.
A
chamada geração de 98 não foi um
fenômeno cultural restrito à Espanha. Houve, também, portugueses que participaram
de movimento de idéias semelhante. Um deles foi, sem dúvida, Sampaio Bruno
(1857-1915), espírito liberal e anti-positivista convicto. O mais importante
representante português da geração de 98 seria, no entanto, Fidelino de
Figueiredo (1888-1967). Um representante tardio, influenciado especialmente por
Miguel de Unamuno (1864-1936).
Os
traços marcantes dessa geração em Portugal lembram como, aliás, aconteceu
também com a sua correspondente
espanhola, o movimento de idéias de 70. Em Portugal, esse movimento centrou-se
nas famosas Conferências do Cassino,
nas quais Antero de Quental (1842-1891) pôs a nu a negativa herança do
absolutismo luso, portador, como diria mais tarde o próprio Fidelino de
Figueiredo, de tacanha alfândega cultural,
que fechou o país à ciência moderna e à democracia.
A
geração de 98 espanhola filiou-se,
também, a essa herança liberal de crítica às arcaicas instituições, que Azorín
qualificou genericamente como lo viejo.
O que é isso? Escutemos o próprio Azorín, no seu famoso artigo de 10 de
fevereiro de 1913, publicado no jornal ABC:
"Lo viejo (...) es lo que no ha tenido nunca consistencia de realidad, o
lo que habiéndola tenido un momento, ha dejado de tenerla para ajarse y
carcomerse. Lo viejo son también las
prácticas viciosas de nuestra política, las corruptelas administrativas, la
incompetencia, el chanchullo, el nepotismo, el caciquismo, la verborrea, el mañana, la trapacería parlamentaria, el
atraco en forma de discurso grandilocuente, las conveniencias políticas que hacen desviarse de su marcha a los
espíritus bien inclinados, las elecciones falseadas, los consejos y cargos de
grandes Compañías puestos en manos de personajes influyentes, los engranajes
burocráticos inútiles, todo el denso e irrompible ambiente, en fin, contra el
cual ha protestado la generación de 1898, pero cuya protesta ha sido preparada,
elaborada, hecha inevitable por la crítica de la generación anterior".
Miguel
de Unamuno destacou-se como o abandeirado da liberdade da geração de 98. O
exílio em Madri, a que foi submetido Fidelino de Figueiredo por causa do seu
espírito liberal, permitiu-lhe conhecer a obra do pensador espanhol, com quem
desenvolveu ampla correspondência, tendo recebido dele, sem dúvida, a
inspiração para a sua concepção agônica da existência, bem como a feição de sentidor que caracteriza a sua autobiografia
interna. Da sua estada em Madri e da influência ali recebida de Unamuno,
Fidelino de Figueiredo trouxe, como destacou com propriedade António Quadros,
no verbete que lhe dedicou na Enciclopédia
Lógos, "(...) além de diversos trabalhos sobre a cultura do país
vizinho, o livro As duas Espanhas
(1931), onde concluía haver na essência
da civilização hispânica um princípio de luta, constituído pela oposição
permanente entre a variedade centrífuga
e a unificação centrípeta, entre a
heterodoxia e o filipismo. Profeta (pois a guerra civil só estalaria alguns
anos mais tarde), Fidelino de Figueiredo analisa as duas Espanhas inconciliáveis, mas indispensáveis uma à outra, como
as duas metades duma concha bivalve, apontando que do seu encontro e permanente estado de guerra é que chispa a criação
espanhola, nacionalmente espanhola, e acentuando, aliás, que Portugal, pelo
mar arredado para sempre da massa
continental ibérica, país atlântico (...) não forma parte de nenhuma das duas
Espanhas".
O
objetivo deste trabalho é simples: traçar, à maneira unamuniana, a biografia interior de Fidelino de
Figueiredo. Para cumprir com essa meta, quatro pontos serão desenvolvidos: 1)
alguns dados da sua vida intelectual; 2) aspectos da infância e da primeira
formação na escola; 3) sensibilidade estética e 4) a sua valorização da
amizade.
1) Alguns dados da vida intelectual de Fidelino Figueiredo
Fidelino
de Souza Figueiredo nasceu em Lisboa em 1888 e morreu na mesma cidade em 1967.
Desde muito cedo travou relação com as mais importantes figuras do mundo
literário português e estrangeiro, como testemunha a sua copiosa
correspondência. A sua vinculação intelectual ao Brasil é temprana. Já em 1913,
como se deduz de sua correspondência com Max Fleuiss, Secretário Perpétuo do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro[1],
ingressava nessa instituição. A candidatura do escritor foi proposta nesse ano
a 22 de abril, sendo relator Augusto Olympio Viveiros de Castro. O Comissário
Especial em Lisboa do Instituto, Victor Ribeiro, foi quem redigiu a proposta
favorável a Fidelino Figueiredo e obteve o apoio do Secretário Perpétuo, Max
Fleuiss, de Sebastião de Vasconcellos Galvão e de Pedro Bueno Souto Maior. As
vagas de sócios correspondentes foram preenchidas, além de Fidelino, pelos
escritores David de Mello López, Pedro de Azeredo e John Casper Branner.
Fidelino Figueiredo tinha anteriormente solicitado o seu ingresso no Instituto,
em maio de 1912, em carta dirigida a Max Fleuiss, que acompanhou de dois
escritos seus: O espírito histórico e
A crítica literária em Portugal.[2]
Um
período importante na evolução intelectual de Fidelino de Figueiredo é marcado
pela sua permanência na Espanha, entre 1927 e 1929, a partir do seu desterro de
Portugal, motivado pelo sectarismo político então reinante. Julio García
Morejón salienta assim as origens do profundo hispanismo que desde cedo
empolgou a Fidelino: "El hispanismo de Fidelino de Figueiredo oculta
hondas raíces. Discípulo de los historiadores
y críticos que arrancan de la renovación ejercida por Menéndez y Pelayo, fué el
primer heraldo en Portugal de los avances para la Junta de Ampliación de
Estudios, cuyo funcionamiento fué a estudiar a Madrid en 1913, y de la que dijo
que significaba uma nova era na história
da Espanha culta, porque iniciou a renovação intelectual deste país. No
sabemos si antes de 1913 se le ofreció ocasión de establecer contactos
estrechos con esta cultura, lo que nos obliga a situar al rededor de dos fechas
su quehacer y su entusiasmo hispánico. Una, la citada en 1913, momento en que
recoge las ideas que lanzan al terreno de la cultura hombres extraordinarios,
como don Ramón Menéndez Pidal, Ramón y Cajal y Rafael Altamira, entre otros; y
otra, la de 1927, fecha en que, merced a avatares políticos, se refugia en
Madrid, hasta el mes de julio de 1929, en que termina su exilio".[3]
Em
Madri foi professor de literatura portuguesa e espanhola na Universidade
Central.[4]
Julio García Morejón refere assim a entrada de Fidelino de Figueiredo na
Espanha e a sua motivação: "En 1927 (...) entra Fidelino de Figueiredo en
España, tras una dolorosa romería por las colonias de Portugal localizadas en
el Africa occidental. Llega a
Bordeaux y el profesor Cirot le invita a ir a París. El ensayista portugués le
responde lo que, en situación semejante, acaba de responder don Miguel de
Unamuno a la llamada de amigos franceses, y se instala en Madrid, desde donde
le será más fácil sentir el pulso de su Patria, el sonido de la otra campana
ibérica. Sus primeras agonías las
colecciona en uno de sus mejores libros, que tiene mucho de nivola unamuniana y que nos lleva hasta
el contradictorio escritor vasco desde el título: Um colecionador de angústias".[5]
O
fato de ter saído desterrado da sua pátria, por motivos de sectarismo político,
condicionará fortemente a feição antipartidista da sua obra intelectual.
