Leonardo Prota (1930-2016) e José Maurício de Carvalho (1957) dois representantes da Corrente Culturalista Contemporânea da meditação filosófica brasileira.
A formulação de uma nova ontologia amadurece, no pensamento
de Hartmann, por volta de 1919. As primeiras obras nas quais o autor expôs essa
teoria são Metaphysik der Erkenntnis
(Metafísica da inteligência, 1921)
e Ethik
(Ética, 1925). Nos anos seguintes,
Nicolai Hartmann publicou a sua obra dedicada à lógica, sob o título de Studien
zur Logik (Estudos sobre lógica,
1931 a 1944), cujo manuscrito terminou se perdendo no meio à agitação vivida na
Alemanha, no final da II Guerra Mundial.
Não há dúvida de que Hartmann é um dos autores que mais têm
influído na filosofia do século XX. Possuía o que denominaríamos hoje de ética da responsabilidade intelectual,
num meio em que pairavam as idéias do totalitarismo e da despersonalização.
Dessa inspiração ética, profundamente enraizada na tradição kantiana, dão
testemunho as suas palavras: "não há nenhuma consciência acima da pessoa
singular". Ou estas outras: "só o espírito pessoal é dotado de
intuição, de capacidade de assinalar fins e de orientação". Essa sua
enraizada convicção intelectual levou-o a não ceder nunca às modas
intelectuais, se norteando unicamente pela procura sempre renovada da verdade.
A essência da posição de Hartmann, no que tange à teoria do
conhecimento, consiste na afirmação do caráter histórico dos grandes problemas
da Filosofia, que constituem problemas-limite, comuns a todas as ciências, e
que são, no fundo, problemas metafísicos atrelados a um núcleo irracional e
insolúvel. Hartmann utilizou na sua meditação o método fenomenológico, mas
desatrelando-o da redução transcendental, tendo unicamente adotado a redução ao
eidos. Graças a isso, para Hartmann,
o fenômeno não exclui a aporética, mas, ao contrário, torna possível o acesso à
Filosofia. À descrição fenomenológica segue-se, em primeiro lugar, para
Hartmann, a prática dos métodos analítico e dialético, que constituem uma
perspectiva de caráter horizontal dos fenômenos (livre da dimensão triádica da
dialética hegeliana); em segundo lugar vem o método sintético que, no nível
mais alto da intuição, possibilita a unificação das categorias, dando ensejo à
descoberta de todos os atos alicerçados em outros de nível inferior.
Nicolai Hartmann conferiu tal grau de importância ao método
eidético, que terminou confundido redução
ao eidos com a própria epoché fenomenológica. A respeito dessa
confusão, afirma o autor na sua obra Der Aufbau der realen Welt (A construção do mundo real, 1940):
"só por isso pode a intuição das essências, abstraindo do acidental, ganhar a essência a partir do
singular; este processo é a redução fenomenológica" [cf. Fraga, 1990: 2,
1010-1014].
Contrariando a doutrina husserliana, Hartmann retoma o
conceito de coisa em si e, ao
contrário da Escola de Marburgo, afirma um ponto de vista realista, no sentido
de que o objeto descrito no conhecimento transcende à própria consciência. A
sua teoria do conhecimento abria a porta, destarte, à ontologia, cujos aspectos
essenciais são os seguintes: o ente em si mesmo, apreendido no processo do
conhecimento, dá-se-nos diretamente no fenômeno do ser. A metafísica, pensa
Hartmann, já não pode ser uma doutrina de sistemas; nisso o pensador alemão retoma
a crítica efetivada por David Hume (1711-1776) e Kant. A metafísica somente
pode ser possível como uma ontologia
crítica. Na sua obra intitulada Zur Grundlegung der Ontologie (Acerca do fundamento da ontologia, 1935),
o autor propõe as quatro investigações básicas da sua ontologia. Destaquemos
apenas as duas mais caraterísticas, que tratam da relação de essência e
existência e do problema do ser ideal e da sua relação com o ser real.
