Cada dia fica mais claro que a preservação ambiental não precisa de soluções mirabolantes. Grandes poluidores são, também, especialistas em vender bugigangas pseudo-ecológicas. A França que o diga. Após o show midiático da "Amazônia Pulmão do Mundo que deve ser gerido internacionalmente", apresentado pelo presidente Macron quando da reunião do G7 em Paris, vemos que essa espuma propagandística tem vida curta. Os próprios Franceses sofrem, hoje, com problemas ambientais sérios, como o ocorrido no incêndio da grande fábrica Lubrizol (que produz hidrocarburetos) em Rouen, a bela capital gótica da região da Normandia (fundada pelo Imperador romano Augusto no século I da nossa era e, hoje, com 500 mil habitantes na sua área metropolitana), situada no noroeste da França. O sinistro tem mobilizado sobremaneira a opinião pública, em decorrência da forte poluição por dioxina, que afeta diretamente a saúde da população.
A melhor maneira de fazer algo produtivo pela preservação das nossas florestas é, baixando o facho do Ibope, encarar a realidade à luz da ciência e da tecnologia, analisar friamente as políticas em andamento, as certas e as erradas, passar a melhorar as soluções boas e frear os erros, após um adequado diagnóstico. Claro que, no Brasil, somos capazes de fazer isto. Um pequeno exemplo: o magnífico artigo de Zander Navarro, Alfredo Homma, Antônio José Elias de Menezes e Carlos Augusto Mattos Santanna, intitulado: "O futuro da floresta" (O Estado de S. Paulo, 29-09-2019, p. A2). Os autores se identificam como "pesquisadores sociais". E como contribuem! As suas apreciações foram sedimentadas em seriedade e disciplina acadêmicas, a fim de jogar luz sobre o complexo tema ambiental, sem mandar ninguém para a fogueira inquisitorial e deixando que o bom senso seja iluminado pela ciência, pela tecnologia, e pelo conhecimento das políticas públicas (fazendo as críticas necessárias, mas tudo dentro de uma atitude construtiva).
Conheço Zander Navarro pelos seus trabalhos sobre o MST. Era um ativista lúcido, que aprofundou na problemática do campo com os seus estudos de pós-graduação na Inglaterra e que, hoje, contribui de forma civilizada ao debate sobre as nossas florestas. Não conheço os demais colaboradores no artigo em questão, mas, pelo teor das reflexões que fazem, parecem-me da mesma estirpe intelectual de Zander.
No artigo mencionado, os autores frisam que "A 'floresta em pé', como solução para a Amazônia, apresenta dificuldades em sua materialização". Os autores frisam a respeito: "A reiterada ideia de uma 'floresta em pé' como a solução para a Amazônia apresenta dificuldades na sua materialização, dadas a baixa produtividade dos recursos extrativos, a sua dispersão e a falta de economia de escala, entre outros bloqueios. Mesmo o mercado de carbono pode ser vítima do seu próprio sucesso. Recorde-se que o extrativismo foi uma das causas do atraso secular da Amazônia".
Os autores apontam para soluções alternativas, uma das quais é a mudança da pecuarização para a agriculturização. A respeito, frisam: "Se os produtores dedicados à produção de grãos se dispuserem a desenvolver melhores práticas de manejo em suas propriedades, seguindo o preconizado pelo Código Florestal, poderá diminuir a ação humana sobre a natureza. Se for assim, pelo menos quatro quintos de cada propriedade manterá preservada a floresta, conforme exige a lei".
No final do elucidativo artigo, os autores externam a seguinte conclusão: "Qual é o aprendizado geral do período? É possível estabelecer uma agricultura mais sustentável utilizando apenas as áreas de pastos degradados na Amazônia, as quais somam mais de 10 milhões de hectares (área superior a Portugal), aumentar a produtividade agrícola, incentivar cultivos perenes, garantir a segurança alimentar, fazer uma revolução na aquicultura e domesticar os produtos da biodiversidade amazônica. Uma política agrícola é muito mais importante e consequente para resolver seus próprios problemas ambientais".
E, por falar em política agrícola, há coisas importantes a serem feitas na área jurídica, como a emissão rápida de títulos de propriedade fundiária aos colonos que esperam por essa regularização legal há várias décadas. Razão tem o secretário especial de assuntos fundiários do Ministério da Agricultura, Luiz Antônio Nabhan Garcia, em estar preocupado com a agilidade na emissão de títulos de propriedade para os colonos.
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