Posse do Ministro José Serra na chefia da pasta das Relações exteriores (Foto: Beto Barata / PR). |
De parabéns a nova política internacional do governo Temer, que está sendo consolidada pela gestão lúcida e corajosa do chanceler José Serra. Primeiro objetivo: limpar o salão da nossa diplomacia, que outrora nos orgulhava, do entulho bolivariano com que a petralhada tentou destruí-la em 14 anos de governança ideológica e burra.
Serra veio mostrando que não é retórica a proposta da nova diplomacia brasileira: colocou freio à retórica populista que tinha tomado conta das nossas relações internacionais, interrompendo com coragem o discurso golpista ensejado por Dilma e patota. A intentona de desmoralização da imagem do Brasil no plano internacional, que os petralhas começaram a implementar, é um crime de lesa-pátria que encontrará, decerto, na nossa Justiça, um foro legítimo para ser investigado, julgado e devidamente punido. Os petralhas não tardam por esperar.
O chanceler Serra encerrou, felizmente, essa página negra da nossa diplomacia, que envergonha aos brasileiros e, em especial, aos honrados diplomatas que servem ao Brasil com denodo e sacrifício. Os últimos anos foram de penúria para eles. Dilma, irresponsavelmente, cortou o dinheiro para que eles mantivessem funcionando, como devido, as nossas representações no exterior. Cortou essas verbas simplesmente por descaso, pois não se tratava de poupar o dinheiro público, tornado objetivo a ser apropriado pelos corruptos petralhas e seguidores. As pedaladas fiscais mostram que a alta cúpula petralha não estava nem aí para as dificuldades da economia brasileira. O rombo de mais de 170 bilhões de dólares, devidamente apurado pelos funcionários do Ministério da Fazenda, mostra que o objetivo era outro: roubar cada vez mais, mesmo que para isso fosse necessário paralisar as nossas representações diplomáticas no exterior!
Nada melhor para calibrar a importância da nova fase da diplomacia brasileira representada por José Serra, do que citar os dez pontos em que o novo chanceler sintetizou os objetivos a serem atingidos pela sua pasta.
Destaco, no pronunciamento do Ministro Serra, três pontos: em primeiro lugar, o abandono da prática política exterior como questão ideológica de partido. As relações exteriores devem ser pautadas, considera Serra, por uma política de Estado. Em segundo lugar, a renovação do MERCOSUL, no contexto de relações pragmáticas que visem ao fortalecimento do nosso comércio, abandonando uma política tacanha de fechamento regional, na trilha dos populismos que tomaram conta do nosso Continente nas últimas décadas. A abertura para a Aliança do Pacífico será de capital importância. Em terceiro lugar, o trabalho conjunto do Ministério das Relações Exteriores com outros Ministérios (Defesa, Fazenda), a fim de garantir uma política de defesa adequada das nossas fronteiras, que viraram espaço de ninguém, por onde se fortalecem o tráfico de drogas e de armas.
Cito, a seguir, esses pontos, tal como foram explicitados no pronunciamento do Ministro José Serra, quando da sua recente posse no Ministério das Relações Exteriores:
1. A diplomacia voltará a refletir de
modo transparente e intransigente os legítimos valores da sociedade brasileira
e os interesses de sua economia, a serviço do Brasil como um todo e não mais
das conveniências e preferências ideológicas de um partido político e de seus
aliados no exterior. A nossa política externa será regida pelos valores do
Estado e da nação, não do governo e jamais de um partido. Essa nova política
não romperá com as boas tradições do Itamaraty e da diplomacia brasileira, mas,
ao contrário, as colocará em uso muito melhor. Medidas que, em outros momentos,
possam ter servido ao interesse nacional, quero dizer, podem não ser mais
compatíveis com as novas realidades do país e com as profundas transformações
em curso no cenário internacional.
