre y positivo, realizó importantes contribuciones para la transformación de la Institución y sus áreas misionales de docencia, investigación y proyección social”. La nota fué firmada por los integrantes del Consejo Superior de la Universidad EAFIT, juntamente con el Rector, los diretores, los profesores, los funcionarios administrativos y los estudiantes, que expresaron su pesar por el fallecimiento de quien fué Director de la Escuela de Administración, profesor y asesor de innovación. Asistí emocionado a la bella presentación de slides con que la Universidad rindió homenaje a mi querido hermano y a su familia, el día 15 de enero de 2020. Fué reconocida, allí, su bella inspiración humanística, con la que supo renovar la enseñanza de la Administración y la práctica del emprendedorismo en la Universidad EAFIT.
Aún recuerdo, emocionado, las palavras de su esposa Eugenia, en post encaminhado a mí (em 4 de enero), poco después del fallecimiento de Alfonso: “ Su vacío es enorme. Qué difícil es este paso. Pareciera que nos sale al encuentro, en cada detalle, y en cada hijo encuentro un pedacito de él. También hay tantas cosas lindas que nos dejó y nos enseñó, que quisiera gritarlas al mundo entero. Él siempre te tuvo presente y te siguió los pasos. No era muy expresivo para comunicártelo, pero me lo dijo varias veces”.  Yo también siempre lo tuve muy presente y admiraba, con sana envidia, su capacidad de llegarle a las personas, con esa su simplicidad inigualable y la simpatia natural, que abría puertas y corazones. En fin, creo que mi querido hermano Alfonso y yo quedamos sin deudas en materia de valorización personal y cariño fraterno, a pesar de que, por la educación tradicional que recibimos, poco nos comunicáramos la mutua admiración y el amor recíproco.
Buena suerte tuvimos, Alfonso y yo, en las empresas bohemias. Como él tocaba guitarra, formamos un dueto popular, imitando a los conocidos cantantes “Los Tolimenses”, Emeterio y Felipe. Yo representaba al primero y Alfonso al segundo. Imitábamos el hablado guasca de nuestros personajes (que tenían inmensa audiencia en los programas de radio y televisión) y contábamos historias mezcladas con canciones campesinas que cantábamos en dueto, yo haciendo la primera voz y Alfonso la segunda. El éxito fué enorme. Nos convidaban para fiestas de cumpleaños y hasta para matrimonios. Yo escribí, con paciencia benedictina, un cuadernito con los chistes de “Los Tolimenses”, que evidentemente fueron siendo completados. Nuestros oyentes nos pasaban chistes nuevos, a fin de que enriqueciéramos el repertorio.
La empresa humorística no tenía empresario. Ahí, e ese detalle, radicaba nuestra falla. Era necessário que alguien cuidara, financeira y administrativamente, de la empresa. A pesar de no ganhar dinero y cantar sólo por diversión, sobrevivimos dos años, hasta la fecha en que fuí expulsado del cuerpo docente de la Universidad Bolivariana, por causa de mi militancia sindical y política. Desempleado, tuve que buscar trabajo en Bogotá.



Arriba: con el primo Joaquín, en Bogotá, Julio 2017.
Abajo: con mamá en La Calera, 1950. De izquierda para derecha: Ricardo, Alfonso, Mamá con Marisa en su regazo,
María Victoria y Alberto. (Álbum de familia).