Fidelino insistirá, até o final da sua vida, na necessidade de o intelectual
superar os estreitos limites dos condicionamentos partidários. E criticará
severamente a obra dos intelectuais engajados no sectarismo político, como
Teófilo Braga, por exemplo.
Na
primavera de 1931 Fidelino de Figueiredo faz a sua primeira viagem aos Estados
Unidos. Na Stanford University pronunciou uma memorável conferência sobre a
interpretação da história espanhola. De volta a Portugal, desenvolveu essa
análise em livro que foi a base das três preleções que proferiu no Instituto de
Altos Estudos, da Academia das Ciências (à qual pertenceu durante trinta anos),
em janeiro de 1932. A sua obra As duas
Espanhas[6]
constitui uma das mais profundas análises da história cultural da Espanha.
Em
1936, Fidelino faz a sua segunda viagem aos Estados Unidos. Numa série de
conferências que pronunciou na Columbia University de Nova Iorque, o autor
"ampliou a sua visão do caráter espanhol num estudo comparativo das
literaturas espanhola e portuguesa" [7],
que constituiu a sua obra Pyrenne .[8]
Em
1942, Fidelino de Figueiredo ingressa na Academia Brasileira de Letras. Manuel
Bandeira, grande amigo do escritor português, relata a forma em que aconteceu o
ingresso de Fidelino na Academia, em carta dirigida a ele. Eis o relato do
poeta, carregado de humor brasileiro: "Minha querida vítima: Desde o caso
da eleição do Leitão me sinto envergonhado diante do meu excelente mestre
Fidelino. Também jurei que nunca mais exporia um amigo ao aborrecimento de se
ver preterido por um leitão no conceito de uma trompa de cavalos. Foi por isso
que não ousei apresentar o seu nome na eleição passada, na qual não teve
competidor o Egas Monis, proposto pelo Aloísio de Castro. Desta vez o principal
responsável pela sua candidatura foi o Alceu (Amoroso Lima). Fidelino teve por
competidor, apresentado pelo Roquette Pinto, o Mendes Correia. Não se pediu
voto a ninguém e, francamente, eu não esperava que o seu nome fosse o
escolhido. Na discussão do parecer da comissão informadora o padre Serafim, com
aquele ar pouquíssimo jesuíta de ex-seringueiro da Amazônia, provocou uma
verdadeira tempestade pronunciando umas quatro palavras em que dizia não poder
compreender que se estabelecesse comparação entre o grande Fidelino e o Mendes
Correia (...). O Roquette Pinto aparteou, o Gustavo Barroso começou a desacatar
o padre, eu aparteava, o Clementino chamou o Barroso de intolerante, o outro
quis brigar, eu aparteava, o Barroso respondeu muito academicamente vá lamber sabão, que beleza! E na sessão
seguinte, já encerrada a discussão, apareceu o Ribeiro Couto, com cara de quem
não quer nada, lendo no expediente trechos de um artigo racista do Mendes
Correia... Quando dei por mim, estava eleito o meu querido amigo e mestre
Fidelino...”. [9]
Fidelino
de Figueiredo entregou treze anos da sua maturidade intelectual ao Brasil,
entre 1938 e 1951. Esse fato reveste capital importância, pois foi profunda a
marca que deixou aqui, particularmente na USP, onde dirigiu a cadeira de
Literatura Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Teve
discípulos eminentes como o professor Antônio Soares Amora, que casou com a
filha de Fidelino, dona Helena, e sucedeu o mestre na direção da cadeira de
Literatura Portuguesa. Vale a pena mencionar o extraordinário projeto que o
sucessor cultural de Fidelino de Figueiredo no Brasil adiantou, quando esteve à
frente da Fundação Padre Anchieta em São Paulo, no terreno do ensino secundário
à distância. Refiro-me ao Telecurso
Segundo Grau, que foi desenvolvido em colaboração com a Fundação Roberto
Marinho. Essa realização insere-se, sem dúvida, dentro do espírito do mestre
português que, reconhecendo a crise do
ensino institucional, mostrou-se muito simpático diante das idéias renovadoras
no terreno educacional. Foi notável, por exemplo, o seu entusiasmo diante de
uma iniciativa renovadora como a Institución Libre de Enseñanza, inspirada na
Espanha por Francisco Giner de los Ríos [10].
Outros discípulos de renome de Fidelino de Figueiredo no Brasil são os
professores Segismundo Spina e Massaud Moisés. Este último desenvolveu
meritório trabalho de difusão das letras portuguesas, como titular da cadeira
de Literatura Portuguesa e como diretor do Centro de Estudos Portugueses da
USP. [11]
Fato
importante das relações intelectuais e humanas de Fidelino com o Brasil, foi a
doação da sua correspondência passiva ao Centro de Estudos Portugueses da USP.
Nos seus últimos anos em Lisboa, Fidelino teve a idéia de queimar a sua
correspondência passiva. Segundo testemunho do professor Soares Amora [12],
a tentativa foi simplesmente fruto do cansaço e da própria doença que o
afetava. "Ele queria simplificar as coisas, devido à mudança de
residência", frisa o professor Amora. A filha do escritor, dona Helena, e
o professor Amora contribuíram para salvar da destruição esse valioso acervo,
cuja sistematização foi feita por Herti Hoeppner Ferreira, com a colaboração
deles.
Em
relação aos motivos que levaram Fidelino a pensar em destruir a correspondência
passiva, Herti Hoeppner dá o seguinte testemunho: "Esta correspondência
(...) tem uma história que é necessário
resumidamente relatar: um dia, na sua quinta, em Covas de Ferro (Portugal),
Fidelino de Figueiredo resolveu fazer uma seleção destes velhos escritos.