2. Estaremos atentos à defesa da democracia,
das liberdades e dos direitos humanos em qualquer país, em qualquer regime
político, em consonância com as obrigações assumidas em tratados internacionais
e também em respeito ao princípio de não ingerência.
3. O Brasil assumirá a especial
responsabilidade que lhe cabe em matéria ambiental, como detentor na Amazônia
da maior floresta tropical do mundo, de uma das principais reservas de água
doce e de biodiversidade do planeta, assim como de matriz energética limpa e
renovável, a fim de desempenhar papel proativo e pioneiro nas negociações sobre
mudança do clima e desenvolvimento sustentável. Lembro que, se fizermos bem a
lição de casa, poderemos receber recursos caudalosos de entidades
internacionais interessadas em nos ajudar a preservar as florestas e as
reservas de água e biodiversidade do planeta, uma vez que o Brasil faz a
diferença nessa matéria.
4. Na ONU e em todos os foros globais
e regionais a que pertence, o governo brasileiro desenvolverá ação construtiva
em favor de soluções pacíficas e negociadas para os conflitos internacionais e
de uma adequação de suas estruturas às novas realidades e desafios
internacionais; ao mesmo tempo em que se empenhará para a superação dos fatores
desencadeadores das frequentes crises financeiras e da recente tendência à
desaceleração do comércio mundial. O comércio mundial está se contraindo a
galope, eu diria.
5. O Brasil não mais restringirá sua
liberdade e latitude de iniciativa por uma adesão exclusiva e paralisadora aos
esforços multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio, como
aconteceu desde a década passada, em detrimento dos interesses do país. Não há
dúvida de que as negociações multilaterais da OMC são as únicas que poderiam efetivamente
corrigir as distorções sistêmicas relevantes, como as que afetam o comércio de
produtos agrícolas. Mas essas negociações, infelizmente, não vêm prosperando
com a celeridade e a relevância necessárias, e o Brasil, agarrado com
exclusividade a elas, manteve-se à margem da multiplicação de acordos
bilaterais de livre comércio. O multilateralismo que não aconteceu prejudicou o
bilateralismo que aconteceu em todo o mundo. Quase todo mundo investiu nessa
multiplicação, menos nós. Precisamos e vamos vencer esse atraso e recuperar
oportunidades perdidas.
6. Por isso mesmo, daremos início,
junto com o Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, com a cobertura da
CAMEX e em intensa consulta com diferentes setores produtivos, a um acelerado
processo de negociações comerciais, para abrir mercados para as nossas
exportações e criar empregos para os nossos trabalhadores, utilizando
pragmaticamente a vantagem do acesso ao nosso grande mercado interno como
instrumento de obtenção de concessões negociadas na base da reciprocidade
equilibrada. Nada seria mais equivocado, errôneo, nesta fase do desenvolvimento
brasileiro, do que fazer concessões sem reciprocidade. Não tem sentido.
7. Um dos principais focos de nossa
ação diplomática em curto prazo será a parceria com a Argentina, com a qual
passamos a compartilhar referências semelhantes para a reorganização da
política e da economia. Junto com os demais parceiros, precisamos renovar o
Mercosul, para corrigir o que precisa ser corrigido, com o objetivo de
fortalecê-lo, antes de mais nada quanto ao próprio livre-comércio entre seus
países membros, que ainda deixa a desejar, de promover uma prosperidade
compartilhada e continuar a construir pontes, em vez de aprofundar diferenças, em
relação à Aliança para o Pacifico, que envolve três países sul-americanos,
Chile, Peru e Colômbia, mais o México. Como disse Enrique Iglesias, muito bem
observado, não podemos assistir impassíveis à renovação de uma espécie de
Tratado de Tordesilhas, que aprofundaria a separação entre o leste e o oeste do
continente sul-americano. Em relação ao México, será prioritário
aproveitar plenamente o enorme potencial de complementaridade existente entre
nossas economias e, hoje, das nossas visões internacionais.
