Gilberto
Ferreira Paim nasceu em Jacobina, Estado da Bahia, em 24 de Agosto de 1919 e
faleceu no Rio de Janeiro em 23 de Agosto de 2013, às vésperas, portanto, de
completar 94 anos. Iniciou o Curso de Direito em Salvador – Bahia, no início da
década de quarenta. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, ainda naquela
década, deu continuidade aos estudos jurídicos na Faculdade de Direito, mas não
concluiu. Não havia, na época, curso de Economia. Os economistas dessa geração
provinham geralmente das Escolas de Direito. Tendo despertado o interesse pela
matéria, inscreveu-se, na década de cinquenta, no concurso para receber o
título oferecido pelo Conselho Federal de Economia, com a tese intitulada: A
dualidade básica da Economia brasileira. Esse era um tema estudado por um amigo seu, Inácio Rangel
(1914-1994) que mais tarde se destacaria como economista.
Dedicou-se,
basicamente, à atividade como jornalista. Pertenceu, durante muitos anos, aos
quadros da Associated Press e também ao Correio da Manhã, jornal que, na
época, gozava de grande prestígio.
Desenvolveu laços de grande amizade com o
parlamentar e ministro Roberto Campos (1917-2001). Juntamente com ele concebeu
o Projeto Minerva, que estabeleceu uma parceria com a Universidade George
Washington, para oferecer cursos destinados a funcionários brasileiros da área
de finanças. Dedicou-se, também, ao Conselho Técnico da Confederação Nacional
do Comércio, no Rio de Janeiro, e durante largo período foi o editor da muito
prestigiada revista denominada Carta Mensal, órgão do Conselho
Técnico da CNC.
Gilberto
Paim era irmão de outros dois grandes vultos da intelectualidade brasileira: o
médico Isaías Paim (1909-2004), um dos fundadores da psiquiatria no Brasil e o
filósofo e historiador das ideias Antônio Paim (1927-), membro também, como
fora Gilberto, do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio.
Conheci
Gilberto Paim quando do meu ingresso no CNC, em 1993. Já sabia dele pelo seu irmão,
Antônio, meu amigo de décadas atrás. A impressão que, desde o início, me passou
Gilberto foi a de que era um gentleman,
no sentido cultural do termo, ou seja, alguém possuidor de nobreza de espírito,
um patriota que defendia os interesses da Nação brasileira, tendo a defesa da
liberdade e da tolerância como notas distintivas do seu comportamento. Era
movido a brasilidade.
Poucos
anos após a minha entrada no Conselho Técnico, recebi do Gilberto uma
correspondência em que sintetizava, item por item, as conferências que eu tinha
pronunciado no Conselho, em que pese o fato de ser um dos mais jovens membros
desse colegiado, sem possuir, evidentemente, os atributos de cultura dos outros
conselheiros. Na sua correspondência, Gilberto me animava para continuar com a
labuta de pesquisa das coisas brasileiras. Interpretei o seu gesto como pura
generosidade de sua parte e como um sinalizador, vindo de quem conhecia em
profundidade o Brasil, para continuar com um trabalho de pesquisa, que, na área
da filosofia e da história da cultura, estava sendo seriamente combatido pela
burocracia da Capes. Efetivamente, a mencionada agência do MEC tinha aberto a
artilharia contra os cursos de pós-graduação em Pensamento Brasileiro, sob a
batuta dos discípulos do padre Henrique Claudio de Lima Vaz, encastelados na
Comissão de avaliação dos Cursos de Pós-graduação.
Deixo
aqui a minha nota de admiração e de saudade por essa figura ímpar que foi
Gilberto Paim, com quem felizmente estabeleci uma duradoura amizade que em
muito enriqueceu a minha vida de pesquisador da cultura brasileira.
A
obra de Gilberto Paim é ampla e abarca vários aspectos da história econômica
brasileira. Neste artigo, me debruçarei sobre dois pontos que, a meu ver, são
essenciais no seu pensamento: em primeiro lugar, a avaliação do momento
pombalino e, em segundo lugar, a análise das influências desse momento no
século XX, no monopólio da Petrobrás e na reserva de mercado da informática.
I - Avaliação do
momento pombalino
Uma
das contribuições mais importantes de Gilberto Paim consistiu na equilibrada
avaliação do momento pombalino. Os pontos básicos dessa avaliação encontram-se
na obra intitulada: De Pombal à abertura dos portos. [1]
Sebastião
José de Carvalho e Mello, marquês de Pombal (1699-1782), não há dúvidas, foi
uma figura controversa. Essa ambiguidade decorre do caráter modernizador de que
se revestiu a sua obra. Decidiu tirar Portugal das sombras da Idade Média. E
dividiu as opiniões.
Eis
a caracterização que Gilberto Paim faz dessa circunstância: “O passar do tempo
deu uma dimensão monumental ao marquês, cuja figura mítica é acompanhada por um
fervoroso cortejo de aderentes e simultaneamente combatida por uma ativa
agremiação de adversários. A força da personalidade política pombalina se
revela no calor que os portugueses põem no debate em torno de seu nome,
deixando a segura impressão de que o ministro continua entre os vivos com sua
filosofia, sua ideologia e seu programa expansionista e nacionalizante. Do terceiro
quartel do século XVIII aos nossos dias teria permanecido incólume, no
imaginário popular, o ambicioso espírito reformista com que Carvalho e Mello
marcou a sua presença na história. Diante de seu dinamismo à frente de um
governo que agiu com absolutismo ferrenho, a neutralidade é de todo improvável.
O objetivo de Pombal era superar os obstáculos que se antepunham à instauração
do Estado moderno. Com sua marcha inflexível nessa direção, ele sacudiu a vida
nacional de cima abaixo. E ao empenhar-se a fundo na tarefa de retirar Portugal
das teias da Idade Média, para coloca-lo no limiar da sociedade industrial, que
começava a organizar-se, o primeiro ministro de D. José I (1714-1777)
demonstrou uma capacidade administrativa hercúlea. Suscitou paixões e provocou
a divisão da sociedade lusa em dois campos: pró-marquês ou contra ele”.[2]
Destacarei,
a seguir, oito itens que, a meu ver, sintetizam a completa análise feita sobre
a obra do marquês por Gilberto Paim. Esses itens são os seguintes: 1 –
Avaliação positiva de Pombal pelos historiadores brasileiros e negativa, em
geral, por parte dos historiadores portugueses. 2 – Nacionalismo pombalino. 3 –
Novos métodos administrativos. 4 – Mercantilismo dirigido. 5 – Produção
dirigida. 6 – Monopólio da burocracia. 7 – Reserva de mercado. 8 – Crítica
liberal de Gilberto Paim ao pombalismo.
1 – Avaliação
positiva de Pombal pelos historiadores brasileiros e negativa, em geral, por
parte dos historiadores portugueses.
No
imaginário intelectual brasileiro, são escassas as críticas ao Pombal
modernizador. A maior parte dos nossos historiadores, considera Gilberto Paim,
defende a feição reformista do marquês, em decorrência do fato de que essa
posição em muito favoreceu a nossa independência de Portugal, ao permitir a
formação de uma elite ilustrada pela ciência moderna. Tivéssemos ficado sob as
asas tutoriais dos Jesuítas, certamente jamais teria acontecido a nossa
independência de Portugal.
A
respeito da posição benévola dos historiadores brasileiros em face do marquês
reformista, frisa Gilberto Paim: “Não há convergência de opiniões entre os
historiadores portugueses e brasileiros. Em Portugal as correntes que denunciam
o absolutismo pombalino, às vezes superam as que lhe são favoráveis. Deste lado
do Atlântico não se reproduz o mesmo quadro. Nossos historiadores assumem
postura diversa. São aqui encontradiços os elogios e escassas, as críticas.
Modela a atitude dos brasileiros um sentimento de gratidão que emana do reconhecimento
de que Pombal foi um defensor vigoroso da dilatação contínua das nossas
fronteiras. Tornou-se ele um apóstolo do Tratado de Madri, de 1750, o qual,
tomando o lugar do obsoleto Tratado de Tordesilhas, de 1494, praticamente
eliminou os obstáculos legais à nossa expansão para o Norte e o Ocidente. O
território que viria a ser o Rio Grande do Sul era um deserto, ocupado pelos
portugueses a partir do decênio de 50. O Tratado de Madri foi obra do acaso. A
ascensão de Maria Bárbara de Bragança, filha de D. João V (1699-1750), ao trono
da Espanha, deu vida à cartografia elaborada por influência do santista
Alexandre de Gusmão (1695-1753), secretário particular do rei durante vinte
anos, de 1730 a 1750. A rainha espanhola, de sangue português, usou o poder do
trono para tornar possível o reconhecimento espanhol das cartas geográficas com
a configuração do Brasil atual. Sabia-se que Maria Bárbara, mulher culta,
poliglota, compositora de sonatas, era uma personalidade bastante forte para
dominar o frágil D. Fernando VI (1713-1759), seu marido. Por sua influência a
Espanha admitia o abandono (temporário) do Tratado de Tordesilhas e os
portugueses se apossavam em definitivo da região amazônica, até os limites
meridionais do Mato Grosso do Sul. Mas é bom lembrar que esse Tratado foi substituído
pelo de El Pardo, de 1761, pretendendo restaurar a situação anterior, o que não
impediu Pombal de continuar empenhado em dar ao Brasil uma configuração
territorial quase igual à que o País tem na atualidade. A Amazônia Brasileira,
incluindo em sua vastidão a área do antigo Mato Groso, representa um dos frutos
da tenacidade e da visão de longo alcance de Pombal no aproveitamento de
oportunidades internacionais e na competência de sua ação diplomática”. [3]
O
projeto modernizador de Pombal nasceu da influência que sobre ele exerceram os
ideais do iluminismo, bem como o conhecimento do élan modernizante sofrido pela
Inglaterra, país que ele conheceu de perto durante os anos em que foi representante
diplomático da Monarquia portuguesa. A respeito deste ponto, escreve Gilberto
Paim: “Não há historiador ou biógrafo de Pombal que deixe de ressaltar a
influência que teve sobre a sua formação espiritual o período que o ministro
viveu no exterior. O progresso e os sinais de mudança social que presenciara lá
fora fizeram-no decidir-se pela eliminação da
monarquia gótica,
representativa do atraso medieval, para em seu lugar erguer a monarquia
moderna. Mas o seu esforço pró-modernização não chegou a afetar o absolutismo,
o qual serviu de leito aos seus métodos administrativos. Diz Saraiva[4]
que com a intenção de modernizar, Pombal desferiu golpes cruéis sobre todos os
beneficiários dos privilégios em que se apoiava a antiga monarquia. E quando saíram do cárcere, suas vítimas
tentaram restabelecer o antigo estado de coisas, lançando a primeira vaga de
antipombalismo; para eles, o ministro não podia ser mais do que o tirano
sanguinário, o seu consulado fora uma longa noite a sua obra um desvio na
piedosa e legítima tradição portuguesa e, como tal, uma mancha ominosa na
história do país. Os defensores da tradição, frisa o historiador, continuam
hoje, na sequência dessa linha, a ser antipombalinos”. [5]
Embora
Pombal tivesse sido perseguido pela sucessora de Dom José I, Dona Maria I
(1734-1816), a Louca, completamente dominada pelos padres e pela antiga
nobreza, o velho marquês terminou sendo perdoado dos crimes de que o acusavam
os seus inimigos. Doente e idoso, Pombal retirou-se completamente da vida
pública, vindo a falecer no seu palácio aos 83 anos de idade. Anos depois, na
esteira liberal que se levantou em Portugal, a figura do marquês terminou sendo
revalorizada.
