Chegou por fim a data de apresentação do réu Lula perante o tribunal presidido, em Curitiba, pelo juiz Sérgio Moro. Segui a divulgação, feita pela TV, dos vários blocos do depoimento de Lula. A conclusão que tirei é de que não adiantou o teatrinho de palanque para se furtar a cumprir com o que a lei manda. Lula teve de se submeter ao rito do processo. Durante 5 horas Lula prestou depoimento, perante o juiz Moro e, depois, perante os procuradores do Ministério Público.
O mundo não desabou sobre as nossas cabeças como faziam temer os vociferantes agentes do Lularápio, especialistas na ruidosa propaganda das ruas e nos tumultos que desencadeiam, corriqueiramente, onde quer que o chefete os conclame. Desta vez não deu certo a estratégia lulopetralha. Tiveram os áulicos de se conformarem com as ruas bloqueadas. A mortadela não foi suficiente para levar a Curitiba cem mil apoiadores do réu, como tinham programado os organizadores da claque. Contados grosso modo, chegaram, no máximo, a 10 mil pessoas cansadas após horas e horas de viagem paga pelo imposto sindical e tiveram de se manter distantes do cenário, forçados pelo dispositivo montado pela polícia militar do Paraná.
A impressão geral que tive após ouvir as declarações de Lula é a que sempre tive dele: um mau caráter que não vacila em jogar a água suja sobre os outros, sejam eles a sua finada mulher, os seus amigos sindicalistas, os seus parceiros de partido, os seus mais próximos colaboradores. Na hora do "pega para capar" o Lularápio se escafede e pendura a conta não paga no pescoço dos outros. Foi assim desde o início, desde quando o "agente boi", que serviu ao regime militar, se dispôs a ajudar a desmontar a estrutura do peleguismo varguista, gerando um novo tipo de pelego, o petista. Como dizia Brizola com a sua língua ferina, "Lula é a esquerda que a direita gosta".
Um mau caráter juramentado: nunca me enganei a respeito do indigitado. Lembro-me de que quando vim ao Brasil para fixar residência neste belo país, no início de 1979, em São Paulo, onde arranjei o meu primeiro emprego como pesquisador da Sociedade Brasileira de Cultura Convívio, na TV do hotelzinho "Nápoles", onde morei provisoriamente nos primeiros meses no bairro Santa Cecília, aparecia, no noticiário da noite, a figura do líder barbudo que comandou a famosa greve dos metalúrgicos, com aquele seu discurso repetitivo de língua presa, com o magnetismo que o fazia ser vitoriado enardecidamente pelas multidões. Eu pensava para mim: "Esse é um enganador". Trazia comigo a experiência das lutas sindicais das quais eu tinha participado em Medellín, como fundador do sindicato dos professores da Universidade Pontifícia Bolivariana.
Lula, desde o início, foi um delator sem-vergonha que odeia delatores. Ele quer a exclusividade da missão de entregar conhecidos e amigos. Ponto positivo para a Justiça e para a ordem pública no Brasil. O mito caiu por terra e a apresentação de Lula no tribunal é mais um capítulo da desconstrução do mito. Como diz Ortega, os mitos morrem de dentro para fora, não de fora para dentro. Lula desconstruiu-se a si próprio.
Lembrava nestes dias César Maia, no seu ex-blog, que Lula perdeu credibilidade ao mudar o discurso. De líder moralizador que encarnou a defesa incondicional do reino da virtude, o palanqueiro vestiu a personagem do político pragmático que se aproxima dos seus antigos inimigos, os odiados empresários, para lucrar com eles. Esse foi o início do fim. A sociedade não perdoa a mudança radical de personagem. Essa é a lição dada por François Guizot, o fundador da historiografia moderna na França na primeira metade do século XIX. Para esse autor, a chave do sucesso político consiste na fidelidade à personagem escolhida por parte do líder. Lula definha quando o que a sociedade busca é identidade de propósitos nos atores políticos. Ao pular fora do discurso moralizante para vestir a elástica camiseta do vendedor pragmático, o ator se descaracterizou.
Lembrava nestes dias César Maia, no seu ex-blog, que Lula perdeu credibilidade ao mudar o discurso. De líder moralizador que encarnou a defesa incondicional do reino da virtude, o palanqueiro vestiu a personagem do político pragmático que se aproxima dos seus antigos inimigos, os odiados empresários, para lucrar com eles. Esse foi o início do fim. A sociedade não perdoa a mudança radical de personagem. Essa é a lição dada por François Guizot, o fundador da historiografia moderna na França na primeira metade do século XIX. Para esse autor, a chave do sucesso político consiste na fidelidade à personagem escolhida por parte do líder. Lula definha quando o que a sociedade busca é identidade de propósitos nos atores políticos. Ao pular fora do discurso moralizante para vestir a elástica camiseta do vendedor pragmático, o ator se descaracterizou.
Em boa hora. Porque o Brasil está cansado do discurso lulista e da sem-vergonhice que fez afundar a maior estatal brasileira, que sufocou o nosso dia-a-dia com a volta da inflação, que não aguenta mais a desconstrução sem-vergonha das instituições republicanas num churrasco de fim de tarde de sindicalistas bêbados.
Ponto para o juiz Sérgio Moro - que deu, aliás, na sessão presidida por ele, uma bela lição de isenção da Magistratura - e para os procuradores do Ministério Público. Nem o juiz nem os procuradores se deixaram intimidar pelos delírios do réu nem pelos gritos da militância. Ponto para o atual governo que faz as reformas esperadas, em que pese os solavancos do clientelismo e da corrupção que teima em se esgueirar pelas frestas do compadrio sindical e político. Ponto para o Supremo Tribunal Federal que, na pessoa do ministro Fachin principalmente, abre a porta para a continuação da Operação Lava Jato. Esperamos dias melhores.
Ponto para o juiz Sérgio Moro - que deu, aliás, na sessão presidida por ele, uma bela lição de isenção da Magistratura - e para os procuradores do Ministério Público. Nem o juiz nem os procuradores se deixaram intimidar pelos delírios do réu nem pelos gritos da militância. Ponto para o atual governo que faz as reformas esperadas, em que pese os solavancos do clientelismo e da corrupção que teima em se esgueirar pelas frestas do compadrio sindical e político. Ponto para o Supremo Tribunal Federal que, na pessoa do ministro Fachin principalmente, abre a porta para a continuação da Operação Lava Jato. Esperamos dias melhores.
Parabéns, Professor! Ótima análise!
ResponderExcluirParabéns Ricardo!!! Palavras certeiras. Eu me envergonhei e me senti uma palhaça vendo a cara daquele sujeito malandro se fazendo de bobo.
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