(Este artigo foi publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, edição de 8 de Setembro de 2016, pg. A2)
O desmonte da era lulopetista se completa com a efetivação do impeachment da ex-presidente Dilma, em que pese os protestos da militância, que só revelam a sua capacidade de fazer barulho e de depredar bens públicos e privados, configurando um caso de polícia.
Mas a decisão está
tomada e foi sacramentada conforme o rito prescrito pela legislação em vigor.
Apesar da inoportuna e monocrática "pedalada togada" do ministro
Levandowski, que presidiu a memorável sessão do Senado Federal em 31 de Agosto e que, decerto, será corrigida pelo Supremo Tribunal Federal que já foi
provocado por várias ações que questionam o fatiamento hermenêutico do artigo
52 da Constituição, que reza assim: “Art. 52. Compete privativamente ao Senado
Federal: I – Processar e julgar o Presidente e o Vice-presidente da República
nos crimes de responsabilidade (...). Parágrafo único. Funcionará como Presidente
o do STF, limitando-se à condenação, que só será proferida por dois terços dos
votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos,
para o exercício da função pública (...)”.
Consolida-se, assim, a
nova etapa para o desenvolvimento da sociedade brasileira, que abarca duas
exigências preliminares: em primeiro lugar, o afastamento definitivo do governo
e do Estado das práticas sistemáticas da corrupção, que inviabilizaram o
governo de Dilma e a gestão petista em geral. Em segundo lugar, o abandono do
modelo estatizante que foi posto em marcha pelo PT ao longo dos últimos anos e
que constituiu evidente retrocesso quanto à escolha do caminho que deveria ser
seguido pelo desenvolvimento do país.
O estatismo ao redor da
hipertrofia do Executivo e da escolha de "campeões de bilheteria"
entre os empresários que se chegaram à mesa do poder (que constituía a
característica marcante do modelo econômico posto em marcha no governo do
general Geisel), era um caminho que já tinha sido abandonado quando o país
efetivou, no final da administração de Itamar Franco e nos governos de Fernando
Henrique Cardoso, o combate à inflação e o saneamento das contas públicas,
medidas que foram postas em prática ao ensejo da adoção do Plano Real.
O PT pareceu dar
continuidade em 2003, a essa política, mas, como todos sabemos, o caminho
assinalado pela "Carta ao Povo Brasileiro" foi sendo abandonado
progressivamente a partir do Mensalão, tendo-se agravado a índole estatizante
do modelo nos governos de Dilma Rousseff, em decorrência das distorções criadas
na economia pela prática sistemática da corrupção, desvendada e combatida pela
Operação Lava-Jato. O PT comprometeu a durabilidade das suas propostas de
desenvolvimento ao ter adotado o esdrúxulo sistema de arrecadação de fundos
proveniente do saque sistemático às empresas estatais, para financiar a hegemonia
partidária e a permanência indefinida do partido do governo no poder,
contrariando a prática sadia da alternância que parecia ter sido aceita quando
da chegada de Lula ao poder. As coisas se tornaram insustentáveis com a série
de decisões erráticas no terreno econômico e no plano político, dada a ausência
de abertura de Dilma na tomada de decisões, que a indispôs com a sua base
aliada e com o Congresso em geral. O impeachment, não apenas pelas
"pedaladas fiscais", mas também pelo que se denominou de "conjunto
da obra" era questão de tempo.
O governo do presidente
Temer consolida-se, assim, como escolha adotada pelo povo brasileiro, a partir
da decisão soberana e constitucional do Senado no passado 31 de Agosto. Agora é
tempo de pôr em prática a rota traçada, que visa a sanear a economia dos
entraves estatizantes colocados pela gestão petista, e que se dirige, também, a
elevar a credibilidade do Brasil no plano internacional, a fim de atrair
investidores. O país precisa avançar célere no caminho das reformas propostas
na fase de interinidade do atual governo, que se situam, no meu entender, ao
redor de cinco grandes exigências: 1 - a aprovação do limite para o gasto
público, 2 - a adoção da reforma previdenciária, 3 - a efetivação da reforma
trabalhista, com miras a destravar a economia e tornar possível a rápida
geração de emprego, 4 - o avanço na reforma política que garanta o
aperfeiçoamento da representação e o aumento da credibilidade do nosso
Legislativo e 5 - a aceleração das reformas necessárias para melhorar a infraestrutura
do país, seriamente comprometida em décadas de descaso. A retomada das
privatizações apresenta-se, aqui, como medida essencial que ajudará a financiar
o atendimento à melhoria da infraestrutura.
O vento e a maré das
manifestações dos insatisfeitos com a saída de Dilma não poderão comprometer as
expectativas dos brasileiros nesta importante quadra da nossa história. Compete
ao PT se situar, dentro da legalidade, na sua condição de partido de oposição,
renunciando à prática do anarquismo e da arruaça sistemática, que o empurrarão
para a ilegalidade.
O primeiro passo nos
novos tempos já foi dado pelos países que se fizeram presentes na reunião do
G20 na China, quando reconheceram a legitimidade do novo governo e passaram a
negociar com o presidente Temer as urgentes medidas que alavancarão a economia
mundial nos próximos anos.
O Supremo Tribunal
Federal, ao abordar, nos próximos dias, a questão do fatiamento do artigo 52 da
Constituição dará o segundo passo, ao garantir a segurança jurídica das nossas
instituições e consolidar definitivamente a decisão do impeachment com as
exigências legais que a acompanham. Os nossos magistrados saberão tomar a
decisão correta, como, de fato, já tomaram outras de igual vulto em
circunstâncias anteriores.
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