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quinta-feira, 6 de junho de 2019

O MEU ENCONTRO COM O PENSAMENTO BRASILEIRO



Amigos, no recente 13º Colóquio "Antero de Quental", que teve lugar na Universidade Federal de Juiz de Fora e que foi realizado pelo Instituto de Filosofia Luso-Brasileira em colaboração com o Departamento de Filosofia da UFJF, fui homenageado pelos meus ex-alunos do Curso de Filosofia, no 1º dia, 3 de junho. Na ocasião, apresentei a palestra cujo texto divulgo a seguir, agradecendo novamente aos organizadores do Colóquio, os professores Humberto Schubert Coelho (da UFJF), Bernardo Goytacazes de Araújo (atualmente na Secretaria de Educação Especial do MEC) e José Maurício de Carvalho (do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira).

Delegação portuguesa no 13º Colóquio "Antero de Quental". (Da esq. para a dir.): Renato Epifânio, Luis Sebastião, Marta Mendonça, Manuel Cândido Pimentel, José Esteves Pereira e Samuel Dimas

As nossas decisões são tomadas, sempre, a partir do contexto das circunstâncias em que vivemos. Aquele velho adágio de Ortega y Gasset, fartamente conhecido, de que “yo soy yo y mis circunstâncias y si no las salvo a ellas no me salvo yo”, tem pleno sentido.

Não me salvaria ao explicar o porquê do meu interesse pelo pensamento brasileiro, se não reconstruísse as circunstâncias que me levaram a cursar o mestrado nessa especialidade, na PUC do Rio, entre 1973 e 1974 e, depois, a dar continuidade aos meus estudos sobre o Brasil.

Desenvolverei, nesta exposição, os seguintes itens, que pretendem percorrer a minha “biografia interna”, aquela que, segundo Unamuno, acompanha as nossas vivências íntimas. Percorrerei os fatos que, do ângulo existencial, foram marcantes no meu encontro com o Pensamento Brasileiro.

Assim, desenvolverei os seguintes itens: 1 – Formação na Universidade Javeriana e no Seminário Conciliar de Bogotá. 2 – Teologia da Libertação e militância esquerdista. 3 – Docência em Medellín e Bogotá. Mestrado na PUC do Rio. 4 – Pró-reitoria na Universidade de Medellín. 5 – Trabalho em São Paulo, no Convívio e Doutorado na Universidade Gama Filho. 6 – A pauta liberal. 7 – O meu encontro com o Pensamento Português. 8 – Docência na Universidade Federal de Juiz de Fora. 9 – Três Institutos e um Centro de Documentação na minha vida de pesquisador. 10 - Seis núcleos de reflexão sobre o Brasil.


Sessão de abertura do XIII Colóquio "Antero de Quental". (Da esq. para a dir.): Humberto Schubert Coelho, professor da UFJF; Manuel Cândido Pimentel, Univ. Católica Portuguesa - Lisboa; Antônio Vilela, Desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais; Ricardo Vélez Rodríguez, homenageado; José Maurício de Carvalho, Fundação Tancredo Neves, São João del-Rei; Lucas Berlanza Corrêa, Presidente do Instituto Liberal, Rio de Janeiro.

Cartaz em homenagem a Ricardo Vélez Rodríguez, Instituto Liberal, Rio de Janeiro.

