A greve dos caminhoneiros, que infernizou a vida de todos, chegou ao fim. Em decorrência do impacto significativo que teve na vida de todos nós, tendo obrigado os cidadãos em geral a mudar as suas rotinas diárias, convém fazer um balanço do movimento, para tirar a limpo os aspectos positivos, bem como as suas mazelas.
O aspecto positivo consistiu na nova chacoalhada que o governo inerte levou dos cidadãos deste país (à semelhança da chacoalhada produzida no meio político pelas passeatas de 2013). A mensagem de fundo da greve e do apoio inicial que teve de parte da população foi esta: os brasileiros estamos cansados de pagar o pato do estatismo! Chega de impostos abusivos que se espraiam por toda a cadeia de consumo, além do crescimento formidável que teve no nosso país o imposto de renda, notadamente nos governos do PSDB e do ciclo lulopetista. O aumento do preço dos combustíveis, necessário para adequar esta área do consumo às flutuações do mercado internacional, seria bem menor sem o imposto já embutido no preço dos mesmos pelo governo. Pedro Parente fez um trabalho memorável para sanear a estatal após o tsunami de ladroagem patrocinado pelo PT e comparsas. Mas sem privatização, tudo fica pela metade.
O whatsap mostrou de novo a sua força. As revoltas do século XXI estão marcadas pela comunicação instantânea, via smartphones, entre as mais diversas camadas sociais. Foi essa tecnologia que veiculou a denominada "Primavera Árabe". Foi a mesma que mostrou fôlego nas passeatas que ocuparam ruas e praças do Brasil em 2013. Foi também o meio de divulgação das reivindicações dos caminhoneiros e dos cidadãos que, em primeira instância, exprimiram a sua simpatia com o movimento grevista.
Depois as coisas foram evoluindo, até que a grande mobilização nacional se transformou em paralisia e em bandidagem contra aqueles caminhoneiros que, sensíveis às necessidades básicas da população, quiseram furar o bloqueio para atender à circulação de bens de primeira necessidade, como combustíveis, medicamentos e alimentos. Dois grupos tomaram a liderança da radicalização: o de alguns dos empresários de transporte de carga que pressionaram os seus subordinados a praticarem um locaute abusivo que beneficiava os espertos e o dos costumeiros ativistas radicais, que colaboraram nos atos de barbárie contra caminhoneiros independentes. Esses facínoras já estão sendo enquadrados nos rigores da lei pela polícia e a justiça.
Falhou durante os protestos a comunicação do governo com a sociedade. Lembro da figura do caminhoneiro paranaense na TV, com rosto cansado, respondendo às perguntas da repórter. Mais ou menos o grevista respondeu o seguinte, quando indagado acerca de por que o movimento continuava: "Ficaremos de greve até que não recebamos, do oficial de justiça, o decreto do governo com as medidas que respondem às nossas reivindicações". Ora, a decisão do Presidente da República de atender às exigências dos grevistas já tinham sido publicadas no Diário Oficial da União, mas não chegavam aos grevistas. Em lugar de esperar que estes encontrassem, num país continental, o oficial de Justiça com a ordem impressa no Diário Oficial, não teria sido mais prático que algum burocrata fotografasse, via whatsap, o texto da medida provisória e o enviasse às redes? Seria uma prova de eficiência do governo em épocas de redes eletrônicas instantâneas.
Se ficou uma lição dos acontecimentos das semanas passadas, foi este: o governo tem de dispor de instrumentos de comunicação eficientes e rápidos, utilizando a tecnologia existente. Esses meios são de dupla via: do governo em relação à sociedade e desta em relação ao centro do poder. O serviço de inteligência, hoje, será nulo, se não conta com agentes preparados para utilizar de forma eficiente as tecnologias existentes, no trabalho de manter informado o centro do poder. Ficou a impressão, na sociedade, de que o Planalto foi pego de surpresa com a greve dos caminhoneiros. O governo Temer, como a coruja de Minerva, só levantou voo quando as sombras do movimento avançaram pelo país afora, tendo sido pego de surpresa. Faltou auscultar o que estava acontecendo nos vários cantos do país. Faltou a presença de agentes de informação idôneos.
E a solução para o impasse, todos sabemos, não foi das melhores. O governo, como de praxe em épocas anteriores, resolveu tudo pelo caminho mais curto: intervenção direta nos preços dos combustíveis, passando uma mensagem de insegurança jurídica para os investidores. Pagaremos a conta por essa falha, que põe a nu como o estatismo ainda está presente na mente dos que mandam e dos que são governados. Se a reivindicação de base era para limitar o peso dos tributos na vida do país, os caminhoneiros deformaram o espírito inicial do protesto ao transformar o movimento (com evidentes episódios de locaute), em via expressa para tirar vantagem imediata com o subsídio estatal e a costumeira reserva de mercado, com evidente prejuízo do saneamento das contas públicas e da estabilidade da economia. O Brasil saiu da greve pior do que estava.
Ou na sociedade todos tomamos consciência do papel que temos em face da coisa pública, ou abrimos a porta para novas aventuras messiânicas que, pela via do estatismo, prometem favores imediatos com a quebra da economia. Lula e a esquerda troglodita estão aí, unindo esforços para vender na barraca das ilusões a conhecida via para o fracasso, que passa pela estatização cada vez maior e o patrimonialismo de sempre.
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