No que tange à pesquisa da relação da essência com a
existência, Hartmann dá destaque à apreensão da existência sobre a afirmação da
essência. A respeito, afirma: "A existência da árvore no seu lugar é uma essência da floresta, a floresta
seria outra sem ela; a existência do ramo na árvore é uma essência da árvore (...) a existência de uma coisa é
simultaneamente essência de outra". De outro lado, "a essência da
folha é a existência da nervura, a
essência do ramo é a existência da folha, etc.". O realismo de Hartmann,
chamado pelos seus críticos de voluntarista,
e que recebe a influência de Max Scheler e de Wilhelm Dilthey (1833-1911)
destaca a experiência do próprio eu: a afirmação mais clara do ser-em-si é-nos
dada pela existência dos nossos atos emocionais-transcendentes, notadamente
aqueles que "se deixam isolar e analisar" (que são os receptivos, os
prospectivos e os espontâneos).
No que tange à investigação de Hartmann acerca do problema do
ser ideal e da sua relação com o ser real, o pensador alemão destaca que o ser
ideal não é o ser do pensamento, mas é o das essências, das formações ideais da
matemática e dos valores. O caminho pelo qual pode ser provada a idealidade do
ser ideal é o da essência do a-priori,
observável na relação da matemática pura à aplicada, bem como na indiferença
das essências para com os casos reais.
O cerne da ontologia de Hartmann é a sua teoria dos modos de
ser ou análise modal, que o pensador
alemão expõe na obra intitulada Mögichkeit und Wirklichkeit (Possibilidade e Realidade, 1938). Nesta
obra, o pensador explica as leis fundamentais que regulam as relações de
possibilidade e realidade, necessidade e acidentalidade, impossibilidade e não
realidade. A lei real da necessidade é formulada nos seguintes termos: "o
que é realmente possível também é realmente necessário". Essa lei deriva
do antigo princípio metafísico de que o ser não pode provir do não ser ou, em
outros termos, de que a possibilidade do ser não é simultaneamente
possibilidade do não ser. Hartmann formula, ademais, a lei ou fórmula "de
identidade", que reza assim: "as condições de possibilidade real de
uma coisa são simultaneamente as condições da sua necessidade real". Esta
lei exprime uma convicção contrária ao conceito popular de possibilidade, que
foi aceito pela ontologia tradicional, desconhecendo o rigor que os
pre-socráticos (de Megara) conferiam ao conceito de possibilidade. A lei real
da necessidade não implica, no entanto, para Hartmann, um determinismo total do
mundo, mas apenas o que ele denomina de uma sobreposição
de várias formas de determinação [cf. Fraga, 1990: 2, 1010-1014].
Em que pese o fato da concessão que Hartmann faz à
perspectiva realista na sua ontologia (difícil de justificar teoricamente, uma
vez aceitos os princípios do neokantismo), um aspecto, contudo, deve ser
ressaltado: em face da complexidade do mundo, é necessário reconhecer que o
pensamento moldado em sistemas está fora de jogo. A respeito, escreve o
filósofo alemão em Autoexposição
sistemática [Hartmann, 1989: 4]: "Explicar o espírito a partir da
matéria ou entender a matéria a partir do espírito, o ser a partir da
consciência; reduzir o organismo ao mecanismo ou fazer passar o acontecer
mecânico por uma vitalidade encoberta, tudo isso e muito mais é hoje uma coisa impossível
de se realizar. Isso contradiz, já nos primeiros passos, o que com segurança
sabemos nos domínios especiais. O pensamento construtivo ficou fora de
jogo".
Embora os pensadores contemporâneos não renunciem a uma busca
de nexo sistemático entre os fenômenos, Hartmann considera, no entanto, que
essa pressuposição deve ser abandonada como ponto de partida. O que a meditação
filosófica faz, no seu início, é tomar consciência de uma complexidade do
mundo, que o autor alemão não duvida em identificar como perspectiva problemática do pensar.
Ao pensamento
sistemático construtivo Hartmann contrapõe o pensamento problemático investigador. Essas duas grandes linhas
epistemológicas são claramente identificáveis na história da Filosofia
ocidental. Embora encontremos pensadores mais afinados com a perspectiva
sistemática (como Plotino, Proclo, Tomás de Aquino, Duns Scot, Hobbes,
Espinosa, Fichte, Schelling) e outros mais próximos da visão problemática (como
Platão, Aristóteles, Descartes, Hume, Leibniz, Kant), em todos eles a meditação
filosófica emerge a partir da base dos problemas metafísicos, que são os que
acompanham a perplexidade da mente humana diante do mistério do Ser. "Em
geral, escreve Hartmann, o morto e o simplesmente histórico pertencem ao pensar
sistemático; pelo contrário, o supra-histórico e o vital pertencem ao pensar
problemático puro. Nele se encontram as aquisições da história do
pensamento" [Hartmann, 1989: 7].