 1 – Formação na Universidade Javeriana e no Seminário Conciliar de Bogotá.
Cursei a Licenciatura em Filosofia na tradicional Universidad Pontificia Javeriana de Bogotá, dirigida pelos padres jesuítas. Como meu intuito era me preparar para estudar Teologia, frequentei o curso oferecido nas Faculdades Eclesiásticas, que estava voltado para o estudo da Filosofia Escolástica. Escrevi a minha dissertação[1] sobre o conceito de pessoa em São Tomás de Aquino (1225-1274). Na prova oral que abarcava todas as matérias estudadas no curso, perante um jurado de cinco professores, sendo arguido e respondendo em latim, fui aprovado, no final de 1963, com o conceito de “Summa cum Laude”, a nota máxima.
Iniciei os meus estudos de Teologia em 1965 no Seminário Conciliar de Bogotá. Retirei-me em fins de 1967, tendo cursado três anos, sob a direção dos padres sulpicianos, que centravam toda a formação no estudo das Sagradas Escrituras. O Padre Alfred Morin (1926-2017), director do Seminário e outros professores tinham-se formado na prestigiosa Escola Bíblica de Jerusalém. A minha dedicação ao estudo dos temas ligados à História de Israel levou a que o padre Morin me nomeasse como técnico auxiliar a serviço do Museu Arqueológico do Seminário. A minha principal tarefa consistia em classificar moedas do período helenístico, além de algumas peças valiosas de arqueologia bíblica como lanternas de barro cozido, encontradas por arqueólogos em comunidades que habitaram nos arredores do Mar Morto. Esse valioso tesouro tinha sido trazido a Bogotá pelo padre Morin e outros estudiosos. Eu trabalhava na classificação de moedas consultando um livro de referência britânico. Uma das portas que davam acesso ao rico acervo fazia um ruído intermitente, ao ser balançada pelo vento. Para me ver livre do incômodo barulho, coloquei perto da porta um pesado tijolo de barro que encontrei numa das caixas do acervo. Em determinado momento, entrou o padre Morin e ficou feito uma onça ao ver o “tijolo” segurando uma das abas da porta. Eu tinha cometido um sacrilégio arqueológico: aquele tijolo era nada mais nada menos do que uma das famosas tabuletas de barro marcadas com caracteres cuneiformes, descobertas pelos ingleses na Biblioteca de Nínive!
O diretor do Seminário passou-me uma tarefa para expiar o pecado de lesa-cultura: fazer um apanhado meticuloso das descobertas arqueológicas efetivadas nessa famosa Biblioteca. As tais tabuletas tinham impressos, em caracteres cuneiformes, não ideogramas, mas fonemas. Essa foi a base fônica que deu ensejo, depois, ao alfabeto grego e aos alfabetos das línguas latina e neolatinas. Uma autêntica fundação linguística da Civilização Ocidental! Nas tabuletas de Nínive encontravam-se os relatos dos principais mitos do Crescente Fértil, como também os registros das transações comerciais e das pendências entre proprietários, de rudimentares estatísticas de posses de bens móveis e imóveis para as primitivas “receitas” oficiais, bem como de algumas providências práticas para a resolução de conflitos entre famílias e vizinhos. Entendi como se deu a grande revolução unificadora efetivada por Hammurabi ao redor do Direito (no século XVIII a. C): ele consolidou as disposições legais dispersas num conjunto de leis, que possibilitou dar unidade ao primeiro grande império mesopotâmico, graças ao famoso “Código de Hammurabi” que foi gravado naquela enorme pedra de basalto preto que repousa no Museu do Louvre, em Paris. Os Mesopotâmios foram portadores de uma mensagem cultural que seria adotada por Impérios subsequentes: pode-se construir um grande Império, impondo aos povos vencidos as leis dos vencedores. Foi exatamente essa a solução que, mais tarde, colocaram em prática os imperadores chineses a partir da Dinastia Chin (221-206 a. C.), bem como os Imperadores Romanos (séculos I a. C. – V d. C.).
2 - Teologia da Libertação e militância esquerdista.
Mas a formação no Seminário Conciliar de Bogotá tinha outro aspecto, messiânico, chamado de “pastoral”, ao ensejo do tsunami de reformas iniciadas na Igreja Católica pelo Concílio Vaticano II (1962-1965): a posta em prática, nos países latino-americanos, da denominada “teologia da libertação”, uma novidade trazida para a Colômbia por professores que tinham estudado na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. O mais importante pregador que trouxe essa tendência foi o padre Camilo Torres Restrepo (1929-1966), advogado formado na Universidade Nacional em Bogotá. Torres estudou Sociologia na Universidade de Louvain, tendo sido nomeado pelo cardeal de Bogotá Luis Concha Córdoba (1891-1975), ao voltar à Colômbia, capelão da Universidade Nacional, onde, junto com outro estudioso das ciências sociais, Orlando Fals Borda (1925-2008), fundou a Faculdade de Sociologia.
A tese fundamental de Camilo Torres era que, para tornar realidade o cristianismo, deveria ser instaurado antes o socialismo, pois aquele não poderia tolerar as estruturas sociais injustas. Camilo pôs em prática uma visão fundamentalista que não era nova, pois a tese já tinha sido defendida por Rosa Luxemburgo (1871-1919) na sua obra intitulada: O Cristianismo e as Igrejas: o Comunismo dos primeiros Cristãos,[2] que data de 1905 e que inspirou vários movimentos revolucionários na Europa. Esse radicalismo levou o jovem sacerdote a se vincular ao Exército de Libertação Nacional. A morte de Camilo em combate com o Exército colombiano em 15 de fevereiro de 1966, fez com que as suas ideias se espraiassem como rastilho de pólvora, não somente na Colômbia como em outros países latino-americanos.
Eu próprio aderi ao ideário libertador e marxistizante da Teologia da Libertação, na versão de Camilo Torres, tendo saído do Seminário em fins de novembro de 1967. Me vinculei, então, em Medellín, a grupos da esquerda católica de inspiração trotskista como o denominado “Equipes Universitárias” e aderi, também, a um movimento de origem francesa, “Equipes Enseignants de l ‘ Amérique Latine”, tendo ganho, em 1971, bolsa para fazer estágio em Paris num centro financiado pelo Conselho Mundial de Igrejas denominado de INODEP (“Institut Oecumenique pour le Dévelopement des Peuples”), que era dirigido por Paulo Freire (1921-1997).[3] Paralelamente, do ângulo político, me aproximei da ANAPO, “Aliança Nacional Popular”,[4] movimento de esquerda ressurgido com força após a fraude eleitoral de 1970, que impediu a chegada ao poder do ex-presidente populista general Gustavo Rojas Pinilla (1900-1975), tendo sido empossado o candidato conservador Misael Pastrana Borrero (1923-1997).
3 – Docência em Medellín e Bogotá. Mestrado na PUC do Rio.
Comecei a vida docente em Medellín, cidade onde morava a minha família, em 1968, sendo as duas primeiras instituições onde lecionei as Universidades EAFIT e Bolivariana, nos Departamentos de Humanidades e Filosofia, respectivamente. Os movimentos guerrilheiros estavam presentes especialmente na segunda Universidade. Ao ensejo de uma greve que liderei nessa instituição, terminei sendo dispensado e me mudei para Bogotá, onde lecionei Filosofia e Humanidades nas Universidades Externado da Colômbia e del Rosário, ao longo de 1972. No início de 1973, minha esposa teve de viajar ao Rio de Janeiro, a fim de se apresentar ao DOPS, pois tinha sido resenhada pela polícia por ter participado de um seminário latino-americano de docentes socialistas em Riobamba, Equador, do qual eu tinha sido um dos expositores.  Preocupado com a segurança dela, a fim de acompanhá-la prestei concurso de seleção no Icetex (A Capes colombiana), com vistas a obter uma bolsa oferecida pela Organização dos Estados Americanos, num curso de mestrado em Filosofia na PUC do Rio. Tendo ganho a bolsa, viajei em fevereiro de 1973.
O Curso de Mestrado tinha como área de concentração “Pensamento Brasileiro”, sob a coordenação de Antônio Paim, que passou a ser meu orientador. O mestre identificou logo a minha tendência esquerdista e, para dar embasamento ao tema que tinha escolhido, a filosofia política de inspiração positivista, passou-me um roteiro de leituras com a finalidade de aprofundar no Positivismo, bem como na crítica liberal ao mesmo. As leituras abarcavam a obra de Comte (1798-1857), evidentemente, bem como os clássicos do Liberalismo. Tive de fazer sucessivas resenhas para os seminários, tendo lido Locke, Kant, Tocqueville, Os Federalistas, Adam Smith, David Hume, Edmund Burke e os pensadores brasileiros que aprofundaram no estudo do liberalismo como Silvestre Pinheiro Ferreira, Rui Barbosa, o Visconde de Uruguai, Miguel Reale, Roque Spencer Maciel de Barros, Vicente Barretto e os gaúchos Gaspar da Silveira Martins e Joaquim Francisco de Assis Brasil. Li a História das idéias filosóficas no Brasil[5] do meu orientador, que colocava em lugar de destaque a filosofia liberal, no processo de consolidação das Instituições Imperiais e na formulação da Constituição republicana de 1891, inspirada, pela mão de Rui Barbosa, na Carta Magna americana.
A fim de reconstituir as teses positivistas do Castilhismo, tive de fazer exaustiva pesquisa nas hemerotecas cariocas e gaúchas sobre o jornal A Federação, do qual Júlio de Castilhos (1860-1903) foi redator nas últimas décadas do século XIX. A figura de Castilhos era importante, pois ele formulou o modelo de ditadura republicana que deu certo no Rio Grande do Sul, e que Getúlio Vargas (1883-1954) replicou em nível nacional em 1937, ao ensejo da promulgação do Estado Novo.
As leituras dos clássicos do Liberalismo mudaram a minha cabeça. Poderia ter afirmado com Gilles Lipovestki (1944): “Abandonei Marx e aderi a Tocqueville”. Paim, com magnífica pedagogia, obrigou-me a ler os autores liberais e eles me mudaram. Larguei definitivamente o marxismo e aderi ao liberalismo. Grande libertação! Não posso não acreditar na possibilidade da conversão cultural. Assim como eu mudei, abandonando o marxismo e aderindo a uma perspectiva que defende a liberdade e a fé no indivíduo, devo acreditar que esse processo é possível em outras pessoas. Passei a adotar, na minha vida de professor, essa inspiração de fé nas pessoas e de possibilidade da conversão cultural. O diálogo é essencial e decorre da convicção de que a palavra compartilhada nos ajuda a refletir sobre o nosso próprio universo. Assino embaixo da afirmação do grande positivista ilustrado Luís Pereira Barreto (1840-1923) de que é possível dissentir de alguém combatendo as suas ideias, sem atacar as pessoas e sem praticar o que os militantes fazem:  o assassinato de reputações.
Defendi a minha dissertação de Mestrado em dezembro de 1974. Participaram da Banca Examinadora Antônio Paim, Olinto Pegoraro e Vicente de Paulo Barretto. O título da dissertação foi: A filosofia política de inspiração positivista.[6] O Padre Olinto Pegoraro (falecido em janeiro de 2019), que tinha cursado o doutorado em Filosofia na Universidade de Louvain e que, junto com outros religiosos como Henrique Cláudio de Lima Vaz (1921-2002) tinha-se alinhado no marxismo acadêmico com vistas a combater o regime militar, instaurando o patrulhamento ideológico (e abrindo assim o caminho para o socialismo)[7], não gostou da minha dissertação, alegando que ela não correspondia a uma pesquisa filosófica, pelo fato de se ter desenvolvido na área da história das ideias. Entregou cópia do meu trabalho ao historiador e diplomata Ivan Lins Monteiro de Barros (1904-1975), da Academia Brasileira de Letras e autor do clássico livro História do Positivismo no Brasil,[8] a fim de ter subsídios quanto à seriedade da minha pesquisa.
Segundo testemunhou para mim a então secretária do programa de Mestrado da PUC, a senhora Fátima Pequeno, o parecer do dr. Lins foi altamente elogioso, considerando que não conhecia uma pesquisa que tivesse desenvolvido tão bem o estudo do Castilhismo como variante filosófica do positivismo brasileiro. O parecer do notável historiador reforçou a visão favorável à dissertação, que tanto o meu orientador, o professor Paim, como o professor Vicente Barretto tiveram dela, situando-a na seara, então nascente, das pesquisas acadêmicas sobre história das idéias filosóficas no Brasil. Tendo sido aprovado na defesa, tornei-me, por força do destino, o primeiro mestre em Pensamento Brasileiro.
4 – Pró-Reitoria na Universidade de Medellín.
Após a minha permanência no Brasil entre 1973 e 1974, regressei à Colômbia no início de 1975. Fiquei desempregado, pois o reitor da Universidade Externado da Colômbia, em Bogotá, Fernando Hinestrosa Forero (1931-2012) rescindiu o meu o contrato, por força da antiga militância esquerdista. O reitor da Universidade de Medellín, Orion Alvarez Atehortúa (1930-1994), que tinha conhecido na Escola Interamericana de Administração Pública no Rio de Janeiro, ofereceu-me o cargo de pró-reitor de pós-graduação e pesquisa. Tendo-me afastado da esquerda radical, me vinculei ao Partido Liberal, no grupo “Novo Liberalismo” comandado pelo ex-presidente Carlos Lleras Restrepo (1908-1994). 
Na Universidade de Antioquia, em Medellín, passei a expor a História do Pensamento Brasileiro no contexto da disciplina História das Ideias na América Latina, que lecionava na Faculdade de Direito e Ciências Políticas. Grande foi o interesse que despertou essa abordagem, que incluía o estudo do desconhecido Brasil. 
A situação colombiana, nesse período, tinha-se deteriorado sensivelmente, por força da ascensão dos grupos de narcotraficantes que passaram a manipular as eleições. O candidato dos “dineros calientes”, Julio César Turbay Ayala (1916-2005), foi eleito para a presidência com grande vantagem, em 1978. Participei da campanha ao lado do ex-presidente Lleras. Considerei que seria prudente voltar ao Brasil, a fim de cursar o doutorado. Pedi licença não remunerada nas Universidades onde trabalhava. A situação era tão caótica que só em 1978, na Universidade de Antioquia, foram assassinados 18 professores de variadas tendências políticas. Junto com os traficantes dos cartéis de Medellín e de Cáli, ajudavam a tumultuar o cenário os grupos guerrilheiros das FARC, do ELN, do M19 e do EPL.
5 – Trabalho em São Paulo, na Sociedade Convívio e Doutorado na Universidade Gama Filho.
Fui convidado, em janeiro de 1979, para trabalhar em São Paulo por Adolpho Crippa (1929-2000) diretor da Sociedade Brasileira de Cultura, Convívio, uma organização conservadora que fazia oposição à esquerda radical e que apoiava o regime militar. Ali trabalhei até 1981. Paralelamente, fui chamado pelo professor Paim para cursar o doutorado em Pensamento Luso-Brasileiro, na Universidade Gama Filho do Rio de Janeiro. Fui aprovado na seleção, mas os meus escassos recursos impediam-me de pagar os altos custos do doutorado, com as viagens que precisava fazer todas as semanas ao Rio. Tomei a decisão de adiar o curso. Quando fui trancar a matrícula, levei uma enorme surpresa, pois na tesouraria da Universidade me informaram que a primeira anuidade já tinha sido paga por completo pelo meu amigo e orientador, o professor Paim. Falei com ele, ponderei que era uma soma grande e que seria melhor deixar para iniciar o curso no ano seguinte, já quando tivesse feito um pé de meia. O meu orientador foi irredutível. Passei, então, a frequentar o curso no Rio. Após o primeiro ano, depositei na conta do meu amigo o valor correspondente à matrícula e às mensalidades. Ele ficou feito uma onça e me falou o seguinte: “se você acha que realmente sou seu amigo, não se fala mais em dívida. Esquece”.
Com Paim como orientador, escrevi a tese de doutorado que versou sobre a obra do sociólogo fluminense Francisco José de Oliveira Vianna (1883-1951).[9] O título da tese foi: Oliveira Vianna e o papel modernizador do Estado brasileiro. A defesa ocorreu em 25 de março de 1982, e obtive a nota máxima. A banca examinadora foi composta pelos seguintes professores: Tarcísio Meirelles Padilha (Presidente), Antônio Ferreira Paim (Orientador), Eduardo Silvério Abranches de Soveral (Docente do Curso de Doutorado), Wanderley Guilherme dos Santos (Professor convidado, da Universidade Cândido Mendes) e Evaristo de Moraes Filho (Professor convidado, da Academia Brasileira de Letras). Tornei-me, de novo por força do destino, o primeiro doutor em “Pensamento Luso-Brasileiro”, pois essa era a área de concentração do curso.
Mostrei na minha tese que a influência de Oliveira Vianna foi marcante nos rumos que Getúlio Vargas deu à política nacional na sua longa permanência no poder (1930-1945; 1951-1954). Dividi o trabalho em duas grandes partes: na primeira, ilustrei a forma em que os Estados modernos se consolidaram ao redor de duas grandes tipologias estudadas por Max Weber (1864-1920) na sua principal obra, Economia e Sociedade[10]: Estados Contratualistas e Estados Patrimoniais ou Patrimonialistas.
Na segunda, aproximei a tipologia weberiana dos Estados Patrimoniais da forma que prevaleceu nos Estados ibéricos. Louvei-me da obra do meu orientador, intitulada: A querela do Estatismo, bem como da análise que do patrimonialismo fez Karl Wittfogel (1896-1988), aplicando o conceito de despotismo oriental aos países ibéricos.[11] O caso brasileiro, segundo Paim, seria o de um típico Estado Patrimonial, levando em consideração a tendência familística da organização portuguesa nas suas colônias. Mostrei de que forma Oliveira Vianna encaixa as instituições brasileiras nesse viés familístico. Destaquei que, a partir da leitura da obra pioneira de Oliveira Vianna, Populações Meridionais do Brasil,[12] Getúlio Vargas, quando da sua permanência na Câmara dos Deputados como líder da bancada gaúcha, entre 1923 e 1929, reformulou a sua primeira concepção castilhista do modelo republicano, tornando-a mais flexível e elaborando, a partir de Oliveira Vianna e com a ajuda das categorias saint-simonianas presentes nos romances de Émile Zola (1840-1902), uma sintomatologia nacional dos problemas, superando as limitações do regionalismo gaúcho.
A proposta da categoria de “patrimonialismo modernizador”, formulada por Paim e Simon Schwartzman (1939)[13], possibilitou aproximar o modelo getuliano dessa variante, à luz da qual Paim partiu para nova interpretação do élan modernizador do Pombalismo. O modelo que terminou prevalecendo foi o que Wanderley Guilherme dos Santos (1935) denominou de “autoritarismo instrumental”,[14] cuja mais clara manifestação, no folclore político, ficou conhecida no famoso adágio do general-presidente João Batista Figueiredo (1918-1999): “Juro fazer deste país uma democracia e prendo e arrebento quem se opuser”.
6 – A pauta liberal.
Não pretendo fazer uma reconstituição completa da minha contribuição ao estudo do pensamento brasileiro. Somente farei alusão à vertente que melhor poderia caracterizar o meu trabalho como historiador das ideias, aliado a uma preocupação doutrinária, para pensar as instituições republicanas à luz da ideia de liberdade, com a finalidade de aperfeiçoá-las. Sigo, nessa trilha, as lições de Alexis de Tocqueville (1805-1859), que foi o pensador que melhor canalizou a herança dos doutrinários franceses na discussão do problema da democracia. Sigo, também, a lição dos nossos doutrinários brasileiros, aqueles pensadores que, desde Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846), pensaram as instituições políticas à luz da tradição lockeana da representação e da defesa da liberdade. Entre eles, situo a figura de Antônio Paim, como a de quem melhor traduz essa preocupação doutrinária nos tempos atuais, tanto na discussão das reformas que se fariam necessárias para garantir o exercício da liberdade, quanto da historiografia dessa saga do pensamento whig entre nós.[15]