Nuestra vida de adolescentes tardíos fué generosamente ayudada por el primo Joaquín, que tenía más experiencia de mundo. A pesar de que él pasó sólo un año interno en el Instituto Tihamer Toth, logró verse libre del seminario. Uno de los motivos de su liberación de ese ambiente clerical fué su perrito “Tony”, que no se separaba de él. Era um gozque con todas las de la ley, de esos de tiempo integral y dedicación exclusiva. Cuando Joaquín fué matriculado en el internado, aún niño, el perrito lo acompañó el día en que mis tíos, Juan Félix y Solita, lo llevaron al seminario y regresaron a casa con el perrito. Pero, cosa extraordinaria, el animalito apareció de noche, aullando, en el patio interior del seminario. Había recorrido más de 10 kilómetros entre la casa de mis tíos y el barrio Prado Veraniego, en donde quedaba el internado. Los porteiros persiguieron al animalito corriendo y gritando. En donde se refugió “Tony”? – Justamente debajo de la cama de mi primo, que quedaba en el ala de los alunos menores, un salón inmenso, lleno de camas de dos pisos y que albergaba a más de 60 niños. “Tony” montó guardia debajo de la cama de Joaquín. Y se convertía en una fiera cuando trataban de sacarlo de ahí.
“Tony” logicamente acompañaba a mi primo en todas las actividades, desde el baño, pasando por la capilla para la misa matinal y, luego, yendo al comedor para el desayuno. Después iba a la sala de clase, para diversión de los alumnos, pues había profesores que no le gustaban al perrito y recibían de regalo gruñidos aterradores. Las cocineras en poco tiempo habían sido cautivadas por “Tony” y le garantizaban, regularmente, platicos con las sobras del comedor. Después de una semana, el rector del seminario llamó a los padres de Joaquín y les explicó que “Tony” estaba transformando la disciplina en un carnaval y que era necesario que la familia tomara alguna medida. El tío Juan Félix, oficial de la policía, propuso una solución conciliadora y eficaz. “Tony” sería albergado en la Escuela de Sargentos de la Policía, que estaba situada cerca al lugar en donde quedaba el seminario, en una pequeña finca llamada “La Pequeña Victoria”, al borde de la carretera que iba en dirección al pueblo de Suba. Los curas prometieron que Joaquín podría visitar quincenalmente a “Tony” y, de este modo, el perrito conquistó “la pequeña victoria” de no perder de vista a su dueño... Pasado el primer año, el rector del seminario explicó a mis tíos que Joaquín, tal vez, no tenía el perfil para permanecer en el internado y aconsejó que lo matricularan en outro colegio. “Tony”, sin duda, pesó en el consejo de los curas... Como habría sido bueno si Alfonso, Gabriel y yo hubiéramos tenido un “Tony” a nuestro lado!
Volvamos a las aventuras académico-bohemias de Medellín. Joaquín, después de las clases en la Escuela de Aviación de SAM, pasaba las tardes con nosotros. Nos ayudaba a corregir exámenes (oh irresponsabilidad!). Preguntaba si la alumna fulana era bonita o fea. Conforme a nuestra evaluación estética, él daba la nota. Felizmente las alumnas feas eran pocas en esa Medellín de la eterna primavera. La verdad es que no hubo protestas de parte de ellas. Joaquín nos acompañaba a las fiestas de la Facultad, a la cual, ya en el año 70, se había incorporado mi hermano Alfonso, como profesor auxiliar de Literatura y Filosofía de la Universidad Pontificia Bolivariana.
En cierta ocasión, fuimos invitados a un almuerzo de las alumnas de la Facultad de Servicio Social, en una finca. La condición era llevar un pollo asado. Nos olvidamos de la exigencia y solamente compramos las bebidas. Pero Joaquín dió la solución: él sería el pollo. Flaco y muy ágil, él lograba encogerse como un pollo de fiambre y piaba razonablemente. Lo colocamos en el banco de atrás de nuestro Dodge 53 y nos fuimos para el sitio del almuerzo. Con pompa y circunstancia desembarcamos las bebidas y a Joaquín, encogido como un pollo piando. Las alumnas se murieron de la risa, aceptaron nuestra contribución y pasamos una tarde muy divertida, oyendo los chistes de nuestro primo y las carcajadas de ellas. Mi papá, que sabía de nuestras tramas, nos regañaba, diciéndonos: “No lleven a su primo a las fiestas de la Facultad, que él ya es piloto y termina cayendo en la borracheira, teniendo que pilotar al día siguiente!”
Joaquín también nos acompañaba a las fiestecitas que nuestras amigas de barrio organizaban, los fines de semana. Eran comunes, en la Medellín de la época, las tardes danzantes, organizadas por las familias para diversión de los jóvenes y adolescentes. Yo tenía una amiguita, Beatriz, que me invitaba. Iba a los bailes en compañía de Alfonso, Joaquín y de mi hermano menor, Gabriel. A las niñas les encantaba la compañía de mi primo y de Alfonso, dueños de un temperamento divertido. Por la noche, contándole a mi mamá las aventuras danzantes, nos reíamos a gusto, tomando tinto, fumando y comiendo sánduches.
En 69, fuí parejo de una prima distante, Olga Cecília, en su fiesta de 18 años, celebrada en Ibagué, la “capital musical de Colombia” y capital del Departamento del Tolima. Ibagué tenía en esa época aproximadamente 300 mil habitantes. La fiesta de 18 era, en la Colombia de la época, la fecha de presentación de la aniversariante en sociedad y la conmemoración daba lugar a un baile de gala. Alquilé black tie y tomé el avión para Ibagué, en donde fuí recibido por los padres de Olga Cecilia, que me alojaron en su casa. Danzarín mediocre, logré sobrevivir a la noche de valses y ritmos caribeños.
Olga Cecilia me gustaba mucho. La había conocido en una fiesta familiar, en la casa de mi prima Eugenia, casada con mi hermano Alfonso. Olga Cecilia hacía el curso de Pedagogía en la Universidad Bolivariana y allí nos encontrábamos con frecuencia. Le ayudaba en sus trabajos de filosofía y conversábamos largamente en la cafetería de la Facultad. Vivía cerca a la Universidad y ella me invitaba a su casa para reuniones con amigos. Era una niña dulce, bonita, muy familiar. Años después, en 75, radicado nuevamente en Medellín, la encontré en la Escuela “República del Brasil”, en donde mi primera esposa daba clases de “cultura brasileña”, con apoyo del Consulado.





quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

ALFONSO (1947-2019)



Alfonso e Ricardo, em frente à Casa Paterna. Bogotá, julho de 2017. (Foto: álbum de família).