Os historiadores da filosofia e os comentaristas deformaram,
infelizmente, o pensamento de Platão, apresentando-o como decorrente de uma
visão sistemática pré-concebida. Ora, nada mais afastado do grande filósofo
grego do que essa preguiçosa concepção sistemática. Nele era fundamental, antes
de tudo, a perplexidade em face do Ser, a dimensão da dúvida, que o levava a
considerar como cosmogonias mitológicas as concepções herdadas dos seus
antepassados. É necessário recuperar, frisa Hartmann, a dimensão problemática
da filosofia platônica, para que saibamos valorar a sua criatividade. Platão,
ao manter viva a perplexidade diante do real, deu vida à meditação filosófica,
abrindo a porta para a interrogação e a elaboração de novos caminhos.
Hartmann considera necessário, de outro lado, recuperar a
valoração problemática da meditação aristotélica, que parte da aporética e que
se encaminha para a construção de um sistema de pensamento. Acontece que a
sistematização escolástica empobreceu essa dimensão dinâmica da meditação do
estagirita, ressaltando o momento sistemático e esquecendo o ponto de partida
problemático. Três razões explicariam, nos historiadores da filosofia, essa
pressa em valorar o sistema por cima dos problemas: em primeiro lugar, a
impaciência para descobrir soluções custe o que custar; em segundo lugar, a
pressuposição (falsa) de que problemas insolúveis são filosoficamente inúteis;
em terceiro lugar, o menosprezo em face das perguntas irrecusáveis.
Em relação à primeira razão, Hartmann considera que é muito
mais filosófico legar aos nossos discípulos perguntas sem responder, do que
pretender construir, a qualquer preço, respostas sistemáticas para tudo. Em
relação à segunda razão, o filósofo alemão considera que os problemas
insolúveis são filosoficamente úteis. A história do pensamento ocidental mostra
que o verdadeiro progresso advém da abertura à indagação e do questionamento às
soluções já adquiridas. Ora, as ciências somente progridem em face do princípio
da refutabilidade que nos leva a adotar, perante o que recebemos dos nossos
antepassados, uma atitude não de subserviência, mas de crítica. O drama dos dogmatismos, estreitamente
ligados aos totalitarismos do mundo contemporâneo, consiste justamente no fato
de eliminarem a dúvida e o pensamento crítico.
Em relação à terceira razão, Hartmann destaca que há
problemas que foram colocados num determinado momento e que jamais seria
possível colocá-los antes. A formulação de indagações está sempre ligada a
determinadas condições históricas irrepetíveis, bem como a um determinado
estado do saber. Enquanto os filósofos estiverem preocupados unicamente com a
dimensão sistemática, não perceberão o sentido dos eternos e irrecusáveis
conteúdos problemáticos, que ancoram na perplexidade diante da realidade.
Assim, frisa Hartmann, "acontece que é necessária previamente uma reflexão
especial sobre a linha histórica do pensamento problemático, que se oculta por
trás da fachada dos sistemas, para garantirmos aqueles conteúdos"
[Hartmann, 1989: 13]
Os eternos
e irrecusáveis conteúdos problemáticos: esse constitui o ponto de partida
do filosofar. Ora, destaca Hartmann, esses eternos e irrecusáveis conteúdos
emergem da consciência perplexa pela complexidade do real, que constitui um
fenômeno básico não impugnável. "Os fenômenos, escreve, são sempre mais
fortes do que as teorias. O homem não pode mudar os fenômenos; o mundo
permanece como é, qualquer que seja o pensamento do homem sobre ele. O homem
pode somente apreendê-lo ou errar em relação a ele" [Hartmann, 1989: 14].
Hartmann propõe um método progressivo para a razão não se
afastar da realidade e construir as suas teorias sem falsear a apreensão dos
fenômenos. O primeiro passo é constituído pela descrição fiel dos fenômenos. O
segundo consiste na aporética ou estudo dos problemas, enquanto constituem o
incompreendido dos fenômenos, explicitando com claridade as aporias naturais;
este passo deve levar em consideração o estado da pesquisa respectiva. O
terceiro passo, por fim, consiste na teoria, ou abordagem da solução das
aporias.