Releu-os, e nesta altura -- diz ele
-- a
emoção do contraste entre o que de mim presumiam os amigos e o pouquíssimo que
fui, perturbou-me tanto, que numa fúria destruí grandes maços de cartas.
Agravou a situação o despertar de recordações amargas. Então salvou o restante
minha filha Helena, levando-o para São Paulo. Eu havia guardado aquilo, não por
vaidade, mas por gratidão e respeito pelos signatários".[13]
Segundo
a organizadora da correspondência passiva de Fidelino de Figueiredo, várias
razões o levaram a doá-la ao Brasil: "(...) aqui vivem os descendentes da
família, os continuadores de seu trabalho; aqui se prolonga a história e a
língua da terra de nascimento; aqui se encerrou sua longa e notável carreira
universitária, depois de treze anos na direção da cadeira de Literatura
Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (...)". [14]
A
correspondência passiva de Fidelino de Figueiredo consta de 11.500 espécies [15]
e o catálogo completo foi publicado na obra de Julio García Morejón, Dos coleccionadores de angustias [16].
As cartas começam em 1907 e vêm até 1964, segundo Herti Hoeppner Ferreira. [17] Olhando um pouco ao acaso o acervo epistolar,
achamos cartas de Amado Alonso, Dámaso Alonso, Rafael Altamira, Fernando de
Azevedo, Manuel Bandeira, Gustavo Barroso, Roger Bastide, Clóvis Bevilacqua,
Adolfo Bonilla y San Martín, Pedro Calmon, Francisco Campos, Joaquim de
Carvalho, Joaquim Montezuma de Carvalho, Ronald de Carvalho, Luís da Câmara
Cascudo, Américo Castro, Hernani Cidade, Alexandre Correia, João Cruz Costa, Afrânio
Coutinho, Benedetto Croce, John Dewey, Guillermo Díaz-Plaja, Georges Duhamel,
Jackson de Figueiredo, Leonel Franca, Gilberto Freyre, José Ingenieros, Dom
Manuel II de Orléans e Bragança, Oliveira Martins, Ramón Menéndez Pidal,
Gabriela Mistral, José María Ots Capdequí, Armando Correia Pacheco, Francisco
Miró Quesada, Francisco Romero, João de Scantimburgo Filho, Miguel de Unamuno,
Pedro Henríquez Ureña,, Washington Luís, Alceu Amoroso Lima, Manuel de Oliveira
Lima, etc.
Como
se pode observar a partir dessa simples enumeração de nomes, bem como do
conteúdo das cartas, duas características deduzem-se da correspondência passiva
de Fidelino de Figueiredo: o seu universalismo intelectual, que o levou a
manter diálogo constante com espíritos das mais diferentes tendências e o seu
profundo humanismo, sempre presente na sua preocupação pelos problemas que
afetam o sentido da vida humana.
Organizar
uma correspondência tão ampla e tão variada não foi trabalho fácil, conforme
confessa Herti Hoeppner Ferreira: "Para inventariar as espécies foi
preciso, naturalmente, decifrar assinaturas, em sua maioria desconhecidas para
mim; mas nessa árdua e às vezes impossível tarefa colaborou, com dedicação e
amor, Helena de Figueiredo e Amora. Muitos escritores ela conheceu na intimidade
do pai em Lisboa; de outros ficaram-lhe na memória os nomes ouvidos em
comentários de família. Assim, neste meu trabalho, sua cooperação foi
inestimável. A ela meus agradecimentos".[18]
A
biblioteca de Fidelino, embora ele quisesse doá-la à USP, terminou sendo doada
à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que em outubro de 1979
formalizou o recebimento, a fim de abrir a sala Fidelino de Figueiredo, junto à sala Leite de Vasconcellos (em memória do grande filólogo português,
mestre de Fidelino). Por motivos burocráticos tornou-se impossível a almejada
doação da biblioteca de Fidelino à USP. A família conservou zelosamente essa
biblioteca, integrada por 25 mil livros, entre os quais figuram todos os
escritos publicados pelo autor. [19]
Salientemos,
para terminar esta primeira parte, duas apreciações sobre a obra e os últimos
anos de Fidelino de Figueiredo. Segundo o professor Soares Amora, a obra do
pensador português pode-se dividir em duas grandes partes: de cunho literário
ou de crítica literária, e de cunho filosófico no sentido amplo, quer dizer, no
sentido de uma reflexão em maior profundidade sobre a problemática humana, sem
maiores pretensões de sistematização.
Para
Soares Amora, Fidelino de Figueiredo foi um pensador oitocentista. Tanto a sua
concepção um pouco conservadora do liberalismo político, quanto a sua percepção
da realidade social e a preocupação por reivindicar uma dimensão espiritualista
do agir político, são manifestações desse espírito, que coloca a obra
figueirediana numa dimensão muito próxima daquela de Alexandre Herculano. Outro
elemento de semelhança com Herculano é a visão crítica que Fidelino tem em
relação ao homem na sociedade, baseada numa crítica à preterição dos valores
espirituais. [20]
Antônio
Soares Amora salientou a importância que teve a figura de Antero de Quental na
obra de Fidelino de Figueiredo. A raiz da reflexão figueirediana sobre a morte,
que a partir da década de 40 irá se aprofundando progressivamente na sua obra,
é decorrente desse influxo de Antero, cuja obra foi, aliás, profundamente
conhecida pelo nosso autor. Dois fatos iriam se somar, posteriormente, na
década de 50, a essa preocupação de origem anteriana pela morte: a doença
incurável que o atacou (paralisia progressiva, que lhe impedia inicialmente caminhar
e que, nos últimos anos, dificultou-lhe até a fala) e a morte de uma das suas
filhas em São Paulo. Provavelmente, segundo Soares Amora, esses fatos, bem como
o influxo de Antero, foram responsáveis por essa vertente de pensamento de
Fidelino de Figueiredo. [21]
Mesmo
na doença, Fidelino continuou a se comunicar com os seus amigos e recebendo
deles o apoio moral que tanto valorizava o ilustre mestre. Uma prova disso,
entre muitas, é a carta que em 18/12/52 dirige ao amigo o poeta Manuel
Bandeira, de Rio de Janeiro: "Querido amigo e mestre Fidelino: A sua
última carta, de 19 de setembro, dizia-me a intenção de voltar em outubro ao
Hospital de Santo Antônio, do Porto, para continuar o tratamento de que lhe
adviera alguma melhora. Espero que assim tenha sido e que o meu bom amigo
esteja hoje devolvido ao seu old self.
É o melhor voto de natal que lhe posso fazer (...)".