  Revivo aqui várias lembranças, comuns a mim e aos meus irmãos. Talvez, a vivência mais enraizada na minha memória das origens seja a da dupla circunstância campo - cidade. Comecei os meus dias nesta última. Lembro-me do meu lar, na calle 63b, n° 25-25, do bairro Muequetá, vizinho do chique bairro Chapinero, no norte de Bogotá. As minhas primeiras lembranças são da casa paterna, de estilo espanhol, construída pelo meu pai com a ajuda de um arquiteto russo, cujo nome (Boris Sigoronov) ele apagou da placa de pedra em que estava escrito. Esse arquiteto estava exilado na Colômbia e chorou, amargamente, a morte do "paizinho", quando o cruel ditador Stalin faleceu, em 1953. Essa bela residência de dois andares foi o cenário dos meus primeiros anos de vida.

Recordo-me, ainda, do terror das noites, no início da guerra civil, após a morte do líder liberal Jorge Eliécer Gaitán, ocorrida em 9 de abril de 1948, quando eu tinha 4 anos de idade (iria completar os 5, somente em novembro). O quarto que compartia com o meu irmão Alberto, nesses dias violentos, dava para a rua. Lembro-me do meu pai, empunhando a carabina Winchester e empurrando o velho armário de madeira e colocando-o em frente à janela, de forma a bloquear, com ele, a entrada das balas e dos reflexos vermelhos provocados pelo incêndio do Colégio Maior Nossa Senhora do Rosário, na Quinta Mutis, que ficava defronte à nossa residência. O meu velho passou a noite postado numa janela entreaberta do cômodo vizinho, que servia de oratório, a fim de atirar contra os revoltosos que tentavam jogar panos embebidos em gasolina contra as janelas de madeira, a fim de provocar um incêndio. Dessa noite de corajosa vigília, o meu pai ganhou uma ciática que o atormentou pelo resto da vida. Lembro-me do pavor que senti com o incêndio e com o tiroteio na rua. Lembro-me dos meus irmãos Alberto, María Victoria, Alfonso (ainda, de colo) e eu refugiados com a minha mãe, embaixo da cama, para nos protegermos das balas perdidas. Lembro-me dela, rezando aquela velha oração que começava assim: "Senhor Deus onipotente, em vossas mãos estão postas todas as coisas, se quiserdes salvar o vosso povo nada poderá se opor à vossa vontade...". A nossa residência tinha virado alvo dos revolucionários “gaitanistas”, pelo fato de a minha mãe ser filha do general Amadeo, um dos principais líderes conservadores. A nossa residência era vizinha da que foi casa do meu avô, separada dela apenas por um lote.

Para fugir da guerra, fomos morar na casa da velha fazenda "El Carmen", situada a poucos quilômetros da cidadezinha de La Calera, nas montanhas, ao oriente de Bogotá, que o meu avô Amadeo tinha herdado dos seus pais. Ali, na velha casona espanhola de quinze cômodos, que datava da segunda metade do século XIX, nos refugiamos, após a sanguinolenta semana que se seguiu ao assassinato de Gaitán e que se conheceu como "El Bogotazo". Vivemos, eu e os meus irmãos, dias de plena liberdade no campo. Corríamos pelas verdes pradarias que circundavam a enorme casa da fazenda, feito cabritinhos soltos.

Observo, hoje, ao olhar para as fotografias da época, duas cenas: quando chegamos, e alguns meses depois. Na primeira, aparecemos de mãos dadas, com chapeuzinhos bem colocados nas nossas cabeças, como galãs de telenovela que posam para os fãs. Na segunda, aparecemos com o rosto queimado pelos ares andinos e pelo sol das manhãs passadas brincando em meio às plantações de trigo, com ar de molequinhos camponeses.

"El Carmen" foi o nosso refúgio para a violência que se vivia em Bogotá. Ali conhecemos outra dimensão da vida, com as vacas leiteiras do rebanho que o meu pai tinha, com o estábulo, com as instalações para refrigeração do leite, com a "queijeira", onde os trabalhadores preparavam os queijos e as manteigas, com a feirinha dominical na praça de La Calera, após a missa, com o meu pavor pelos foguetes domingueiros e de Natal que faziam, para mim, um barulho ensurdecedor. Lembro-me das noites de festa de Natal e Ano Novo, eu refugiado, embaixo da cama, para me proteger do barulho dos foguetes, com a companhia fiel do cachorro preto "Temerón", medroso como eu....

Os quatro irmãos:
Ricardo, Alfonso, Marisa e Gabriel, Bogotá, Rosales, julho de 2017.
(Foto: álbum de família).
No jantar oferecido, em julho de 2017, pelo primo Joaquín, no seu apartamento, situado no belo bairro residencial de “Rosales”, ao nordeste de Bogotá, estivemos presentes os quatro irmãos ainda vivos: Marisa, Alfonso, Gabriel e eu. Foi uma ceia maravilhosa, em que pudemos recordar velhos tempos, de quando morávamos em Medellín, nos anos 60 do século passado, ou de quando vivíamos na Fazenda El Carmen, no final dos anos 40 (ainda, Gabriel não era nascido, pois, sendo o mais novo, a sua data de nascimento é 21 de novembro de 1953). Revivemos, também, os anos que passamos na nossa casa de Muequetá, em Bogotá. 

