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segunda-feira, 23 de março de 2015

O RECADO DAS RUAS E A DEFESA DA CLASSE MÉDIA

Passeata de 15 de Março  contra o governo petista: 45 mil pessoas protestando em Londrina contra os malfeitos de Dilma e da petralhada.
Dizia o velho Aristóteles na sua Política, no século IV antes da era cristã, que o regime mais estável não é a democracia presidida por um populista, mas a politeia, ou seja aquele governo em que os cidadãos realmente contem e constituam uma classe média representativa da maior parte da sociedade. O grande sociólogo liberal-conservador François Guizot, em meados do século 19, afirmava coisa parecida, ao conclamar os franceses que constituíam a classe média, para que reagissem contra os excessos da demagogia revolucionária ou da volta ao passado do Antigo Regime, e se congregassem na defesa dos seus interesses, a fim de tomar o leme da nau do Estado. As suas duas consignas eram estas: Burgueses da França, uni-vos e Enriquecei-vos! Sabemos que Karl Marx, que no início da década de 1830 fizera em Paris o seu aprendizado civilizatório pela mão do poeta Heinrich Heine, amigo do seu sogro, o barão Ludwig von Westphalen, ficou tão entusiasmado ao ler os escritos de Guizot, que decidiu incorporá-los quase ipsis litteris à sua produção sociológica de índole revolucionária, segundo testemunha Plekhánov, o máximo estudioso russo da obra de Marx. Efetivamente, lemos no Manifesto Comunista (1848) aquele famoso apelo: "Proletários do Mundo, uni-vos". O chamado de Guizot aos burgueses para que se enriquecessem foi traduzido por Marx na sua pregação em prol de uma nova realidade econômica, no paradisíaco "comunismo", em que a cada um seria dado o necessário para responder às suas necessidades. Um "enriquecei-vos" bastante modesto que, certamente, foi traduzido melhor por outro estudioso de Guizot, o jovem advogado Alexis de Tocqueville. Na sua Democracia na América, este escritor anuncia que a modalidade de vida que as massas procuram é a do conforto, com resposta não somente às suas necessidades mínimas de sobrevivência, mas com um estilo de vida que torna as coisas mais aprazíveis na disseminação, para a grande maioria dos cidadãos, do conforto e dos prazeres da vida. 

Estas considerações vêm à minha mente no friozinho desta manhã de outono, ao ler as matérias apresentadas pelo jornal O Estado de São Paulo na sua edição dominical. Leio nas Cartas dos Leitores, esse termômetro da opinião pública que poucos consultam, alguns desabafos interessantes: "Parece que no Planalto um acha que o caos é político, outro acha que é social e o terceiro, que é econômico. O povo sente que o caos é total" (Cristiano Walter Simon). Ou este outro que lembra a toada roqueira de Cazuza: "Dilma, o tempo não pára! O seu palácio está cheio de ratos, as suas ideias não correspondem aos fatos!" (Júlio Cruz Lima Neto). Ou este outro: "A voz de Ulysses Guimarães ainda ressoa no Congresso Nacional, mas quase todos, salvo honrosas exceções, se fazem de surdos. A moral é o cerne da Pátria. A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos (...). No Brasil de nossos dias, os que fazem pacto com o suborno, com a corrupção, predominam na administração pública (...) Diante desse quadro dantesco, omissão e indiferença soam como cumplicidade. Hipotecar apoio e solidariedade à Polícia Federal, aos procuradores da República e ao juiz Sérgio Moro é o mínimo que se espera de cada brasileiro de bem (...)" (Pedro Geraldo). Mais um desabafo de cidadão de classe média: "O Sr. Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, chegou a anunciar que votaria o projeto que estende às aposentadorias o mesmo critério de reajuste do salário mínimo. Após a demissão (pela presidente) do ministro da Educação, Cid Gomes, como retribuição pelo presente recebido o PMDB acolheu apelo do governo e fechou acordo para adiar a votação. Os aposentados que contribuíram pelo teto e se aposentaram por tempo de serviço agradecem a importância que o PMDB dá aos verdadeiros trabalhadores. No meu caso, contribuí por 40 anos e recebo menos da metade do que teria por direito, dado o critério totalmente injusto adotado nas correções. O Brasil nunca será um país de Primeiro Mundo enquanto seu governo prestigiar bolsistas, presidiários e outros tantos (em troca de votos) em detrimento dos que trabalharam, e trabalham, por seu progresso. Nas ruas, senhores congressistas do PMDB, a voz corrente de nossos jovens é: trabalhar é para os trouxas (...)". (Sergio Bertolini). 

Ora, todos esses desabafos são pronunciados por membros da cada vez mais oprimida classe média, que nos cálculos petralhas deveria ceder lugar nas suas reivindicações à classe dos oprimidos (leia-se cidadãos sem instrução passíveis de serem comprados pelas bolsas e demais graças concedidas com fins eleitoreiros). No entanto, o recado das ruas é claro: a classe média acordou, está cansada de ser saco de pancada dos oportunistas e se dispõe a enfrentar quem vier pela frente, sejam os trogloditas black blocs incentivados por Gilberto Carvalho, sejam as hostes do "exército de Stédile" com que o grande demagogo Lula ameaça quem sair às ruas contra os desmandos petralhas.

No seu artigo intitulado: "Reinventa-te ou eu te devoro", o ex-presidente do TSE e do STF, Carlos Ayres Brito (O Estado de S. Paulo, 22-03-2015, pg. A2), frisava, lembrando à dona Dilma que as manifestações do contra estão acontecendo nas ruas e praças por causa do esquecimento petralha de uma coisa bem simples: deve-se governar não em função de minorias partidárias,  mas olhando para o bem comum. 

Escrevia no seu artigo dominical o mencionado jurista: "É essa mentalidade distorcida que serve de combustível a um tipo retrógrado de cultura e nessa cultura mesma se banqueteia. Gangorra ou feedback do atraso mental. Do provincianismo colonial e dos privilégios monárquicos do Brasil. A responder pela indistinção entre tomar posse nos cargos públicos e tomar posse deles. Por um feudal aparelhamento do Estado e por um quase grilesco loteamento de seus órgãos, entidades e verbas orçamentárias. Pela renitência de coalizões partidárias fisiológicas, e não propriamente ideológicas. Abocanho tão persistente quanto sistêmico do patrimônio e dos dinheiros públicos. Uma grande orquestra, enfim,  dos que não perdem oportunidades e até as inventam para duas deletérias coisas: refestelar-se em mordomias e fazer da apropriação privada de bens e valores estatais uma imprudente festa (Castro Alves) da mais rançosa tradição patrimonialista, clientelista e populista".

A classe média brasileira, que paga impostos e que financia com pesadíssima tributação a festança patrimonialista do PT e coligados, tomou "consciência de classe", como escreveu pela primeira vez o grande liberal suíço-francês Benjamin Constant de Rebecque no seu livrinho Princípios de Política (1810), tendo sido repetido por Marx em 1848. Chega de trabalhar pelo benefício de uma minoria corrupta. Ou o governo governa para todos, ou é melhor que saia de cena! Esse é o recado das ruas.

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