A
respeito deste ponto, escreve Gilberto Paim: “Apresentando as razões do estilo
de administração que regeu o governo na era pombalina, José Hermano Saraiva
opina que o despotismo era a fórmula política imperante no tempo em que
Carvalho e Mello cresceu e estudou, e foi essa a fórmula que procurou realizar.
Toda a sua obra, conforme o historiador, teve por objetivo consagrar a
autoridade do Estado, e não a liberdade dos súditos (....). A política de
formação das bases empresariais e capitalistas, que ele reputava essenciais ao
progresso econômico, teve por efeito a prosperidade do período posterior.
Segundo esse autor, a reforma do ensino superior foi feita em harmonia com
aquilo que então representava o espírito do progresso. Isso quer significar que
o atraso do seiscentismo foi em grande parte vencido nos 27 anos de governo
pombalino”. [6]
Os
historiadores brasileiros, a começar pelo visconde de Porto Seguro, Francisco
Adolfo Varnhagen (1816-1878), fazem uma avaliação positiva do ciclo pombalino.
Sem o marquês não teria sido preservada a nossa extensão continental. Sem ele
não teria se formado a geração que fez a Independência. Notadamente em relação
à preservação da vasta extensão territorial arrancada ao Império espanhol
mediante as hábeis negociações de Pombal e com a utilização da força armada
para defender as fronteiras, frisa Gilberto Paim: “O emprego da força das armas
e da autoridade máxima do Estado serviu de instrumento para impor aos espanhóis
a legitimação do nosso movimento expansionista. Os limites de Tordesilhas
ficaram muito para trás. Esse tratado nos concedia a faixa de terra dentro de
uma linha reta ligando Belém a Laguna. Toda a imensa extensão restante foi alvo
da conquista de brasileiros e lusitanos em sua penetração no território nos
séculos XVII e XVIII, em busca de ouro e pedras preciosas. Pombal manteve-se
suficientemente atento para dar cobertura militar a esses movimentos, mandando
construir um sistema de fortificações situadas em pontos extremos. Vem, pois,
de longa data, a tradição que faz com que os brasileiros encarem o estadista de
modo uniformemente simpático”.
2 – Nacionalismo
pombalino.
Um
dos traços que mais marcaram a passagem de Pombal pelo governo foi a sua
decidida visão de estadista: tudo fez com o intuito de modernizar Portugal e de
traçar políticas condizentes com essa nova visão. A sua vida política reduziu-se
a isso: colocar o seu país no rumo da modernidade.
A
respeito, escreve Gilberto Paim: “Essa linha política de afirmação nacional
distinguirá o reinado de D. José, em cujo curso Carvalho e Mello será um
ministro enérgico, de excepcional capacidade de trabalho e sempre pronto a
tomar decisões fulminantes. Pode-se afirmar, sem receio de erro, que a sua
postura nacionalista responde em grande parte pelo prestígio de seu nome junto
às gerações futuras. A atividade governamental ganha impulso e a presença de um
ministro destemido provoca imediata reação da nobreza, cujos movimentos contra
Sebastião José logo são percebidos. Assinala o diplomata e historiador Teixeira
Soares[7],
seu biógrafo entusiasta, que Carvalho e Mello trouxera ideias novas da sua
permanência no estrangeiro. Observara muito e muito aprendera em contato com
ingleses e austríacos. No exterior, frequenta diferentes meios sociais,
trazendo de volta um lastro de experiência política e diplomática utilíssima
para o entendimento dos assuntos administrativos, políticos, econômicos e
diplomáticos do reino”.[8]
3 – Novos métodos
administrativos.
O
primeiro ministro de D. José I era, fundamentalmente, um reformista dos métodos
administrativos. Ao passo que a gestão dos negócios públicos sob a tradicional
monarquia portuguesa obedecia à lei da estabilidade e da preservação das
benesses e privilégios da nobreza e da Igreja Católica, sob Pombal a gestão das
coisas públicas tomou outro rumo, que se poderia comparar ao posto em prática,
na França, por Luís XIV (1638-1715). [9]
Tudo era pensado em função daquilo que melhor se enquadrasse no esforço modernizador
do Estado. O norte da gestão pombalina era esse. Enquanto no passado os
Monarcas se preocupavam por privilégios pessoais dos Nobres ou por questões de
doutrina cristã ou de privilégios para bispos e clérigos, nos tempos de D. José
I toda a máquina do Estado se movia em direção a uma finalidade claramente
traçada: firmar o Estado moderno em Portugal. Todos deveriam se acomodar às
novas exigências dos tempos. Com o correr dos anos, vai se perfilhando no
horizonte uma nova nobreza, que será formada por gentis-homens com mentalidade
modernizadora, ou que será simplesmente acrescentada com a entrada de uma nova
nobreza de funcionários públicos formados no Colégio dos Nobres de Lisboa, algo
semelhante ao ocorrido na Rússia czarista com os denominados cargos tschin[10],
nas reformas empreendidas sob a orientação de António Nunes Ribeiro Sanches
(1699-1783), o mesmo médico de origem judia que, desde Paris, orientou as
reformas educacionais pombalinas.
Em
relação às novas exigências administrativas do ciclo pombalino, escreve
Gilberto Paim: “Ao tomar contato com as questões da administração, Carvalho e
Mello avalia as deficiências e mazelas da organização econômica do país, que
vivia do esbanjamento do ouro e diamantes do Brasil, enquanto a economia
nacional ia à deriva. Todos os biógrafos do marquês exaltam a sua alta
competência administrativa, salientando a vigorosa introdução de novos métodos
de governo como uma das marcas de Sebastião José no exercício do poder.
Teixeira Soares, por exemplo, não reprime o entusiasmo ao apreciar o dinamismo
do seu biografado, cuja ação dinâmica logo despertou a admiração de D. José, o
qual passou a ver nele um ministro realmente decidido. Isso bastava para
provocar o desdém da nobreza, que o encarava como um lacaio emproado, um feitor
rústico, à medida que subia o seu prestígio junto ao monarca”. [11]
A
estratégia pombalina primava pela eficiência. Contra a tradicional pachorra da
burocracia patrimonialista tradicional, o primeiro ministro exigia rapidez na
execução das ordens. Se referindo à descrição que da ação do ministro faz o seu
biógrafo Teixeira Soares, escreve Gilberto Paim: “Certa vez, relata esse
biógrafo, uma frota que deveria partir para o Brasil esperou durante três meses
por documentação que teria de ser providenciada pelo ministro da Marinha e
Ultramar, Diogo de Mendonça Corte-Real. A delonga levou os interessados a
recorrer a Carvalho e Mello, que em apenas quatro dias despacha a papelada e
permite a partida da frota. Diante de exemplos como esse, os inimigos redobram
esforços ao estenderem a rede de intrigas palacianas (...)”. [12]
5 – Produção
dirigida.
O
pombalismo ensejou na vida econômica o dirigismo estatal. O ideal era
constituir o Estado como empresário que garantiria a subsistência da Nação.
Ora, como o poder público não poderia se tornar diretamente o produtor de todos
os bens, o dirigismo da produção seria, então, a saída.
A
respeito, escreve Gilberto Paim: “A quase infinita sequencia de atos
legislativos pombalinos marca a trajetória do reinado de D. José,
transformando-o numa época de intensa atividade econômica oficial e privada.
Pombal se destaca como o governante a quem nenhum antecessor ou sucessor fez ou
fará sombra no mesmo cargo. Nos vinte e sete anos de sua administração, o ritmo
da legislação reflete o empenho do governo em adotar as mais variadas medidas
para acelerar o advento do progresso comercial e industrial. Os (atos )
legislativos de natureza econômica, antes e depois de Pombal, distinguem, com
efeito, o período que lhe reserva a história. Com um estilo de governo
desconhecido e ímpar na vida portuguesa, procurou ele introduzir a modernização
num país onde o feudalismo dava sinais de sua presença na economia e na
organização social precária e desequilibrada”. [13]
O
dirigismo pombalino estendeu-se a todos os campos da produção. Nada escapava
aos olhos do onipotente ministro. A respeito dessa presença tutelar que tudo
centralizava no gabinete ministerial e que se alicerçava na crença de que o
Estado absolutista, possuidor da ciência aplicada, era o único promotor da
modernidade, frisa o nosso autor: “Esse inabalável propósito de modernizar dá a
Pombal a justificação da ingerência governamental em todas as atividades. O
governo supõe correta a decisão de permitir que as instituições pias da cidade
do Porto emprestem dinheiro a juros às pessoas interessadas em participar do
capital da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, empresa por
ele criada para fazer face aos comerciantes ingleses na comercialização dos
vinhos daquela região. As instituições pias precisavam, portanto, de um habeas corpus para aplicar em
empréstimos os seus recursos financeiros. Por outro lado, como essa empresa representa o interesse comum da nação,
somente os comissários da Companhia podem comprar vinhos a granel, o que, evidenciando
uma situação monopolista, deixa entrever o cunho autoritário que se pretendia
dar ao desenvolvimento econômico. A instalação de uma fábrica de cal é
permitida a um cidadão inglês por decisão especial do poder público,
significando isso que, para se instalar uma indústria, tornava-se indispensável
a autorização oficial. Os pomares da Ribeira de Barbarena podiam ter uma função
social e econômica importante, produzindo frutas e hortigranjeiros e dando
ocupação a muita gente, mas o governo resolve proibir a sua irrigação em favor
do uso das águas na Fábrica de Pólvora, pertencente ao Estado”.[14]
6 – Monopólio da
burocracia.
A
consequência natural de todo esse dirigismo estatal da economia é o monopólio
que, em Portugal, no ciclo pombalino, passou a ter a burocracia, com todos os
descaminhos de favoritismo e corrupção que essa condição traz consigo. Se o
exclusivo promotor da modernidade em matéria econômica é o Estado, o seu
estamento burocrático tem, portanto, a primazia na atribuição das incumbências
da produção e na distribuição dos benefícios do processo produtivo. Os amigos
do rei são mais poderosos do que o resto.