Foi maravilhoso encontrar os meus irmãos. Esse, certamente, constituiu o principal motivo que me levou a programar a ida à Colômbia. Dou graças a Deus por ter conseguido encontrá-los e conviver com eles, embora por poucos dias. Gozado como, quando nos vemos depois de tantos anos, parece que a última vez foi no dia de ontem. É uma vivência emocional que nos enriquece e que se sobrepõe ao fluir do tempo.

Após esse encontro com os irmãos, acrescido pelo convívio com Joaquín e os outros primos, fiquei renovado. Foi como se tivesse carregado as pilhas do coração! O amigo Thiago, psicólogo, dizia-me que gostava de me ver tão animado, após a viagem à Colômbia. Só faltou a companhia do meu filhinho Pedro e a da minha querida Paula. A companhia da filha Vitória foi, para mim, muito gratificante e ela, também, curtiu, à beça, ter encontrado os seus primos e  tios.

Alegrou-me ver todos os irmãos realizados nas escolhas que fizeram na vida: Alfonso, que se formou em Filosofia, como eu, mas que enveredou, na pós-graduação, pelo Desenvolvimento Organizacional, especialidade que exercia nas suas assessorias junto à Universidade EAFIT, de Medellín. Marisa, advogada por vocação, que trabalhou muito duro para organizar a sua clientela, quando, ainda, era profissional engajada em Cali, na Colômbia, antes de ir para os Estados Unidos, nos anos 2000 e que, no Canadá, revalidou os seus estudos para trabalhar na área do Direito Imobiliário, mas, que curte, especialmente, os seus trabalhos de fino artesanato, na criação de bijuterias. Gabriel, que escolheu a área da Engenharia Eletrônica, tendo-se formado na Universidade de Antioquia e que, ainda, jovem profissional, deu provas de grande capacidade na fabricação e montagem de aparelhos, na área da biomedicina. Desempenha, atualmente, a sua profissão, com sucesso, no Canadá. 

Alfonso e Eugênia, Medellín (Foto: álbum de família).

Admiro os meus queridos irmãos e fico feliz pelas suas realizações familiares, também. Alfonso, com os seus quatro lindos filhos e avô de vários netinhos. Marisa, com duas filhas maravilhosas, Lina e Anita, cada uma com as suas escolhas muito bem-sucedidas: Lina, no Canadá, numa grande empresa de produtos químicos, e Anita como produtora de vinhos no sul da França, nesse pequeno paraíso que é Quarante, a cidadezinha medieval fundada por Carlos Magno, por volta do ano 800. Gabriel com os seus filhos já profissionais, Ricardo, engenheiro aeroespacial, que trabalha numa subsidiária da empresa Bombardier, no México, e Esteban, administrador, que trabalha na Universidade de Toronto; e com os lindos netinhos, filhos da Juliana, a filha mais velha, que mora nos Estados Unidos. Gostei de encontrar, junto com Alfonso e Gabriel, as suas esposas, Eugênia e Beatriz. Encantou-me reencontrar o marido de Marisa, Alejandro, engenheiro bem-sucedido no Canadá. Todos eles, maridos e mulheres, ainda com aparência jovem, apesar dos anos que não podemos negar. 

Volto no tempo para recordar os irmãos que partiram: Ricardito, meu xará, falecido um ano antes de eu nascer, em 1942; María Victoria, falecida, prematuramente, em 1982, com 37 anos, Alberto, o irmão mais velho, falecido em 2004, com 64 anos e Alfonso, falecido recentemente, em Medellín, no dia 28 de dezembro de 2019, com 72 anos.

Alfonso e este cronista, na Igreja de Lourdes, Bogotá, julho 2017.
(Foto: álbum de família)
A Medellín dos anos 60 e 70 foi a cidade da minha boemia tardia. Vivi as aventuras juvenis em companhia do meu querido irmão Alfonso, quatro anos mais novo do que eu, e do primo Joaquín, que viveu conosco, ao longo desses anos, pois fazia o curso de piloto na empresa SAM (Sociedade Aeronáutica de Medellín), para pilotar os famosos Electras, aqueles turboélices quadrimotores para 98 passageiros e três tripulantes que tinham, na parte de trás, uma hollywoodiana sala de fumantes. Eram os famosos Lockheed L-188. Joaquín se integrou às nossas aventuras boêmio-acadêmicas.

Alfonso tinha saído do Instituto Tihamer Toth, alguns anos depois de mim, e, como era formado em Filosofia, tratou de conseguir aulas na Universidade. Demorou a realizar o seu sonho acadêmico e começou a vida profissional como vendedor, talvez influenciado pela minha experiência na Editora Aguilar.

Dos meus irmãos, Alfonso tocava violão e Gabriel ainda pratica essa habilidade artística. Alberto tinha talento para o piano; tendo começado aulas, na academia de Luísa Maniguetti, sendo que as abandonou por pressão do pai, que achava que, se virasse pianista, tornar-se-ia maricas. A bem da verdade, Don Alfonso tinha, para os filhos, escolhido as profissões que deveriam exercer: Alberto seria, como cabeça de família, o seu sucessor à frente dos negócios; eu iria para o seminário, pois deveria haver um filho padre. Como o escolhido para tal profissão tinha falecido, logo após o nascimento, em 1942, eu, que o segui, recebi essa incumbência, além do mesmo nome: Ricardo. O facho vocacional do pai terminou arrefecendo com os filhos mais novos: Alfonso, Marisa e Gabriel foram deixados em paz.