8. Vamos ampliar o intercâmbio com
parceiros tradicionais, como a Europa, os Estados Unidos e o Japão. A troca de
ofertas entre o Mercosul e a União Europeia será o ponto de partida para
avançar na conclusão de um acordo comercial que promova maior expansão de
comercio e de investimentos recíprocos, sem prejuízo aos legítimos interesses
de diversos setores produtivos brasileiros. Como disse o ministro Mauro, houve
a troca de ofertas, nós vamos agora examinar quais são as ofertas da União Europeia.
Com os Estados Unidos, nós confiamos em soluções práticas de curto prazo para a
remoção de barreiras não-tarifárias, que são, no mundo de hoje, as essenciais.
No mundo de hoje não se protege, do ponto de vista comercial, com tarifas. Se
protege com barreiras não-tarifárias. Quero dizer que o Brasil nesse sentido é
o mais aberto do mundo. Nós não temos nenhuma barreira tarifária, ao contrário
de todos os outros que se apresentam como campeões do livre comércio. Com os
Estados Unidos, confiamos em soluções práticas de curto prazo, eu repito, para
a remoção de barreiras não-tarifárias, e de regulação que entorpecem o
intercâmbio. Daremos igualmente ênfase às imensas possibilidades de cooperação
em energia, meio ambiente, ciência, tecnologia e educação.
9. Será prioritária a relação com
parceiros novos na Ásia, em particular a China, este grande fenômeno econômico
do século XXI, e a Índia. Estaremos empenhados igualmente em atualizar o
intercâmbio com a África, o grande vizinho do outro lado do Atlântico. Não pode
esta relação restringir-se a laços fraternos do passado e às correspondências
culturais, mas, sobretudo, forjar parcerias concretas no presente e para o
futuro. Ao contrário do que se procurou difundir entre nós, a África moderna não
pede compaixão, mas espera um efetivo intercâmbio econômico, tecnológico e de
investimentos. Nesse sentido, a solidariedade estreita e pragmática para com os
países do Sul do Planeta Terra continuará a ser uma diretriz essencial da
diplomacia brasileira. Essa é a estratégia Sul-Sul correta, não a que chegou a
ser praticada com finalidades publicitárias, escassos benefícios econômicos e
grandes investimentos diplomáticos. É importante ter a noção clara de que os
diferentes eixos de relacionamento do Brasil com o mundo não são contraditórios
nem excludentes, sobretudo dado o tamanho da nossa nação. Um país do tamanho do
Brasil não escolhe ou repele parcerias, busca-as todas com intensidade,
inspirado no seu interesse nacional. Vamos também aproveitar as oportunidades
oferecidas pelos foros inter-regionais com outros países em desenvolvimento,
como por exemplo, os BRICS, para acelerar intercâmbios comerciais, investimentos
e compartilhamento de experiências. E, com sentido de pragmatismo, daremos
atenção aos mecanismos de articulação com a África e com os países árabes.
10. Nas políticas de comércio
exterior, o governo terá sempre presente a advertência que vem da boa análise
econômica, apoiada em ampla e sólida consulta com os setores produtivos. É
ilusório supor que acordos de livre comércio signifiquem necessariamente a
ampliação automática e sustentada das exportações. Só há um fator que garante
esse aumento de forma duradoura: o aumento constante da produtividade e da
competitividade. Se alguém acha que basta fazer um acordo e abrir, que isso é
condição necessária suficiente, está enganado. É preciso investir no aumento
constante da competitividade e da produtividade. Daí a ênfase que será dada à
redução do custo Brasil, mediante a eliminação das distorções tributárias que
encarecem as vendas ao exterior e a ampliação e modernização da infraestrutura
por meio de parcerias com o setor privado, nacional e internacional. O custo
Brasil hoje é da ordem de 25%, ou seja, uma mercadoria brasileira idêntica a
uma mercadoria típica média dos países que são nossos parceiros comerciais,
custa, por conta da tributação, dos custos financeiros, dos custos de
infraestrutura, dos custos tributários, 25% a mais. Imagine-se o desafio que
nós temos por diante. E apenas assumi o ministério, eu me dei conta,
conversando com nosso embaixador na China, o Roberto Jaguaribe, do esforço de
nossas embaixadas para atrair investimentos nestes setores básicos da economia.