O trabalho desenvolvido por mim durante a permanência na Sociedade Convívio em São Paulo (entre 1979 e final de 1980) e, depois, na Universidade Gama Filho como docente do Curso de Doutorado em Pensamento Luso-brasileiro, foi canalizado, em boa medida, pelo estudo do pensamento liberal e a sua aplicação à realidade brasileira. Ao longo de 79 e 80 colaborei com Antônio Paim e Carlos Henrique Cardim (então decano de Extensão da Universidade de Brasília), na escrita do Curso de Introdução ao Pensamento Político Brasileiro,[16] obra que constou de 13 volumes, dentre os quais os seguintes foram de minha autoria: O Castilhismo, A propaganda republicana, O trabalhismo após 30 e A ditadura republicana segundo o Apostolado Positivista.

A minha contribuição ao estudo do pensamento liberal brasileiro foi desenvolvida ao ensejo da pesquisa de pós-doutorado, que realizei em Paris, entre 1994 e 1996, no Centro de Pesquisas Políticas Raymond Aron, sob a orientação de Françoise Mélonio (1951).  O amigo, embaixador José Osvaldo de Meira Penna (1917-2017) apresentou o meu nome nesse Centro. Fui aceito inicialmente pelo Professor Jean-Claude Lamberti, mas com o falecimento dele, a sua assistente, a professora Françoise Mélonio passou a me orientar. Era meu interesse establecer uma relação entre o liberalismo tocquevilliano e as tendencias conservadoras, a fim de desvendar a forma em que se poderia superar a tradição patrimonialista de origen ibérica, pelo estímulo ao self-government, em nível municipal, passando pela valorização do governo representativo e da educação para a cidadania. Centrei os meus estudos na análise do pensamento de Alexis de Tocqueville (1805-1859) e dos doutrinários, destacando a figura de Raymond Aron (1905-1983) como expressão contemporânea da opção liberal, bem como a presença de Tocqueville na cultura brasileira. De outro lado, estudei a crítica liberal a John Maynard Keynes (1883-1946)[17].

Para fazer um ajuste de contas com o meu pasado marxista, analisei críticamente a Teologia da Libertação, destacando o compromisso dos pensadores desta corrente com o messianismo político de inspiração marxista-leninista [18]. Por outra parte, em face da aguda problemática que a guerra do narcotráfico tem trazido para o Brasil, analisei a forma em que se poderia fazer frente a esse flagelo, combatendo com denodo o crime organizado, incorporando à cidadania as comunidades reféns dos cartéis da droga e preservando as instituições do governo representativo, levando em consideração a experiencia colombiana[19].

A minha reflexão como pensador liberal me levou a fazer um balanço do pensamento conservador. Além de um estudo pioneiro que publiquei na Colômbia sobre as relações entre o liberalismo e o conservadorismo na América Latina,[20] em trabalho recente[21] considero que quatro autores sobressaem, na atual conjuntura, como estudiosos e divulgadores do pensamento conservador no Brasil, num contexto hermenêutico: Vicente Ferreira da Silva[22] (1916-1963), Adolpho Crippa[23] (1929-2000), Paulo Mercadante[24] (1923-2013) e Olavo de Carvalho[25] (nasc. 1947).


Segundo os pensadores conservadores mencionados, os fatos que constituem a cotidianeidade da política, bem como as doutrinas em que ela se inspira, não explicam, por si sós, o evoluir das Nações ao redor do poder e das instituições em que este se exerce e se legitima. É necessário conhecer, antes de tudo, o pano de fundo de crenças fundamentais em que se apóiam a imaginação e o lógos das respectivas sociedades.

Ora, tal pano de fundo não é apenas um passado que ficou para trás, nas névoas do tempo. É um passado primordial sempre presente. A caracterização desse back-ground difere para estes autores, desde os mitos fundadores da Civilização Ocidental emergentes da religiosidade órfica, que ensejou a presença do fascinator entre os gregos (para Ferreira da Silva), ou dos mitos ancestrais presentes na simbiose entre cristianismo e helenismo (para Adolpho Crippa), pasando por uma tradição barroca de mitos luso-brasileiros resgatáveis com o auxílio de uma espécie de cabala, em que a matemática entra como linguagem simbólica (em Paulo Mercadante) ou a partir de uma plataforma de mitos primordiais presentes nas antigas tradições espirituais – taoísmo, judaísmo, cristianismo, islamismo – (em Olavo de Carvalho).