2) Aspectos da infância e da primeira formação na escola
A
biografia interior de Fidelino de Figueiredo é, para o meu propósito, mais
importante do que a simples enumeração dos fatos que aconteceram na sua vida. O
próprio Fidelino nos relata dessa forma, no estilo das nivolas unamunianas, a sua infância e primeira formação. Faz ênfase
não em fatos, mas em sentimentos. Analisemos, junto com o nosso autor, alguns
aspectos dessa autobiografia interior.
Fidelino
se define, fundamentalmente, como colecionador de angústias. E a imagem que
mais gosta de traçar da sua infância é a do pequeno colecionador das angústias
que lhe depara a vida cheia de mistérios: "(...) Recortando soldadinhos de
papel ou formando-os em parada sobre
a mesa, e trauteando por entre dentes marchas militares, o pequeno estava na
realidade a reunir a sua coleção de angústias, não a compor batalhões de
soldados para simular uma guerra dos espanhóis com os norte-americanos ou dos boers com os ingleses. Outra guerra o
interessava mais: a guerra com os mistérios da vida. E à noite, na sua caminha,
às escuras, recapitulava as aquisições do dia, ao mesmo tempo que se entretinha
a interpretar as formas fantásticas desenhadas pela luz que vinha da rua,
através da janelinha da casa de fora". [22]
É
a rua o cenário principal desse encontro angustiante entre o pequeno
colecionador e o mundo. Eis a forma, verdadeiramente poética, em que o autor
descreve os seus sentimentos de menino frente ao mundo: "(...) Aquela rua
foi o seu primeiro universo e a sua grande escola para aquelas noções que
jamais se apagam da alma, antes se vincam sempre e crescem com ela, como se
ampliam indelevelmente as inscrições na casca das árvores. Com os materiais
ministrados pela rua é que elaborou a sua primeira enciclopédia e a sua
primeira imagem da vida. Todos os nossos conhecimentos tendem, em qualquer
altura, a formar um todo cíclico e a conduzir o nosso comportamento. Sentado
sobre os degraus da porta do casebre, sapatos de couro amarelo, bibe de riscadinho
azul, o pequeno via correr o intenso drama da rua, tecido de mistérios, enigmas
e irracionalidades, e tudo interpretava em angústia -- a angústia de não
entender, não saber corrigir, não poder queixar-se ao menos. Pairava num estado
de vago descontentamento e apertava-se-lhe o coração, como se aperta ao marujo
que da praia adivinha tempestades no oceano que tem de singrar num frágil
barquinho" 23 .
Porém,
como reconhece o próprio autor, embora desejasse submergir-se no vasto oceano
do mundo, não lhe era permitido em virtude de um esquema de formação solícito
demais, mas sem instinto educativo:
"Aquela posição de espectador era a sua posição predileta, frisa Fidelino,
não querendo confinar-se na janelinha de guilhotina, que lhe doloria os
bracinhos, e não lhe sendo permitida a liberdade de acamaradar com o rapazio da
rua. Vivia em casa de uma ama seca, afetuosa, solícita, mas sem instinto
educativo. Tudo fazia e dizia em frente da criança, mas guardava-a com
escrúpulo. Ele não pertencia à casta inferior que povoava a rua. Estava ali
meio escondido. Era talvez um principezinho encantado, que uma rainha loura
tivesse deixado na clareira de um bosque, à espera de uma ninfa providencial.
Não ia à rua. Os páteos fundos, o prédio avaro das freiras e o muro
afortalezado de em frente eram cheios de perigos" 24.
Quem
era essa "ama seca, afetuosa, solícita, mas sem instinto educativo"?
Realmente não foi possível esclarecer na minha pesquisa essa pergunta, nem
tinha muito interesse a questão. O mais importante, do ponto de vista desta biografia interna, é constatar os
sentimentos do autor, bem como os efeitos que daí decorreram para a sua
posterior concepção do mundo. A ama seca
contribuiu, com os seus exagerados cuidados e a atmosfera de nebulosidades pardacentas que a rodeava,
a fazer nascer na alma do nosso autor a vontade ilimitada de liberdade e a ardente apetência das planuras luminosas.
Reação que Fidelino atribui ao seu caráter
voluntarioso e reto. Eis as suas palavras: "A ama seca, guardiã fiel
de todas as suas palavras, não terá gostado, porque também se dizia tão amiga
do seu pequeno hóspede, como se fora mãe. Ele lembrava-se de tudo isso, dessa
fartura de afetos e de cobiça. E tudo isso era uma angústia nova. Quando
recebia a visita de três senhoras iguais no rosto, no porte e no falar, todas
de luto e ar consternado por dor ainda recente, o pequeno sentia a amargura
inconfessável de ter tantas mães, três ou quatro em vez de uma só -- uma só e toda para ele, para cobrir de
beijos e lhe abrir o coração com todas as suas ansiedades misteriosas, o cofre
das suas angústias: -- Mãe, não percebo, não sei, tenho medo! -- O grito do nadador incipiente, no meio das
águas revoltas, já longe da terra firme. Dessa atmosfera de nebulosidades
pardacentas, que lhe desfiguravam e ocultavam as coisas simples em refegos meio
misteriosos, é que lhe veio mais tarde, pela reação do seu caráter voluntarioso
e reto, a ardente apetência das planuras luminosas, expostas a todos os ventos
e submissas a todas as correrias da liberdade com os seus inebriamentos" 25 .
Esse
vasto curiosear deambulatório achou
inspiração, na sua mocidade, na figura de Carlos Fradique Mendes (1834-1888), a
quem Fidelino chama de bom tio Fradique
e de quem aprendeu a ser cidadão do mundo.
Não podendo ainda ser observador da vida na terra toda, como Fradique, o moço
Fidelino contentar-se-ia com um espiolhar
arqueológico da sua Lisboa: "Passaram os anos -- diz Fidelino --. E o
momento chegou em que a gente moça procura um modelo para ordenar o seu
caráter, os seus gostos e as suas idéias, como procura um espelho para se
pentear e fazer a gravata. O figurino direto da minha geração, enquanto na sua
fase indiferenciada de homogeneidade juvenil, foi esse bom tio Fradique. Mas a
sua elegância fidalga e a curiosidade ociosa com que pairava acima dos negrumes
da vida, só para lhe sugar o doce mel das idéias, não eram acessíveis a uns
pobres estudantes condenados à corveia do concurso e do emprego público, e ao
despotismo do diretor geral (...). O vasto curiosear deambulatório, que em
Fradique teve por perímetro a Terra toda, em nós limitou-se naqueles dias a um
espiolhar arqueológico de alfamas e mourarias, com tortuosas vielas e
pitorescas fadistices. Quando há poucos anos uma grande empresa de caminhos de
ferro me pediu para a sua propaganda de turismo uma descrição de Lisboa, a
coisa saiu-me de uma penada -- tão
pacientemente metódicas haviam sido minhas viagens por bairros mouriscos e
velharias típicas! Assim substituíamos nós o babismo, a Índia, o Egito, a China
pelo mofo dos museus lisboetas..." 26.
