Logotipo da solidariedade francesa para com a Bélgica, após os atentados de Bruxelas. |
Pablo Escobar e os restos do Boeing da empresa Avianca derrubado por ordem do capo, no início dos anos 90, nos arredores de Bogotá. |
O
continente europeu está em guerra. Não adianta adotar a posição politicamente
correta de alguns, de que chamar o que está acontecendo na Europa de guerra é
dar força aos terroristas. É bobagem do emcimadomurismo
internacional. Trata-se, claro, de um conflito sui generis, como os que eclodem
no século 21. Guerra declarada? – Sim, a julgar pelos comunicados do Estado
Islâmico. Guerra diferente das outras, travadas pela OTAN no final do século 20
no Médio Oriente e nos Balcãs? Também.
Porque esta guerra ataca em casa.
Os
primeiros alvos foram objetivos militares, representados por policiais e forças
de segurança assassinados nas ruas na calada da noite, praças vazias e outros
lugares ermos. Os segundos alvos, após os atentados ocorridos em Paris ao longo
do ano passado e no decorrer deste ano, foram espaços abertos e de transporte
de massa, onde se encontra a população civil para viajar, se divertir, ir para
o trabalho, passear com a família. A guerra agora foi declarada contra o
cidadão médio. Os atentados de Bruxelas têm esse selo: trata-se de ferir o
homem comum, a fim de disseminar o terror, de forma mais eficaz, no seio da
sociedade. Isso já se anunciava nos ataques de Al Qaeda de Londres e Madri, há vários
anos atrás. Mas essa modalidade de terror ganhou atualidade com a ofensiva dos
radicais do Estado Islâmico contra a população civil das cidades europeias,
utilizando tecnologia de mídia de ponta, difícil de ser seguida pela polícia e pelos
vários grupos de segurança das comunicações.
Os
Estados Unidos, após o fatídico 11 de Setembro de 2001, conseguiram reagir à
altura, criando uma rede eficaz de segurança interna, que tem impedido a
realização desses atentados em solo americano. O imperativo da preservação do
bem comum exigiu restrições aos direitos individuais de ir e vir. Também se
preveniram contra esse mal governos como o israelense, que sempre atualiza as
suas políticas de segurança contra o terror.
Mas
não ocorre o mesmo com os países europeus, que derrubaram barreiras entre eles
e baixaram a guarda. Moral da história: estão desarmados em face dos reptos
estratégicos do século 21, representados por duas séries de eventos: o terror
islâmico, de um lado, e, de outro, as ondas migratórias multitudinárias que se
abatem sobre a Europa, como outrora, nos estertores do Império Romano e no
ciclo medieval, ao ensejo das ondas de populações bárbaras empurradas de dentro
da Ásia Central por seculares déspotas como Gengis Khan e outros. Esses são os
reptos aos que os europeus devem fazer frente hoje em dia, que se somam ao
desgaste sofrido pelo modelo de welfare
state, que tem produzido tantas dores de cabeça aos governantes da Europa
Ocidental, ao longo dos últimos quinze anos.
No
quadrante latino-americano do cenário mundial, as condições vividas pelos
diversos países ao longo do final do século 20 e começos do 21, ao ensejo da
guerra suja das drogas, assemelham-se às que a Europa Ocidental sofre hoje com
o terrorismo islâmico. A brutalidade do terror democratizou-se de forma inexorável
e paradoxal.
O
colunista do diário Observador de Lisboa, João Marques de Almeida, escreveu
recentemente (“Minha querida Bruxelas”, 23/03/2016) um texto que poderia ter
sido redigido, também, por um colombiano durante a guerra dos cartéis das
drogas na época de Pablo Escobar, nos anos noventa do século passado, ou por um
mexicano afetado pela guerra que os vários cartéis de traficantes movem contra
o Estado mexicano nos dias atuais: “Não sei se é uma guerra, nem tenho um bom
nome para lhe dar. Mas sei que a nossa vida mudou. Rotinas simples como apanhar
o metro para ir trabalhar pode significar o fim, a morte. Obviamente, não vamos
mudar a nossa vida. Seria conceder uma vitória aos terroristas (...). A vida é
mais insegura, nossas famílias e amigos (e todos nós) viverão mais preocupados.