Apenas para ilustrar essa dinámica mítica, assaz estudada por Mircea Eliade (1907-1986) e outros, citemos a penetrante análise que o historiador Jesué Pinharanda Gomes (nasc. 1939) faz da hermenêutica de Paulo Mercadante, na edição portuguesa da obra A coerência das incertezas: “(…) constitui um ensaio de filosofia da história universal, aplicada ao caso lusíada, nas vertentes portuguesa e brasileira. Passado cada dia que passa, o dia seguinte nunca é objecto de certeza matemática. Vai ser história na incerteza, pois a história acontece no mar da instabilidade, da conjuntura e dos acidentes, como se não houvesse categorias fixas, mas somente areias movediças. O que suporta a incerteza é o símbolo. Ele organiza os acontecimentos e faz prova de fé na acção. O símbolo organiza e estrutura, a realidade é sempre a mesma, o que muda, pelo menos na aparência, é o símbolo, o sistema de símbolos. Este revela, mas oculta, como tapete que vemos do lado direito, mas que tem avesso, o qual não vemos. Eis o poder: deste sabemos o que vemos, mas é-nos impossível vislumbrar o que está por detrás dele, como se algo nos fosse ocultado nas trevas que sustentam o poder, o exercício do poder. Governamo-nos com símbolos, mas ignoramos quem governa os símbolos”.

Dentre os pensadores conservadores brasileiros destaco um que teve, para mim, significação especial, pois fui seu aluno na PUC do Rio de Janeiro em 1973 e 1974: o sociólogo José Arthur Rios[26] (1921-2017). Foi discípulo de Eric Voegelin (1901-1985) quando dos seus estudos de pós-graduação na Luisiana State University, nos Estados Unidos. No campo da sociologia, José Arthur Rios desenvolveu, no seio do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio, no Rio de Janeiro, importantes trabalhos no terreno da problemática urbana, bem como uma abordagem original da questão agrária e das lutas sociais, notadamente no que tange à violencia.

Conheci José Arthur Rios como Docente da “chata” disciplina "Estudo de problemas brasileiros", quando fiz o mestrado na PUC do Rio. Digo "chata disciplina", não pelo fato de essa disciplina tratar dos problemas do Brasil, mas porque, nesses anos, a matéria era lecionada, geralmente, por milicos aposentados ou civis propagandistas do regime. Embora concordasse com a higiene que os militares fizeram na seara da política brasileira tirando os comunas do poder, não concordava com os exageros da repressão, notadamente no que se refere à tortura e à liberdade de expressão. 

Quando iniciei o curso de Mestrado na PUC do Rio, dois professores logo se destacaram: o coordenador da área de pesquisa em Pensamento Brasileiro, Antônio Paim e o professor José Arthur Rios, que ministrava a famosa e “chata” disciplina.  O professor Rios, eminente sociólogo, tinha concluído, em Niterói, o Curso de Ciências Jurídicas, tendo-se formado bacharel em 1943, aos 22 anos de idade. Cursou, depois, Ciências Sociais na antiga Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil (atual UFRJ), onde teve oportunidade de estudar com sociólogos franceses de renome como Jacques Lambert, Maurice Byé e René Poirier. Obteve, posteriormente, o título de "Master of Arts" na Universidade de Lousiana, nos Estados Unidos. Pertenceu, depois, ao corpo docente da PUC do Rio de Janeiro, tendo chefiado ali o Departamento de Sociologia e Ciência Política. Lecionou em outras Universidades cariocas como a UFRJ e Santa Úrsula. Foi membro titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com sede no Rio de Janeiro (tendo eu tido a honra de ser por ele indicado para integrar o mencionado colegiado).  Rios teve, também, destacada atuação em Universidades internacionais como a da Flórida e a da Califórnia, nos Estados Unidos. Teve, outrossim, destacada atuação na edição brasileira do Dicionário de Ciências Sociais da Unesco, a cargo da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.

Nas suas aulas de Estudo de Problemas Brasileiros na PUC do Rio, no Curso de Mestrado em Filosofia em 1973, o professor Rios destacava as mudanças pelas que tinha enveredado a sociedade brasileira no início dos anos 70. Havia no ar uma transformação radical. O Brasil, de país rural, estava-se convertendo, a passos agigantados, em sociedade moderna e urbana. José Arthur centrou a sua atenção num ponto específico: a rápida transformação que a cidade do Rio de Janeiro estava sofrendo, no que tange à integração da antiga Zona Norte, mediante a expansão de vias de comunicação modernas e o surgimento de bairros abertos ao comércio de ponta com a emergência dos notáveis "Shopping-Centers". "Querem conhecer o Brasil, meus caros alunos?" perguntava o Mestre Sociólogo. E respondia: - "Peguem o ônibus e vão para a zona Norte, observando o que mais lhes chamar a atenção". Na semana seguinte, o Mestre indagava, pacientemente, pelo relatório que cada aluno deveria ter feito da sua viagem a essa zona desconhecida. "O que mais lhes chamou a atenção?" - perguntava aos alunos que frequentavam a sua disciplina na PUC, geralmente provenientes das ricas esferas sociais radicadas na zona Sul -. Cada um de nós tinha de fazer um relatório vivencial do que tinha visto. No meu primeiro relatório, falei da viagem que fiz de ônibus, saindo de Copacabana para o Méier, o primeiro bairro da Zona Norte que, após a Tijuca, sofreu a grande transformação urbana. Impressionou-me o "Shopping Center" inaugurado pouco tempo atrás sobre a rua Dias da Cruz, que cruza o bairro do Norte ao Sul. Lojas de griffe, modernos restaurantes e lanchonetes, aquele povo cheiroso e bonito andando nas aprazíveis áreas de alimentação e pelos amplos corredores, tudo com aquele ar refrigerado maravilhoso  e, ainda por cima, com música ambiental, nas quentíssimas tardes cariocas. "O Méier está virando cidade moderna, professor", foi a conclusão do meu relatório.

O nosso autor pertenceu ao grupo de pensadores tradicionalistas que integravam o Centro dom Vital, criado por Jackson de Figueiredo (1891-1928). Casou com a filha dele, Regina Alves de Figueiredo, falecida recentemente. A ensaística do meu amigo era, antes de tudo, agradável, feita a partir de uma leveza de expressão de refinado e bem-humorado causeur. José Arthur evoluiu de uma rígida posição tradicionalista para uma posição de conservador tolerante com outras vertentes de pensamento. Pela sua riqueza humanística, eu o teria candidatado para a Academia Brasileira de Letras.

7 – Encontro com o Pensamento Português.

Para mim, enquanto pesquisador da Cultura Luso-Brasileira, os estudos realizados no Doutorado em Pensamento Luso-Brasileiro na Universidade Gama Filho representaram o ponto de partida de um capítulo importante da minha vida acadêmica, em intercâmbio constante com Universidades portuguesas. Destaco as figuras dos que mais me influenciaram, do lado português, nesse rico intercâmbio: António Braz Teixeira, Eduardo Abranches de Soveral, Francisco da Gama Caeiro, José Esteves Pereira, Afonso Botelho, Pedro Calafate, Maria Helena Varela, João Carlos Espada, Manuel Cândido Pimentel, Celeste Natário, Renato Epifânio, Ernesto Castro Leal, Jesué Pinharanda Gomes, Joaquim Domingues, Manuel Ferreira Patrício, Nicha Ganho, etc.

A minha amizade com o professor Espada abriu-me a porta para colaborar no Curso de Relações Internacionais oferecido, em nível de doutorado, na Universidade Católica Portuguesa em Lisboa. Participei da criação da Revista Nova Cidadania (cujo conselho editorial integro). Tenho seguido de perto a representação que o professor Espada encarna da herança britânica whig na cultura portuguesa, abrindo um espaço precioso para melhor avaliar o liberalismo contemporâneo.

Contrariamente ao Brasil, onde as instituições do Estado, como a CAPES, conspiraram habitualmente contra os Projetos de estudo acadêmico da Filosofia Nacional, em Portugal, embora criados tardiamente (a partir de 1986), tais Cursos receberam desde o início forte apoio oficial, além de contarem com a tradicional acolhida de parte das Universidades Católicas e das Particulares. Isso explica o rico florescimento dos estudos das Universidades portuguesas no terreno do Pensamento Filosófico Nacional, na pós-graduação especialmente. Só para citar um exemplo, menciono o grande empreendimento editorial representado pela Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia publicada pela Editora Verbo, entre 1989 e 2001, na qual tive expressiva colaboração. Os Colóquios “Tobias Barreto”, realizados a cada dois anos em Universidades portuguesas ou na sede do Instituto Luso-Brasileiro de Filosofia, em Lisboa, testemunham, por sua vez, a força das instituições portuguesas no estudo da Filosofia Nacional.