Em relação à metodologia proposta, o filósofo alemão escreve:
"Essa progressão: fenomenologia, aporética, teoria, não pode ser
abreviada. Os dois primeiros graus, tomados cada um em si, constituem um amplo
campo de trabalho, uma ciência inteira. E precisamente porque nenhum dos dois é
o definitivo e verdadeiro, recai sobre eles a maior ênfase. O seu campo de
trabalho é aquele onde os sistemas construtivos têm pecado. Estes precisamente
ficaram curtos demais. E justamente por isso as teorias repousavam sobre bases
frágeis. Aqui é preciso criar fundamentos sólidos -- não os fundamentos
objetivos da teoria (que devem ser encontrados preferentemente só quando começa
o estudo das aporias) --, mas os pontos de partida do conhecimento, enquanto
deve ser algo mais do que simples descrição do encontrado anteriormente. No
relativo ao terceiro grau, deve consistir num tratamento puro das aporias
destacadas, e certamente com base no mesmo resultado presente nos fenômenos.
Esse tratamento ou estudo não é mais do que uma solução das aporias. Somente pode tender em direção a uma solução.
De antemão não pode dizer nem como resultará a solução, nem se alguma é
possível absolutamente. O estudo das aporias é algo muito diferente quando pode
se alicerçar num limpo trabalho prévio, realizado sobre o fenômeno e o
problema, e quando parte, sem mais, de algo supostamente dado. Os problemas
vistos com ingenuidade foram colocados na maior parte das vezes de forma
inadequada, e atingem a realidade só de forma periférica. Pois a colocação
problemática condicionada toma-se possível graças ao conteúdo problemático
objetivo. Dessa forma, misturam-se muitas aporias artificiais e as naturais são
encobertas. Mas, antes de mais nada, somente depois de efetivado o trabalho da
aporética, resulta possível dar novamente à teoria
mesma o seu valor e sentido original" [Hartmann, 1989: 16-17].
A radical inadequação entre o nosso pensamento e a realidade
presente no mundo dos fenômenos, essa seria, no sentir de Hartmann, a metafísica dos problemas, a partir da
qual tentamos, de várias formas, explicar a realidade (dando ensejo aos
sistemas), sem que, contudo, consigamos nunca dar conta dela. Eis a raíz do que
hoje denominamos de modéstia
epistemológica, única atitude condizente com a busca diuturna da verdade.
Retomando os conceitos desenvolvidos por Hartmann, o pensador
italiano Rodolfo Mondolfo (1877-1976) tematizou, por sua vez, o papel da
indagação dos problemas na criação filosófica. A consciência da insuficiência
dos nossos conceitos, esse seria o ponto de partida de uma autêntica reflexão.
A respeito, escreve Mondolfo: " (...) na aquisição de conhecimentos e na
reflexão intelectual, sempre acontece tropeçarmos com dificuldades que se
baseiam no reconhecimento de faltas e imperfeições em nossas noções, cuja
insatisfação, portanto, nos suscita problemas. E daí surge a investigação, isto
é, pela consciência de um problema, cuja
solução nos sentimos impelidos a procurar, estando justamente a indagação
voltada para a solução do problema, que nos foi apresentado" [Mondolfo,
1969: 30].
O pensador italiano considera que o sucesso da investigação
filosófica decorre, sem lugar a dúvidas, da clareza com que tenha sido colocado
o respectivo problema. É o ponto que os escolásticos chamavam de status quaestionis, que era colocado
antes da elaboração doutrinária, na tradicional Lectio. Em relação a esse aspecto, Mondolfo escreve: "(...) a
fecundidade do esforço investigador é proporcional à clareza e à adequação da
formulação do problema; de maneira que a primeira exigência imposta ao
investigador é a de conseguir, da melhor maneira possível, uma consciência
clara e distinta do problema, que constitui o objeto de sua indagação. Esta
exigência é válida preliminarmente para qualquer espécie de investigação, porém
o é, sobretudo, na filosofia, sendo a filosofia antes de mais nada -- como já
Sócrates o ressaltava-- consciência da
própria ignorância, isto é, da
existência de problemas que exigem o esforço da mente na procura de uma saída
dessa situação de mal-estar e de insatisfação" [Mondolfo, 1969: 30].