Marisa deu um belo testemunho da cumplicidade da infância que viveu com Alfonso. Ambos viravam pirralhos que aprontavam sem parar. Há pouco tempo, ao ensejo da doença que consumiu a vida do meu irmão, Marisa escreveu: “Poncho: conversei hoje com Ricardo, que acabava de falar contigo. Não quero te atrapalhar, pois sei que tens dificuldade para falar. Quero te desejar ausência de dor e de incômodos. Sei que estás bem sereno, atitude que, sem dúvida, te ajuda muito nesta difícil situação. Felizmente estás em casa, rodeado de toda a tua família. O único que gostaria era estar perto de ti, para podermos falar de tudo. De como, graças a ti, tive uma infância muito, muito feliz. Fizeste que a minha adolescência fosse alegre como tu, apesar de ter estado longe de ti. Como foste solidário comigo, ao me ajudar a pintar a casa para o meu casamento! Foste, igualmente, solidário, na época em que saíamos para gastar o dinheiro do meu enxoval, fazendo lanches deliciosos e assistindo filmes maravilhosos. Graças a ti, tive a grande oportunidade de desfrutar a vida já que, na tua companhia, saíamos a conquistar montanhas e a sermos perseguidos pelos bodes nas nossas longas caminhadas. Tive a oportunidade, também, de escrever teatro do absurdo, em peças nas quais fazíamos troça de todo mundo, de papi, de mami, de suas vidas e dissabores. A minha grande diversão foi a tua cumplicidade para com as minhas molecagens. Lembro de como inventávamos canções imitando as que o nosso pai cantava, mas com letras nossas, pois intercalávamos palavrões proibidos. Lembro de como brincávamos aos caubóis do oeste. Tu me salvaste de que me tratassem como uma menina, o que contribuiu para a minha felicidade, de então e de agora, já que sempre fui mais um moleque do que uma sinhazinha, graças à tua proximidade. Parte de toda essa história a tenho vivido com as minhas filhas, que salvei de serem tratadas como meninas, tendo conseguido elas, assim, pensar por si mesmas e serem elas próprias, pois, como lhes contei muitas vezes, contigo tive a possibilidade de ter um amigo próximo, que me aceitou incondicionalmente. Deixaste, em mim, maravilhosos momentos de alegria, de riso, de aceitação e de amor. Quero-te, infinitamente, meu querido irmão, companheiro de aventuras infantis e juvenis. Obrigada por seres como és”.

A nossa mãe, Victoria, tentou morar com cada um de nós, após o falecimento da minha irmã Maria Victoria, em 1982, que morava com ela, depois da morte do meu pai, em 1977, em Medellín. Não deu certo nem com Alberto, nem com Gabriel, nem com Marisa, nem com Alfonso. Nem comigo. Ela, com mão diplomática, mas com aquela vontade de ferro, tentava organizar a vida do seu jeito. E as noras, ou a filha, logicamente, não gostavam. Assim, na cara e na coragem, a velhinha decidiu, quando morava em Cali com Marisa, nos anos 90, ir morar em Medellín, no Refúgio Vizcaya, uma casa para idosos administrada por freiras. Ela mesma negociou com estas, fez a inscrição e, num belo dia, de mala em mão, comunicou à Marisa a sua decisão, tomada sem ranger de dentes e sem nenhuma reclamação. “Minha filha, decidi que vou morar sozinha, em Medellín, no Lar Vizcaya. Já está tudo negociado. Podes me visitar, quando quiseres”.

No restrito mercado antioqueño, de então, após sair do Instituto Tihamer Toth, Alfonso só conseguiu uma vaga numa companhia de seguros, na área de venda de túmulos e serviços fúnebres. Era muito divertido escutar meu irmão contando as suas aventuras de vendedor de produtos macabros. Ele tinha, com certeza, mais aptidões do que eu para as vendas: gostava de conversar com todo mundo, as pessoas achavam engraçada a sua forma de contar as coisas e não tinha problema para enfrentar ambientes desconhecidos. Tinha, enfim, o feeling do bom vendedor. Num fim de tarde, no bairro de Belém, próximo à Universidade de Medellín, chegou a uma casa oferecendo os seus préstimos mortuários e, ao contrário do que imaginava (pois as pessoas encerravam a conversa, quando ouviam falar em túmulos e enterros), o dono da casa, um pai de família com uma prole barulhenta e numerosa, o fez entrar e sentar-se à mesa, pois a família ia tomar o lanche.