8 – Docência na Universidade Federal de Juiz de Fora.

Concursei para a UFJF, no Departamento de Filosofia, em dezembro de 1984, atendendo a convite de alguns dos meus antigos colegas de Programa de Doutorado em Pensamento Luso-Brasileiro da Universidade Gama Filho. Eles eram: José Carlos Rodrigues, Aristóteles Ladeira Rocha e Joel Neves. Lecionei nessa Universidade de 15 fevereiro de 1985 até 16 de abril de 2013, data em que consegui a aposentadoria. Atendi ao Curso de Mestrado em Filosofia, que tinha sido criado recentemente com área de concentração em “Pensamento Brasileiro”. Mas também ministrei aulas no Curso de graduação. Neste, foi-me assinalada a disciplina “Cosmologia”, que transformei num estudo das teorias cosmológicas da Antiguidade, da Idade Média, da Idade Moderna e da Contemporaneidade, com especial destaque para as inúmeras inovações ocorridas nessa seara, por conta do incrível desenvolvimento da Física ao longo do século XX. Atendi também à disciplina “Teoria do Conhecimento”. Das minhas aulas surgiram os livros intitulados: Tópicos especiais de filosofia moderna,[27]  Tópicos especiais de filosofia contemporânea[28] e Luz nas trevas: ensaios sobre o Iluminismo. [29]

Do Curso de Mestrado em Filosofia surgiu toda uma geração de estudiosos, cujos mais importantes expoentes foram José Maurício de Carvalho, Antônio José Passarella Freire, Luciano Caldas Camerino, Mariana Camerino, Beatriz Helena Domingues Bitarello, Afonso Henrique Hargreaves Botti, Henrique Duque Portugal, Mário Sérgio Ribeiro, Fátima Garcia Passos, Ubirajara de Oggero, Mário José dos Santos, Clarice da Cunha Ibiapina, Maria Eugênia Tollendal, Maria da Penha dos Santos, etc., que criaram a Revista de Pensamento Brasileiro Phibra que circulou durante cinco anos, entre 1986 e 1991. O Mestrado terminou sendo fechado em 1994, por pressão do padre Lima Vaz, através dos seus prepostos na CAPES.

No início de 2003 foi criado por mim, no Departamento de Filosofia da UFJF, o Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos. Surgiu em decorrência do interesse de alunos do Curso de Filosofia pelo estudo do pensamento filosófico brasileiro, bem como do pensamento ibérico e ibero-americano, de forma geral. Considerei que a preocupação dos meus alunos com o estudo da filosofia brasileira estava fora de contexto, depois dos affaires de patrulhamento ideológico que tinham sido protagonizados, nas décadas de 70 a 90, pelos integrantes da comissão de filosofia da CAPES. Efetivamente, à sombra desse patrulhamento ideológico, tinham definhado os vários cursos de pós-graduação em pensamento brasileiro criados, entre 1972 e 1995, na PUC do Rio de Janeiro, na Universidade Gama Filho e na Universidade Federal de Juiz de Fora.

Pessoalmente, depois de todos esses fracassos, não cogitava dedicar mais tempo às atividades de pesquisa e estudo sistemático do pensamento brasileiro no seio da Universidade, deixando para uma perspectiva puramente pessoal o aprofundamento nesses temas, ao ensejo da minha participação no Projeto “Ensaio Hispânico”, que o amigo José Luis Gómez Martinez tinha criado e dirigia na Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos. Mas os meus alunos do curso de graduação em filosofia da UFJF, em 2003, não estavam preocupados com o desânimo reinante em face das condições negativas para o estudo da filosofia brasileira. Queriam saber, mesmo, o que havia para ser estudado nessa área e desejavam enveredar pelo caminho da pesquisa.

Para concretizar esse propósito, programei, contrariando as minhas expectativas negativas, uma primeira atividade. Foi desenvolvido, no período acadêmico desse ano, o seminário de introdução ao estudo da filosofia brasileira, que teve como fonte para as leituras a coletânea organizada pelo professor José Maurício de Carvalho, da Universidade Federal de São João Del Rei, sob o título: Filosofia brasileira. [30] Em 2004, por sugestão dos meus alunos, foi programado o seminário sobre a filosofia dos mitos indígenas.[31] No seio de uma tendência que se revelaria mais tarde de grande valor heurístico, acolhi a sugestão de enveredar pelo estudo dessas mitologias.

De entrada, deixei claro que não queria dar feição burocrática ao grupo de estudos, preferindo que se sedimentasse numa agenda de atividades que efetivamente fossem realizadas, de maneira consensual, pelos seus integrantes. Surgiu, assim, o Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da UFJF. Os alunos fundadores foram: Alexandro Ferreira de Souza, Marco Antônio Barroso, César Rafael Pitt, Humberto Schubert Coelho, Camila dos Santos, Bernardo Goytacazes de Araújo e Jefferson Silveira Teodoro. Após a fundação do Núcleo, passaram a integrá-lo também o professor doutor Fabrício Oliveira, docente e pesquisador da Faculdade de Direito da UFJF e os alunos do curso de Filosofia da UFJF: Bruno Maciel, Heloana Cardoso, Leonardo Rosa Maricato dos Santos, Eloiza Mara da Silva, Rosa Maria Marangon, Myriam Toledo Augusto, Sérgio Luna Couto e Sandra Rodrigues Eiterer.

Ao longo dos anos 2005 e 2006, efetivaram-se diversos seminários sobre as mitologias ameríndias, que deram ensejo à inclusão, no currículo do Curso de Filosofia da UFJF, de uma série de “Seminários sobre Temas Especiais de História da Filosofia”, que passaram a ser por mim oferecidos aos alunos da graduação. Os trabalhos ali apresentados foram publicados na revista eletrônica Ibérica, criada por iniciativa de Alexandro Ferreira de Souza e Marco Antônio Barroso.

Tomei carona na iniciativa editorial dos meus alunos e ajudei a consolidar o Conselho Consultivo da mencionada publicação, convidando figuras exponenciais da pesquisa de história das idéias, no contexto luso-brasileiro, ibérico e ibero-americano. Passaram, assim, a formar parte do mencionado Conselho, Antônio Paim (do Instituto Brasileiro de Filosofia e do Instituto de Humanidades), Leonardo Prota (do Instituto de Humanidades), José Esteves Pereira (da Universidade Nova de Lisboa), Juan Carlos Torchía Estrada (da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e editor do Handbook of Latin American Thought), José Luis Gómez Martinez (criador e coordenador do Projeto Ensayo Hispánico na Universidade da Geórgia em Athens, Estados Unidos), Zdenek Kourim (do Centre de Recherches Scientifiques da França e um dos principais pesquisadores da Filosofia Brasileira nesse país), João Ricardo Moderno (presidente da Academia Brasileira de Filosofia, no Rio de Janeiro), Enrique Menéndez Ureña (da Universidade de Comillas, em Madri), etc.

Tanto pelo estímulo recebido dos membros do Conselho Consultivo quanto pelo empenho dos redatores, a Revista Ibérica consolidou-se, desde a sua fundação em 2005, como publicação de alto nível no terreno da história das idéias, tendo sido inclusive reconhecida pela CAPES como referência para os cursos de pós-graduação da área de ciências humanas. Num país onde as iniciativas culturais morrem rápido, o fato de uma publicação como Ibérica ter atingido mais de cinco anos de existência, é um feito notável. A esta iniciativa bem-sucedida, os meus alunos somaram outra: a revista eletrônica Cogitationes, destinada a discutir temas da história da cultura, que atingiu também o reconhecimento da CAPES como revista referencial na área de ciências humanas. Ambas as publicações passaram a ser acolhidas no Portal Sofia, criado e gerido por Alexandre Ferreira de Souza e Marco Antônio Barroso.

Outras realizações importantes do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos (que passou a formar parte, em 2007, do elenco de Núcleos de iniciação científica da UFJF apoiados pelo CNPQ) foram as seguintes: a conferência sobre a significação cultural e histórica da figura de Simón Bolívar no contexto ibero-americano, pronunciada, em Junho de 2003, por José Luis Gómez Martinez, da Universidade de Geórgia; a realização, em Setembro de 2006, do Colóquio de Pesquisadores da Filosofia Brasileira em Minas Gerais; a participação de vários membros do Núcleo no Primeiro Congresso Luso-galaico-brasileiro, realizado na Universidade Católica Portuguesa, no Porto, em Outubro de 2007 (nessa oportunidade, o Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da UFJF passou a formar parte, oficialmente, das entidades organizadoras dos Colóquios “Antero de Quental”); a realização da Semana de Estudos sobre os duzentos anos da vinda da Corte Portuguesa para o Brasil (em Outubro de 2008), a participação de pesquisadores do Núcleo no Colóquio em Homenagem a Miguel Reale, realizado em Outubro de 2009, em Lisboa, pelo Instituto de Filosofia Luso-brasileira, bem como a participação regular dos membros do Núcleo nos Colóquios Luso-brasileiros de Filosofia, realizados pelo mesmo Instituto na Universidade Federal de São João del Rei, entre 2008 e 2011.