Em
relação a este ponto, escreve Gilberto Paim: “As providências descritas
demonstram que a máquina burocrática foi transformada em celeiro de monopólios
a julgar pelos inúmeros alvarás e decretos que asseguram a exclusividade da
produção e comercialização de vários produtos a certas pessoas. Mas não há
dúvida de que a ação oficial assume caráter de abuso de poder quando o governo
decide impor a aceitação das apólices das Companhias Reais como bens sólidos para girarem como dinheiro
líquido. Essa e muitas outras violações das leis do mercado poderiam ser
tomadas como prenúncio de escassos resultados, a longo prazo, do esforço de
industrialização empreendido pelo governo pombalino; os seus atos provam que o
poder público estava preocupado em tratar de todos os assuntos, como indica um
alvará segundo o qual não podem executar obras, na edificação de Lisboa,
pedreiros, carpinteiros, canteiros e moldureiros que não tenham cursado a Aula
de Desenho e Fábrica de Estuque, por sinal gerida pela Real Fábrica de
Sedas, que está no rol das empresas governamentais”.[15]
A
herança do dirigismo pombalino seria longa na história brasileira. Os seus
traços se estendem até hoje. Tal proposta se alicerça na ingênua crença de que
quem melhor traduz os interesses dos cidadãos é a burocracia governamental que
se sobrepõe a eles. Jamais os indivíduos conseguirão traduzir, de forma
legítima, os seus interesses. Só o Estado e, no seio dele, o Monarca e o seu
primeiro ministro, têm luzes para tanto.
A
respeito deste ponto, frisa Gilberto Paim: “A ideia de onipotência que inspira
o governo pombalino, ao influir na geração e distribuição de riquezas, parece
estar bem expressa na concessão de privilégios de exclusividade na fabricação e
comercialização de certos bens. São vários os atos que conferem a empresas
esses privilégios. Recordemos que, no Brasil, até a segunda metade do século
XX, a exportação de açúcar e do álcool era exclusiva do respectivo instituto; a
importação de barrilha e soda cáustica só podia ser feita pela Companhia
Nacional de Álcalis; a importação de borracha era regulada pela
Superintendência da Borracha. E até 1992, a mão do Estado pesava sobre as
atividades da eletrônica digital. No inconsciente do administrador público
brasileiro parece estar legitimada por uma tradição secular a intervenção
governamental no setor econômico. Encontra o intervencionismo a sua principal
justificativa numa preocupação superior
do governante com o bem-estar dos seus concidadãos (na época pombalina eram os
vassalos ou súditos). Naturalmente que, a partir do exame da copiosa legislação
econômica pombalina, muitos brasileiros devem pensar nas razões de ordem
histórica que determinam a facilidade com que são criadas aqui empresas
governamentais”. [16]
O
monopólio exercido pela burocracia estatal manifestou-se, de forma clara, na
Companhia Geral de Grão-Pará e Maranhão, criada por Pombal em junho de 1755,
com a finalidade de exercer o monopólio do comércio e da navegação entre a
metrópole e a parte norte do Brasil. O objetivo imediato da Companhia era a
compra de escravos nas costas da África, com a finalidade de transportá-los às
capitanias do Pará e do Maranhão.
Esse
comércio, frisa Gilberto Paim, “(...) era desenvolvido à base de monopólio no
transporte e venda das mercadorias que serviam de base para a aquisição dos
escravos. Abrangia a áreas de atuação monopolista da empresa as ilhas de Madeira,
Cabo Verde e Açores, cujos produtos exportáveis somente podiam ser comprados e
transportados pela Companhia. A voracidade do monopólio chega ao ponto de ficar
decidido pelo primeiro-ministro a entrega, à Companhia, por vinte anos, dos governos político e militar das ilhas de
Cabo Verde, suas anexas, e Costa da Guiné. Desse modo, foram conferidos
poderes à empresa para indicar as autoridades civis e militares das referidas
áreas, cujos nomes eram por ela selecionados e entregues ao governo para os decretos
de nomeação. À empresa foi concedido também o privilégio de isenção de direitos
alfandegários nos portos de Portugal (...)”. [17]
Um
dos objetivos secundários para a criação da Companhia de Grão-Pará e Maranhão
consistia em impedir que os comerciantes das duas maiores praças portuguesas,
Lisboa e Porto, tivessem liberdade suficiente para impor condições à Coroa. A
respeito, escreve o nosso autor: “Havia, entretanto, alguma coisa de errado na
organização da empresa, a qual foi fundada para exercer o monopólio do comércio
e da navegação entre a metrópole e a parte setentrional da colônia. A ação
monopolista desalojaria do comércio marítimo os negociantes de Lisboa e do
Porto, os quais veicularam sucessivos protestos contra esse alijamento. A reação
pombalina contra esses protestos foi fulminante: os sete membros dirigentes da
associação comercial lisboeta, que assinaram um memorial ao governo,
considerando nocivo o monopólio, foram condenados ao desterro. Ficou, assim,
demonstrado o absolutismo do poder com a expedição das sentenças contra as
vítimas; os comerciantes das duas praças cessaram a resistência e silenciaram”.
[18]
O
resultado do comércio monopolista praticado pela burocracia pombalina foi
positivo, do ângulo estratégico, para preservar os limites das duas colônias
setentrionais. Tanta foi a importância dada pelo marquês a esse objetivo que,
além da política de construção de fortes, nomeou o seu irmão, Francisco Xavier
de Mendonça Furtado (1700-1769), governador do Grão-Pará e comandante militar
das duas capitanias, tendo nomeado também o seu sobrinho, Joaquim de Melo e
Póvoas, governador das capitanias do Maranhão e Piauí, cargo desempenhado por
este entre 1775 e 1779.[19]
Mas
se o resultado do comércio monopolista revelou-se positivo para os planos
estratégicos do marquês, não foi, contudo, favorável aos interesses dos agentes
econômicos independentes e dos próprios súditos nas duas Capitanias, bem como
nas ilhas onde funcionava a Companhia. Eis o testemunho dado pelo nosso autor,
com fundamento nas pesquisas do historiador português António Carreira:
“Em
conformidade com a tendência irreprimível dos monopólios para a prática de
arbitrariedades, detecta-se esse mal incurável no comportamento da Companhia,
tanto em Cabo Verde como na Guiné. Tudo o que a empresa faz contraria os
interesses de longo prazo das áreas onde ela opera. Os agentes da Companhia
estão sempre prontos a abusar de seus privilégios. A prova evidente do espírito ganancioso da empresa ou dos seus agentes
está no fato de, depois de seis anos de sua instalação em Cabo Verde, haver
absorvido todo o grande e pequeno comércio, inclusive os estabelecimentos mais
insignificantes, diz o citado autor. Reproduz António Carreira trecho de um
relatório do Ouvidor Geral, datado de abril de 1761, no qual se declara que a
Companhia, além de exercer o monopólio na compra de carneiros, porcos, cabras e
demais víveres chamou a si a venda dessas carnes, estendendo essa exclusividade
à venda de galinhas, abóboras, laranjas e demais frutas da terra (Cabo Verde).
Queixam-se os habitantes do arquipélago, de que a empresa compra esses produtos
a preços baixos para revendê-los aos estrangeiros a preços excessivos. Por essa
via marchava a decadência econômica das ilhas”. [20]
7 – Reserva de
mercado.
O
problema fundamental de pensar a economia num contexto mercantilista como o
pombalino consiste em que ela é concebida como processo de “soma zero”. Se
alguém ganha é porque surrupiou de outrem. A riqueza, nesse contexto, é
amaldiçoada. As coisas pioraram sensivelmente no contexto da cultura contra-reformista
imperante na Península Ibérica. O lucro simplesmente era considerado pecado.
Como fazer, então, para produzir a riqueza?
Antônio
Paim mostrou que o pensamento pombalino elaborou um arrazoado original para
superar esse impasse: o Estado empresário era o encarregado de produzi-la e de
distribuí-la entre os súditos do Monarca português. Nisso consistia a famosa
“aritmética política” que o marquês apresentou a D. José I.[21]
Dentro desse contexto, ficava superada a questão do caráter pecaminoso da
riqueza e do lucro. Se tudo ficasse nas mãos do Estado, não haveria problema.
Ele não sujaria as mãos, pois não se confundia com o egoísmo dos indivíduos e estaria
gerido em função do bem de todos. Tratava-se de uma espécie de
rousseaunianismo. Lembremos que para o pensador genebrino o Legislador e os
seus colaboradores, “os puros”, encarregar-se-iam de moralizar a sociedade
mediante a busca do bem público, esquecida como imoral a defesa dos interesses
individuais dos cidadãos. [22]
A
primeira consequência desse estatismo, no contexto da estrutura patrimonial do
Estado português, foi o dirigismo da produção e o afunilamento do lucro por
parte da elite burocrática. Os restantes membros da sociedade “ficavam a ver
navios”. Para progredir era necessário se juntar à empresa do Rei.
É
esta a circunstância que o nosso autor descreve no seguinte trecho: “Coube ao
governo pombalino extinguir a escravatura em Portugal, muito embora as suas
companhias de comércio e navegação procurassem tirar o máximo proveito da
compra de escravos, em portos africanos, para a sua venda no Brasil. Em setembro
de 1761, um alvará com força de lei proibiu a introdução de escravos no reino
declarando forros e livres todos aqueles que viessem a ser desembarcados em
portos lusitanos. Não obstante todo o esforço que representa o pano de fundo
dessa legislação, Pombal foi além, pois queria reformar os costumes. Essa
intenção reformista produziu numerosos atos do ministro. Um exemplo dessa
preocupação foi o combate ao contrabando em navios da Companhia Geral do
Grão-Pará e Maranhão, embora fosse difícil contê-lo, pois era realizado pelos
próprios funcionários da empresa. Em julho de 1758, um alvará com força de lei
proíbe os empregados da Companhia de Comércio o exercício de qualquer atividade
comercial particular. No tocante à Companhia das Vinhas do Alto Douro, o governo
adotou medidas severas contra os que
desviarem dinheiro da Companhia para fins particulares e contra os que
praticavam outros atos, inclusive a mistura de vinhos com o objetivo de ganhos
ilícitos. Infelizmente, os empregados dessa empresa sempre encontravam meios de
burlar as providências moralizadoras”. [23]
Citando
pesquisa desenvolvida pela historiadora Susan Schneider [24],
o nosso autor relata um episódio que ilustra a “razão louca” do espírito
monopolista pombalino. A fim de garantir o domínio completo da indústria criada
pelo ministro no ramo da pesca, o marquês terminou trazendo maiores problemas
para a economia portuguesa. O espírito monopolista significou um tiro no pé de
quem pretendia tudo modernizar a partir do Estado empresário.