Na trilha da perspectiva genética apontada por Giambattista
Vico (1688-1744) na sua famosa frase: "a natureza das coisas é o seu
nascimento", Mondolfo escreve: "(...) Toda a investigação teórica que
quiser encontrar seu caminho com maior segurança, supõe e exige, como condição
prévia, uma investigação histórica referente ao problema, ao seu
desenvolvimento e às soluções que foram tentadas para resolvê-lo"
[Mondolfo, 1969: 30-31].
Mondolfo considera que a perspectiva problemática atrela-se à
essência da pesquisa filosófica. Aparentemente haveria oposição entre a tarefa
do historiador (inquiridor da verdade sub
specie temporis) e a do filósofo, (perscrutador da alétheia sub specie aeterni).
No entanto, a esta última só se chega pela porta estreita da historicidade,
pois como frisa Karl Jaspers [1980: 34], "se saíssemos da História
tombaríamos no nada".
A respeito deste ponto, escreve Mondolfo: "Com efeito,
podemos distinguir um duplo aspecto na filosofia, conforme ela se apresente
como problema ou como sistema. Como sistema, é evidente que o pensamento
filosófico, apesar de sua pretensão, sempre asseverada, de uma contemplação sub specie aeterni, não consegue, na
realidade, afirmar-se a não ser sub
specie temporis, isto é, necessariamente vinculado à fase de
desenvolvimento espiritual própria de sua época e de seu autor, e destinado a
ser superado por outras épocas e outros autores sucessivos. Ao contrário,
quanto aos problemas que suscita o pensamento filosófico, ainda que esteja
sempre subordinado ao tempo em sua geração e desenvolvimento progressivo,
apresenta-se, no entanto, como uma
realização gradual de um processo eterno. Com efeito, os sistemas passam e
caem; porém, os problemas formulados sempre permanecem como conquistas da consciência
filosófica, conquistas imperecíveis, apesar da variedade das soluções tentadas
e das formas pelas quais tais problemas são propostos, pois esta variação
representa um aprofundamento progressivo da consciência filosófica. Dessa
maneira, a reconstrução histórica do desenvolvimento da filosofia aparece como
um reconhecimento do caminho percorrido pelo processo de formação progressiva
da consciência filosófica, o que vale dizer, como uma conquista da
autoconsciência" [Mondolfo, 1969: 33-34].
Há evidentemente, para Mondolfo, uma lógica da história da
filosofia. Nesse aspecto, o pensador italiano assume as teses fundamentais de
Hegel nas suas Lições de História da Filosofia. Há um fio condutor na história
do pensamento humano. Ora, esse fio corresponde à estrutura lógica da razão que
busca, no meio aos fatos e aos fenômenos, se manter idêntica a si mesma. Daí
por que Mondolfo considera que "a história da filosofia não pode, de
maneira alguma, ser considerada como uma sucessão de criações contraditórias,
que negam cada uma o que a outra afirmava, ou constroem a seu bel-prazer um
edifício destinado a ser derrubado, a fim de deixar seu lugar para outra
construção, que será igualmente demolida como produto arbitrário de uma
fantasia caprichosa (...)" [Mondolfo, 1969: 57-58].
Em decorrência dessas observações no terreno da
historiografia da filosofia, Mondolfo considera que se deve elaborar um método
de pesquisa que respeite a essência da dimensão problemática da meditação
ocidental. A respeito, Mondolfo [1969: 261] escreve: "Devemos reviver em
nossa consciência a experiência filosófica da humanidade passada, tanto em seu
conjunto, quanto na individualidade de cada pensador. E para viver de novo cada
sistema temos que realizar o máximo esforço, a fim de colocarmo-nos na situação
espiritual em que se encontrava o filósofo que o criou, isto é, temos que reproduzir em nossa interioridade a
consciência dos problemas que preocupavam a sua época, assim como as exigências
particulares de sua personalidade, compenetrando-nos de seu processo de
formação e de sua vida interior. E quando, nos filósofos que são objeto de
nosso estudo, esta vida interior [tiver sido] muito intensa e ativa,
deparamo-nos geralmente com um movimento contínuo de aprofundamento, renovação
e evolução espirituais, que reúne, por assim dizer, múltiplas personalidades
sucessivas numa única pessoa, o que complica e dificulta a tarefa do intérprete
que procura a reconstrução histórica".