Mencionava anteriormente que o estudo dos mitos ameríndios se revelou idéia de grande valor heurístico entre os membros do Núcleo. Pensei, inicialmente, que se tratava de simples curiosidade intelectual que não teria maior continuidade. Estava enganado. Os meus alunos queriam aprofundar mesmo nas raízes pré-racionais da cultura. Descobri isto quando vários deles foram aceitos no programa de pós-graduação em Ciência da Religião da UFJF.

Cursaram, ali, os seus estudos de mestrado e/ou doutorado: César Rafael Pitt, Jefferson Silveira Teodoro, Marco Antônio Barroso (com pesquisas sobre o pensamento de Henri Bergson e sobre a Filosofia da Religião em Benjamin Constant de Rebecque), Alexandro Ferreira de Souza (com pesquisa acerca dos fundamentos filosóficos do conceito de “sagrado” em Rudolf Otto) e Humberto Schubert Coelho (com pesquisa sobre a influência da mística de Jacob Böeme no idealismo transcendental de Kant). Estimulei o trabalho deles com orientação formal (no caso de Marco Antônio Barroso), com indicações temáticas e com ajuda bibliográfica (para a qual foi criada a Biblioteca “Sílvio Romero”, com parte do meu acervo pessoal). Tentei, em vão, que Marco Antônio Barroso, Alexandro Ferreira de Souza e Humberto Schubert Coelho, os mais destacados entre os meus alunos, fossem integrados ao Departamento de Filosofia, quando, em 2009, foram abertas vagas para contratação de docentes.

Os seguintes membros do Núcleo de Estudos Ibéricos entraram a compor Secretarias do Ministério da Educação, no início de 2019, na Administração presidida por mim: Marco Antônio Barroso (SERES), Alexandre Ferreira de Souza (SETEC) e Bernardo Goytacazes de Araújo (SEMESP).
Menciono a seguir alguns dos temas estudados no Núcleo: a –; c – Estudo dos conceitos fundamentais presentes nas obras de Alexis de Tocqueville: O Antigo Regime e a Revolução e Lembranças de 1848; d – Análise da literatura ibero-americana, do ângulo da idéia de poder patrimonial presente no universo construído pelos vários autores. Como fruto das reflexões desenvolvidas ao ensejo deste último tema, escrevi o livro intitulado: Análise do patrimonialismo através da literatura latino-americana: o Estado gerido como bem familiar (Rio de Janeiro: Documenta Histórica / Instituto Liberal, 2008). Os trabalhos escritos pelos meus alunos, ao ensejo das atividades descritas, foram publicados nas Revistas Ibérica e Cogitationes, bem como no Portal Defesa, órgão do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, que foi criado pelo historiador Expedito Carlos Stephani Bastos (reconhecido pesquisador na área de história e tecnologia militar) e por mim, na UFJF, em 2005.

Durante 13 anos coordenei o Centro de Pesquisas Estratégicas até dezembro de 2018, tendo deixado a coordenação para assumir o Ministério da Educação. Ao longo desse período, o Centro de Pesquisas Estratégicas se tornou uma referência no ramo entre as Universidades brasileiras, tendo estimulado de forma constante a reflexão estratégica por parte de docentes e discentes de várias instituições superiores de ensino no Brasil e do exterior, gozando hoje de indiscutível reconhecimento internacional.[32]

Paralelamente, no mesmo período, de novo atendendo a pedidos dos meus alunos, criei o Núcleo de Estudos sobre Madame de Staël e o Romantismo Filosófico e Literário, a fim de aprofundar nos primórdios desse rico movimento que tanta influência teve na França e na Europa, em relação com o debate cultural iniciado pela grande escritora em Coppet e que terminou se espraiando por vários países, como benfazeja onda cultural que acompanhou os temas fundamentais do Liberalismo. Foram lidos os principais trabalhos da grande escritora, notadamente Sobre a Alemanha, Acerca da Literatura, Dez anos de exílio, Reflexões sobre a Revolução Francesa e alguns dos seus romances, como Corinne e Delphine. Foi analisada a particular influência exercida por Madame de Staël (1766-1817) sobre duas figuras importantes para a evolução das nossas instituições no Primeiro Reinado, como Benjamin Constant de Rebecque (1767-1839) e dom Pedro de Souza Holstein (1781-1851), duque de Palmela, que integrou na sua juventude o gabinete do reinado de dom João VI e reforçou a ideia liberal do bicameralismo. Participaram desse Núcleo Humberto Schubert Coelho, Maria Lúcia Viana, Ludmila Viana de Lery Guimarães, Marco Antônio Barroso Faria, Syléa Carvalho de Souza, Carolina Magaldi, Alexandre Ferreira de Souza, Regina Bara Paschoalino, Sandra Rinco Dutra etc.

9 – Três Institutos e um Centro de Documentação na minha vida de pesquisador.

Três Institutos e um Centro de Documentação marcaram a minha vida de estudioso do pensamento brasileiro: o Instituto Brasileiro de Filosofia, criado por Miguel Reale (1910-2006) em 1949, o Instituto de Humanidades, criado por Leonardo Prota (1930-2016), Antônio Paim e por mim em 1986, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, criado por Dom Pedro II em 1838 e o Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro, criado por Antônio Paim em 1982, a partir da sua biblioteca pessoal.

No Instituto Brasileiro de Filosofia aprendi duas coisas: de um lado, a perspectiva liberal do diálogo cultural, aberto a todas as tendências doutrinárias. De outro lado, aprendi que havia uma metodologia para pesquisar com isenção as doutrinas filosóficas. Tal metodologia foi formulada por Reale e complementada por Paim, no que tange à historiografia das ideias. Parte tal método do pressuposto de que as doutrinas filosóficas são de índole problemática, cabendo ao pesquisador indagar pelo problema que movia ao pensador a buscar uma solução. Essa metodologia foi formulada por Miguel Reale a partir do pensamento de Nicolai Hartmann (1882-1950) e de Rodolfo Mondolfo (1877-1976). A essência da metodologia, que passou a ser denominada de culturalista, foi sintetizada por Paim na sua obra O estudo do pensamento filosófico brasileiro.[33] Consiste tal metodologia em indagar, primeiro, pelo problema que motivaria ao pensador, para num segundo passo, ver a forma em que ele tentou equacionar essa problemática, a fim de traçar, num terceiro passo, elos e derivações surgidos da solução apontada. Tal metodologia abriu um grande espaço de isenção para a pesquisa em história das ideias, sem que o pesquisador prejulgasse a partir das próprias preferências doutrinárias.

O Instituto de Humanidades (hoje sob a direção executiva de Arsênio Eduardo Corrêa) também marcou a minha vida de estudioso do pensamento brasileiro. Essa Instituição foi criada em 1986 por Leonardo Prota, Antônio Paim e por mim, com a finalidade de reconstituir a forma em que foram se sedimentando os valores fundantes da Civilização Ocidental nas várias épocas, seguindo a metodologia formulada pela Open University Inglesa, no sentido de elaborar manuais que sintetizassem o percurso das variáveis (filosofia, história da cultura, moral, religião e política), com o intuito de compreender os elos entre elas, tentando identificar o percurso do espírito humano em toda essa caminhada. Vinha depois a etapa de aprofundamento na leitura das grandes obras, que constavam de um Cânone para ser seguido nos Seminários. Tratava-se de uma metodologia de indubitável inspiração hegeliana, sem chegar, no entanto, à tentativa de formulação das regras do Espírito Humano, que Hegel (1770-1831) identificava com o Espírito Absoluto. A finalidade de toda essa ação no terreno da cultura consistia em oferecer à sociedade brasileira um caminho alternativo para a formação humanística de jovens e adultos, levando em consideração que esta tarefa terminou sendo descuidada no Brasil, tanto no ensino fundamental e médio quanto na Universidade.

Deixamos escrita a introdução à História da Cultura, bem como a apresentação a cada uma das variáveis acima mencionadas. Todo esse material consta de um legado aberto, no Portal do Instituto de Humanidades (www.institutodehumanidades.com.br). Essas leituras foram complementadas com um manual que poderia guiar os mestres do ensino básico e fundamental, na tentativa de formular a disciplina Educação para a Cidadania.[34] Ainda no Instituto de Humanidades colaborei, em 2002, com Antônio Paim e Leonardo Prota na confecção do Curso de Ciência Política. [35]

Em terceiro lugar, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro também marcou a minha caminhada no estudo do pensamento brasileiro. Fui aceito como membro do Instituto em 2008 e a minha participação em vários eventos permitiu-me apresentar trabalhos sobre historiografia das ideias em relação à inspiração de Getúlio Vargas, como parlamentar, na obra de Oliveira Vianna e no tocante às convicções liberais da pregação abolicionista de Joaquim Nabuco.

O Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro, criado por Antônio Paim em Salvador-Bahia em 1982 tem sido definitivo na minha pesquisa do pensamento brasileiro. Foi organizado por Paim a partir do que restou da sua biblioteca particular, que já tinha sido doada para o Programa de Mestrado em Pensamento Brasileiro, criado na PUC do Rio nos anos setenta. Com o fim do programa, a Biblioteca de Pensamento Brasileiro simplesmente sumiu. Uma perda inestimável. A partir do que restou da sua biblioteca pessoal e com inúmeras aquisições de obras raras e documentos, feitas às custas do incansável Mestre, foi reconstituído um acervo de aproximadamente 13 mil obras, sem contar os documentos avulsos.