O patriarca fez o seguinte discurso: “Meus filhos, olhem para este rapaz que poderia estar, nesta hora, bebericando no bar da esquina ou deambulando, por aí, sem fazer nada. Tem quase a idade de vocês. E olhem para o que faz: trabalha num emprego difícil, pois túmulos ninguém quer comprar com esta vida tão cara. Mas, ele não esmorece. Parabéns, meu jovem vendedor. Você é um exemplo de disciplina e dedicação para esta turma de moleques que não querem saber de nada na vida!” Com esse discurso encorajador, Alfonso foi embora sem que o patriarca desse sinal de interesse nos túmulos ou nos serviços funerários...

Os primos: Da esq. para a dir.: Luís Llano, Alfonso, Javier Llano, Ricardo e Eugênia Llano. Bogotá, julho de 2017

A pouca sorte de Alfonso nas vendas de túmulos, não o fez esmorecer. Dono de um temperamento alegre e divertido, o meu querido Poncho não dava a menor bola para as desgraças mercadológicas. Pelo contrário: fazia, desses pequenos fracassos, motivo de piada. Muito sociável e um comunicador nato, logo, o querido irmão encontrou o seu “nicho de mercado”. O meu amigo, René Uribe Ferrer, que tinha sido decano de Filosofia na Universidade Bolivariana e a quem conheci nessa posição, foi nomeado, pelo Governador do Departamento de Antioquia, como Secretário de Educação. Chamou-me para colaborar, com ele, como reitor de um grande ginásio departamental situado em Sabaneta, um município pertencente à área metropolitana de Medellín. Ora, eu já estava organizado como professor da Universidade Bolivariana e não queria mudar o meu trabalho por uma função de administração escolar, que, para mim, se me apresentava como um repto difícil, pois carecia de experiência na área. Conversei com Alfonso, ponderando que, pelo seu modo de ser, e pelo fato de já estar lecionando, com sucesso, no prestigioso colégio Mary Mount, para meninas, talvez se desse bem na área administrativa de um estabelecimento de ensino oficial de grande porte. Afinal, ele sabia muito bem lidar com as pessoas. Alfonso aceitou o convite e foi nomeado, então, reitor do Ginásio Departamental de Sabaneta. O seu trabalho à frente desse estabelecimento foi um sucesso completo, segundo me manifestou, algum tempo depois, o próprio Secretário de Educação departamental.

Alfonso enveredou, depois, pelos estudos do desenvolvimento organizacional, tendo feito, com brilho acadêmico, a maestria na Universidade de Siracusa, em Champagne, Urbana, Estados Unidos. Pouco antes de viajar, tinha recebido convite da Universidade EAFIT, para lecionar Humanidades no Curso de Administração de Empresas, justamente na mesma área e na instituição em que eu, em 68, tinha iniciado a minha vida docente. Lecionei essa matéria em     EAFIT até o final de 1970, justamente à época em que Alfonso se vinculou a essa Universidade.

Para o meu querido irmão, segundo ele me dizia, em conversas sobre os rumos da docência da Filosofia numa Faculdade de Administração, somente faria sentido falar em Humanidades, se se partisse para uma humanização das relações interpessoais no terreno da gestão, fazendo com que os conceitos filosóficos fossem sendo compreendidos no plano concreto da vida e da tomada de decisões. Alfonso achava que o cultivo das Artes e da Filosofia deveriam ir de mãos dadas com a Ciência da Administração de Empresas, antecipando um conceito novo de gestão integral, que terminou sendo implantado nessa Universidade, quando da criação, em décadas posteriores, da Orquestra Sinfônica de EAFIT, não como um corpo estranho ao ensino da Administração, mas como uma privilegiada janela para apreender, vivencialmente, as relações entre valores artísticos e valorização da inteligência emocional, nas relações empresariais. Alfonso estava muito adiantado, para sua época, na compreensão do papel das Humanidades e da Filosofia na formação empresarial!

Senti, profundamente, o falecimento do meu querido Alfonso (Poncho), depois que um fulminante câncer terminal o acometeu, ao longo do segundo semestre de 2019. Encarou as longas temporadas de hospital e os seus últimos dias com espírito cristão e grande coragem, nunca perdendo o seu bom humor e aquela “politesse du coeur” que sempre o caracterizou. Resta-me a lembrança do irmão jovial, sempre otimista e disposto a tirar da vida o que houvesse de bom, sem se deter nas minúcias das dificuldades do dia a dia. Poucos dias antes de falecer, na última conversa que tive com ele pelo Whatzapp na noite de Natal, disse-me, com a voz enfraquecida pela doença, mas com a tranquilidade de sempre: “Hermano, parece que de esta aventura no salgo vivo. El cáncer se extendió a todo el organismo. Bueno, hermano, que se haga la voluntad de Dios. En sus manos estamos. Estoy tranquilo”. Lembro do meu pai, me recomendando imitar o “belo temperamento” de Alfonso, a fim de superar as más lembranças dos meus anos de seminário. A sua lição de vida e de coragem ficará, para sempre, presente na minha alma.

