Foi-se embora o cardeal emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016). Ao longo dos anos que tenho passado neste pais, primeiro como estudante de pós-graduação e, depois, como professor universitário e pesquisador, tenho criticado Dom Paulo como um dos incentivadores da Teologia da Libertação, aquela variante do messianismo político que misturou religião e política, nos anos sessenta a oitenta do século passado, jogando no colo de religiões evangélicas e cultos afro-brasileiros, montes de católicos que ficaram descontentes com o clericalismo de esquerda e que não encontravam mais refúgio no seio da Igreja Católica. As missas, na São Paulo da décadas de 70 e 80, viraram assembleias sindicais. Mudei de ponto de vista em face desse fato? Não. Ainda sou crítico frontal da Teologia da Libertação.
Cumpro, no entanto, com um dever de justiça, ao lembrar o legado positivo de Dom Paulo Evaristo, em duas circunstâncias protagonizadas por pessoas ligadas ao clero e que, no seio da própria Igreja Católica, passaram a ser consideradas como "sobrantes", ou "figuras cinzentas" que não são enxergadas. Refiro-me, especificamente, ao caso de dois ex-padres, meus amigos, que em Dom Paulo encontraram um autêntico pastor de almas.
Um deles, já falecido, amigo do peito, que partiu no início deste ano que levou embora outras figuras amáveis como o poeta Ferreira Gullar, tinha por Dom Paulo uma autêntica amizade. Refiro-me a Leonardo Prota (1930-2016), com quem fundei, junto com o mestre Antônio Paim, nos anos oitenta, o Instituto de Humanidades, a partir do qual, com o incentivo constante de Leonardo, elaboramos vários cursos de humanidades para preencher a lacuna deixada, no nosso país, pela cultura positivista na área das ciências humanas.
Leonardo deixou o sacerdócio que exercia no seio de uma congregação religiosa dedicada à educação e teve dificuldades para ver aprovada, pelo Vaticano, a sua escolha. Dedicou-se à docência, tarefa na qual foi um exímio profissional até a morte. Embora não comungasse com as teses sociais de Dom Paulo, o amigo Leonardo encontrou nele a figura de um pastor que o escutou e lhe tendeu a mão, a fim de ajuda-lo a efetivar a sua desvinculação da congregação à qual pertencia. O auxílio de dom Paulo foi definitivo para que o meu amigo pudesse continuar com a sua carreira docente, sem se afastar da Igreja Católica.
Leonardo deixou o sacerdócio que exercia no seio de uma congregação religiosa dedicada à educação e teve dificuldades para ver aprovada, pelo Vaticano, a sua escolha. Dedicou-se à docência, tarefa na qual foi um exímio profissional até a morte. Embora não comungasse com as teses sociais de Dom Paulo, o amigo Leonardo encontrou nele a figura de um pastor que o escutou e lhe tendeu a mão, a fim de ajuda-lo a efetivar a sua desvinculação da congregação à qual pertencia. O auxílio de dom Paulo foi definitivo para que o meu amigo pudesse continuar com a sua carreira docente, sem se afastar da Igreja Católica.
Outro amigo, em Minas Gerais, teve experiência semelhante. Membro de uma tradicional ordem religiosa, pertencente à alta hierarquia da mesma e tendo-se afastado dela, passou a sobreviver, no Rio de Janeiro, prestando os seus serviços como tradutor de importante Instituto Técnico do Ministério de Indústria e Comércio. Os superiores da Ordem, a partir de contatos com dirigentes do mencionado Ministério, conseguiram que o meu amigo fosse expulso do Instituto. Ele enfrentou, então, dificuldades para pagar as contas da família. Contou-me, angustiado, a sua experiência e aconselhei-o para que entrasse em contato com Dom Paulo Evaristo, levando em consideração a experiência do Leonardo. Célere, o cardeal acolheu esse meu amigo desempregado, agilizou no Vaticano o respectivo processo e, após alguns meses, conseguiu se inserir com tranquilidade na vida civil, passando a exercer funções como docente universitário concursado.
Duas breves experiências que revelam o viés humano e pastoral de Dom Paulo Evaristo. Sob esse ângulo, o finado pastor engrandeceu a Arquidiocese de São Paulo. O seu testemunho, somado ao da irmã, a doutora Zilda Arns, já falecida, engrandece o painel de uma família brasileira que deixou bela lição de caridade cristã.
Pela ajuda não só caridosa como humanitária de D. Arns merece todo respeito e consideração. Por que muito amou...
ResponderExcluirObrigado pelo teu comentário, caro Selvino. Abraço grande e Feliz Natal e Ano Novo para você e família.
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