Eis
a narrativa do fato: “(...) Pombal, repetindo decisões anteriores, criou
monopólio de monopólios dentro do monopólio. Para que a Companhia de Pesca
pudesse conservar o peixe, foi-lhe concedido o monopólio de todo o sal do
Algarve. Além disso, para lhe garantir um mercado para venda das sardinhas e do
atum, o primeiro ministro proibiu a importação de peixe espanhol no norte de
Portugal e ordenou a destruição de todas as instalações de pesca, no Rio Douro,
alegando que as áreas de pesca nesse rio obstruíam a passagem de barcos que
transportavam vinho. Finalmente Pombal proibiu os habitantes do Porto de
importar peixe de qualquer parte, com exceção do Algarve. Os espanhóis haviam
baseado a indústria de pesca na aldeia praiana de Monte Gordo, enquanto Pombal
escolheu outro local para instalar a sua empresa: Vila Real de Santo Antônio,
no canto sudeste do território português. Como não havia casas em Vila Real,
foi preciso ali construir uma cidade inteiramente nova. A iniciativa fracassou,
porque os pescadores se recusaram a mudar de Monte Gordo para Vila Real. Conta
Susan Schneider que, para obriga-los a essa mudança, Pombal mandou incendiar e
arrasar Monte Gordo, ordem que foi cumprida pela tropa, porém os pescadores se
mantiveram em sua recusa e fugiram para a Espanha. Na luta com a falta de
braços para salgar o peixe e tripular os barcos, a Companhia pesqueira
fracassou. Quem pagou pelo capricho do primeiro-ministro foi a Companhia do
Alto Douro, que havia assumido a responsabilidade pela maior parte do
investimento no Algarve, perdendo tudo o que investira na construção de seis
grandes armazéns na praia, seis grandes barcos de pesca e grandes quantidades
de madeira, mandadas para o Algarve para ajudar na construção de Vila Real de
Santo Antônio. No final da década de 1770, a Vila era uma localidade fantasma,
inteiramente despovoada”. [25]
8 – Crítica liberal
de Gilberto Paim ao pombalismo.
Embora
o nosso autor reconheça a importância das reformas pombalinas no que tange à modernização
do Estado português e às variáveis ligadas à independência brasileira, ele
destaca, em alto e bom som, as limitações de tal projeto modernizador. A
essência da crítica de Gilberto Paim ao pombalismo consiste na identificação de
tal processo como uma política antiliberal. Em decorrência do fato de o Estado
ter-se mantido, sob Pombal, num contexto absolutista, embora iluminado pela
ciência aplicada, fez com que o monopólio econômico sofresse de um grave
defeito: agia contra os interesses da sociedade, tanto em Portugal, quanto no Brasil
e nas colônias africanas.
A
respeito dessa crítica, frisa o nosso autor, se alicerçando nas pesquisas
feitas pelo historiador português António Carreira, autor da conhecida obra
intitulada: As Companhias Pombalinas: [26]
“Em conformidade com a tendência irreprimível dos monopólios para a prática de
arbitrariedades, detecta-se esse mal incurável no comportamento da Companhia
(do Grão Pará e do Maranhão), tanto em Cabo Verde como na Guiné. Tudo o
que a empresa faz contraria os interesses de longo prazo das áreas onde ela
opera. Os agentes da Companhia estão sempre prontos a abusar de seus
privilégios. A prova evidente do espírito
ganancioso da empresa ou dos seus agentes está no fato de, depois de seis anos
de sua instalação em Cabo Verde, haver absorvido todo o grande e pequeno
comércio, inclusive os estabelecimentos mais insignificantes, diz o citado
autor. Reproduz António Carreira trecho de um relatório do Ouvidor Geral,
datado de abril de 1761, no qual se declara que a Companhia além de exercer o
monopólio na compra de carneiros, porcos, cabras e demais víveres chamou a si a
venda dessas carnes, estendendo essa exclusividade à venda de galinhas,
abóboras, laranjas e demais frutas da terra (Cabo Verde). Queixam-se os
habitantes do arquipélago, de que a empresa compra esses produtos a preços
baixos para revendê-los aos estrangeiros a preços excessivos. Por essa via
marchava a decadência econômica das ilhas”. [27]
O
espírito de exploração colonial que animava à Companhia e aos demais
empreendimentos econômicos de Pombal leva o nosso autor a comparar os
monopólios a verdadeiros cupinzeiros. Estas são as suas palavras a respeito: “É
próprio do monopólio dar a aparência de solidez inabalável. A Companhia era um
caso desse gênero. Exercia poderes imensos, inclusive o de vida e morte sobre
criaturas humanas, mas em seus porões os cupins se articulavam para causar
estragos irreparáveis em suas escoras de madeira. Da corrosão interna, que
algum dia levará a desmoronamentos, nenhum monopólio se livra. Os cupinzeiros
vinham se espalhando dentro de sua estrutura, e nada podia fazer a Junta de
Administração, além de comprovar perdas e desvios, sobrepreços e parcerias em
benefício de seus funcionários, sócios praticamente declarados da grande
empresa. (...) Praticando um monopólio escorchante contra o qual de nada valiam
os protestos dos consumidores de produtos do reino, entregues eles à própria
sorte, a Companhia causou inúmeros transtornos às praças brasileiras que deviam
ser por ela abastecidas. Constantemente,
registrava-se a falta de gêneros alimentícios, tais como bacalhau e
trigo, assim como de tecidos e ferragens, além de vinho, azeite, sal e outros
itens essenciais. Os preços, em consequência da escassez periódica ou
constante, puniam injustamente os consumidores, impossibilitados de se
abastecerem em outras fontes”. [28]
Embora
a Companhia do Grão Pará e Maranhão tivesse passado a sofrer a concorrência sob
o reinado de Dona Maria I, no entanto continuou funcionando, tendo sido extinta
apenas no século XX. A respeito, escreve Gilberto Paim: “Com a ascensão de Dona
Maria I ao trono, foi declarado extinto o privilégio de exclusividade concedido
à Companhia para negociar nas duas capitanias. A empresa, a partir de janeiro
de 1778, passou a enfrentar a concorrência de outros fornecedores e
compradores. De acordo com a lei que a havia criado, em 1755, ela desapareceria
vinte anos depois do início de operações, o que deveria ocorrer no citado ano.
Mas a Companhia prosseguiu realizando operações até 1788, porém sua extinção
somente se daria em 1914. As empresas estatais pombalinas, fonte de inspiração
da estatização brasileira, tinham fôlego de sete gatos, como nos deu exemplo a
Companhia do Grão Pará e Maranhão”.[29]
Idêntico
perfil estatizante tiveram também outros empreendimentos modernizadores de
Pombal, como a Companhia Vinícola, que foi criada em 1756, com a finalidade de
racionalizar a produção de vinhos no Alto Douro e estimular, assim, o
desenvolvimento da agricultura. Do empreendimento passou a cuidar pessoalmente
o marquês, com a ajuda de Frei João de Mansilha (1711-1780), que já tinha
colaborado com ele quando da sua passagem pela embaixada de Portugal em Londres
(1738-1743).
Em
decorrência da dinâmica patrimonialista de favorecer amigos e lascar inimigos,
a Companhia Vinícola terminou ensejando um perverso monopólio, que afetou
negativamente a vida dos viticultores da região do Rio Douro. A respeito do
descontentamento ensejado pela Companhia Vinícola, escreve Gilberto Paim: “No
seu primeiro ano de existência, a Companhia enfrentou uma revolta popular que
resultou de sua decisão de limitar drasticamente o número de tavernas na cidade
do Porto e arredores, onde se podia vender vinho a retalho. Era realmente
inacreditável a tendência do marquês para invadir o setor privado e conceder o
privilégio da exploração econômica a empresas ou grupos. Estava previsto nos
objetivos definidos nos seus estatutos que a Companhia limitaria o número de
tavernas na cidade e redondezas, o que significava o fechamento de 90% das
tavernas existentes, estimadas em 600. As pessoas que se dedicavam a esse ramo
de atividade estavam condenadas a perder o seu meio de vida, assumindo o
prejuízo coletivo proporções consideráveis”. [30]
Efeito imediato desta política absolutista: “Generalizou-se o descontentamento.
Toda a população portuense sentiu-se afetada pela política introduzida por
meios absolutistas. A consequência foi a revolta popular que explodiu no Porto
a 23 de fevereiro de 1757 (...)”. [31]
A
repressão do primeiro ministro contra os revoltosos foi brutal. “Partidário de
um poder estatal forte, – frisa o nosso autor – Pombal não podia transigir com
a contestação às ordens reais por parte da plebe e muito menos com a abolição
unilateral e violenta de um instituto que lhe era particularmente caro. A
Companhia (...) era a pedra fundamental da política econômica concebida pelo
primeiro-ministro como condição e alavanca do progresso nacional. Em
consequência as penas aplicadas aos amotinados foram severas. Dos suspeitos de
participação na revolta, 26 foram condenados à morte, inclusive 5 mulheres; 142
castigados com penas que iam desde açoites, condenação às galés e confisco de
metade dos bens até a obrigatoriedade de assistir ao suplício dos sentenciados;
63 condenados a seis meses de prisão, 195 mandados soltar em regiões distantes,
e apenas 36 absolvidos”. [32]
Parecer
do Conselho Ultramarino de 1778 reconhecia a má gestão da Companhia criada por
Pombal, nos seguintes termos: “São conhecidos os descaminhos, as extorsões e as
violências praticadas pela regência da Companhia do Alto Douro, e não menos os
justos clamores dos povos vexados, e oprimidos, debaixo do jugo de sua
dominação”. [33]
Apesar desse parecer do órgão do Estado português encarregado de supervisionar
as empresas estatais, Dona Maria I conservou ativa a Companhia.
Gilberto
Paim conclui que se torna clara aqui a dinâmica do patrimonialismo português:
manter as empresas estatais, mesmo que deem prejuízo à sociedade; o importante
é satisfazer os anseios da burocracia. A respeito, escreve o nosso autor: “O
que merece especial destaque, nesse parecer do poderoso Conselho Ultramarino, é
o empenho que o Estado faz para defender os seus feitos, justificando sempre a
criação de suas empresas. A burocracia tem meios de conservação de privilégios
e sabe empregar argúcia e habilidade para mantê-los, quando o clamor popular
reclama a sua extinção. Esse empenho torna-se perceptível nos méritos que o
Conselho decide atribuir à Companhia, embora pareçam predominar os seus
aspectos negativos”. [34]
O
nosso autor lança um olhar mais vasto sobre o fenômeno das Companhias de
Pombal, colocando-as no contexto da consolidação do Estado-empresário em
Portugal, fenômeno que aparece já em meados do século XVII, antes, portanto, do
consulado pombalino.
Assim
conclui Gilberto Paim a sua análise: “Observemos bem o seguinte: entre o
lançamento da primeira empresa, no ano de 1649, e a decretação do fim das duas
últimas, a Cia. do Grão-Pará e a de Pernambuco e Paraíba, em 1788, gerações
sucessivas presenciaram a corrosão paulatina e o fracasso final das empresas
criadas por iniciativa governamental, com finalidades que nunca foram alcançadas.