O vasto curiosear deambulatório
levaria o moço Fidelino, anos mais tarde, a procurar as planuras luminosas do Brasil e a levar a sua mensagem humanística
também aos Estados Unidos.
Esse
universalismo figueirediano corre paralelo com uma rejeição sincera do espírito
de partido, que é contrário à criação cultural. Tal espírito foi conhecido por
Fidelino já na sua mocidade, e foram os mestres que lhe ensinaram, com a sua
intolerância, a negatividade do sectarismo partidista, vício ao qual jamais
aderiu o nosso autor. "Havia lá -- testemunha ele --, mestres insignes
pelo renome em suas especialidades científicas e pelo relevo na ação social, e
havia-os também anônimos em ambas as direções, pequenos burocratas do ensino. Desses
não reza a história. Foram os grandes que me ensinaram muita coisa útil, até
pelo contraste ou pela inversão dos seus exemplos. Dos grandes tudo é útil, até
o mal, pelas suas proporções ou pelo pensamento interior que o anima ou ainda
pelas reações que suscita. E esse foi o fruto que extraí do seu mal. Eram hipercríticos
na apreciação dos valores nacionais, tanto os da história passada como os da
contemporânea; semeavam no coração dos discípulos um pessimismo negativista que
nos levava ao desalento abúlico: - Somos uns inferiores, nada saberemos ou
poderemos fazer. Não vale a pena tentar qualquer empreendimento -. Era a
conclusão que deduzíamos das suas preleções, quando deixávamos as salas de aula
sobrepondo o chapéu ao capacete doloroso que nos apertava as frontes. Vindo a
ser professor, jamais desanimei o espírito de iniciativa e a confiança dos
estudantes em si e na pátria, sem também recair no narcisismo patrioteiro que
depois grassou. Eram inimigos uns dos outros, desprestigiavam-se reciprocamente
nas aulas. Havia ódios famosos nos anais escolares, como os de Teófilo, Adolfo
Coelho, Epifânio, Pinheiro Chagas. Pois sempre me lembrei desse espetáculo
triste, dessa abusiva interpretação da liberdade de cátedra, e jamais
pronunciei uma palavra aos meus discípulos contra outros mestres. Até a
discordância doutrinária a dissimulei algumas vezes. O trabalho da cultura é
trabalho de cooperação leal, em que dá cada um o que pode e recebe tudo que se
conquista em definitivo. Não se deve apoucar o óbolo de cada colaborador, nem
presumir sobre os sentimentos íntimos com que o dá 27.
Não
sem intensa luta o nosso autor conseguiu superar, porém, o espírito de partido
que reinava na escola. Foi todo um esforço para desaprender as lições de sectarismo que recebera. E já na
maturidade Fidelino se perguntava si tinha conseguido superar a pregação sem
tréguas da escola: "De modo que era preciso inverter tudo que o ambiente
da escola nos ostentava: relações entre os professores, relações destes com os
alunos, relações entre os próprios alunos, e até as relações com a pátria, com
tudo que ela significava como tesouro comum e mundo de promessas e
expectativas. Um individualismo anarquista e céptico de tudo, prematuramente
céptico da pátria que mal conhecíamos, porque não havíamos vivido, e da
profissão, da ciência e da vida, -- era tudo que se aprendia ali, que aprendiam
e iriam depois ensinar os jovens professores, lado a lado com as noções mortas
dos programas das disciplinas escolares. E foi, justamente, o que depois tratei
de desaprender. Mas quantas angústias não custou essa luta e esse labor ingente
de fazer que más sementes não produzissem frutos envenenados! E terei sempre
triunfado nessa peleja? Suspeito que na minha posição perante a obra de
Teófilo, sem injustiça, mas também sem brandura, sobreviveu alguma coisa da
pregação sem tréguas de Adolfo Coelho. Quando aquele morreu, pronunciei na
Academia um discurso à margem das lições da sua vida. E havia ainda, em tudo
que disse, esforços de defesa contra a negregada influência da escola e da sua
atmosfera de malquerenças" 28 .
Em
que pese, porém, os aspectos negativos da formação recebida por Fidelino na
escola, ele lembra esses anos com coração
agradecido, sem guardar qualquer ressentimento e procurando traduzir a sua reação
em diligência para compreender a juventude. O seu espírito crítico seria o meio
através do qual o nosso autor conseguiu pairar acima de quaisquer sentimentos
negativos. "E assim -- escreve Fidelino --, durante muitos anos, foram
rebolando no meu coração agradecido os ecos das lições daqueles mestres, uma
vez acatadas com a polidez do historiador da escola, o senhor Busquets de
Aguiar, outras vezes invertidas em reação salutar, mas assim mesmo procedente
deles, e outras ainda vivificadas em justificação mais compreensiva ou de mais
largo alcance, porque o destino me ofereceu termos de comparação. À lição da
escola e à contradição da consciência veio sobrepor-se uma super-lição de
espírito crítico -- último eco daquelas ladainhas aziumadas do meio claustro
baixo, de arcos fechados com vidraças pregadas, que mal deixavam ver as
nespereiras farruscas da jardineta e bem guardavam os fedores do urinol
ferrugento, esquecido no seu recanto. Nunca houve escola que mais se apartasse
da juventude que este sonolento instituto. Todavia dali me veio o impulso
inicial para a incessante diligência de compreender a juventude -- o divino tesouro" 29.
Quanto
à sua educação religiosa, Fidelino de Figueiredo impressionou-se, desde muito
cedo, com a fria distância institucional da religião praticada nos conventos. O
pequeno colecionador de angústias tinha dificuldade em entender por que essas
instituições permaneciam fechadas face às necessidades dos humildes. Eis a
forma em que o autor caracteriza os seus sentimentos de menino, perante o
convento que ficava perto da sua casa: "Que era uma casa religiosa, toda a
gente o sabia, mas por que tinha de ser a religião ali praticada coisa tão
orgulhosamente distante dos humildes que rodeavam a casa muda -- é que ninguém
compreendia, a principiar pelo pequeno colecionador de angústias. Jamais a
apressada mão ebúrnea, que mal saía da manga farfalhuda para entreabrir a
porta, se estendeu com uma côdea de pão ou uma xícara de leite ou um afago ou
uma carícia para alguma miséria mais confiada ou mais tocante, que puxasse o
ensebado cordão da campainha. Era um prédio voraz. Todos entravam, tudo entrava
e ninguém e nada de lá saía. Era um constante entesouramento de haveres e
pessoas. Havia lendas sobre os caixotes e os pacotes que se sumiam ali dentro
(...)" 30.