O Roberto estava trabalhando inclusive para seduzir os capitais chineses a
virem ao Brasil, investir em parceria com o Estado brasileiro nas obras de
infraestrutura. Esse esforço será multiplicado, tenho certeza, com sucesso.
Aqui encerro as diretrizes, mas se eu
tivesse que acrescentar uma a mais (...), eu citaria uma que temos que cumprir, colaborando com os ministérios da
Justiça, da Defesa e da Fazenda, no que se refere à Receita Federal: a proteção
das fronteiras, hoje o lugar geométrico do desenvolvimento do crime organizado
no Brasil, vamos ter isso claro, que se alimenta do contrabando de armas,
contrabando de mercadorias, que é monumental, e do tráfico de drogas. Em
especial, nos empenharemos em mobilizar a cooperação dos países vizinhos para
uma ação conjunta contra essas práticas criminosas que tanto dano trazem ao
nosso povo e à nossa economia.
Por último, não menos importante,
quero reafirmar meu compromisso com as comunidades brasileiras no exterior e o
bom funcionamento de nosso serviço consular. Continuaremos a dar atenção
prioritária à garantia dos direitos dos cidadãos brasileiros, onde quer que
eles estejam. Dirijo-me agora ao corpo de funcionários do ministério. Nós vamos
recuperar a capacidade de ação do Itamaraty, acreditem. Num período de grandes
transformações e, por que não dizer, incertezas no cenário internacional e de
promissoras mudanças internas, a nossa diplomacia, não tenho dúvida, terá de, gradualmente,
atualizar-se e inovar, e até mesmo ousar, promovendo uma grande reforma
modernizadora nos objetivos, métodos e técnicas de trabalho. A diplomacia do
século XXI não pode repousar apenas na exuberância da retórica e no tom
auto-laudatório dos comunicados conjuntos. Precisa ter objetivos claros e ser a
um só tempo discurso político e resultado concreto.
Os diplomatas brasileiros despertam o
orgulho do país e o respeito dos parceiros do Brasil no exterior. Quero
valorizar a carreira diplomática, assim como as demais carreiras do serviço
exterior. Respeitar o critério do mérito. Não discriminar em favor dos amigos
do rei ou de correligionários de um partido político. Quero progressivamente
retirar o Itamaraty da penúria de recursos em que foi deixado pela
irresponsabilidade fiscal que dominou a economia brasileira nesta década. Quero
reforçar a casa, e não enfraquecê-la. Vamos restaurar o orgulho das novas
gerações em servir ao Itamaraty e, sobretudo, ao Brasil. A Casa será reforçada,
e não enfraquecida. E no governo do presidente Temer, o Itamaraty volta ao
núcleo central do governo.
Meu programa de ação corresponderá à
minha tradição na vida pública: trabalhar muito, apresentar e receber ideias,
tomar iniciativas, delegar responsabilidades, cobrar resultados e promover
negociações efetivas, bem como ter presença marcante, longe de cumprir um
calendário de visitas inócuas, para “cumprir tabela”.
Estes são compromissos que apresento
hoje. Este é o convite que faço a todos os servidores desta Casa, a fim de que
façamos um esforço comum para valorizar o Itamaraty e pelo êxito de um governo
que enfrentará, como todos sabemos, desafios imensos, mas que criará, se Deus
quiser, as condições para a reconstrução do sistema político, o fortalecimento
da representatividade da nossa democracia e a volta do crescimento da produção
e do emprego.
Muito obrigado, mãos à obra, vamos em
frente.
(Fonte: Ministro José Serra)
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