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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

HÁ SESSENTA ANOS, OS HÚNGAROS SE INSURGIRAM CONTRA A DITADURA SOVIÉTICA

Capa da edição brasileira da obra O Livro Negro do Comunismo (Editora Bertrand Brasil, 1999). (Fonte: Wikipédia).

Parece que foi ontem. Pelo menos para os que, como eu, estamos já na casa dos 70. Lembro-me das tocantes imagens publicadas pela Revista Life sobre a Revolução Húngara, ocorrida em outubro de 1956. Sempre achei heroica a atitude dos Húngaros que se revoltaram contra o poder soviético e que deram o primeiro grito de liberdade contra o totalitarismo de Moscou. A esse primeiro grito de independência seguiram-se outros no vasto universo das Repúblicas Socialistas Soviéticas: a Primavera de Praga, em 1968 e o Movimento Solidariedade dos trabalhadores poloneses, em 1980. Esses gritos de resistência anteciparam a queda definitiva do Império Soviético em 1989. 

Comunista no poder, quando questionado, age sempre assim: tanques por cima dos cidadãos descontentes! Foi assim na Praça da Paz Celestial, em Pequim, no final dos anos 80. Foi assim na Hungria e em Praga. Bem que os soviéticos tentaram sufocar brutalmente os protestos do Solidariedade. Mas os tempos já estavam mudando. O mundo era outro. O "lamaçal" que acobertava as falcatruas da burocracia corrupta de Moscou não conseguia mais esconder as coisas do resto do mundo. Mais ainda: em Roma tinha sido coroado Papa João Paulo II, o Pontífice Polonês que infernizou a vida dos comunistas.

Vamos convir que as comemorações pelos 60 anos da Revolução Húngara no Brasil ficaram praticamente reduzidas a algumas notas de rodapé dos grandes jornais. O nosso sentimento da defesa das liberdades é ainda muito tênue, em que pese a longa noite do descalabro lulopetista, cuja conta, pesada, estamos pagando todos. Falta-nos mais arrojo para defendermos a liberdade e para comemorarmos as datas marcantes dessa luta no universo internacional.

Os comunistas sempre foram muito criativos na propaganda para defenderem as "conquistas" por eles conseguidas. Apregoaram aos quatro cantos do Planeta a libertação dos oprimidos: eles, certamente, onde se instalaram, sempre por processos de força, oprimiram como ninguém. 

Os mortos da aventura comunista somente são comparáveis (superando-os em milhões) aos mortos da outra ditadura totalitária do século XX: a nazi-fascista. A noite negra do comunismo espalhou pelo mundo afora 100 milhões de vítimas. É isso que é calculado no Livro negro do Comunismo, publicado na França por intelectuais independentes. A edição brasileira, pela Bertrand Brasil, é de 1999.

Em que consistiu a propaganda comunista para defender a dominação totalitária e a eliminação de milhões de oponentes? Consistiu numa simplificação brutal, à sombra do arrazoado de Rousseau e de Lenine: a felicidade geral da Nação (Rousseau) decorre da eliminação da dissidência. Ora, esta operação deve ser feita sem nenhum obstáculo pelos donos do poder. O ideal seria um Estado não controlado por leis (Lenine). 

O "Sistema" seria identificado como o grande inimigo a ser eliminado. Ele se identificava com o capitalismo liberal. Ali onde imperasse tal sistema, os homens estavam escravizados e era necessário libertá-los. Essa foi, simplificada, a missão fixada pelos ativistas de esquerda inspirados na nova onda salvacionista. Ora, o que era o "Sistema"? Ele estava constituído pelo universo capitalista alicerçado em instituições liberais, segundo as quais o poder tinha que ter limites, aqueles estabelecidos pela legislação.

Para tamanha simplificação devemos ter uma resposta clara: gostamos do "Sistema", a única forma de exercício do poder acorde com a dignidade humana. 

Como frisou o professor João Carlos Espada em recente artigo para comemorar o grito de independência dos Húngaros em 1956, trata-se de "um sistema livre, de freios e contrapesos, em que ninguém detém o poder absoluto - que está dividido entre executivo, legislativo e judiciário. E mesmo o poder desses três ramos do Estado está limitado pela lei, que protege os direitos das pessoas à vida, à liberdade e à busca da felicidade, para citar a Declaração da Independência norte-americana de 1776 (ela própria herdeira da Magna Carta de 1215). (...)  Foi para reconquistar este sistema que os Húngaros se bateram em 1956. A homenagem que lhes é devida exige que saibamos voltar a defender o sistema da democracia ocidental - hoje mesmo antes que seja tarde". 

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