Não é, pois, para ser esquecido o juízo crítico de João Lúcio de Azevedo [35],
no sentido de que a gente lusa estava mais inclinada à vida aventurosa e
habituada aos ganhos predatórios, do que à constância e a boa vontade em
servir, que constituem a base dos empreendimentos bem-sucedidos. Esse dado
cultural inextricável faz parte do legado que nos foi transmitido na era
colonial e não desaparecerá com facilidade”. [36]
II – Avaliação das
influências do modelo pombalino no século XX: a Petrobrás e a reserva de
mercado da informática.
Com
coragem incomum, somente explicável pelo seu patriotismo e por uma visão ampla
da problemática do Brasil em termos de desenvolvimento, Gilberto Paim elaborou,
em duas obras, a crítica à visão monopolística herdada do espírito pombalino pelas
empresas públicas no Brasil contemporâneo.
Sintetizou
a sua posição em torno a dois pontos essenciais: o monopólio da Petrobrás e o
monopólio da informática. Referir-me-ei, nesta segunda parte, a esses dois
aspectos.
1 – Crítica de Gilberto
Paim ao monopólio da Petrobrás.
O
nosso autor sintetizou as suas idéias a respeito da Petrobrás na obra
intitulada: Petrobrás: um monopólio em fim de linha. [37]
Não há dúvida acerca da importância que a Petrobrás representa para a economia
nacional, segundo o pensamento de Gilberto Paim. O nosso autor reivindicava,
contudo, uma atualização da empresa, para que não ficasse comodamente instalada
na visão monopolística comum no segundo pós-guerra. Os tempos eram outros,
certamente, na segunda metade do século XX, após os dois choques do petróleo
dos anos 70, a queda do Império Soviético no final dos anos 80 e a globalização
dos mercados, acelerada na transição do milênio.
Assim,
o entulho monopolístico que caracterizou a empresa ao longo do passado século e
que ainda é marcante, correspondeu, no sentir de Gilberto Paim, a uma
“esperança frustrada”. Houve, evidentemente, toda uma geração que acreditou
rigorosamente no valor da Petrobrás como monopólio. A respeito, escreve
Gilberto Paim: “Os brasileiros que fizeram a campanha do petróleo é nosso tinham como certo o enriquecimento nacional após a
instituição do regime de monopólio para a exploração do chamado ouro negro. Em
sua pregação em favor da presença do Estado como agente único no
desenvolvimento da indústria petrolífera, desde a extração do óleo bruto até a
distribuição de seus derivados, os dirigentes da campanha exaltavam essa
atividade como fonte de riqueza e poder.
Quem não estivesse acompanhando o movimento editorial sobre o grande
tema, para se convencer de tal verdade, podia confiar na palavra de figuras
civis eminentes, como Oswaldo Aranha, Juracy Magalhães, Arthur Bernardes,
Euzébio Rocha, Hermes Lima e Agamenon Magalhães, entre dezenas de outros
brasileiros ilustres. Eram petroleiros Osório Borba, Rafael Correia de
Oliveira, Joel Silveira e Gondim da Fonseca, entre outros jornalistas de grande
público. A idéia de segurança da Pátria vinha embutida na mensagem de generais
de indiscutível prestígio político, como Leitão de Carvalho, Góes Monteiro,
José Pessoa, Estillac Leal, Felicíssimo Cardoso e outros oficiais de alta
patente, que se distinguiam como ardorosos defensores do monopólio petrolífero”.
[38]
Essad
Bey,[39]
com a sua obra intitulada: A luta pelo petróleo, foi
entronizado pelos estatocratas brasileiros como o anjo do monopólio na
exploração do petróleo. A respeito, escreve Gilberto Paim: “(...) Bastaria a
leitura de algumas linhas desse eficiente manual do anti-imperialismo para se
adquirir a convicção de que as nações subdesenvolvidas, com subsolo rico em
hidrocarbonetos, não passavam de marionetes nas mãos dos que extraiam do
petróleo poder imenso e riqueza incomensurável. Tínhamos aí uma enciclopédia de
intrigas, jogos de bolsa, rebeliões e revoluções forjadas, ascensão e queda de
governantes, homicídios nunca esclarecidos, atos de sabotagem praticados em
larga escala contra campos petrolíferos e instalações industriais do petróleo,
subornos, escândalos, processos judiciais rumorosos, condenação à cadeia de
influentes personalidades, caídas em desgraça, guerra de morte entre empresas”.
[40]
Mas,
como foi frisado, Gilberto Paim achava que, se os tempos tinham mudado desde o
segundo pós-guerra até os dias atuais, era necessário revisar a concepção de
monopólio estatal que foi defendida, com ardor, por intelectuais e homens de
Estado. Entre os primeiros, além das personalidades mencionadas no parágrafo
anterior, mas contraposto ao ponto de vista de nacionalismo estatizante que
animava à maioria, ressalta a figura de Monteiro Lobato (1882-1948),[41]
o primeiro brasileiro a sofrer perseguições por causa de suas críticas à visão
monopolista oficial. Entre os segundos, além dos nomes de políticos citados, avulta
a presença de Getúlio Vargas (1883-1954). O monopólio petroleiro começou sendo
aclamado pela grande maioria. Mas, no decorrer das décadas, os benefícios do
empreendimento foram sendo questionados, de forma semelhante a como tinham sido
discutidos, pela opinião pública da época, os benefícios dos monopólios
pombalinos, analisados no item anterior deste trabalho.
O
véu caiu, os artistas rasgaram a fantasia. O que restou de tudo isso foi um
empreendimento falido, sustentado pela Nação, que ainda paga o rombo que a
última geração de administradores irresponsáveis deixou para todos os
brasileiros. A jornalista Dora Kramer explicitou muito bem o tamanho atual do
rombo e a desgraça dessa empresa de que muita gente se orgulhava há sessenta
anos.
Em
recente artigo, a mencionada jornalista escreveu: “Tantas o governo fez com a
Petrobrás, tanto usou e abusou politicamente da empresa que acabou criando um
passivo que pode se voltar contra seus interesses na campanha pela reeleição da
presidente Dilma Rousseff. Demorou, mas a conta das festividades chegou. A
imagem do então presidente Luiz Inácio da Silva de macacão e mãos lambuzadas de
petróleo anunciando a autossuficiência do Brasil tendo ao lado a ministra das
Minas e Energia, apresentada como responsável pelo êxito que não se realizou, é
um contraponto constrangedor ante a realidade atual. Perda expressiva do valor
de mercado, loteamento de cargos, manejo artificial de preços e negócios
esquisitos como esse da compra da refinaria no Texas ao custo inicial de US$
360 milhões para um gasto final de US$ 1,18 bilhão, são alguns dos pontos que o
PT - sempre acostumado a usar a Petrobrás para atacar os adversários - será
desafiado a explicar. Não espanta que a presidente Dilma, quando ministra da
Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, tenha
avalizado a compra da refinaria, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo. Afinal, o negócio só poderia mesmo ter
sido realizado com autorização do colegiado que, de acordo com a ata da reunião
realizada em 3 de fevereiro de 2006, tomou a decisão por unanimidade”. [42]
Este
é o lamentável desfecho do monopólio petroleiro no Brasil. Com objetividade
acurada, Gilberto Paim tinha definido os males que o monopólio da Petrobrás
trouxe para o país, nos seguintes termos: “(...) Não faz sentido que uma
empresa internacional pague royalties
e impostos, que somam de 60 a 70% do valor do óleo extraído, como ocorre em
qualquer país estrangeiro onde opere, enquanto a Petrobrás paga aos Estados e
Municípios um royalty equivalente a
cinco por cento do valor da produção, valor por ela arbitrado e pago com
atraso, sem correção monetária. Que deve preferir um governo estadual com
autoridade suficiente para administrar a forma de exploração de seus recursos
minerais – uma empresa estrangeira ou brasileira que lhe pague o valor acima
referido, ou a Petrobrás, com seus 5%? O velho imperialismo petrolífero fez da
Petrobrás sua sucessora nos Estados brasileiros onde opera, espoliando-os.
(...) O mundo mudou. Só a Petrobrás supõe intocável a boa vida que leva, ao
operar sem concorrentes, como sanguessuga do povo brasileiro, hoje bastante
menos hipnotizado do que antes”. [43]
O
nosso autor concluía assim a sua arrasadora catilinária contra o nefasto
monopólio petrolífero: “(...) Alguns dirigentes da empresa já percebem que os
dias do monopólio estão contados, ao se convencerem de que a burocracia extrai
vantagens exclusivistas de um estatuto de valor vencido. Nos dias que correm a
China Continental, com a ajuda de empresas estrangeiras, extrai mais de 4
milhões de barris diários de suas bacias sedimentares, terrestres e marítimas.
Outro grande sinal de mudança está no fato de que os países ex-comunistas do
Leste europeu aderem ao Fundo Monetário Internacional, ao Banco Mundial e ao
Acordo Geral de Tarifas e Comércio, ressuscitam a economia de mercado,
restauram a propriedade privada e suplicam ao Ocidente investimentos
estrangeiros, a serem aplicados particularmente nas chamadas áreas de segurança
nacional. Pois a segurança está na disponibilidade interna de produtos
escassos. Conservar a Petrobrás monopolista seria uma prova clínica de avançada
esclerose das lideranças nacionais”. [44]
Roberto
Campos, no Prefácio que escreveu para a obra de Gilberto Paim que tenho citado
nestas páginas, referiu-se à esclerose das nossas lideranças nacionais em
termos dinossâuricos, com estas palavras escritas em 1994: “Atrasada em quase
tudo, a América Latina foi precoce na criação de monopólios estatais de
petróleo. A primeira foi a Argentina, em 1922, que é também hoje a mais radical
na privatização. Seguiu-se lhe o México, em 1983. A Petrossauro só foi criada
em 1953. Um fato curioso é que tanto na Argentina como no Brasil os ideólogos
principais do estatismo petroleiro foram generais: lá o general Mosconi e aqui,
o general Horta Barbosa. Partilharam ambos duas qualidades encontradiças nos
militares latino-americanos – nacionalismo raivoso e incompetência treinada.
Ambos esses cidadãos viam no petróleo não uma commodity econômica e sim um misto de símbolo político e unguento
religioso. Se os dinossauros biológicos foram destruídos por um meteoro
cósmico, os dinossauros burocráticos entram em extinção pelo impacto de dois
meteoritos e um meteoro econômico. Os meteoritos foram os dois choques do
petróleo (1973 e 1979). O meteoro, que mudou o clima mundial em desfavor do
estatismo, foi o colapso do socialismo, em 1989. Os meteoritos tiveram dois
efeitos: deslanchar a busca de novas fontes de petróleo, flexibilizando-se para
isso as restrições nacionalisteiras, e promover a conservação de energia,
reforçada esta por preocupações ecológicas”. [45]
2 – Crítica de
Gilberto Paim ao monopólio da informática.
