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sexta-feira, 5 de abril de 2013

CURTAS E GROSSAS EM TEMPOS DE OUTONO CHUVOSO



O passarinho de Chávez assoviou no ouvido de Maduro para que continúe com a Revolução Bolivariana.

Não são poucas as (velhas) novidades deste Outono que, como a gestão petista do país, anda de temporal em temporal. Primeira novidade: um passarinho visitou o candidato a sucessor de Chávez na Venezuela, aquela divulgadíssima figura chamada Nicolás Maduro. (“Maduro”, aliás, na vizinha Colômbia, significa “banana no ponto para ser frita”). Pois bem: no contexto da “revolução sentimental” (a expressão é o título da magnífica obra da jornalista Beatriz Lecumberri sobre o chavismo) em que mergulharam os venezuelanos, Maduro inaugura a rápida campanha presidencial dizendo ter visto Chávez, encarnado na figura de um passarinho, que lhe assoviava para continuar com a “revolução bolivariana” do falecido líder. “A história, dizia Marx citando Comte, se repete como farsa”. No caso da visão ornitológico-mística de Maduro, como comédia de botequim caribenho. Chávez foi visitado pelo numen de Bolívar. Maduro, pelo passarinho de Chávez. É de morrer de rir. 


Os salvadores da pátria e os déspotas, na modernidade, passaram a ter esse tipo de visão mística que os confirmou na sua vocação. Napoleão, antes de se coroar Imperador dos Franceses, em 1804, passou uma semana junto ao túmulo de Carlos Magno em Aix-la-Chapelle (hoje Aachen, na Alemanha), recebendo os fluidos metafísicos do fundador do Sacro Império Romano-Germânico. Com isso, o bravo general Bonapartre (que era chamado pelas mocinhas de “gato com botas”, quando o desajeitado tenente de artilharia as convidava para dançar nos arrasta-pés de quartel) sentiu-se legitimado para, como Imperador, mudar a geografia da Europa e constituir o vasto Império que ia da Rússia ao Canal da Mancha e do Mediterrâneo ao Mar do Norte. Simón Bolívar, o impetuoso jovem que assistiu, em Paris, à coroação do Imperador Napoleão, teve também, no final da viagem, o seu transe místico no Monte Sacro, em Roma, onde, diante do seu mestre Don Simón Rodríguez, jurou estender as conquistas da liberdade sobre o continente sul-americano. Mas os tempos são outros e estão mais para as bananásticas revelações de Maduro, do que para os projetos imperiais de Napoleão ou os anseios libertadores de Bolívar.


Segunda novidade deste chuvoso Outono: de acordo com recente estudo de uma rede de institutos de pesquisas de opinião, entre eles o Ibope, que mediu qual é a percepção de 56 países sobre o maior problema enfrentado pelo mundo hoje, o brasileiro é o povo que mais se preocupa com violência e segurança. Também pudera: graças às “políticas” públicas lulopetistas no setor, não viramos craques em matéria de segurança, mas encabeçamos a lista dos países emergentes consumidores de crack. Temos, pelas contas da ONU, um milhão e oitocentos mil viciados, que se espalham por 97% dos municípios brasileiros. Uma verdadeira catástrofe no que tange ao bem-estar coletivo. As estruturas de segurança pública, pelo país afora, implodiram com essa nefasta irrupção do narcotráfico. Numa pacata cidade do interior mineiro, como era, até há alguns anos atrás, Juiz de Fora, a violência turbinada pelo narcotráfico simplesmente quintuplicou. Já não se pode sair mais à noite sem risco de ser assaltado ou sofrer violência pior.


Terceira novidade: na mesma pesquisa apontada atrás, entre os emergentes o Brasil é o país que menos se preocupa com economia, mas o que mais fala em “políticas sociais”. Trocado em miúdos: enquanto a China, a Índia, a Rússia e a África do Sul se preocupam prioritariamente com a produção de riquezas, os brasileiros se preocupam mais com as benesses que podem receber do Estado via bolsa-alguma-coisa. “Tudo pelo social” tinha dito Sarney, quando presidente, há quase três décadas atrás. Todos aspiram a depender do favor oficial: desde os empreiteiros até os pés-de-chinelo. Milagre do lulopetismo que ressuscitou uma parte escondida do nosso DNA, essa mutação formatada no ciclo pombalino e que foi turbinada no modelo patrimonialista de enriquecimento a partir do Estado, apregoado por ícones políticos como Sarney, que passaram a apoiar resolutamente a pregação lulista.

Quarta novidade: o clima de “vade retro” que se instalou na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados com o deputado-pastor Feliciano, está revelando uma coisa: o mal que afeta à política brasileira, mais do que Satanás, é a velha compulsão patrimonialista de fatiar o poder para auferir benefícios clientelistas em período pré-eleitoral. Feliciano chegou legalmente lá, em virtude dessa perversa engenharia vigente no Legislativo e no Executivo, que distribui cargos não de olho no bem comum, mas no cálculo eleitoral com os partidos da base aliada. Êta visão tacanha!

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