Amigos, não podia deixar passar em branco o magnífico artigo do Fernando Gabeira publicado ontem no Estadão. Uma clara manifestação de repúdio ao espírito totalitário petralha. Palmas para o corajoso jornalista que não perdeu o senso crítico. PT nunca mais! Reproduzo, a seguir, o seu artigo.
FERNANDO GABEIRA
Publicado
no Estadão 10-10-2015
Por toda parte,
queixas e lamúrias: arrasaram o Brasil, estamos quebrados, tudo fechando,
alugando. É uma fase pela qual temos de passar. Quanta energia, troca de
insultos, amizades desfeitas. Às vezes penso que a melhor forma de abordar o
novo momento é apenas deixar que os fatos se imponham.
Muitas vezes afirmei
que o dinheiro roubado da Petrobras foi para os cofres do PT e usado na
campanha de Dilma Rousseff. Caríssima campanha, R$ 50 mil por mês só para o
blogueiro torná-la um pouco engraçada.
O primeiro fato importante foi a delação premiada do empresário Ricardo
Pessoa. Ele afirmou que deu quase R$ 10 milhões à campanha para não perder seus
negócios na Petrobras. Logo depois surgiram suas anotações, estabelecendo um
vínculo entre o dinheiro que destinou ao PT e os pagamentos que recebia da
Petrobras. Verdade que a empresa estava nomeada apenas como PB. Claro que ainda
podem dizer que esse PB quer dizer Paraíba, ou pequena burguesia. É um jogo
cansativo.
Nem é tão necessário
que a investigação defina novos vínculos entre o escândalo, o PT e a campanha
de Dilma. Basta assumir as consequências do que já se descobriu. Se o tema vai
ser neutralizado no Supremo, se o governo compra um punhado suficiente de
deputados, tudo isso não altera minha convicção de que o escândalo desnudou um
projeto político criminoso.
Ainda na semana passada o Estadão publicou
reportagem sobre a Medida Provisória (MP) 471. Ao que tudo indica, foi
comprada. Ela garante a isenção de R$ 1,3 bilhão em impostos. E rendeu R$ 36
milhões em propina.
Não estranho que
tenha sido aprovada pela maioria. Eram estímulos para três regiões do país e as
respectivas bancadas estavam satisfeitas com isso.
Também não havia, da
parte das outras regiões, questionamentos sobre estímulos localizados. O único nó
nesse campo, se me lembro bem, era a divisão dos royalties do petróleo.
Muito possivelmente,
a emenda foi vendida com o preço da aprovação parlamentar embutido. De qualquer
forma, a maioria no Congresso foi enganada e, com ela, todos os seus eleitores.
A empresa que
negociou a medida provisória destinou R$ 2,4 milhões ao filho de Lula. Segundo
a notícia, ele diz que o dinheiro foi pago por assessoria de marketing
esportivo. O pai assina a MP, o filho recebe R$ 2,4 milhões da empresa de
lobby. Se você não estabelece uma conexão entre as duas coisas, vão chamá-lo de
ingênuo; se estabelece, é acusado de lançar suspeita sobre a reputação alheia.
A maioria das pessoas
consegue processar fatos e documentos já divulgados e talvez nem se escandalize
mais com a venda de uma MP: é o modo de governar de um projeto. É todo um
sistema de dominação. É preciso ser um Jack estripador ou um ministro do
Supremo para dizer: vamos por partes.
As conexões estão
feitas na cabeça da maioria e nada de novo acontece. Neste momento pós-moderno,
em que as narrativas contam, mas não as evidências, o conceito de batom na
cueca também se tornou mais elástico. Não é bem uma marca de batom, mas algo
vermelho que esbarrou pelo caminho, uma tinta, um morango maduro.
Enquanto se vive este
faz de conta nacional, a situação vai se agravar. É muito grande o número de
brasileiros que se sentem governados por uma quadrilha. Apesar de não estarem
organizados, ou talvez por isso, alguns vão se desesperar, ultrapassando os
limites democráticos. O tom do protesto individual está subindo. Dirigentes do
PT são vaiados, figuras identificadas até a medula com o partido, como o
ministro Lewandowski, também não escapam mais da rejeição popular.
O PT e os
intelectuais que o apoiam falam de ódio. De fato, o amor é lindo, mas como ser
simpático a um partido que arrasa o país, devasta a Petrobras e afirma que está
sendo vítima de uma injustiça?
Não são apenas alguns
intelectuais do PT que se recusam a ver a realidade. No passado, as denúncias
de violência stalinista eram guardadas numa gaveta escura do cérebro. Era
impossível aceitar que o modelo dos sonhos se apoiava numa carnificina. Agora
também parece impossível admitir que o líder que os conduz tem como principal
projeto tornar-se milionário. É como se admitissem ser humildes fiéis de uma
religião cujo pastor acumula, secretamente, uma fortuna, enquanto teoriza sobre
a futilidade dos bens materiais.
A sucessão de
escândalos, demonstrando a delinquência do governo, não basta para convencer os
mais letrados. E certamente não bastará para convencer os que ignoram a
História e são pagos para torpedear o adversário nas redes.
Mas os fatos ainda
têm grande força. Lutar contra eles, em certas circunstâncias, não é só um
problema de estupidez, mas também de estreita margem de manobra.
Se o governo não pode
aceitar que suas contas sejam recusadas por unanimidade no TCU, não resta outro
caminho senão tentar melar o julgamento. Sabem que todos estão vendo sua jogada
e talvez experimentem uma ligeira sensação de ridículo. Mas o que fazer?
A única saída decente
seria renunciar. Mas, ao contrário, decidiram ficar e convencer os críticos de
que estão cegos por causa de sua ideologia de direita, conservadora e elitista.
Isso radicaliza a
tática de Paulo Maluf, que insiste em dizer que não tem conta na Suíça, que o
dinheiro e a assinatura não são dele. Maluf apenas nega o que estamos vendo. O
PT nos garante que há algo de errado com nossos olhos.
Pessoalmente, na cadeia
e no Congresso, fui treinado a discordar, mas conviver com as pessoas, apesar
de seus crimes. Nem todos os brasileiros pensam assim, na rua. Não é possível
irritar as pessoas ao extremo e, quando reagem, classificá-las de intolerantes.
O momento é uma encruzilhada
entre a ira popular e a enrolação institucional. Com todos os seus condenáveis
excessos, a raiva nas ruas é que tem mais potencial transformador.
A esquerda sempre
soube disso. Agora, com o traseiro na reta, o PT descobre o amor.
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