Da esq. para a dir.: o presidente colombiano Juan Manuel Santos, o presidente cubano Raúl Castro e o chefe das FARC, "Timochenko". |
Santos não fez um levantamento aprofundado dos
imensos recursos financeiros em poder das FARC.
No Brasil não se entendeu bem o índice
exigido no plebiscito de domingo na Colômbia, de 13% dos votantes. É que lá o
voto não é obrigatório. Dessa forma, o acordo de paz seria aprovado, ou
rejeitado, se alguma das opções ultrapassasse esse limite, que corresponde a
4,5 milhões de votantes, dentre os 34 milhões que poderiam fazê-lo.
Votaram efetivamente 13 milhões de colombianos. A abstenção foi grande: 62,57%. Eu torcia
sinceramente para que a Colômbia ultrapassasse esse limite da guerra interna,
que já dura meio século, e para que as vítimas desse conflito tivessem as
indenizações justas. Ponto importante era – e ficou faltando – que a comissão
de verificação observasse se, realmente, estavam sendo colocados sobre a mesa
todos os recursos que as FARC possuem, para que com eles se pagassem as
indenizações às vítimas. O ponto fraco observado pelos opositores ao tratado de paz consistia nas penas muito fracas assinaladas para os guerrilheiros, sendo que muitos deles cometeram crimes gravíssimos. Como ficariam, perguntava o presidente Uribe, os presos que pagam condenas por delitos menores? Será que eles são piores que os guerrilheiros das FARC contemplados com penas muito menores?
O resultado das urnas foi, como se
sabe, negativo. É que o processo de paz colombiano foi fruto do açodamento de
Santos para capitalizar politicamente os louros da pacificação. E, em
decorrência disso, o atual presidente cedeu demais às FARC, uma
verdadeira ORCRIM de lavagem de dólares e de produção e comercialização de
cocaína, além das tradicionais atividades delitivas praticadas durante décadas, de
sequestro e chantagem contra os cidadãos e o Estado.
O processo de pacificação era
necessário e a ele apontava a política traçada por Uribe nos primórdios da
reação do Estado colombiano contra o poder do crime organizado, lá por volta de
2002. O primeiro passo, de derrota militar das FARC e eficaz eliminação dos suas
cabeças, foi conseguido no longo período que se estende entre 2002 e 2014. Uribe
foi o arquiteto dessa estratégia. No contexto dela se deu a modernização das
Forças Armadas, que de 130 mil conscritos inexperientes passaram a 400 mil
homens profissionalizados e bem armados. Isso ficou e será fundamental nos
próximos passos. Gozado que o número de militares coincide, mais ou menos, com
os aproximadamente 300 mil mortos pela guerra nessa fase.
Santos, a meu ver, cedeu demais na
ânsia de que, ainda no seu governo, fosse assinado o Tratado de Paz. Santos foi
importante como Ministro de Defesa de Uribe e executor da estratégia por ele
traçada. Mas falhou nas negociações, que deveriam ter tido representantes do
grupo uribista, que dizia coisas sensatas. Este grupo, embora importante, ficou
do lado de fora por pressão do governo atual. Algo semelhante se pode dizer dos
grandes grêmios econômicos, que congregam os industriais e os empresários
colombianos em geral. Eles ficaram sub-representados na Comissão de Negociação.
Principal falha do governo Santos: não
fez um levantamento aprofundado dos imensos recursos financeiros em poder das
FARC. Não percorreu “o caminho do dinheiro” dos meliantes, como dizem os
promotores do Ministério Público brasileiro em relação à Lava Jato. Moral da
história: a sociedade colombiana ficou com a pulga atrás da orelha. E os
militares também. Necessariamente deverá haver uma correção de rumo do Tratado,
após o resultado das urnas de domingo passado. Vamos a ver como as coisas
evoluem. E o Brasil em tudo isso? Ausência olímpica. Ruim. Era necessário fazer
um balanço da situação, a fim de ajudar no processo.
Ficou clara uma coisa: os grandes
centros urbanos colombianos votaram Não, ao passo que as áreas mais distantes
(Pacífico, Costa Atlântica, região Sul, onde tradicionalmente se refugiaram as
FARC) votaram Sim. Tanto as FARC quanto o Governo deixaram claro que, apesar do
resultado negativo do pleito, optam por continuar negociando a paz. Ponto
positivo.
O diálogo deverá ser retomado,
revisando as questões nebulosas, como a da responsabilidade dos mandantes de
crimes contra a Humanidade. Acho que um ponto negativo das negociações foi o
fato de estas terem se desenvolvido em Havana, tradicionalmente um centro
favorável às FARC. Deveria ter sido escolhido outro lugar.
Com a palavra, agora, os que comandaram a campanha
pelo Não, em cuja cabeça está o ex-presidente Uribe (que teve o mérito de
submeter militarmente as FARC). “Para problemas difíceis, soluções difíceis”.
Esse parece ser, hoje, o caso colombiano. O diálogo é importante hoje, mais do
que nunca. O Brasil que derrubou Dilma e que colocou Lula no banco dos réus,
pode ajudar muito nesta conjuntura. A negociação da paz não pode parar no país
vizinho, que já sofreu demais com a guerra.
Barbaridade,63%? Que decepção povo colombiano! Segundo, açodamento por populismo, demagogia é corrupção na veia. Afinal, se as Farc se livram de uma auditoria por "açodamento pela paz" essa grana ficaria com quem?
ResponderExcluirA Lava Jato nos ensina que ficaria com o trio que está à frente dessa aliança espúria pela paz açodada ( essa vai pegar, Vélez!): Havana, FARC e Santos! Se bobear ainda sobrará alguma pro Lula, he, he,he...
MAM
Cenário complicado, Marcos. Mas acho que vão chegar a definir uma pacificação mais firme no decorrer de dois ou três anos. Afinal de contas, para uma guerra que durava meio século, esse novo prazo não é tempo demais....
ExcluirObrigado, Professor Ricardo. Foi muito esclarecedor.
ResponderExcluirObrigado, Selvino, pelo teu comentário!
ResponderExcluirEu fiquei particularmente mal impressionado com a cessão de 10 cadeiras no parlamento sem voto para representantes das FARC. Por que? Quem deseja participar do sistema político comece fazendo política e pleiteando votos, não ganhando "cota" de assentos no poder legislativo. Representatividade presumida? Não faz sentido para mim.
ResponderExcluirExcelente crítica, caro Batista. Obrigado!
ExcluirConcordo, infelizmente....
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