Alfonso tinha uma especial capacidade de gestão acadêmica, no nível superior, tendo deixado prova disso na magnífica obra de docência e consultoria na área empresarial, por ele desempenhada, durante mais de trinta anos, na Universidade EAFIT, de Medellín, uma das mais conceituadas da Colômbia e da América Latina. Dá testemunho dessa sua realização, a nota de pesar com motivo do seu falecimento, emitida pelas autoridades diretivas e a comunidade acadêmica da mencionada Universidade, nos seguintes termos: “Alfonso Vélez Rodríguez, un maestro, consejero, estratega, negociador y un ser humano con cualidades excepcionales, quien con un espíritu siempre alegre y positivo, realizó importantes contribuciones para la transformación de la Institución y sus áreas misionales de docencia, investigación y proyección social”. A nota foi assinada pelos integrantes do Conselho Superior da Universidade EFIT, juntamente com o Reitor, os diretores, os professores, os funcionários administrativos e os estudantes, que expressaram o seu pesar pelo falecimento de quem foi Diretor da Escola de Administração, professor e assessor de inovação. Assisti, emocionado, à bela apresentação de slides, com que a Universidade homenageou o meu querido irmão e a sua família, no dia 15 de janeiro de 2020. Está reconhecida, ali, a sua bela inspiração humanística, com que soube renovar o ensino da Administração e a prática do Empreendedorismo na Universidade EAFIT.

Ainda lembro, emocionado, as palavras da sua esposa Eugenia, em post encaminhado a mim (em 4 de janeiro), pouco depois do falecimento de Alfonso: “Su vacío es enorme. Qué difícil es este paso. Pareciera que nos sale al encuentro, en cada detalle, y en cada hijo encuentro un pedacito de él. También hay tantas cosas lindas que nos dejó y nos enseñó, que quisiera gritarlas al mundo entero. Él siempre te tuvo presente y te siguió los pasos. No era muy expresivo para comunicártelo, pero me lo dijo varias veces”. Eu, também, sempre o tive muito presente, e admirava, com sadia inveja, a sua capacidade de chegar às pessoas, com essa sua simplicidade inigualável e a simpatia natural, que abria portas e corações. Enfim, acho que eu e o meu querido Alfonso ficamos quites em matéria de valorização pessoal e carinho fraterno, embora, pela educação tradicional que recebemos, pouco nos comunicássemos a mútua admiração e o amor recíproco.

Boa sorte tivemos, Alfonso e eu, nos empreendimentos boêmios. Como ele tocava violão, criamos uma dupla caipira, imitando os conhecidos cantantes “Los Tolimenses”, Emetério e Felipe. Eu encarnava o primeiro, Alfonso o segundo. Imitávamos a fala desajeitada dos nossos personagens (que tinham imensa audiência nos programas de rádio e TV) e contávamos causos entremeados por toadas sertanejas, que cantávamos em dupla, eu fazendo a primeira voz, Alfonso a segunda. O sucesso foi grande. Éramos convidados para festas de aniversário e até casamentos. Eu escrevi, com paciência beneditina, um caderninho com as estórias de “Los Tolimenses”, que, evidentemente, foram sendo acrescidas. Até os nossos ouvintes nos passavam piadas novas, a fim de que enriquecêssemos o acervo.


Alfonso, Medellín, 2003. (Foto: álbum de família).
A empresa humorística não tinha empresário. Aí, nesse detalhe, esteve a nossa falha. Era necessário alguém que cuidasse, financeira e administrativamente, do empreendimento. Mesmo sem ganhar dinheiro, só por diversão, sobrevivemos dois anos, até a data em que fui expulso do corpo docente da Universidade Bolivariana, em decorrência da minha militância sindical e política. Desempregado, tive de buscar trabalho em Bogotá.

A nossa vida de adolescentes tardios foi, certamente, ajudada, em muito, pelo nosso primo Joaquín, que tinha mais experiência de mundo. Embora tivesse passado um ano interno no Instituto Tihamer Toth, logo conseguiu se ver livre do seminário. Um dos motivos da sua libertação desse ambiente clerical foi, imaginem os leitores, o seu cachorro, “Tony”, que não desgrudava dele. Era um cãozinho vira-lata, daqueles de tempo integral e dedicação exclusiva. Quando Joaquín foi matriculado, pirralho ainda, o cãozinho o acompanhou, no dia em que os meus tios, Juan Félix e Solita, levaram-no ao seminário. “Tony” acompanhou Joaquín e o deixou no internato, tendo regressado à casa dos meus tios, junto com eles. Mas, coisa extraordinária, o bichinho apareceu, de noite, uivando no pátio interior do seminário. Tinha percorrido mais de 10 quilômetros entre a casa dos meus tios e o bairro Prado Veraniego, onde ficava o internato. Os porteiros fizeram algazarra perseguindo o cãozinho invasor. Imaginem onde foi se refugiar “Tony”? Justo embaixo da cama do meu primo, que ficava na ala dos alunos menores, um salão imenso cheio de beliches, que albergava mais de 60 crianças. “Tony” montou guarda embaixo do beliche de Joaquín. E virava uma fera, quando tentavam tirá-lo daí.