Mas não podemos alterar os nossos hábitos (...). Estamos a assistir à
banalização (no sentido em que Arendt usou o termo) de ataques terroristas
(...). Inevitavelmente, isto fará de nós menos tolerantes. As nossas sociedades
serão mais nacionalistas e mais fechadas (...)”.
Matéria
publicada pelo jornal Folha de São Paulo (“América Latina:
holocausto movido pela cocaína”, 19/03/2016 e reproduzido pelo ex-blog do César
Maia) noticiava que o jornalista britânico Ioan Grillo, radicado no México e
autor de El Narco, em artigo recente intitulado: “Gangster Warlords” se
perguntava o seguinte: “Por que as Américas se encontram afundadas em sangue no
amanhecer do século 21?” Grillo pesquisou vários grupos de narcoguerrilheiros
atuantes na região: Mara Salvatrucha (El Salvador, Guatemala e Honduras),
Shower Posse (Jamaica), Comando Vermelho (Brasil) e Cavaleiros Templários (México).
O jornalista destaca que, desde o início do século até 2010, esses grupos
armados mataram mais de um milhão de pessoas. Levando em consideração que as
cifras dos mortos nessa guerra só aumentam, o autor conclui que a América
Latina vive um particular Holocausto movido pela cocaína. O autor considera que
por trás de todas essas vítimas esconde-se um enorme empreendimento econômico:
os narcotraficantes fazem circular na região um lucrativo montante de 300
bilhões de dólares anuais.
No
nosso país é claro que a violência disparou ao ensejo da explosão de consumo de
crack, presente hoje em 97% dos municípios brasileiros, tudo isso
potencializado pela “colaboração” do “companheiro” Morales na Bolívia, que
aumentou assustadoramente a exportação de pasta base de coca para o Brasil ao
longo dos governos petistas. Os nossos cartéis das drogas são diversificados e
poderosos, sendo os dois mais destacados o Comando Vermelho e o Primeiro
Comando da Capital, que controlam boa parte dos presídios brasileiros. Os
cartéis caboclos já desataram há anos a “guerra suja” contra as forças de
segurança, pagando recompensas pelo assassinato de policiais, que se tornou
corriqueiro no Rio e em São Paulo. Abriram também a caixa de pandora do terrorismo
indiscriminado contra a população civil, com o incêndio de ônibus lotados de
passageiros apavorados. Pablo Escobar, lembremos, chegou a derrubar um Boeing cheio
de passageiros, nos arredores de Bogotá. Isso o jornalista britânico não leva
em consideração. Como tampouco o fato da participação, na guerra das drogas, de
grupos paramilitares dos governos “bolivarianos” de Chávez e Maduro na
Venezuela, que transformaram o vizinho país num virtual narcoestado, ao serem
as elites políticas irrigadas pelos lucros da exportação de narcóticos.
O
jornalista britânico tampouco leva em consideração que as FARC, na Colômbia,
viraram cartel de drogas após a derrubada do Muro de Berlim, no final do século
passado. Como se tratava de guerrilheiros de esquerda, os governos petistas
recusaram-se sempre a catalogar as FARC como grupo terrorista. Afinal de
contas, tratava-se de “companheiros” que lutavam pela instauração do comunismo
apregoado pelo Foro de São Paulo. Alguns deles refugiaram-se no Brasil, tendo
sido muito bem recebidos pelo governo.
Concluindo:
tanto na Europa quanto na América Latina estão em curso respectivas guerras
contra o terrorismo, com inúmeras vítimas entrando nessa ciranda da morte,
sendo que no nosso continente esse número é infinitamente maior do na Europa. Que
o digam os 60 mil assassinatos ocorridos anualmente no Brasil em decorrência,
em grande medida, da violência desatada pelos cartéis das drogas que se
assenhorearam das cidades nordestinas e do norte, na Amazônia, por onde hoje
são exportadas para os narcoestados da África Ocidental as drogas que os traficantes
processam. Com uma legislação antiterrorista fraca que poupa os denominados “movimentos
sociais” em caso de terrorismo, estamos mal preparados para fazer frente ao
desafio terrorista, num momento delicado ao ensejo da realização de eventos
internacionais massivos (como as Olimpíadas do Rio, em meados deste ano).
Certamente,
os cidadãos europeus e latino-americanos vivem hoje sob o constante medo de
atos terroristas, como os que acabam de ser cometidos em Bruxelas. O terrorismo
se tornou democrático, abarcando igualmente países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Algo tem que ser feito.
ResponderExcluir