Do
pai, militarão generoso e jovial, o
nosso autor receberia uma lição: a religião como culto e o culto como serviço.
No seu livro Diálogo ao espelho31 , Fidelino traz a seguinte
descrição a respeito dessa influência paterna: "Meu pai, militarão
generoso e jovial, da religião só via o culto; e o culto era matéria de
serviço. Muitas vezes o vi entrar na igreja da freguesia, à frente do seu
regimento, para a missa. Encantava-me essa missa, pelo seu aparato marcial: no
altar-mor uma guarda de honra, de baioneta armada, e no momento da elevação os
toques de corneta, a alertar as almas, como numa antecipação do chamamento para o juízo final. Eu ia esperar
a tropa no adro e rever-me no pai rebrilhante, com o colar da sua Torre Espada.
E ele dava-me um sorriso, mais dos olhos que das faces, e fazia-me um aceno com
a espada".
Se
a influência paterna na formação religiosa tinha-lhe oferecido um exemplo de
formalismo cultural, mais profundo seria o influxo recebido por Fidelino da
religiosidade materna, voltada para o culto da Rainha Santa. A formação religiosa recebida da mãe ampliou o
primeiro contato do nosso autor com o catecismo tridentino e, o que é mais
importante, alicerçou o sentimento de dignidade em fundamentos religiosos. Eis
as suas palavras a respeito: "Falei do meu primeiro contato com o
catecismo tridentino ou de Carlos Borromeu, porque ele formou também a comunicação
principal entre mim e o teologismo do ambiente. Minha mãe ampliou-o um pouco ao
fazer-me praticar o culto, atrativamente poético pela sua auréola de lendas, da
Rainha Santa. A bondosa tolerância do seu coração e a sua ternura só pensavam
noutro culto mais alto e mais próximo de Deus: o culto da inteligência. A
Rainha Santa protegia a inteligência dos seus afilhados. E minha mãe, na
modéstia do seu viver caseiro, só tinha uma aspiração: que seu filho chegasse
aonde ela, com toda a sua dedicação e energia moça, não conseguira que chegasse
nenhum dos seus irmãos. Neste sonho, além da espontânea elevação do seu
espírito, devia haver influência do brilho da posição política e social do seu
padrinho de batismo, o Conselheiro Mendes Leal, um autodidata e lutador, que só
pelo ascendente da inteligência chegara a dramaturgo aplaudido, acadêmico,
embaixador e ministro de Estado, e partindo de mais baixo. Meu avô era oficial
reformado; e o seu compadre eminente era filho de um músico proletário" 32.
O
exemplo de dignidade alheia a qualquer compromisso com o sectarismo político ou
com a riqueza, foi um belo exemplo que Fidelino aprendeu do Conselheiro Mendes
Leal, através da cálida lição materna. Eis o testemunho do nosso autor:
"Nunca minha mãe me louvou a riqueza ou exortou a lutar pela sua conquista
e pelos gozos e privilégios, que ela confere. Mas muitas vezes, comigo sentado
nos seus joelhos, me contou histórias da vida e dos triunfos de Mendes Leal,
salientando sempre a humildade da sua origem e a fidelidade modesta que ele
guardava a essa origem. Essas histórias, que tanto e tanto me emocionavam,
exerceriam sua influência no meu destino" 33
Pode-se afirmar, sem exagero, que a vida de Fidelino de Figueiredo resume-se
num exemplo de dignidade. Tão profundo foi o influxo materno na formação do seu
espírito.
Em
que pese as limitações econômicas enfrentadas pelo nosso autor na sua infância,
e apesar da superproteção recebida da ama nos seus primeiros anos, Fidelino
reconhece que não experimentou coações espirituais. Essa era, aliás, segundo
ele, uma das boas caraterísticas da sociedade portuguesa da época, alheia ao
nefasto influxo da propaganda. A liberdade
de pensar, sentir e julgar, que tiveram o nosso biografado e a sua geração,
era mais importante do que o conforto programado da sociedade atual. Estas são
as suas palavras a respeito: "Deste modo não foi em som de guerra ou de
rebeldia, como quem ovante ou amargurado se solta das grades, foi com plena
facilidade e simpleza que se me definiu o sentimento da finitude total da vida,
encanto, beleza e segurança da existência humana. Sofri limitações da pobreza,
mas nunca me oprimiram coações espirituais. Naquele tempo ainda se não
inventara essa maldita propaganda, com sua técnica de corrupção psicológica da
juventude e das massas ingênuas. Não tínhamos automóveis nem eletricidade, mas
usufruíamos completa liberdade de pensar, sentir e julgar. A própria infância
parecia impermeável a quaisquer influências de domínio. Bastava observar as
crianças à saída das escolas e da catequese das sacristias: pareciam touros
libertos do curro, a correr numa embriaguez de ar livre e de movimentação. Não
tínhamos nem eletricidade, mas tínhamos homens livres. E a presença de meia
dúzia de homens livres, que sabem fazer uso superior dessa liberdade na criação
de pensamento, beleza e saber, assinala mais dignamente uma época e um povo do
que a difusão do bem-estar médio com suas necessidades supérfluas" 34.
É
por isso que Fidelino se auto define unamunianamente como livre sentidor: "Assim,
sem dominadoras influências do meio social ou da escola, nem coações
domésticas, pude sentir livremente, ler livremente, e contentar livremente os
meus instintos intelectuais. Fui bem um livre
sentidor -- atitude que Unamuno apõe
com neologismo seu a livre-pensador. Pelo contrário, algumas sugestões dos
ambientes que frequentava me apoiaram na espontânea tendência"35.
Essa
liberdade de que Fidelino gozou para experimentar a vida na sua infância e
juventude, gozou-a para ter o seu primeiro encontro com a Morte: "(...)
Quando o avô morreu -- escreve o nosso autor -- houve sentimento profundo, mas
sem manifestações lúgubres ou mórbidas. Aos noventa e dois anos a morte não é
uma surpresa, é um sucesso legitimamente lógico. E na roda mais modesta de uma
velha ama, que eu frequentava, não escondiam os mortos em cenários macabros e
inacessíveis a crianças e mantinham a tradição pagã das visitas ao cemitério,
para ajardinar os covais, sem lágrimas, nem suspiros pela vida eterna, antes
com o escorripichar de vinho e molhar nele bolachas ou pão de ló" 36. A partir dessa caraterística da sua
formação, que o familiarizou desde cedo com a morte, podemos entender a serenidade
que configura o estoicismo figueirediano e que se refletiu na sua concepção
filosófica da finitude humana.
