Em face da magna tarefa de reestruturar as instituições brasileiras após o tsunami do desgoverno lulopetista, abrem-se duas alternativas: o caminho das reformas ou a da convocação de uma nova constituinte. A maior parte dos intelectuais e homens públicos que pensam o Brasil acolheu-se à primeira alternativa. Uma parcela menor elegeu a segunda.
Entre os defensores desta
última, aparecem vozes autorizadas como a do economista Roberto Giannetti da
Fonseca, presidente da Kaduna Consultoria e vice-chairman do Lide (Líderes
Empresariais). A propósito da proposta de fazer tudo de novo no que tange às
nossas instituições, mediante a convocação de uma Constituinte específica para
isso, escreve Giannetti da Fonseca: "A falência de um sistema político,
assim como de uma empresa, pressupõe a imediata mudança de sua administração e
a responsabilidade de seus acionistas. No caso do atual sistema político,
significa a imediata convocação, ainda em 2017, de uma Assembleia Constituinte
independente, com mandato parcial específico para promover a tão esperada
reforma política e a correção de erros históricos que todos sabemos existirem
de longa data, mas que até hoje fomos incapazes de corrigir. Torna-se
imperativo, na atual conjuntura, que seja uma Constituinte independente, com os
integrantes eleitos diretamente e impedidos de participar das eleições e de
ocupar cargos públicos até 2022, para se evitarem conflitos de interesses. E
que essa revisão seja de fato profunda e abrangente, a começar pela reforma da
estrutura político-partidária, de forma a reduzir o absurdo número de partidos
que hoje proliferam pelo País (...)". Incumbências dessa Assembleia também
seriam a redução da onerosa estrutura do Legislativo, a eliminação do foro
privilegiado, a adoção de um sistema de representação mais acorde com o nosso
modelo demográfico, a alteração da forma de nomeação dos integrantes dos
tribunais superiores, etc.
Entre os defensores da primeira
alternativa, identificada com o prosseguimento das reformas em curso no seio do
Congresso Nacional, está a grande maioria dos intelectuais e homens públicos
alheios ao messianismo lulopetista, que acreditam nos caminhos das reformas
efetivadas pelas instituições atuais, se alinhando a uma solução moderada
típica da nossa estrutura cultural. Já se manifestaram sobre isso o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o atual presidente Michel Temer e
altos funcionários do Estado como o Comandante do Exército, general Eduardo
Dias da Costa Vilas Bôas. Manifestaram-se nesse sentido também intelectuais
como Luiz Werneck Viana, Bolívar Lamounier, Denis Rosenfeld e muitos outros
entre os quais me incluo, bem como jornalistas da talha de José Nêumanne,
Eliane Cantanhêde, Vera Magalhães, Míriam Leitão, Dora Kramer, etc. Considero
honestamente que esse é o caminho a prosseguir por várias razões: em primeiro
lugar, porque nem tudo está contaminado pelo vírus das práticas corruptas,
tanto no seio do Parlamento quanto no interior da Magistratura ou dos quadros
administrativos que cercam o Executivo. Quando têm sido detectados e
devidamente denunciados pelo Ministério Público, na forma da lei, atores
marcados pelas práticas corruptas, têm sido postos de lado sem contemplações.
Reconheçamos que se trata de um caminho difícil que exige muita negociação e
paciência, com os altos e baixos dos debates parlamentares e das manifestações
da opinião pública. Mas essa saída tem dado testemunho de que as instituições
republicanas funcionam. Destaque-se o papel de negociador com o Congresso que
tem sido desempenhado a contento pelo Presidente Temer, profundo conhecedor do
meio parlamentar.
A respeito da premência das reformas que estão sendo efetivadas, o
general Vilas Bôas destacou a importância da variável ética a ser preservada,
como motor daquelas. A respeito, o alto oficial frisou na sua entrevista à
Revista Veja (26 de abril): “Considero importante que se dê a celeridade
possível ao julgamento dos casos, porque acho perigoso que as pessoas de bem
comecem a ficar descrentes, e às vezes até descrentes da democracia. Aí você
começa a abrir espaços para atalhos. O Brasil vai ter de se repactuar. E o
único parâmetro universal para que se faça isso é o princípio ético e moral. O
que me preocupa é que acho que não apareceu uma base de pensamento alternativa
nem uma base que propicie o surgimento de uma liderança”.
A respeito da confiança na
democracia brasileira e das expectativas com que são esperadas as reformas que
estão em andamento, escreveu a jornalista Eliane Cantanhêde: "Conforme
dizem empresários do campo e da cidade e confirmam embaixadores estrangeiros em
Brasília, a reforma da Previdência e os próximos três meses serão cruciais para
saber o que vai acontecer e o mundo apostar ou não suas fichas e investimentos
no Brasil. Aliás, esses embaixadores estão perplexos com a corrupção
descomunal, mas também com a força da democracia brasileira. Apesar de dois
anos de recessão, mais de 14 milhões de desempregados, a Lava Jato atingindo
oito ministros e dezenas de parlamentares e um dia inteiro de protestos e fogo
na TV, as instituições funcionam normalmente: o Executivo governa, o
Legislativo vota, o MP investiga, o Judiciário julga. Que país do mundo
enfrentaria todas essas crises simultâneas sem risco de ruptura, golpe,
implosão?"
Que as reformas em curso prossigam, notadamente aquela que foi
preconizada pelo Debate Estadão e que foi sintetizada nestes termos por
editorial deste jornal: “(...) a chamada cláusula de barreira, ou de
desempenho, destinada a restringir o acesso a recursos públicos diretos, como
os do Fundo Partidário, ou indiretos, como aqueles que patrocinam na mídia
eletrônica o horário eleitoral dito gratuito (...)”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário