Quem já esperava ter
visto tudo quanto é safadeza com o dinheiro público no Mensalão I do PT (aquele
coordenado pelo Zé Dirceu et
Caterva), pode tirar o cavalinho da chuva. O Mensalão II (da Petrobrás) é
filme para público adulto. Melhor tirar as criancinhas da sala na hora do
noticiário, quando o dossiê das falcatruas for completamente revelado ao ensejo
da CPI. Claro, se esta Comissão Parlamentar de Inquérito não for engolida por
outra safadeza: a do controle social da mídia pela petralhada no poder. Os
“técnicos” em desinformação do PT (dentre os quais se destacam o ex-ministro
Franklin Martins e o ex-deputado André Vargas) estão trabalhando a todo vapor
para impedir a livre informação dos fatos. Acampamento de ciberterroristas já
foi bancado pelos petralhas, para treinamento da militância nas técnicas de
invasão de sites e blogs críticos dos donos do poder. E a tropa de choque do
governo, no Congresso, está utilizando todas as artimanhas da politiquice
calhorda para impedir a CPI de funcionar, adicionando “fatos” velhos de
governos anteriores, que nada têm a ver com os eventos que deveriam ser
investigados. Tudo para distrair a atenção do honorável público e da oposição.
Se necessário, os congressistas do Planalto e da base aliada vão propor incluir,
na CPI original, até a origem das 30 moedas de prata com que Judas Iscariote vendeu
Jesus aos seus algozes, há dois mil anos atrás.
Mas, antes de prosseguir,
queria justificar o título do meu comentário. Quando falo em “Petrotango”, não
pretendo criticar o belo ritmo argentino de Gardel, que, aliás, se toca e se
dança diariamente em... Medellín. “La Casa Gardeliana” é, na bela cidade
colombiana, um animado templo da boemia, que freqüentei na minha juventude.
Refiro-me, no título desta matéria, à definição que deste ritmo fazia o grande
escritor portenho Ernesto Sábato, no seu livrinho intitulado: “Tango”. Sábato o
definia como “un pensamiento triste que se baila”. O Mensalão II da Petrobrás
é, certamente, isso: “um pensamento triste que se dança”, um “petrotango”.
Esse “tango” da tristeza
simboliza plasticamente o ritmo da corrupção destes populismos sul-americanos.
Poder-se-ia descrever o seu “bailado”, assim: “um passinho para frente e dois
passinhos para trás”. É esse, exatamente, o ritmo que a petralhada no poder
imprimiu à louca dança que descambou na quebra da Petrobrás. Sob uma fajuta
portada de “modernização democrática” a liderança da outrora próspera empresa a
fez afundar: o noticiário econômico informava, por estes dias, que ela, orgulho
dos brasileiros, descambou do 12º lugar entre as grandes petroleiras do mundo,
para o 120º. Uma queda e tanto, que está levando de roldão a confiança dos
investidores e as expectativas dos brasileiros. Queda que, pelo que se sabe grosso modo, a partir de informes
especializados, se estende também a outras grandes empresas como a Eletrobrás, que
foi descapitalizada criminosamente em aras do populismo orçamentário em ano de
eleição.
“A marca da ruína vai
ficar” reza o título com que a Revista Veja (edição 2368 de 9 de abril de
2014) apresentou o seu Informe Especial, intitulado: “Como o PT está afundando
a Petrobrás”. O plano, segundo a revista, consistia em enriquecer a cúpula de
uma quadrilha criminosa integrada pelo ex-vice-presidente da Câmara, o petista
André Vargas e o doleiro Alberto Youssef. Eles “associaram-se para fraudar
contratos no governo e, juntos, ganhar uma fortuna”. Youssef, segundo a
revista, foi preso “sob a acusação de comandar um esquema de lavagem de
dinheiro pelo qual passaram cerca de 10 bilhões de reais, fortuna usada para
azeitar as mais variadas modalidades de corrupção, inclusive propinas na
Petrobrás”. O esquema da ladroagem estendia-se até o Ministério da Saúde, com
criminoso projeto que desviava dinheiro do orçamento destinado à medicina
popular, para engordar a conta de uma pseudo-empresa de Youssef e de Vargas. Os
ganhos seriam enormes, pois os gatunos achavam que, com eles, poderiam se
aposentar e viver ricos e tranqüilos pelo resto da vida. Patriotismo lulo-petralha
da melhor espécie: roubar em nome do povo e se enriquecer às suas custas!
Outro integrante da
quadrilha, que de uma forma ou de outra se beneficiou com o descalabro da Petrobrás,
foi, segundo Veja, Paulo Roberto Costa (ex-diretor de abastecimento e líder
do “clube dos corruptos”, um seleto grupo de empresários que se habilitavam
para fazer negócios com a empresa pagando um salgado pedágio que oscilava entre
300 mil e 500 mil reais). Outro integrante da máfia foi o pecuarista José
Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula e que está sendo investigado por
“negócio da Petrobrás para ajudar o PT”, pelo fato de ter repassado uma bolada
milionária ao empresário Ronan Maria Pinto, que chantageava o então chefe da
Casa Civil, José Dirceu, o chefe do gabinete do presidente da República,
Gilberto Carvalho e o próprio presidente Lula. Vale a pena esclarecer que Ronan
Maria Pinto ameaçava revelar fatos cavernosos ligados ao assassinato do
prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002. Outro membro do grupo de
gatunos foi José Sérgio Gabrielli, “o petista que presidia a Petrobrás na época
da compra de Pasadena”, e que era “um dos artífices do negócio”, segundo Veja,
“que foi feito para dar errado”. A finalidade principal deste parece ter sido
uma operação de lavagem de dinheiro sujo. Somente assim se explica a diferença
abissal entre o preço da refinaria de Pasadena segundo os antigos proprietários
belgas e o preço generosa e rapidamente pago pelos burocratas brasileiros, que
chegava à casa de 1,2 bilhão de dólares, praticamente o dobro do preço inicial.
Tudo sacramentado no alto conselho da estatal presidido na época pela atual
presidente da República.
Toda essa engenharia da
corrupção do lulopetismo, que está a concretizar uma corrupção da engenharia
brasileira (dada a participação de grandes empresas nas negociatas em que
mergulhou a Petrobrás) é mais um capítulo da triste história do Estado
Patrimonial brasileiro. O esquema dessas práticas deletérias remonta-se ao
Marquês de Pombal e à sua “aritmética política”, que no século XVIII pôs em
funcionamento, em Portugal e conseqüentemente no Brasil, o modelo de Estado
empresário que garante a riqueza da nação. Foram criados em terras lusitanas os
grandes Monopólios, entre os que sobressaía a Companhia do Grão Pará e do
Maranhão, que visavam a dar entrada, em Portugal e nas suas Colônias, à modernidade, num esquema de colbertismo
econômico bem semelhante ao que pôs em funcionamento, no século anterior, o pai
do absolutismo, Luís XIV da França. Dom José I, o monarca a quem servia Pombal,
tinha nesse modelo um dos seus guias para a modernização do Estado português.
Resumamos os itens do
modelo modernizador de Pombal no terreno econômico: 1 - Criação de empresas
monopolísticas estatais, ao redor das quais sejam cooptados os investidores
privados. 2 - A finalidade primordial destes monopólios consiste em fortalecer
o poder absoluto do monarca e daqueles que por ele forem cooptados. 3 -
Perseguição contra todos aqueles atores econômicos, pertencentes à nobreza ou à
burguesia, que pretendam se consolidar à margem dos donos do poder. 4 - Garantia
de estabilidade a todos os cooptados pelo monarca, sejam eles pertencentes à
burocracia oficial ou ao meio empresarial. 5 - Criação de nexos de cooptação
entre o monarca e as classes inferiores, que passam a depender dos favores do
governo e a lhe retribuir, com fidelidade incondicional ao rei e aos seus
colaboradores. 6 - Taxação rigorosa
sobre todos os agentes econômicos que produzam bens e serviços na metrópole ou
nas colônias, com a finalidade de fortalecer o Estado português e a sua burocracia.
Na história econômica
brasileira, o modelo pombalino foi o que moldou a criação dos monopólios
estatais, dentre os quais, no século XX, sobressai a Petrobrás,consolidada à
luz do princípio nacionalista de: “o petróleo é nosso”. A principal
conseqüência desse modelo consistiu na dependência absoluta do Estado e na
distribuição parca de benefícios entre os cidadãos. A Petrobrás, desde os
tempos da sua fundação, sempre atendeu às demandas da burocracia estatal, em
primeiro lugar, deixando em segundo plano a distribuição de royalties entre os
cidadãos. O grosso da riqueza auferida foi, sempre, apropriado pelo Estado e
pelos seus estamentos burocráticos. Não assusta, assim, que nos tempos atuais o
PT tenha achado conveniente acelerar a “produtividade” da empresa, para benefício
dos companheiros, em primeiro lugar, e para financiar a hegemonia partidária na
nossa melancólica República. O PT, como frisa Antônio Paim na sua obrinha intitulada:
Para
entender o PT (Londrina: Edições Humanidades, 2002) constitui a mais acabada
manifestação do Patrimonialismo tupiniquim.
Quosque tandem PT abutere patientia nostra! - diria Cícero se vivo estive.
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