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terça-feira, 7 de julho de 2015

ANTÔNIO PAIM - NA FRANÇA, OS PRÓPRIOS MUÇULMANOS MOBILIZAM-SE CONTRA OS RADICAIS

 
Na França, o Ministro do Interior acumula a função de Ministro dos Cultos. Quando ocupou o cargo (entre maio de 2002 e março de 2004)), Nicolas Sarkozy constatou que --ao contrário do que ocorria em relação a judeus e cristãos-- os muçulmanos careciam de órgão representativo com o qual se entendesse o governo nas questões jurídicas e administrativas relacionadas aos respectivos grupos sociais. À vista disto, criou o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM).

       Presentemente, na França, estima-se (o Censo não registra a religião dos recenseados) que os muçulmanos correspondam aproximadamente a seis milhões de pessoas, equivalentes a cerca de 10% da população (66 milhões). Assinale-se que parcela substancial desse contingente é constituída de emigrantes das antigas colônias  situadas no Norte da África (Marrocos, Tunísia, Mali e Argélia) que, na maioria dos casos adotam a cultura francesa e criam os descendentes tratando de integrá-los.. Nessa circunstância, o CFCM segue uma linha que o distancia do islamismo fundamentalista e radical, sem embargo de que marquem presença no país e cometam atentados terroristas hediondos, a exemplo do assassinato dos jornalistas do periódico humorista Charlô. Por sua vez, o governo força essa integração, revestindo-se do poder de cassar cidadania e expulsar radicais tão logo sejam identificados. Emblemático da política de integração é a proibição de sinais exteriores que distingam os muçulmanos do comum da pessoas, a exemplo do uso da burka.

      Le Figaro (edição de 2/06/2015) dá grande destaque a livro do reitor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur --Letre ouverte aux Français (Editions Kero)-- que vem de exercer o mandato de Presidente do mencionado Conselho (CFCM). De certa forma, pareceu-nos que complementa a interpretação de Ayaan Hirtsi Ali, que tivemos oportunidade de comentar, de que já dispomos de tradução brasileira, a cargo da Companhia das Letras.

      Dalil Boubakeur responsabiliza diretamente a Arábia Saudita pela difusão do islamismo radical. Diz expressamente que “impõe sua visão graças a seu petróleo”. Na França, é identificado como salafismo. A linha que preconiza consiste em não deixar apenas nas mãos do Estado a incumbência de combatê-los.

      De forma prática, o Conselho Francês do Culto Muçulmano estimula a criação de órgãos regionais aptos a assumir essa linha do mesmo modo que mesquitas mais representativas. Na edição que estamos seguindo são apontados vários exemplos, que em síntese referimos a seguir.

      Na visão do imã de Alfortvisse, Abdelali Mamoun, “não se trata de fechar as mesquitas mas de desembaraçar as associações mantenedoras de malfeitores que se incumbem de difundir o ódio.” O reitor da grande mesquita de Lyon, Kamel Kabtane, por sua vez, ao comentar a reação contrária aos acontecimentos do mês de janeiro (assassinato dos jornalistas antes referido), adverte: não se deve  condenar as comunidades em seu conjunto, cabendo reconhecer que, dada a enormidade da tarefa, “não podemos agir sozinhos. Temos necessidade do Estado.”

      O Presidente do Conselho Regional do Culto Muçulmano de Rhones-Alpes, Abdelikader Laid Bendidi destaca a importância da vitória jurídica alcançada pela Mesquita de Oullins, apoiada pela CRCM, contra iman auto proclamado, ao mesmo tempo em que chama a atenção para a necessidade de manter-se vigilantes contra os salafistas.

         Le Figaro registra a opinião do padre Christophe Roucou,  que considera “bom conhecedor do assunto”, encarregado das relações da Igreja Católica com as entidades islamitas: “O problema é o contraste entre a lentidão institucional das instâncias muçulmanas e a urgência dos acontecimentos. As jovens gerações, sensíveis a esse distanciamento, perdem a confiança. Quanto aos radicais, afastam-se das mesquitas. Será necessário esperar uma geração para superar esses distanciamentos.”


         Por fim, o jornal destaca a atuação do Ministro do Interior e dos Cultos, Bernard Cazeneuve. Este enfatiza que o Estado é inflexível contra os pregadores do ódio religioso. Declara: “os incitadores do ódio não são tolerados”. Indica que, desde 2012, quarenta imans foram expulsos e vinte deles são objeto de instrução que terminará por expulsá-los.

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