Um
caso típico de burrice coletiva vinculada a uma opção pelo atraso: assim se
pode descrever o clima que tomou conta da alta cúpula do Estado brasileiro,
quando das discussões ensejadas pelo projeto de criação da Secretaria Especial
de Informática ao longo da década que vai de 1975 até 1986. Em tumultuadas
deliberações que mais pareciam sessões inquisitoriais contra o progresso da
tecnologia, num terreno tão sensível como a informática, o Brasil fez uma opção
clara pelo atraso.
O
nosso autor descreve o clima de xenofobia monopolística que se instalou no alto
escalão do governo em 1975, no melhor espírito do patrimonialismo pombalino.
Estas são as suas palavras a respeito: “Por mais que sejam proclamados como
reflexo do interesse nacional, certos atos administrativos se acham tão
distanciados da realidade que acabarão colidindo com esse interesse imaginário.
Assim pode ser descrita a trajetória da política nacional de informática,
oficialmente lançada em 1975, mas sem uma clara definição das linhas principais
da política do setor. Essa definição não demoraria de aparecer, ganhando a
marca de intolerância e intransigência, impregnada de fanatismo. Na residência
de um jovem ministro do Governo Geisel reuniram-se, em 1976, algumas figuras do
primeiro escalão para deliberar a respeito da intenção da IBM de produzir no país
um microcomputador que fazia sucesso no mercado externo. Era o IBM-32 que
acabou sendo rejeitado pela maioria dos presentes àquele encontro. Em busca de
conciliação, a empresa propôs que o computador seria fabricado no Brasil apenas
para a venda no mercado externo, assumindo compromisso por escrito de que
nenhuma de suas unidades seria colocada no país. Nova rejeição, apesar de a
proposta, se aceita, render divisas numa fase em que enfrentávamos sérios
problemas de balanço de pagamentos. A IBM foi produzi-lo no Japão, onde o mini
ganhou o nome de IBM-36, vendido no mercado interno japonês e no resto do
mundo. Foi um tremendo sucesso de vendas. O mesmo ocorreu com a proposta da
Hewlett Parker de fabricar aqui o seu HP-3000, cuja produção foi finalmente
transferida para o México, a Coréia do Sul e a China Comunista. Estava
consagrada a rejeição. Nenhuma das grandes empresas mundiais de informática
conseguiu autorização para fabricar aqui micro ou minicomputadores. Estava
firmado o grande princípio da autonomia tecnológica, a ser alcançada por meios
próprios, terminantemente excluída a colaboração estrangeira. Seus iniciadores
foram ministros civis. Os militares se encantaram com essa decisão e assumiram
o comando da política, criando, em 1978, a Secretaria Especial de Informática,
SEI, órgão caracterizado por sua intransigência na condução dos mais variados
assuntos da infinita área da eletrônica”. [46]
O
nosso autor engajou-se, ao lado do senador Roberto Campos, na luta em prol de
superar esse espírito obscurantista. Gilberto Paim defendia claramente um ponto
de vista liberal: sim à livre empresa! Não
ao protecionismo e ao obscurantismo patrimonialista! Considerava que os pontos
de vista do senador, a respeito, representavam a sensatez e a modernidade, em
meio à maré de ignorância que se levantava contra as liberdades econômicas. O
sensato seria colocar o Brasil num nicho de mercado possível, na dura
competição que se estabelecia nos quatro cantos do planeta, no terreno da
informática.
A
respeito, escrevia: “Como secretário-parlamentar do senador Roberto Campos,
pude acompanhar de perto a luta que a clarividência do pensador brasileiro o
levou a travar contra o obscurantismo. Na essência, defendia o senador a
instauração de uma política de estímulo à produção de software, deixando livre
a fabricação de computadores, pequenos ou grandes. Aproveitando e enriquecendo
a capacidade nacional de operar no desenvolvimento de soft, abreviaríamos o
tempo necessário ao domínio da parte principal da computação. O país dispunha
de massa crítica de nível universitário para ocupar lugar privilegiado na
produção mundial de programas de computador. Fabricar as máquinas representaria
um espaço em que fabricantes brasileiros deveriam disputar com concorrentes
estrangeiros os mercados interno e externo, ganhando terreno, certamente, as
empresas nacionais que fossem mais ágeis na busca de associação com empresas
estrangeiras de vanguarda na aplicação de tecnologias de ponta. Nos países
desenvolvidos o computador já era peça obrigatória nas escolas de todos os
níveis. Nos Estados Unidos até crianças nos cursos de alfabetização aprendiam a
lidar com essas máquinas. No Brasil dos anos oitenta não havia computador em
nenhuma escola primária ou secundária”. [47]
Gilberto
Paim dedicou a obra intitulada: Computador faz política, [48]
à discussão dessas questões. Recordava o nosso autor a fina ironia do
senador Campos quando, comentando a recusa do governo brasileiro à entrada da
indústria cibernética, assinalava os “(...) benefícios que o fechamento do
mercado brasileiro trazia a várias nações, por terem um concorrente a menos.
Pois a Escócia, a Irlanda, a Espanha e outras nações chegavam a subvencionar a
implantação de indústrias de alta tecnologia sem se preocuparem com a origem
dos capitais”.
O
problema, para Gilberto Paim, não era apenas do governo brasileiro. Era também
das elites pensantes. Associações profissionais, de docentes e pesquisadores,
fecharam com as propostas retrógradas do governo. “O atraso é nosso!”, parecia
que fosse a consigna de ordem. A respeito, escrevia: “Roberto Campos parecia
uma voz solitária em meio à fanfarra do nacionalismo tecnológico. A SEI está atrasando o desenvolvimento
nacional de forma criminosa, dizia ele. Mas quem abafava o seu discurso?
Não eram uns poucos militares, mas, pasmem, a Associação Nacional dos Docentes
em Ensino Superior, de braços dados com a União Nacional dos Escritores e a
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação! Como fora
criada por decreto, inconstitucional, a SEI precisava de uma lei para sancionar
seus atos antediluvianos, todos formando um modelo de intransigência
hitlerista. Cerca de duas centenas de entidades profissionais suplicavam ao
Congresso Nacional a urgente aprovação do projeto de lei que dava amplos
poderes aos coronéis que dominavam a Secretaria, agindo como verdadeiros
proprietários de um feudo administrativo. Entre essas entidades, além das já
supra citadas, estavam a Associação Brasileira de Imprensa, a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência, a Sociedade Brasileira de Computação, a
Federação Nacional dos Engenheiros, a Coordenação Nacional dos Geólogos, a
Sociedade Brasileira de Genética, a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisas
em Ciências Sociais, a Federação Nacional dos Médicos, a Federação Nacional dos
Jornalistas e muitas e muitas outras entidades altamente representativas de
segmentos da sociedade. Eram inumeráveis os sindicatos de trabalhadores de todo
o país que aplaudiam os atos do nacionalismo eletrônico”. [49]
Em
que pese essa insensatez coletiva, anotava Gilberto Paim que “(...) O Brasil
estava diante de uma campanha de porte igual à do petróleo é nosso. Durante a tramitação do projeto de lei de
informática, proposição de todo obscurantista, em 1984, centenas de
organizações de todo tipo fizeram chover sobre o Congresso Nacional memoriais
de apoio à política retrógrada da SEI. O atraso cultural brasileiro pode também
ser demonstrado com o fato de que nenhuma das entidades referidas jamais deu um
balanço no rol de prejuízos que a alucinada política de informática trouxe ao
país, como prova de arrependimento por ter contribuído para causá-los. Os
brasileiros provocaram o atraso e, apesar de comprovado esse fato, os Estados
Unidos foram muitas vezes acusados de não desejarem o progresso do Brasil na
área da eletrônica digital”. [50]
Exceção
gloriosa ao lado de Roberto Campos e Gilberto Paim, foi o constitucionalista
Manoel Gonçalves Ferreira Filho (1934-), o “Maneco”, carinhosamente chamado
assim pelos seus discípulos da USP. O nosso autor sintetizou da seguinte forma
o cerne do arrazoado jurídico de Ferreira Filho, que considerava
inconstitucional a lei de informática: “Observava esse respeitado especialista
(...) que, em todas as Constituições brasileiras, está consagrada a liberdade
de trabalho, indústria e comércio, ou o livre exercício de qualquer espécie de
atividade socialmente útil, ou, enfim, a liberdade de iniciativa. Como primeiro
princípio na ordem econômica, acrescentava, a liberdade de iniciativa significa
liberdade de trabalhar num determinado
campo ou de se associar para trabalhar numa determinada atividade. O
primado da iniciativa privada sobre a atuação econômica do Estado é um preceito
constitucional (...). No entanto, dizia o constitucionalista, o projeto de lei
mandado pelo Poder Executivo ao Congresso, sobre informática, procedia de uma
inspiração oposta à decorrente dos princípios constitucionais apontados (...)”.
[51]
O
senador Roberto Campos leu o parecer do jurista Ferreira Filho, perante a
Comissão mista do Congresso que examinou o projeto de lei de informática. Foi
boicotado pelos próprios congressistas, que se recusavam a escutar as razões
bem ponderadas de Campos. Gilberto Paim sintetizou assim a triste
circunstância: “Acreditando, não obstante, que os deputados e senadores,
membros da Comissão, ainda poderiam colher o benefício de algum esclarecimento
com a leitura que se fizesse do parecer, o senador Campos pediu e obteve
permissão para ler o documento. Foi instintiva e instantânea a resposta dos
congressistas presentes: os dezesseis que votaram contra a proposição anterior,
fizeram o possível para provar o seu desinteresse pela leitura feita pelo
senador mato-grossense. Todos passaram a falar em voz alta, ou a produzir
ruídos propositais, de costas para o orador. Alguns se movimentaram na direção
dos aparelhos telefônicos, com isso tornando ostensivo o desinteresse pela
leitura penosa de 48 laudas em que se exauria Roberto Campos. Ninguém quis ouvir
uma frase sequer. (...). O projeto ganhou força de lei dando cobertura plena
aos insensatos da SEI”. [52]
Conclusão
Gilberto
Paim amargou o ostracismo da grande mídia, a que foi submetido pela Petrobrás,
num episódio somente comparável ao “assassinato de reputações” [53]
que a era lulopetista instalou no Brasil ou às odiosas devassas pombalinas
contra os que dissentiam do primeiro ministro de Dom José I. A perseguição aos
críticos da empresa patrimonialista é artimanha antiga da burocracia
monopolista, na tradição cartorial luso-brasileira, largamente ilustrada nestas
páginas.
Como
foi destacado na primeira parte deste trabalho, Gilberto Paim nos legou uma
caracterização clara e completa do modelo econômico do pombalismo, centrado no
monopólio estatal. Esse modelo, certamente, foi revivido em vários momentos da
nossa história econômica, servindo como núcleo inspirador das políticas
públicas modernizadoras. Modernização, aliás, que, como no caso pombalino,
ficou a meio caminho. Isso em virtude da característica central do processo
modernizador no seio do Estado patrimonial, consistente no fato de se buscar a
racionalização não até atingir uma plena implantação desta, mas apenas restrita
à manutenção, pelo soberano patrimonial, das rédeas do poder.