O pensador italiano frisa que no estudo historiográfico da
filosofia deve-se reconhecer, como aspecto fundamental, o progresso contínuo do
espírito humano. Mas esse fato não reduz a cinzas as conquistas dos nossos
antecessores. Elas serão sempre importantes, como a escada que nos permitiu
subir mais alto para enxergar, numa maior altura, o horizonte. Continua presente,
aqui, a convicção filosófica de Hegel no progresso do espírito humano. A
respeito, frisa Mondolfo [1969: 263]: "Naturalmente, não ficam anulados ou destruídos os
resultados das investigações e intuições de Hegel ou de Zeller, ou de outros
grandes historiadores, por serem superados pelas indagações sucessivas, cuja
realização foi condicionada e estimulada por eles próprios. O processo de
superação, como pensava Hegel, sempre outorga uma verdade mais profunda ao que
foi superado, o qual permanece vital e ativamente nas raízes dos novos
resultados, cuja obtenção tornou possível, impulsionando-os para a sua
realização. Neste aspecto, devemos expressar nosso respeito e reconhecimento
para com os grandes historiadores do passado, cujo estudo será sempre ponto de
partida e fonte de fecundas sugestões
- positiva ou negativamente, por
meio da aceitação ou da oposição que provoca, das soluções que indica ou dos
problemas que formula - para os novos investigadores".
Os culturalistas brasileiros assumiram a herança de Hartmann
e de Mondolfo, sendo necessário lembrar a pesquisa historiográfica sobre o
pensamento brasileiro desenvolvida, ao longo dos últimos quarenta anos, por
Miguel Reale (1910-2006) e Antônio Paim (1927) [cf. Reale, 1951; Paim, 1979]. Pela
trilha aberta por Reale e Paim, novas gerações de estudiosos têm empreendido a
marcha, sendo hoje as figuras de Leonardo Prota (1930-2016) e José Maurício de
Carvalho (1957), duas importantes manifestações dessa caminhada intelectual.
O primeiro aprofundou na temática da meditação brasileira à
luz dos problemas que surgiram no seio das várias filosofias nacionais e o
segundo tem particularizado as análises acerca da corrente culturalista, no
contexto de uma pesquisa historiográfica dos problemas [cf. Prota, 2000 e
Carvalho, 1998b e 2000].
Leonardo Prota adotou o ponto de vista culturalista ao
analisar a Filosofia como problema e centrou a sua investigação no estudo da
problemática das Filosofias Nacionais. Com a finalidade de abrir um debate
amplo a respeito, fez desse tema o item central a ser discutido nos Encontros
Nacionais de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira, entre 1989 e
o início deste século. A respeito da
forma em que abordou o tema, Prota escreve, destacando a perplexidade que o
tema das Filosofias Nacionais ainda suscita entre os estudiosos: “Afinal, por que tanta desconfiança com esse tipo
de investigação filosófica?
Possivelmente a explicação esteja no
entendimento equivocado a respeito do conceito de Filosofia Universal. O
problema não pode ser colocado em termos de oposição e exclusão, [numa espécie
de confronto entre a] Filosofia Universal [e as] Filosofias Nacionais (...),
que constituem e formam a Filosofia Universal, assim como anteriormente eram os
sistemas que constituíam o pensamento universal” [Prota, 1999].
Em relação à forma em que este pensador equaciona
a problemática das filosofias nacionais, Antônio Paim escreve: “Naquela altura,
Leonardo Prota demonstrava haver amadurecido em seu espirito a temática a ser
desenvolvida na obra que daria por concluída no ano seguinte, justamente com a
denominação de As filosofias nacionais e a questão da universalidade da filosofia (Londrina:
Editora UEL, 2000). A primeira pergunta que se propõe resolver consiste no
seguinte: como se explica o surgimento de filosofias nacionais? Obviamente, não
poderia haver filosofias nacionais antes das nações (...). A Primeira Parte da
obra intitula-se justamente: ‘A quebra da
unidade linguística na Europa e o surgimento das filosofias nacionais’. Para
resolver a questão proposta, procede à reconstituição do processo de formação
das nações europeias, permitindo-lhe apresentar uma síntese e uma cronologia.
