O Presidente eleito Iván Duque discursa ao anunciar o seu triunfo nas eleições presidenciais colombianas. (Foto: Iván Arboleda / AFP) |
As
eleições de domingo passado na Colômbia deram o triunfo ao jovem candidato
liberal-conservador Iván Duque (41 anos). O presidente eleito estudou em
Harvard, é advogado e trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em
Washington. Tinha sido eleito, em 2014, Senador pelo Partido Centro Democrático
(chefiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe Vélez). Liderou, ao lado dele, a
campanha de oposição aos Acordos de Paz (na forma em que tinham sido negociados
pelo governo do presidente Juan Manuel Santos, conferindo vantagens exageradas
aos líderes das FARC), tendo ganhado o plebiscito pelo não em 2016. Durante a
campanha, Duque defendeu a reformulação dos Acordos de Paz, que deverão ser
revistos pelo Parlamento, revisando as penas simbólicas dadas aos líderes
guerrilheiros e exigindo que os chefes máximos passem a cumprir penas
privativas da liberdade e não possam se candidatar para cargos eletivos proporcionais
(deputados e senadores). A objeção de Duque é em relação ao
que no Brasil denominamos de "cargos eletivos proporcionais" para
deputados e senadores. Pelos Acordos de Paz, os ex-guerrilheiros contarão com 5
cadeiras na câmara de representantes e 5 no senado para candidatos eleitos em
nome do partido que representa os ex-guerrilheiros das FARC.
Ivan Duque se
refere a candidatos do partido que representa as FARC ("Força Alternativa
Revolucionária do Comum") que tenham cometido crimes atrozes (inclusive o de narcotráfico, como exportadores de cocaína) e que deverão
pagar por eles. Considera que candidatos que se insiram nesse contexto não
poderão ser eleitos para o parlamento. Como nas eleições legislativas de março
os partidos que apoiam o presidente eleito ganharam maioria no congresso, é bem
provável que Duque consiga uma legislação restritiva do novo parlamento na
revisão das leis que pautam os Acordos de Paz. Nas eleições de março deste ano,
aliás, o partido das FARC somente obteve 0,5% dos votos, o que cria dúvidas
quanto à possibilidade de que candidatos eleitos por esse partido tenham
quociente eleitoral suficiente para ocupar as vagas destinadas no congresso
para os ex-guerrilheiros. Haverá certamente uma clarificação desse caso na
revisão das reformas que o novo parlamento faça da legislação vigente.
Duque
contesta a interpretação dada pelos negociadores dos Acordos de Paz quanto às
atividades das FARC como cartel de narcóticos, que eliminaram a culpabilidade
dos líderes guerrilheiros pelo delito de narcotráfico. Teria sido cometida aqui
uma injustiça flagrante, segundo Duque, contra os demais detentos pelo delito
de narcotráfico, que amargam pesadas condenas, tendo sido os chefões dos demais
cartéis extraditados para os Estados Unidos, de acordo à legislação colombiana
vigente. De outro lado, Duque propôs, na sua campanha, que fossem redefinidas
as ajudas financeiras prometidas aos guerrilheiros anistiados, exigindo que
estas sejam pagas com os enormes capitais que as FARC juntaram em bancos no
exterior, ao longo dos 50 anos de sequestros e roubos que praticaram em todo o
território nacional. O candidato vencedor, de outro lado, defendeu a revisão da
anistia aos mais de mil ex-guerrilheiros que não entregaram as armas à Comissão
Verificadora das Nações Unidas. Os colombianos não estavam satisfeitos com as
condições em que o governo de Juan Manuel Santos negociou a paz com as FARC. E
deram o triunfo a Ivan Duque.
Como
vice foi eleita a senadora pelo Partido União Nacional, Marta Lucía Ramírez (63
anos), uma experiente política conservadora, que já foi ministra de Comércio
Exterior, embaixadora na França e Ministra da Defesa. Quem costurou a
candidatura de Iván Duque foi o senador Álvaro Uribe Vélez, correligionário do
mesmo partido do presidente eleito. Uribe conseguiu realizar uma ampla pesquisa
de opinião entre os três partidos colombianos de tendência liberal-conservadora
(Partido Conservador, Partido do Centro Democrático e Partido União Nacional).
Num debate democrático em que foram discutidas as propostas dos aspirantes, em
eleição direta entre os membros das três agremiações, a candidatura de Iván
Duque foi aprovada por mais de 4 milhões de votos. Assim, o atual presidente
conta com o apoio interpartidário das forças liberal-conservadoras da Colômbia,
um fato inédito que revelou a capacidade negociadora de Uribe Vélez. A esse
consenso veio se somar o apoio das forças de centro e de esquerda moderada,
deixando para o candidato derrotado, Gustavo Petro (58 anos), o apoio das
forças da esquerda socialista e do liberalismo oficialista de Juan Manuel
Santos. Os membros moderados do tradicional Partido Liberal votaram em favor de
Duque.
O
presidente eleito consolidou o seu programa de governo a partir da criação,
antes das eleições, do think tank
denominado de “Centro de Pensamento Primeiro Colômbia”. Foram analisadas pelos
pesquisadores e os coordenadores da campanha 5.600 propostas de governo ao
longo de 2016. Como resultado desse debate, o presidente eleito escreveu dois
livros em 2017, em que destaca duas preocupações básicas: o debate em torno a
como potencializar as oportunidades empresariais na Colômbia, além da discussão
sobre as políticas públicas que ponham freio à corrupção. Quanto ao primeiro
aspecto, Duque ressalta duas providências urgentes: uma política de obras
públicas que modernize a logística colombiana, no que tange a estradas, linhas
férreas, portos e aeroportos e, em segundo lugar, propostas para dinamizar a
educação média e superior, aproximando-as do empreendedorismo.
A
Colômbia encontra um novo espaço para avançar rumo ao aperfeiçoamento da sua
democracia, solidamente enraizada no sucesso econômico (com uma taxa de crescimento do PIB de 3,5% ao longo dos últimos cinco anos), mediante a abertura
global (com tratados de livre comercio já vigentes com os Estados Unidos,
Europa Ocidental e o Bloco Asiático) e a dinamização de uma realidade econômica
interna que já era positiva no quinquênio 2013-2017. A produtividade se
desenvolveu exponencialmente ao longo do último ano, com um crescimento de
10,5% na indústria, (tendo mantido o aumento dos índices em 34 das 39
atividades manufatureiras registradas), 8,8% (na exploração de petróleo) e 8,3%
(comércio).
O
reto do crescimento econômico é importante para melhorar a qualidade de vida
dos colombianos, que se bem deram o triunfo a Duque (com 11,5 milhões de votos,
correspondentes a 54% dos eleitores), votaram também no candidato da esquerda,
o ex-guerrilheiro do M-19 Gustavo Petro (2,3 milhões de votos, correspondentes
a 41,8% dos eleitores), e com marcantes 800 mil votos em branco. Lembremos que
na Colômbia o voto não é obrigatório.
Madurecimento?
ResponderExcluirMAM