O Centro, hoje na Biblioteca da Universidade Católica de Salvador, é o mais importante núcleo de documentação existente no Brasil acerca do pensamento filosófico brasileiro e nas áreas de história da cultura e da educação, da antropologia e da sociologia brasileiras. As pesquisas que tenho desenvolvido nas últimas décadas têm sido possíveis, graças a consultas regulares ao acervo e a cópias que eficientemente colocou à minha disposição a bibliotecária do Centro, a incansável Marta Suely Dias Santos. O Centro contou com a presidência da professora Dinorah de Araújo Berbert de Castro, notável pesquisadora da história das ideias na Bahia.

10 – Seis Núcleos de reflexão sobre o Brasil.

Tenho participado, ao longo da minha vida de estudioso do Pensamento Brasileiro, de seis núcleos de estudos que se debruçam sobre o tema. O ambiente extra universitário conferiu a esses privilegiados lugares de cultura, um ambiente de independência e de liberdade, em face do dogmatismo acadêmico infelizmente presente nas nossas Universidades. Tais entidades privilegiadas são as seguintes: Academia Brasileira de Filosofia, Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio, Clube da Aeronáutica, Centro de Estudos de Pessoal, Escola de Comando e Estado Maior do Exército e Instituto Liberal.

Participei da fundação da Academia Brasileira de Filosofia, que foi criada em 1989 pelo saudoso Jorge Jaime de Souza Mendes (1925-2013). O professor João Ricardo Moderno (1952-2018), recentemente falecido, presidiu a Academia entre 1995 e 2018, sendo o atual presidente o professor Jean-Yvez Beziau (1965). Inúmeros trabalhos escrevi sobre o pensamento brasileiro, estimulado pelos debates ensejados na Academia. Destaca-se o meu ensaio sobre o totalitarismo e os seus riscos em face do Brasil.

No Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio, do qual participo desde 1993, na revista Carta Mensal tenho publicado vários ensaios sobre pensadores brasileiros, como Joaquim Nabuco, Eugênio Gudin, Gilberto Ferreira Paim, Roberto Campos, padre Antônio Vieira, etc., além de trabalhos sobre a filosofia política liberal e análises sobre a violência no Brasil e na América Latina. Destaco que a Revista do Conselho Técnico é uma das mais antigas publicações sobre problemas brasileiros, pois é publicada ininterruptamente desde 1953.

No Clube da Aeronáutica (Rio de Janeiro), desde 2002 tenho participado regularmente dos Cursos sobre Pensamento Brasileiro programados pelo coordenador de publicações, coronel Araken Hipólito da Costa. A minha obra intitulada: Pensamento político brasileiro contemporâneo foi publicada, em 2012, pela Editora Revista Aeronáutica. Os mencionados Cursos têm sido oferecidos, regularmente, desde 2002.  

No Centro de Estudos de Pessoal do Exército, no Rio, lecionei as disciplinas Filosofia e Introdução ao Pensamento Político entre 1983 e 1989. Nessa prestigiosa instituição recebi, em 1987, de mãos do então coronel diretor e amigo, o saudoso Rogério Macedo, o honroso título de “Colaborador Emérito do Exército”.
Na Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), no Rio, da qual sou professor emérito desde 2003, lecionei a disciplina Doutrinas Políticas Contemporâneas (que é oferecida no Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia). Os debates no seio da ECEME foram de grande valor para completar a minha reflexão sobre o papel constitucional das Forças Armadas. Recebi, como professor da Escola, a medalha “Do Pacificador“, outorgada pelo Comandante do Exército, em 25 de agosto de 2005. Na qualidade de professor da ECEME participei, durante alguns anos, do Conselho da BIBLIEX e pude testemunhar a dedicação e o patriotismo dos conselheiros e do diretor dessa grande editora.
Tenho destacado, sempre, que as Escolas Militares oferecem um ensino de qualidade, superior ao que se oferece nas Universidades, em decorrência de dois fatos: a meritocracia que é escrupulosamente respeitada nesses Centros e, de outro lado, por força das avaliações regulares a que são submetidos os docentes, prática que não conseguiu ser implantada, com seriedade objetiva e continuidade, nas nossas Universidades públicas.

Comecei a frequentar o Instituto Liberal no Rio de Janeiro em 1983, quando estava sob a direção de Og Leme (1922-2004) e Donald Stewart Jr. (1931-1999), fundadores da Instituição. Alexandre Guasti era o Secretário Executivo. O Instituto Liberal arejou, a partir de início dos anos 80, o fechado ambiente universitário, mediante a divulgação das obras de clássicos liberais como Tocqueville e os autores da Escola Austríaca. Também houve a divulgação de pensadores liberal-conservadores como Bastiat e Edmund Burke. Sob a direção de Roberto Fendt, o Instituto programou vários seminários sobre temas ligados ao Liberalismo, tanto do ângulo econômico quanto cultural e político.

O convênio realizado entre o Instituto Liberal e o Liberty Fund foi de grande valor nessa tarefa, com a liderança, nesta última entidade, de Emílio Pacheco e, mais recentemente, com a colaboração de Leônidas Selmanovitz. Nas duas últimas décadas participei de vários seminários programados pelo Instituto, em parceria com o Liberty Fund, com aquele clima de liberdade de pensamento e discussão civilizada que caracteriza, costumeiramente, as atividades patrocinadas pela entidade americana.

Participei em 2012, convidado pelo Liberty Fund, em Teotihuacán, perto de Cidade do México, de importante Seminário sobre a tradição liberal que vingou nesse belo país e aproveitei as minhas falas para estabelecer elos de comparação entre a tradição liberal mexicana e a brasileira, a primeira mais polarizada pelo liberalismo francês, e a segunda influenciada pelo liberalismo inglês, de corte whig. Ultimamente, o atual Diretor do Instituto, o jovem amigo Lucas Berlanza Corrêa, convidou-me para colaborar com o Instituto, tarefa de que não consegui me desincumbir por causa da minha participação no Ministério. Pretendo futuramente responder, de forma ativa, ao convite feito.

Com o Presidente do Instituto Liberal, Lucas Berlanza Corrêa, no Colóquio Antero de Quental, na Universidade Federal de Juiz de Fora, 3 de junho de 2019