Sentiu necessidade de deter-se no exame das duas forças que espontânea e
naturalmente se contrapunham a tal processo: o Sacro Império Romano Germânico e
o Império Otomano. Tenha-se presente que este ocupou a parte substancial dos
Bálcãs e esteve às portas de Viena” [Paim, 2015].
Antônio Paim sintetizou as restantes etapas da pesquisa
de Leonardo Prota acerca das filosofias nacionais, da seguinte forma: “(...) As
filosofias nacionais e a questão da universalidade da filosofia contém,
ainda, duas outras partes. Elas tratam (...) do processo de formação das
principais filosofias nacionais, onde procede à reconstituição desse processo
no caso das filosofias inglesa, alemã, francesa e italiana. Valeu-se do
material resultante das discussões sobre cada uma delas, verificado nos
mencionados Encontros. A Parte subsequente intitula-se: ‘universalidade da
filosofia e filosofias nacionais’, na qual resume a meditação de Nicolai
Hartmann e de Rodolfo Mondolfo sobre o sucessivo desaparecimento de sistemas em
face da permanência dos problemas. Insiste em que a questão ‘não pode ser
colocada em termos de oposição e exclusão, filosofia
universal versus filosofias nacionais, mas em termos de constituição; ou
seja, contemporaneamente, são as filosofias nacionais (reflexões e
investigações suscitadas por problemas filosóficos que marcaram as distintas
tradições nacionais), que constituem e formam a filosofia universal, assim como
anteriormente eram os sistemas que constituíam o pensamento universal’. Tece,
então, alguns comentários sobre as quatro filosofias nacionais que escolheu
para ilustrar o seu pensamento. Escreve: ‘Se na filosofia inglesa salientamos
como característica a valorização da experiência, ninguém pode levantar dúvidas
de que essa peculiaridade do pensamento inglês não faça parte, hoje, do
pensamento universal’. Prosseguindo, frisa: ‘igualmente, se a persistência na
elaboração de sistema filosófico marcou a filosofia alemã, tendo como resultado
a filosofia crítica, seria absurdo imaginar o contexto da filosofia moderna sem
essa aportação do momento Kant-Hegel’. Que dizer da filosofia francesa? - Pergunta.
Responde dizendo que é impossível negar que o empenho de fazer prevalecer a
racionalidade faça parte do patrimônio comum da filosofia universal. Registra
que, ao tratar da Filosofia italiana, adotou a tese de Bertrando Spaventa
(1817-1883), segundo a qual as filosofias nacionais, na Europa, correspondem a
momentos particulares do desenvolvimento da Filosofia Moderna, nas diferentes
nações” [Paim, 2015].
Representante da nova geração de pesquisadores da
filosofia brasileira formada na Universidade Federal de Juiz de Fora, ao ensejo
do Curso de Mestrado em Filosofia que ali funcionou no período que se estende
de 1984 até a primeira década deste século, José Maurício de Carvalho enveredou
pela pesquisa da filosofia brasileira, adotando como ponto de vista a concepção
da filosofia como problema, à luz da metodologia apontada de Hartmann e de
Mondolfo e seguindo a trilha aberta por Miguel Reale e Antônio Paim. A sua tese
de doutorado, defendida na Universidade Gama Filho no decorrer dos anos 90,
acerca dos fundamentos saint-simonianos do pensamento econômico do visconde de
Mauá, situa-se ainda nesse contexto epistemológico [Carvalho, 1997b].
À frente do Departamento de Filosofia da
Universidade Federal de São João del Rei, José Maurício desenvolveu dinâmico trabalho
de pesquisa sobre a formação da Filosofia brasileira, comparando esse processo
com o que foi trilhado pela Filosofia portuguesa, ao longo dos século XIX e XX.
Membro do Instituto de Filosofia Luso-brasileira, com sede em Lisboa, tendo
efetivado os seus estudos de pós-doutorado, na Universidade Nova, sob a
orientação de José Esteves Pereira, José Maurício passou a coordenar, na
Universidade Federal de São João del Rei, a programação dos Colóquios “Antero
de Quental”, que possibilitaram o confronto dos pensadores brasileiros com os
seus homólogos portugueses.