Anotemos,
para terminar este item, outra experiência do nosso colecionador de angústias: a sua primeira percepção da violência
humana, que posteriormente desenvolveria nas reflexões sobre a revolução
espanhola e a corrida armamentista norte-americana. Eis a forma em que o menino
Fidelino defrontou-se com a guerra do homem contra o homem, no cenário da rua:
"Justamente ao alto da rua, naquele cotovelo prometedor de ignotos mundos,
havia um renque de muros hostis, muros de quintais, grossos e altos, com o
rebordo crivado de cacos de copos e garrafas, agudos como lanças em riste.
Quando esses muros passavam ao lado da coluna de algum candieiro público
alteavam-se em corcova e os cacos eram maiores, mais ameaçadores que espadas e
frechas na esplanada de um castelo, no momento dum assalto. O pequeno
perguntava a si mesmo a razão de todo aquele aparelho bélico. Para afugentar os
gatos não era, porque eles circulavam à vontade ao longo do muro e até corriam,
se alguma pedra os afugentava. Seria para guardar as couves humildes, as uvas
da parreira e as nêsperas de dentro? Então os donos preferiam ver um assaltante
esfomeado ou atrevido esfarrapar as carnes nos cacos a perder um cacho de uvas
ou uma alface! E foi essa a primeira noção do permanente estado de guerra do
homem contra o homem" 37.
3) Sensibilidade estética
Quem
tiver lido Um colecionador de
angústias não pode negar que Fidelino de Figueiredo foi um grande
escritor que soube comunicar a sua vida interior em belas imagens e conseguiu
dar à sua língua possibilidades muito ricas de expressão. Fidelino tinha alma
de artista. Ele próprio testemunha sua sensibilidade estética ao comentar, em Diálogo ao espelho, o gosto
lúdico que experimentava com a música: "(...) Para a gente comum --
escreve Fidelino -- a música sempre ostenta certo caráter simplesmente
distractivo ou mesmo festivo, que envolve uma opinião de leviandade sobre quem
se dá imoderadamente a ela. Uma variante do alcoolismo ou do jogo. Já minha
mãe, com toda a sua benevolência, dizia há dezenas de anos: - em casa de meu
filho é sempre dia de festa. E no seu sorriso havia uma ligeira advertência.
Naquele tempo toda a minha música se reduzia ao piano caseiro. Mas não o
escondia na sala de visitas, coberto por um pano oriental e objectozinhos de bric-à-brac, numa atmosfera de mofo.
Todos os dias se ouvia e bem à vista. Esse o motivo de estranheza. A audição
musical era coisa de sueto festivo (...)" 38.
Para
Fidelino de Figueiredo a arte, longe de constituir uma simples imagem do real,
é fundamentalmente uma supra-realidade em que o mundo ganha vida nova, graças à
perpetuidade dos valores criados pela poesia: "(...) Certos críticos -- afirma Fidelino -- sobretudo nos países de língua inglesa, e
mais na América do que na Europa, distinguem entre literatura e vida, música e
vida, considerando estas duas artes como dois planos inferiores ou artificiais
ou subjetivos do mundo. E dizem do espírito, que se afunda no oceano da
experiência condensada em arte, que ele está more inclined toward the world of literature than to that of reality.
Enganam-se redondamente, como se enganam os que só sentem o canto através da
letra e querem ouvir as óperas italianas em traduções. Há dois planos, mas
noutra relação hierárquica: realidade e supra-realidade ou vida e arte. Quando
críticos eminentes, como Roberto F. Giusti e János Hankiss, articulam os dois
planos, literatura e vida, em obras profundas, rendem-se à perpetuidade dos
valores criados pela poesia, que suprime o tempo e cristaliza paisagens
espirituais de beleza imortal, infensas às variações arbitrárias do fluir
cotidiano"39.
Manuel
Bandeira, em carta endereçada ao amigo Fidelino em junho de 1951, reconhecia
com estas palavras a capacidade criadora do nosso autor: "Venho
agradecer-lhe a oferta de Um
colecionador de angústias e a honra que me deu fazendo-me portador do
exemplar oferecido à Academia (...). Li deliciado todos os capítulos, inclusive
aquele profundo Retrato da Morte,
que, quando o li no jornal, me impressionou tanto, ao ponto de me levar ao
pleonasmo de chover no molhado, pois
para que passar para a poesia o que já era poesia, e da melhor, e na melhor
forma? O que houve foi apenas intenção de mais uma vez prestar homenagem ao
grande escritor que tanto admiro (...)".
Outro testemunho, de Robert Ricard,
vem salientar a capacidade artística de Fidelino de Figueiredo: "Entre la
familia espiritual de San Pablo, Santa Teresa y Pascal, por una parte, y la de
Voltaire, Renan y Anatole France, por la outra, seguramente Fidelino Figueiredo
no vacila, y prefiere la primera, la de las Almas
regias, a quienes la profundidad de la conciencia y de los sentimientos
confiere una indiscutible superioridad artística -- indiscutible, se entiende,
para los que vem con claridad y se aplican a mirar de buena fe" 40
4) Valorização da amizade
Ponto
importante na vida de Fidelino de Figueiredo é a valorização que sempre deu à
amizade. Descrente da existência de uma vida futura, além da morte, Fidelino
reconheceu que na amizade reside a luz animadora da vida humana. E viveu
profundamente essa convicção. Nos seus últimos anos fazia esta bela confissão:
"Sou sempre amigo dos meus amigos, com livros e sem livros, com cartas e
sem cartas, com visitas e sem visitas, de perto e de longe. Nesta altura de
retiro e reflexão a presença real das pessoas e das coisas já não é
imprescindível. Os velhos amores e as velhas amizades são-nos supridos pelas
recordações. E desse tesouro acumulado nos vem o calor que nos conforta -- como
das estrelas há muito extintas nos chega ainda a luz animadora" 41.
A
vasta correspondência é a prova mais clara desse alto conceito em que Fidelino
tinha a amizade na sua vida. Como afirma Herti Hoeppner Ferreira, "as
cartas atestam também as atividades do jornalista, do tradutor, do político que
foi Fidelino de Figueiredo; e caracterizam o homem que apreciava tertúlias
acadêmicas, conversas de café, reuniões sociais. Mostram o carinho e a
admiração de companheiros ilustres e humildes, revelados em diversas ocasiões;
como a do atentado que sofreu quando diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa e
a do exílio na África, por motivos políticos. Estas prosas rápidas, muitas
vezes singelas, pitorescas, espontâneas, outras vezes elegantes, cerimoniosas,
ajustam as linhas de uma existência humana intensamente vivida na solidão
reflexiva e em comunidade. Compreensivo para os simples, atencioso com quem lhe
solicita apoio, auxílio, ouve dúvidas, temores, lutas, queixas, alegrias,
tristezas, aspirações. Esses papéis são um precioso documentário humano. Pessoa
humana e humaníssima, Fidelino de Figueiredo colocou a amizade entre os mais
elevados sentimentos (...)" 42.