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[1] O título da dissertação foi: De supposito et persona in metaphysica Divi Thomae. Bogotá, Universidad Javeriana, Facultades Eclesiásticas, 1963.
[2] LUXEMBURGO, Rosa. O Socialismo e as Igrejas: o Comunismo dos primeiros cristãos. (Tradução brasileira). Rio de Janeiro: Achiamé, 1981.
[3] Terminei abrindo mão da bolsa concedida a mim e à minha esposa, a fim de beneficiar dois amigos tupamaros que tinham se refugiado na Colômbia. A bolsa foi concedida pelo próprio INODEP.
[4] A ANAPO foi uma das vertentes ideológicas que deram origem ao Movimento guerrilheiro M-19.
[5] PAIM, Antônio. História das Ideias Filosóficas no Brasil. 1ª edição. São Paulo: Grijalbo, 1967.
[6] A minha dissertação de mestrado foi publicada com o seguinte título: Castilhismo, uma filosofia da República (1ª Edição. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes; Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 1980). A “Ata da defesa da tese de Mestrado do aluno Ricardo Vélez Rodríguez” reza assim: “No dia vinte e um de dezembro de mil novecentos e setenta e quatro, a Comissão Examinadora integrada pelos professores Antônio Paim, Vicente de Paulo Barretto e Olinto Pegoraro, reuniu-se na sala 1056 do Edifício Cardeal Leme desta Universidade, às 9 horas, para examinar a tese intitulada A filosofia política de inspiração positivista, apresentada pelo candidato Ricardo Vélez Rodríguez, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Filosofia. A inspiração central da tese consiste no levantamento das tendências comuns a três notáveis políticos gaúchos: Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros e Getúlio Vargas. Segundo o autor, essas tendências são: certa concepção do bem público, o autoritarismo, o conservadorismo e o moralismo. O autor procura identificar essas mesmas características na legislação gaúcha deixada pelos três líderes. Os membros da Comissão confrontaram detidamente suas opiniões sobre a tese, concluindo pelo seguinte parecer: 1. A tese, globalmente tomada, tem excelente inspiração central, porque elabora a questão das relações entre pensamento e ação política. 2. Notável é o esforço de acesso às fontes e à bibliografia de qualidade. 3. A redação é clara, simples e impecável quanto à concatenação das partes. 4. A tese inclui, sem dúvida certas deficiências apontadas pelos examinadores, algumas das quais exigiriam, entretanto, nível superior de elaboração, cabendo, certamente, numa tese de doutoramento. Estão nesse caso os temas relacionados com a questão da democracia e do liberalismo e com o problema do autoritarismo. 5. Quanto à metodologia, o autor diz laconicamente inspirar-se no ‘método de investigação bibliográfica’, que a Comissão considerou insuficiente, porquanto esse procedimento não equivale, propriamente, a um método de investigação. 6. Considerou-se, finalmente, que o autor enfatizou excessivamente os aspectos biográficos e compilatórios do tema, em detrimento dos aspectos críticos e da tomada de posição pessoal. Com base nas conclusões acima resumidas, os membros da Comissão concordaram unanimemente em aprovar a tese com a atribuição do conceito de Bom. Assinam Antônio Paim, Olinto Pegoraro e Vicente de Paulo Barretto. Eu Celina Junqueira, Diretora do Departamento de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, confirmo a presente cópia autêntica que assino. Rio de Janeiro, 11 de abril, 1975”.
[7] Provas claras desse patrulhamento foram recolhidas por Antônio Paim, no livro-denúncia organizado por ele em 1979, sob o título de: Liberdade acadêmica e opção totalitária – Um debate memorável (1ª edição, Rio de Janeiro: Artenova, 1979).
[8] LINS Monteiro de Barros, Ivan. História do Positivismo no Brasil. 2ª edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967.
[9] Cf. VÉLEZ RODRÍGUEZ, Ricardo. Oliveira Vianna e o papel modernizador do Estado Brasileiro. (Apresentação de Antônio Paim). Londrina: Editora da UEL, 1997.
[10] Cf. WEBER, Max. Economía y Sociedad. (Tradução ao espanhol a cargo de José Medina Echavarría et alii). México: Fondo de Cultura Económica, 1944, 4 volumes.
[11] Cf. PAIM, Antônio. A querela do estatismo. 1ª edição. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978. Cf. WITTFOGEL, Karl. Le despotisme oriental. (Trad. francesa de M. Pouteau). Paris: Minuit, 1977.
[12] Cf. VIANNA, Francisco José de Oliveira. Populações meridionais do Brasil. 1ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1920.
[13] Cf.  SCHWARTZMAN, Simon. Bases do autoritarismo brasileiro. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1982.
[14] Cf. SANTOS, Wanderley-Guilherme dos. Ordem burguesa e liberalismo político. São Paulo: Duas Cidades, 1978.
[15] Cf. PAIM, Antônio. História do Liberalismo brasileiro. 2ª edição revista e ampliada. São Paulo: LVM Editora, 2018.
[16] PAIM, Antônio e CARDIM, Carlos Henrique (coordenadores). Curso de Introdução ao Pensamento Político Brasileiro. Brasília: Universidade de Brasília – Decanato de Extensão, 1982, 13 volumes.
[17] Cf. VÉLEZ RODRÍGUEZ, Ricardo. A democracia liberal segundo Alexis de Tocqueville, São Paulo: Mandarim, 1998; Keynes: doutrina e crítica, São Paulo: Massao Ohno, 1999; Estado, cultura y sociedad en la América Latina, Bogotá: Universidad Central, 2000; O liberalismo francês – A tradição doutrinária e a sua influência no Brasil, Salvador-Bahia: Centro de Documentação do Pensam. Brasileiro, 2011, ed. digital http://www.cdpb.org.br/liberalismo_frances_velez.pdf
(consultado em 15/11/2011). Acerca da presença de Tocqueville na cultura brasileira, publiquei o ensaio intitulado: “Tocqueville au Brésil” (version portugais-français par Mª. Lúcia Vianna), in: La Revue Tocqueville, Presses de l´Université de Toronto, volume XX, nº 1(1999): pg. 147-176.
[18] Sobre a minha crítica, do ângulo liberal, à Teologia da Libertação, cf. da minha autoria: “Politischer Messianismus und Theologie der Befreiung”, in: HOFMANN, Rupert (organizador), Gottesreich und Revolution, Münster: Verlag Regensberg, 1987, pg. 57-73; “Teologia da Libertação e ideologia soviética”, in: Communio – Revista Internacional Católica de Cultura, vol. III, nº 14 (março-abril 1984): pg. 104-153; “Teologia da Libertação, Marxismo e Messianismo Político”, in: Communio – Revista Internacional Católica de Cultura, vol. XXVIII, nº 102 (abril-junho 2009), pg. 437-454.
[19] Cf. VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. “The Sociological Dimension of Drug Traffic in the Favelas of Rio de Janeiro”, in: Else R. P. VIEIRA (org. e introd.), City of God in Several Voices. Nottingham: CCCP, 2005, pg. 166-173; Da guerra à pacificação – A escolha colombiana, Campinas: Vide Editorial, 2010.
[20] Cf. VÉLEZ RODRÍGUEZ, Ricardo. Liberalismo y conservatismo en la América Latina, Bogotá: Tercer Mundo, 1978. Coleção “Biblioteca Universidad y Pueblo”.
[21]Cf. VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. Pensamento político brasileiro contemporâneo. (Apresentação de Araken Hipólito da Costa). Rio de Janeiro: Editora Revista Aeronáutica, 2012, Coleção Ensaios, 5.
[22] A posição do nosso autor encontra-se, notadamente, nos seus ensaios sobre educação, sociologia e política. Cf. SILVA, Vicente Ferreira da, Obras Completas, (prefácio de Miguel Reale), São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia, 1964, vol. II, pg. 433-492.
[23] Cf. CRIPPA, Adolpho. Mito e cultura, São Paulo: Convívio, 1975; (coordenador) As idéias políticas no Brasil, São Paulo: Convívio, 1979, 2 vol.; (organizador), Rumo ao terceiro milênio – Um projeto para o Brasil, Rio de Janeiro: Expressão e Cultura / Confederação das Associações Comerciais do Brasil (CACB), 1989; (organizador), Democracia e Desenvolvimento, São Paulo: Convívio, 1979..
[24] Cf. MERCADANTE, Paulo. A consciência conservadora no Brasil – Contribuição ao estudo da formação brasileira. 1ª edição, Rio de Janeiro: Saga, 1965; Tobias Barreto na cultura brasileira – Uma reavaliação, (introdução de Miguel Reale), São Paulo: Grijalbo, 1972 (em coautoria com Antônio Paim); Portugal – Ano zero, Rio de Janeiro: Artenova, 1975; Militares & Civis – A ética e o compromisso, Rio de Janeiro: Zahar, 1978; Graciliano Ramos – O manifesto do trágico, Rio de Janeiro: Topbooks, 1994; A coerência das incertezas – Símbolos e mitos na fenomenologia histórica luso-brasileira. (Introdução de Olavo de Carvalho). São Paulo: É realizações, 2001.
[25]Cf. Portal de Olavo de CARVALHO
As obras mais representativas deste autor, no terreno do pensamento político, são: Símbolos e Mitos no Filme "O Silêncio dos Inocentes". Rio de Janeiro: IAL & Stella Caymmi,1993; Os Gêneros Literários: Seus Fundamentos Metafísicos. Rio de Janeiro: IAL & Stella Caymmi, 1993. O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras. Rio de Janeiro: Faculdade da Cidade Editora e Academia Brasileira de Filosofia, 1996; O Futuro do Pensamento Brasileiro. Estudos sobre o Nosso Lugar no Mundo, Rio de Janeiro: Faculdade da Cidade Editora, 1998. A Longa Marcha da Vaca para o Brejo: O Imbecil Coletivo II. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
[26] Cf. RIOS, José Arthur. The University Student and Brazilian Society, Michigan State University: Latin American Studies Center, 1971. Social Transformation and Urbanization – The case of Rio de Janeiro, University of Winsconsin – Milwaukee: Center for Latin-American Studies, 1971; “Raízes do marxismo universitário”, In: Carta Mensal, Confederação Nacional do Comércio, Rio de Janeiro, vol. 45 (nº 538, janeiro 2000): pg. 39-59; Sociologia da corrupção, Rio de Janeiro: Zahar, 1987 (em coautoria com Celso Barroso LEITE e outros autores).
[27] VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. Tópicos especiais de filosofia moderna. Londrina: UEL / Juiz de Fora: EDUFJF, 1995.
[28] VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. Tópicos especiais de filosofia contemporânea. Londrina: UEL, 2001.
[29] VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. Luz nas trevas – Ensaios sobre o Iluminismo. Guarapari/Ex-Libris, 2007.
[30] CARVALHO, José Maurício de (organizador). Filosofia brasileira. Londrina: Edições Humanidades, 2003.
[31] As leituras para este seminário estavam contidas na seguinte antologia: VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo (organizador). Seminário sobre a filosofia dos mitos indígenas. Universidade Federal de Juiz de Fora – Departamento de Filosofia – Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos, 2004, 54 páginas.
[32] O Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, bem como o Portal Defesa, coordenados hoje pelo professor Expedito Carlos Stephani Bastos, são uma realização de inegável valor no terreno da pesquisa sobre Estratégia e História Militar. O Portal Defesa (www.ecsbdefesa.com.br) é mundialmente conhecido e projetou o nome da Universidade Federal de Juiz de Fora no plano internacional.
[33] Cf. PAIM, Antônio. O estudo do pensamento filosófico brasileiro. 1ª edição. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1979.
[34] Cf. PAIM, Antônio; PROTA, Leonardo; VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. Cidadania – O que todo cidadão precisa saber. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 2002. Coleção “Páginas Amarelas”, volume 39.
[35] Cf. PAIM, Antônio; PROTA, Leonardo; VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. Curso de Ciência Política. Londrina: Edições Humanidades, 2002, 5 volumes.

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