O fulcro da
análise efetivada por José Maurício de Carvalho parte exatamente do ponto de
vista firmado por Reale e Paim: Qual era o problema, ou os problemas, que
inspiraram a obra de determinado pensador? A partir da resposta dada a essa
questão, o pesquisador passou a estudar as relações entre os autores, mas
sempre levando em consideração a problemática histórica à qual eles pretendiam
responder. Essa metodologia foi posta em prática, por exemplo, na sua obra
sobre o pensamento do filósofo e pedagogo português Delfim Santos (1907-1966)
[Cf. Carvalho, 1996].
Destaco o valor pedagógico da metodologia utilizada
por José Maurício de Carvalho, notadamente na sua obra: Curso de Introdução à Filosofia
Brasileira [Carvalho,
2000], que foi por mim utilizada como texto básico para os seminários sobre
Filosofia Brasileira, que dirigi na Universidade Federal de Juiz de Fora, entre
2003 e 2013. A adequada compreensão dos vários autores deve-se inserir, como faz
José Maurício, no contexto dos problemas por eles levantados nas suas obras,
aos quais tentaram responder. O confronto entre as várias respostas dadas às
problemáticas levantadas permitiu, aos alunos, ter uma visão completa acerca do
valor e do significado da sua contribuição na história das ideias filosóficas
no Brasil.
Do exposto
acerca do pensamento de Leonardo Prota e José Maurício de Carvalho fica claro
que na trilha da reflexão
crítico-histórica desenvolvida por Miguel Reale e Antônio Paim, abriu-se
fecunda perspectiva para analisar, de forma aberta e objetiva, os principais
problemas que afetam ao homem contemporâneo. Por esse caminho vai se
identificando a forma brasileira de abordar a existência humana do ângulo
filosófico, sendo que hoje podemos falar, como frisa com propriedade Zdenek
Kourim [1997: 425] de uma autêntica
"emancipação intelectual" do nosso país.
No contexto da reflexão crítico-histórica firmada por Miguel
Reale e Antônio Paim, desenvolvi a minha reflexão sobre os problemas ao redor
dos que gira a meditação filosófica nos nossos dias, na obra: Tópicos
especiais de filosofia contemporânea [Vélez, 2001], que é uma tentativa
de reflexão, do ponto de vista culturalista, acerca da problemática da cultura,
da interdisciplinaridade, da ciência contemporânea, da comunicação, da
epistemologia da história, da cibernética nas suas implicações educacionais, do
totalitarismo, do messianismo político, da ética econômica, da questão da
transparência na política, da bioética, da problemática da violência, das
questões debatidas pelos comunitaristas e da utopia socialista. Problemas
atuais que, sem dúvida, nos desvelam e que a filosofia tenta iluminar, numa
tentativa de garantir o equacionamento humanístico dos mesmos, preservando a
consciência e a liberdade.
Pode-se arguir falta de sistematização nesse meu trabalho.
Mas, após as considerações de Hartmann e Mondolfo, talvez fique claro que a
falta de sistema não encobre carência de reflexão, muito pelo contrário: revela
atenção à complexidade do real, que nos coloca, sempre, diante dos grandes e
eternos problemas que dão vida à meditação filosófica e que não se deixam
esgotar pelos sistemas. Em que pese a falta de sistema, a minha reflexão deixa
claro o pano de fundo transcendental que a anima, ao considerar a ampla gama
dos problemas contemporâneos à luz do ideal de pessoa como consciência e
liberdade, que constitui, sem dúvida, a mais importante herança cultural do
Ocidente. Essa metodologia inspirada na
ideia de Hartmann da “Filosofia como Problema”, já tinha sido posta em prática
por mim na obra intitulada: Tópicos especiais de filosofia moderna
[Vélez, 1995].
BIBLIOGRAFIA
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contemporânea. Londrina: Editora da Universidade Estadual de Londrina.
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ResponderExcluirUma das maiores contribuições filosófico-culturais dos pensadores brasileiros da atualidade - somente citanto Antonio Paim, Ricardo Vélez Rodríguez, Leonardo Prota e José Maurício de Carvalho - é a explicitação da questão dos problemas específicos nacionais dando origem às filosofias nacionais. Aquilo que era denominado de filosofia universal na verdade era um problema nacional e como tal uma filosofia nacional.
ResponderExcluirCreio que caberia sugerir Paulo Mercadante, Gilberto Freyre, Olavo de Carvalho e, principalmente, Mário Ferreira dos Santos para comporem esse time de "titãs" do pensamento brasileiro.
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