Foi
o fenômeno apontado pelo economista John Maurice Clarke (1884-1963), denominado
por ele de “racionalidade administrativa variável”. [54]
O Estado patrimonial se moderniza até onde não seja posta em risco a exclusiva
dominação do senhor patrimonial sobre a sociedade. Uma modernização que coloque
em risco o status quo do poder estabelecido não é aceita. Foi por esse motivo
que Pombal aprovou a entrada das idéias de Locke (163-1704), no que dizia
relação a tirar dos jesuítas o controle do ensino, não até o ponto de deixar se
expandir as idéias lockeanas relativas à substituição da monarquia absoluta
pela constitucional. Locke, assim, entrou pela metade no universo
luso-brasileiro. A crítica a essa mutilação foi efetivada, como se sabe, pela
geração dos primeiros liberais que aqui aportaram com D. João VI, entre os
quais sobressaía a figura de Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846).
Já
no que tange às agruras sofridas pelo nosso autor em decorrência da sua crítica
à tendência estatizante e monopolística, tanto no caso do petróleo quanto no
relativo à informática, Gilberto Paim faz referência, em “Nota Explicativa” no início
da sua obra Petrobrás: um monopólio em fim de linha, ao caso da fulminante
demissão de cioso administrador público, Geraldo Nóbrega, do cargo de diretor
financeiro da distribuidora de derivados da Petrobrás, que ocupou apenas
durante algumas semanas. O pecado? Ter
tentado gerir o seu setor com transparência. [55]
Ora,
o pecado de Gilberto consistiu em ter pensado o Brasil a partir de um ponto de
vista liberal, criticando com denodo o monopólio estatal e defendendo a livre
empresa e o bem-estar de todos os brasileiros, bem como as instituições que
garantem o exercício da liberdade, a começar pela representação. O nosso autor
queria um Brasil livre de odiosos monopólios que só faziam aumentar o tamanho
do leviatã patrimonialista.
A
crítica de Gilberto Paim ao monopólio petrolífero veio se somar à de Roberto de
Oliveira Campos, no que tange também à criação da SEI. Ambos lutaram na penosa
ação de discutir, com transparência e honestidade, as desvantagens dos
monopólios, tanto o petroleiro quanto o informático.
Se
de ambas as empreitadas de crítica ao estatismo Gilberto Paim e o seu amigo Roberto
Campos saíram aparentemente derrotados, as suas corajosas denúncias e as
lúcidas páginas que nos legaram são, hoje, roteiro de ação para as novas
gerações que, nesta conturbada quadra da história brasileira, tanto nas ruas
quanto na web, se organizam e se manifestam exigindo liberdade e transparência,
numa República que ameaça ser engolida pela maré montante da hegemonia
partidária e das práticas patrimonialistas. Permanecem as lições de cidadania e
de coragem intelectual desses dois grandes brasileiros.
BIBLIOGRAFIA
Bibliografia
Citada
AZEVEDO João Lúcio de. Épocas
de Portugal econômico - Esboços de história, Lisboa: Clássica Editora,
1988.
CARREIRA, António. As
Companhias Pombalinas. Lisboa: Editorial Presença, 1982.
GUIZOT, François. Histoire de la civilisation en
Europe, depuis la chute de l´Empire Romain jusqu´a la Révolution Française,
8ª edição, Paris: Didier, 1864.
KRAMER, Dora. “Feitiço invertido”. O
Estado de São Paulo, 20 de Março de 2014.
MONTEIRO LOBATO, José Bento Renato. O
escândalo do petróleo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.
NUSSINBAUM, Lev. A luta pelo petróleo
(tradução de Charles Frankie; revisão de Monteiro Lobato); São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1935.
PAIM, Antônio. A querela do estatismo – A natureza
dos sistemas econômicos: o caso brasileiro. 2ª edição. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1994.
PAIM, Gilberto. Computador faz política.
Rio de Janeiro: Associação Promotora de Estudos Econômicos, 1985.
PAIM, Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Rio de Janeiro: Editorial Escrita, 2011.
PAIM, Gilberto. O filósofo do pragmatismo –
Atualidade de Roberto Campos. (Prefácio de Francisco de Assis Grieco).
Rio de Janeiro: Editorial Escrita, 2002.
PAIM, Gilberto. Petrobrás: um monopólio em fim de
linha. (Prefácio de Roberto Campos). Rio de Janeiro: Topbooks, 1994,
259 pgs.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Du contrat social. (Introdução e
cronologia a cargo de Pierre Burlegin). Paris: Garnier-Flammarion, 1966.
SARAIVA, José Hermano (1919-2012),
historiador e político português, autor da obra clássica intitulada: História
concisa de Portugal. Lisboa: Europa-América, 1978.
SCHNEIDER, Susan. O Marquês de Pombal e o Vinho do
Porto. Lisboa: A Regra de Ouro, 1980.
TEIXEIRA SOARES, Álvaro, embaixador. O
Marquês de Pombal – A lição do passado e a lição do presente. Brasília:
Editora da UnB, 1961.
TUMA JÚNIOR, Romeu. Assassinato
de reputações, um crime de Estado (1ª edição), Rio de Janeiro:
Topbooks, 2013.
WITTFOGEL, Karl. Le
despotisme oriental – Étude comparative du pouvoir total. (Trad. de
Micheline Pouteau), Paris: Minuit, 1977.
Bibliografia
de Gilberto Paim
Livros
Amazônia de Pombal sob
ameaça. Rio de Janeiro: Escrita, 2006. 2ª edição
revista e renomeada: Amazônia ameaçada. Da Amazônia de Pombal à soberania sob ameaça.
Brasília: Senado Federal, 2009.
Computador faz política. Rio
de Janeiro: Associação Promotora de Estudos Econômicos, 1985.
De Pombal à abertura dos
portos. Rio de Janeiro: Escrita, 2011.
Industrialização e economia
natural. Rio de Janeiro: ISEB, 1957.
João Figueiredo: missão
cumprida. (Gilberto Paim, organizador). Rio de
Janeiro: Escrita, 2005.
O estoque brasileiro de capital
segundo sua origem. Rio
de Janeiro, 1975.
O filósofo do pragmatismo:
atualidade de Roberto Campos. Rio de Janeiro: Editorial
Escrita, 2002.
Petrobrás: um monopólio em
fim de linha. (Prefácio de Roberto Campos). Rio de Janeiro:
Topbooks. 1994.
Artigos
de Gilberto Paim publicados na revista Carta
Mensal
A confiança como âncora do
Real. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 41, n. 492, p. 69-74, mar. 1996.
A contrarrevolução de 1964. Carta
Mensal, Rio de Janeiro, v.55, n.659, p. 27-45, fev. 2010.
A crise do setor elétrico. Carta Mensal,
Rio de Janeiro, v. 49, n. 579, p. 71-87, jun. 2003.
A dura liberdade da
conquista. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.51, n.604, p. 55-66, jul.
2005.
A expulsão dos jesuítas na
Era Pombalina: tema nebuloso. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.51, n.613,
p. 74-93, abr. 2006.
Alternativas brasileiras. Carta
Mensal, Rio de Janeiro, v. 48, n. 574, p. 44-53, jan. 2003.
Antecedentes de uma grave
crise política. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.55, n.651, p. 73-87,
jun. 2009.
Armamentismo de Chávez. Carta
Mensal, Rio de Janeiro, v.52, n.624, p. 42-65, mar. 2007.
A Sudene de Celso Furtado. Carta
Mensal, Rio de Janeiro, v.51, n.606, p. 3-15, set. 2005.
A teoria do isolamento à luz
do Nafta. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 47, n. 562, p. 37-48, jan.
2002.
Conspiração ativa contra a
Amazônia. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.53, n.629, p. 3-18, ago. 2007.
Contas individuais na
Previdência. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.53, n.627, p. 69-80, jun.
2007.
Do socialismo Fabiano ao
desastre Keynesiano. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.53, n.632, p. 3-17,
nov. 2007.
Formação de um potencial
revolucionário. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 39, n. 461, p. 55-63,
ago. 1993.
Fracassada iniciativa
estatal de um bilhão e meio de dólares. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.
39, n. 464, p. 13-20, nov. 1993.
Graves equívocos na
historiografia luso-brasileira. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.52,
n.621, 22-43, dez. 2006.
Informação para desvendar: O
mistério Amazônico. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 48, n. 567, p.
26-44, jun. 2002.
Lucas Lopes e a
eletrificação brasileira. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 42, n. 501,
p. 53-70, dez. 1996.
MST-FARC: uma analogia
perigosa. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.56, n.661, p. 58-77, abr.
2010.
Novos critérios de avaliação
da situação econômica brasileira. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 43,
n. 502, p. 65-70, jan. 1997.
Novos horizontes da economia
petrolífera. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 40, n. 476, p. 57-67, nov.
1994.
O fator humano na expansão
do sistema elétrico. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 43, n. 509, p.
11-26, ago. 1997.
O grevismo a serviço do
atraso: Assembleias minúsculas ou inexistentes decretam a paralisação do ensino
superior. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.51, n.611, p. 55-63, fev.
2006.
O realismo de Juarez diante
da questão do petróleo. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 38, n. 452, p.
40-54, nov. 1992.
O populismo como via para a
Ditadura. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 48, n. 565, p. 26-41, abril
2002.
Os desafios do comércio com
a China. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.56, n.681, p. 54-72, dez. 2011.
Petróleo: o deslocamento do
poder. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.56, n.677, ago. 2011.
Programa do PT: modelo de
retrocesso político. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.56, n.663, p.
37-55, jun. 2010.
Questões da transição
demográfica: população, desenvolvimento e meio ambiente. Carta Mensal,
Rio de Janeiro, v. 43, n. 506, p. 77-86, maio 1997.
Questões polêmicas da
revisão constitucional. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 39, n. 466, p.
3-14, jan. 1994.
Reforma tributária para
sustentação do Real. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 41, n. 486, p.
19-32, set. 1995.
Reservas indígenas -
Nacionalismo versus Populismo. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.54,
n.640, p. 3-21, jul. 2008.
Roberto Campos - diplomata,
economista e político. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v.51, n.609, 74-91,
dez. 2005.
Sobre a República Socialista
Ianomâmi. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 41, n. 485, p. 3-13, ago.
1995.
Temas atuais de Roberto
Campos: Fundamentalismo Nativista. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 48,
n. 569, p. 3-24, ago. 2002.
Uma radiografia do crédito
estatizado. Carta Mensal, Rio de Janeiro, v. 39, n. 468, p. 54-67, mar.
1994.
[2] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 19-20.
[3] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 22-23.
[4] José
Hermano SARAIVA (1919-2012), historiador e político português, autor da obra
clássica intitulada: História concisa de Portugal.