Ricardo, Alfonso e Gabriel. Medellín, 2003. (Foto: álbum de família).
“Tony”, logicamente, acompanhava o meu primo em todas as atividades, desde o banheiro, passando pela capela para a missa matinal e, logo, no refeitório para o café da manhã. Depois, ia à sala de aula, para divertimento dos pirralhos, pois havia professores dos que o cachorrinho não gostava e eram presenteados com rosnados aterradores. As cozinheiras logo caíram de amores pelo cachorrinho e lhe garantiam, com regularidade, pratinhos com as sobras do refeitório. Depois de uma semana, o reitor do seminário chamou os pais de Joaquín, explicou que o “Tony” estava transformando a rigorosa disciplina do seminário numa zorra e que era necessário que a família tomasse alguma providência. O tio Juan Félix, oficial da polícia, imaginou uma solução conciliatória e eficaz. “Tony” seria albergado na Escola de Sargentos da Polícia que ficava perto do lugar onde estava sediado o seminário, numa chácara de nome “La Pequeña Victoria”, na estrada que conduzia à cidadezinha de Suba. Os padres prometeram que Joaquín poderia ir visitar o cãozinho a cada quinze dias, e assim, “Tony” conseguiu, mesmo que a intervalos quinzenais, a “pequeña victoria” de ficar por perto do seu dono.... Passado o primeiro ano de internato, o reitor do seminário explicou aos meus tios que Joaquín, talvez, não tivesse um perfil adequado para ficar no internato e aconselhou que o matriculassem em outro colégio. “Tony”, sem dúvida, pesou no conselho dos padres... Como teria sido bom, se eu e os meus irmãos Alfonso e Gabriel tivéssemos tido um “Tony” por perto!

Mas, voltemos às aventuras acadêmico-boêmias de Medellín. Joaquín, após as aulas na Escola de Aviação de SAM, passava as tardes conosco. Ajudava-nos a corrigir provas (ô irresponsabilidade!). Averiguava se a aluna fulana era bonita ou feia. Conforme a nossa avaliação estética, ele dava a nota! Felizmente, as alunas feiosas eram poucas nessa Medellín da eterna primavera. O certo é que não houve reclamação da parte delas. Joaquín nos acompanhava nas festas da Faculdade à qual, já no ano 70, tinha-se incorporado o meu irmão Alfonso, como professor auxiliar de Literatura e Filosofia da Universidade Bolivariana. Numa ocasião, fomos convidados para um almoço das alunas da Faculdade de Serviço Social, numa chácara. A condição era levar um frango assado. Esquecemos do encargo, tendo providenciado unicamente as bebidas. Mas Joaquim deu a solução: ele seria o frango. Magrelo e muito ágil, ele conseguia se encolher como um frango de padaria e piava razoavelmente. O colocamos no banco traseiro do nosso velho Dodge 56 e fomos para o sítio do almoço. Com pompa e circunstância desembarcamos as bebidas e o Joaquim, encolhido como um frango, piando. As alunas morreram de rir, aceitaram a nossa contribuição e passamos uma tarde muito divertida, com as piadas do nosso primo e as gargalhadas das alunas. O meu pai, que sabia das nossas tramoias, passava-nos pitos. “Não levem o seu primo às festas da Faculdade, que ele já é piloto e termina caindo na bebedeira, tendo de pilotar no dia seguinte! ”

Joaquín, também, nos acompanhava às festinhas que as nossas amigas de bairro organizavam, nos finais de semana. Eram comuns, na Medellín da época, as tardes dançantes, organizadas pelas famílias para divertimento dos jovens e adolescentes. Eu tinha uma amiguinha, Beatriz, que me convidava. Comparecia aos bailecos em companhia de Alfonso, Joaquín e do meu irmão caçula, Gabriel. As meninas adoravam a companhia do meu primo e do Alfonso, donos de um temperamento divertido. À noite, contando as aventuras dançantes à minha mãe, ríamos à vontade, tomando cafezinho, fumando e lanchando.

Em 69, fui par de uma prima distante, Olga Cecília, na sua festa de 18 anos, celebrada, em Ibagué, a “capital musical da Colômbia”, cidade mais importante do Departamento de Tolima e que tinha, na época, perto de 300 mil habitantes. A “festa de 18” era, na Colômbia da época, a data de apresentação da aniversariante em sociedade e a comemoração dava ensejo a um baile de gala. Aluguei black tie e tomei o avião para Ibagué, onde fui recebido pelos pais de Olga Cecília, que me alojaram na sua casa. Dançarino medíocre, consegui sobreviver à noite de valsas e ritmos caribenhos.

Eu gostava muito de Olga Cecília, que tinha conhecido em festinha familiar, na casa da prima Eugênia, casada com o meu irmão Alfonso. Olga Cecília fazia o curso de Pedagogia na Universidade Bolivariana e ali, frequentemente, nos encontrávamos. Morava perto da Universidade e ela me convidava à sua casa para reuniões de amigos. Era uma menina doce, bonita, muito familiar. Gostava dela. Anos depois, em 75, já radicado em Medellín, encontrei-a na Escola República do Brasil, onde a minha primeira esposa dava aulas de “cultura brasileira”, com apoio do Consulado.

Os cinco irmãos e a mãe Victoria, em 2003, Medellín. (Foto: álbum de família).
Acima e embaixo: Alfonso e Ricardo, na entrada da Casa Paterna, julho 2017. (Fotos: álbum de família).