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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

DE NOVO A GUERRA CARIOCA


Há quatro décadas repete-se o mesmo chavão: “O Rio está em guerra e a culpa é da elite”. À luz do pensamento da esquerda, tudo é questão de conseguir implantar a unanimidade ao redor da proposta salvífica de plantão, identificada com as teses marxistas. Firmou-se a crença ingênua de que tudo quanto de ruim acontecia na “Cidade Maravilhosa”, decorria da tentativa das elites para barrar a democratização desse canto do Brasil. O povão é enganado e os seus representantes, os populistas, são os porta-vozes das suas legítimas reclamações.

Foi assim como se ergueu, na mentalidade populista, a identidade bipolar do Rio de Janeiro, pendurando a culpa numa abstrata elite. A velha esquerda beneficiou-se dessa visão simplória, ela se colocando como a porta-voz das reclamações populares. A própria classe artística terminou se acomodando a essa visão bipolar, ela mesma se colocando do lado do povão. Foi assim como se alimentou o clima inquisitorial imperante na seara da cultura, que o dramaturgo Roberto Alvim, nomeado recentemente pelo Presidente Bolsonaro para dirigir o Centro de Artes Cénicas da FUNARTE, denunciou com as seguintes palavras que revelam o grau da polarização da classe artística: “Não há diálogo possível (...) gente hipócrita e canalha. Trata-se de uma guerra irrevogável”.

Se colocarmos no meio disso tudo a invasão do Rio pelo narcotráfico, as coisas se explicam. Leonel Brizola, quando da sua primeira campanha para ser eleito governador do Estado do Rio, no início dos anos 80, encarregou-se de dar a versão esquerdista da guerra do tráfico. Ela acontecia porque havia preconceito da elite carioca contra o povão, que residia nos morros que era vítima da “classe dominante”. Solução: a polícia não sobe mais no morro, que é habitado por gente simples e ordeira. Consequência: o velho malandro carioca, habitante do morro e que no samba exprimia a sua visão ingênua da vida, foi elevado aos altares da expressão da alta cultura. De pequeno marginal que roubava galinhas se tornou forte com a ausência da força pública. Estimulado pelos traficantes internacionais (dentre os que se destacava o chefão do Cartel de Medellín, Pablo Escobar), ao longo dos anos 80 o tradicional malandro se tornou chefe do tráfico, armado até os dentes e passou a aprender, junto com os seus subalternos, as táticas da guerrilha em que os traficantes colombianos eram craques. Foi assim como se consolidou o exército do narcotráfico.

Contudo, o tráfico de drogas não se instalou no Rio por casualidade. Foi uma decisão empresarial tomada na Itália no final dos anos 80, pelos chefões da máfia junto com os traficantes colombianos. Diante da repressão crescente, patrocinada pelos Estados Unidos através da DEA contra os produtores e exportadores de coca no Eixo Andino (Peru, Colômbia, Equador e Bolívia), a fronteira do narcotráfico deveria mudar de endereço e ir para o outro lado do continente sul-americano, o Brasil, com mais de 8 mil quilômetros de costas.

Foi assim como o nosso país numa primeira etapa, ao longo dos anos 80 e 90, se transformou em corredor para exportação de tóxicos através dos portos e aeroportos da Região Sudeste. A cidade-vitrine para o próspero negócio foi, evidentemente, Rio de Janeiro. Lembrem os leitores das famosas festinhas regadas a whisky escocês e cocaína, que uma socialite carioca oferecia à elite do Rio, no seu luxuoso apartamento do edifício Chopin, na orla marítima de Copacabana. Era chique cheirar pó. A própria socialite chegou a escrever um livro, que fez sucesso na zona sul e que se intitulava: “Ai, que loucura!”.

Essa foi a origem da atual guerra carioca, que ainda não foi desmontada, pois os parâmetros desse conflito precisam de muita inteligência policial, item realmente esquecido pela polícia carioca. Lembremos que há alguns anos apenas, a polícia do Rio tinha destinado anualmente, para o trabalho de inteligência, a irrisória quantia de 1 mil e poucos reais!


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