Lisboa: Europa-América, 1978.
[5] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 26-27. O autor
cita a obra do historiador português José Hermano SARAIVA, intitulada: História
concisa de Portugal, ob. cit., p. 251 seg.
[6] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 27-28. Antônio
PAIM, em obra memorável, traçou os aspectos essenciais do pombalismo, dos
ângulos cultural e político, colocando-os em relação com os aspectos
econômicos: A querela do estatismo – A natureza dos sistemas econômicos: o caso
brasileiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994.
[7] Álvaro
TEIXEIRA SOARES, embaixador, escreveu a obra intitulada: O Marquês de Pombal – A lição do
passado e a lição do presente. Brasília: Editora da UnB, 1961.
[8] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 31-32.
[9] A
respeito deste ponto, o historiador francês François GUIZOT, na sua clássica
obra Histoire
de la civilisation en Europe, depuis la chute de l´Empire Romain jusqu´a la
Révolution Française, 8ª edição, Paris: Didier, 1864, p. 379 seg., destaca que tudo, no governo de
Luís XIV, era pensado em função de tornar a França um Estado Moderno. Já não se
faziam mais guerras por motivos pessoais como antigamente. As guerras em que o
monarca francês se embrenhou obedeceram unicamente a razões de Estado.
[10] Ou de uma
nova nobreza integrada por servidores incondicionais do Czar. Essa nobreza de
origem burocrático foi, outrossim, uma das características marcantes da nobreza
que estabelecida, no Brasil, ao longo do Segundo Reinado (1841-1889).
[11] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 32.
[12] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 33.
[13] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 35
[14] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 35-36.
[15] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 36.
[16] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 34-35.
[17] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 52-53.
[18] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 52.
[19] Ficou
famosa, nos anais do espírito patrimonialista, a carta que o marquês encaminhou
ao seu sobrinho quando foi nomeado por ele Governador das Capitanias do
Maranhão e do Piauí. Nela, aconselha ao sobrinho que, na governança, atenda
fundamentalmente à classe mais numerosa dos pobres, não levando em consideração
a classe dos ricos que, além de serem pouco numerosos e menosprezar o povinho,
tentarão desestabilizá-lo no poder caso se sintam prestigiados em demasia. Cf.
a respeito, http://www.patrimonioslz.com.br/pagina171.htm
[20] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 54-55.
[21] Cf. PAIM,
Antônio. A querela do estatismo – A natureza dos sistemas econômicos: O caso
brasileiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p.
65-77.
[22] ROUSSEAU,
Jean-Jacques. Du contrat social. (Introdução e cronologia a cargo de Pierre
Burlegin). Paris: Garnier-Flammarion, 1966, capítulo VIII.
[23] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 38.
[24] Cf.
SCHNEIDER, Susan. O Marquês de Pombal e o Vinho do Porto. Lisboa: A Regra de
Ouro, 1980, p. 174 seg.
[25] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 82-83.
[26] CARREIRA,
António. As Companhias Pombalinas. Lisboa: Editorial Presença, 1982.
[27] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 54-55. O autor se
baseia, neste texto, na pesquisa desenvolvida pelo historiador português António
Carreira na sua obra: As Companhias Pombalinas. Ob. cit.,
1982.
[28] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 59-61.
[29] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 61-62.
[30] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 66.
[31] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 67.
[32] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 69-70.
[33] Cit. por
PAIM, Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 74.
[34] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 75.
[35] João
Lúcio de AZEVEDO (1855-1933), historiador português, uma de cujas obras
tornou-se um clássico para o estudo da economia no ciclo pombalino: Épocas
de Portugal econômico - Esboços de história, Lisboa: Clássica Editora,
1988.
[36] PAIM,
Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Ob. cit., p. 103.
[37] PAIM,
Gilberto. Petrobrás: um monopólio em fim de linha. (Prefácio de Roberto
Campos). Rio de Janeiro: Topbooks, 1994, 259 pgs.
[38] PAIM,
Gilberto. Petrobrás: um monopólio em fim de linha. (Prefácio de Roberto
Campos). Rio de Janeiro: Topbooks, 1994, p. 15.
[39] Essad Bey
era o pseudônimo utilizado pelo judeu, de origem russa, Lev NUSSINBAUM (1905-1942),
autor da conhecida obra intitulada: A luta pelo petróleo (tradução de
Charles Frankie; revisão de Monteiro Lobato; São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1935). Nesta obra, o autor analisava a exploração petroleira como a
grande arma dos imperialismos para prostrar as nações menos desenvolvidas e
proprietárias de grandes jazidas de hidrocarbonetos. O remédio apregoado
consistiria na organização de uma empresa petroleira estatal, que agiria como
monopólio, com a finalidade de defender a riqueza nacional contra a cupidez
estrangeira.
[40] PAIM,
Gilberto. Petrobrás: um monopólio em fim de linha. (Prefácio de Roberto
Campos). Rio de Janeiro: Topbooks, 1994, p. 25.
[41] Cf.
MONTEIRO LOBATO, José Bento Renato. O escândalo do petróleo. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1936. Para o escritor paulista, o petróleo
constituía uma riqueza enorme, que deveria beneficiar a todos os brasileiros,
sem que fosse lícito que meia dúzia de burocratas e de empresários aliados a
eles sentassem encima e só permitissem a exploração monopolista que
beneficiasse minorias. Monteiro Lobato virou empresário do petróleo, tendo
fundado várias empresas de perfuração (Companhia Petróleos do Brasil, Companhia
Petróleo Nacional, Companhia Petrolífera Brasileira, Companhia de Petróleo
Cruzeiro do Sul, Companhia Mato-grossense de Petróleo). Foi vencido pela
burocracia patrimonialista do Estado brasileiro. O Estado getuliano não aceitou
a visão nacionalista que centrava, nos empreendedores nativos e não no Estado,
a iniciativa para a empresa petrolífera. Provavelmente, a visão corporativista
que animava a proposta de Monteiro Lobato desagradou ao chefe do Estado Novo
que, como bom castilhista, queria fazer do Estado empresário o fator de
enriquecimento nacional. O corporativismo econômico não era do agrado de
Getúlio. Daí a sua divergência com Francisco Campos (1891-1968). O paradoxo do
desfalque de Monteiro Lobato como empresário consiste em que foi levado pelas
circunstâncias a se aproximar dos comunistas, após a prisão que sofreu no
Estado Novo, motivada pelas suas críticas ao monopólio estatal. Ironias cruéis
da História. O escritor desiludiu-se por completo com a política estizante do
governo. Os burocratas do Estado Novo teimavam em dizer que no Brasil não havia
petróleo, mas negociavam por baixo dos panos com as companhias americanas.
[42] KRAMER,
Dora. “Feitiço invertido”. O Estado de São Paulo, 20 de Março
de 2014.
[43] PAIM,
Gilberto. Petrobrás: um monopólio em fim de linha. Ob. cit., p. 28.
[44] PAIM,
Gilberto. Petrobrás: um monopólio em fim de linha. Ob. cit., p. 28-29.
[45] CAMPOS,
Roberto. “Prefácio”. In: PAIM, Gilberto. Petrobrás: um monopólio em fim de linha.
Ob. cit., p. 10.
[46] PAIM,
Gilberto. O filósofo do pragmatismo – Atualidade de Roberto Campos.
(Prefácio de Francisco de Assis Grieco). Rio de Janeiro: Editorial Escrita,
2002, p. 79.
[47] PAIM,
Gilberto. O filósofo do pragmatismo – Atualidade de Roberto Campos. Ob.
cit., p. 80.
[48]PAIM,
Gilberto. Computador faz política. Rio de Janeiro: Associação Promotora
de Estudos Econômicos, 1985.
[49] PAIM,
Gilberto. Computador faz política. Ob. cit., p. 79.
[50] PAIM,
Gilberto. O filósofo do pragmatismo – Atualidade de Roberto Campos. Ob.
cit., p. 82.
[51] PAIM,
Gilberto, Computador faz política. Ob. cit., p. 85.
[52] PAIM,
Gilberto, Computador faz política. Ob. cit., p. 83-84. Na obra
intitulada: Guia para os perplexos (Rio de Janeiro: Editorial Nórdica,
1988, p. 16), Roberto Campos apresentava esta definição de Informática:
“Aliança entre militares, esquerdistas e empresários antidarwinianos. Estes
acreditam que deve sobreviver não o mais apto, e sim o mais protegido da
concorrência alheia. Artifício usado para induzir a maioria – centenas de milhares de usuários – a se subordinar aos
interesses de uma minoria – poucas
dezenas – de industriais do setor. Também usado para garantir privilégios aos
que copiaram equipamentos estrangeiros antes dos outros. Segundo a seita,
produzir no país só é bom se o produtor tiver certificado de batismo local,
sendo, em caso contrário, preferível importar”.
[53] Faço
referência, aqui, à obra do delegado Romeu Tuma Júnior, intitulada: Assassinato
de reputações, um crime de Estado (1ª edição, Rio de Janeiro: Topbooks,
2013) que pôs a nu a política totalitária dos governos petistas no terreno da
informação, visando a montar falsos dossiês contra desafetos, com a finalidade de tirá-los da cena política.
Segundo o autor, tratou-se da tentativa de implantar no Brasil um Estado
policial.
[54] O
sociólogo alemão Karl WITTFOGEL (1896-1988) faz detalhada análise desse modelo
de “modernização pela metade” na sua obra Le despotisme oriental – Étude comparative
du pouvoir total. (Trad. de Micheline Pouteau), Paris: Minuit, 1977.
[55] “Dos
vinte e nove dias em que esteve no cargo – escreve Gilberto Paim -, ele dedicou
vinte e um a conversações com o Banco do Brasil, em Brasília, sobre a
concentração de todos os recursos financeiros disponíveis da empresa em conta
no estabelecimento oficial de crédito. Exercendo suas funções, nesse curto
período não chegou a ter a oportunidade de assinar um cheque sequer. A máfia
petrolífera percebeu o risco que corria com a presença desse homem no cargo
chave da empresa. Que aconteceria com os vastos dinheiros do monopólio e suas
subsidiárias, aplicados sem controle em diferentes agências de dezenas de
bancos? A aludida concentração no BB representava um exemplo a ser contornado
por todos os meios. Era um grave perigo a presença de Nóbrega! Por isso,
tentou-se envolvê-lo num processo rumoroso. Mas a Justiça agiu de forma
coerente. Finalmente, foi ele contemplado com decisões judiciárias, em duas
instâncias, que o absolveram de acusações malévolas (...). Não obstante esse e
outros exemplos semelhantes, os ingênuos que glorificam a Petrobrás continuam
na crença de que a empresa, responsável pelo endividamento externo e pela
subsequente desordem que afeta a economia nacional, é um santuário de
altruístas”. (PAIM, Gilberto. Petrobrás: um monopólio em fim de linha.
Ob. cit., p. 14.).
Nenhum comentário:
Postar um comentário