A
amizade de Fidelino levou-o a ser solidário com os seus amigos ao longo dos
anos e em todas as circunstâncias. E não só personagens importantes receberam a
amizade do nosso autor. Jovens intelectuais, como Carlos de Assis Pereira, que
depois organizaria o Ideário crítico
de Fidelino Figueiredo,
experimentaram a solícita dedicação do mestre
e amigo, como costumava chamá-lo o escritor Manuel Bandeira.
Em
carta datada no Rio de Janeiro em 23/5/43 escreveu o poeta ao nosso autor, em
relação ao jovem professor Carlos de Assis Pereira, de quem Fidelino era mentor
intelectual: "Sua encantadora carta de 21 do corrente choveu no molhado,
pois saiba o meu amigo que vai para um mês o angélico e lento Carlos de Assis
Pereira se ocupa remuneradamente de pôr em ordem e em catálogo a minha
biblioteca. Além disso ando diligenciando por ver se interesso os meus amigos
em arranjar-lhe alguma colocação como professor. Quero bem ao Carlos e a sua
paternidade reforça todos os motivos de afeto e estima que ele me
inspira".
A
preocupação solícita dos dois velhos amigos pelo jovem pupilo estende-se por
anos. Em carta datada no Rio de Janeiro em 2/8/43, escreve Manuel Bandeira:
"O nosso Carlos de Assis Pereira anda contentíssimo nas funções de
catedrático interino de Literatura no Pedro II. A cadeira ficará extinta no fim
do ano, mas é muito provável que ele seja aproveitado como professor de
português (...)". Em carta datada no Rio em 2/8/49, o poeta informava ao
amigo residente em São Paulo: "Anteontem, depois do jantar, fiz a minha
primeira visita ao nosso afilhado casal Carlos de Assis Pereira. A moça me
pareceu bastante saudosa de São Paulo; Carlos sempre com aquele seu ar de
professor menino. Naturalmente falamos do colecionador
de angústias com a admiração e o afeto de sempre". Em 1/5/50 Manuel
Bandeira continuava a informar ao mestre Fidelino sobre o comum amigo:
"Estou em constante comunicação com o nosso querido pupilo agora pai de
uma Cláudia, que entrou cesarianamente neste ingrato mundo. Não me parece que
haja motivo de alarme no presente momento (...). Quando vem ao Rio? As saudades
são muitas (...)".
A
solidária amizade de Fidelino voltou-se, também, para Manuel Bandeira, com
motivo da doença de surdez que afetou a este. Em carta datada no Rio de Janeiro
em 6/9/50, escrevia o poeta: "Querido amigo Fidelino, muito obrigado pelas
suas boas palavras da carta de 26 de agosto. Nessas horas de abafamento, como
as que venho passando por causa da minha súbita surdez, é reconfortante sentir
o afeto fraternal dos amigos que mais prezamos e admiramos (...)".
A
solidariedade de Fidelino ao seu amigo Manuel Bandeira foi calorosamente
correspondida pelo poeta. A fim de acalmar as saudades lusitanas do nosso
autor, Manuel Bandeira compôs para Fidelino o belo soneto A Camões, que acompanhou da seguinte dedicatória, em carta datada
no Rio em 23/6/42: "Aí vai, meu caro mestre e amigo Fidelino, o soneto que
me pediu. Tenho sentido grandes saudades suas (...)". Vale a pena
transcrever o poema de Manuel Bandeira:
A Camões
Quando
n'alma pesar de tua raça
A névoa da
apagada e vil tristeza,
Busque sempre
ela a glória que não passa,
Em teu
poema de heroísmo e de beleza.
Gênio
purificado na desgraça,
Tu
resumiste em ti toda a grandeza:
Poeta e
soldado... Em ti brilhou sem jaça
O amor da
grande pátria portuguesa.
E enquanto
o fero canto ecoar na mente
Da estirpe
que em perigos sublimados
Plantou a
cruz em cada continente,
Não
morrerá, sem poetas nem soldados,
A língua em
que cantaste rudemente
As armas e
os barões assinalados.
Em
Fidelino achamos estreitamente unidas a sua amizade e a vocação de escritor.
Como acertadamente frisou Herti Hoeppner Ferreira, "a extraordinária
capacidade ativa e a vocação do escritor não absorveram o homem, embora a
literatura fosse a função normal de seu espírito. Daí, Fidelino de Figueiredo
dizer: a minha amizade por toda aquela
gente era bem funda e, nalguns casos, tão fundamentalmente fraternal que tem
resistido às distâncias e aos imprevistos do destino. E também, ao se
pronunciar a respeito de um deles: Como
de tão longe e ao fim de tantos anos, o seu coração vibra em uníssono com o
meu!" 43 .
A
amizade de Fidelino de Figueiredo com Manuel Bandeira levou o poeta brasileiro
a se inspirar na descrição que o nosso autor fizera da morte em Um colecionador de angústias. A
respeito, diz Fidelino: "Do segundo painel desse pequeno tríptico
desentranhou Manuel Bandeira uma linda balada, O homem e a morte. Aqui lhe deixo um pensamento
afetuoso" 44 . Em relação ao seu
poema, assim escrevia Manuel Bandeira ao nosso autor, em carta datada no Rio de
Janeiro em 9/4/46: "Querido amigo: o nosso poema sairá no terceiro número
da Revista Província de São Pedro,
que se edita em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Foi vendido (e bem vendido) a
ela, de sorte que não podemos deixar que apareça em outro lugar antes que
apareça na Revista (...)". Em carta datada no Rio em 26/7/46, escrevia
ainda o poeta: "Meu querido amigo e mestre Fidelino, recebi esta manhã o
número de março (só agora saiu) da Revista de São Pedro. Lá está o nosso poema do Homem e a Morte. Nosso, mais do que meu, porque sua é a substância
dele".
Conclusão
Ao
terminar estes traços biográficos acerca de Fidelino de Figueiredo, devo
lembrar que somente pretendi fazer uma rápida apresentação do homem Fidelino,
que se apresentou a si mesmo como colecionador
de angústias, que sentiu de perto e em toda a sua universalidade as
preocupações existenciais do homem contemporâneo e que, corajosamente
consciente da finitude humana, tentou, na amizade, na realização da sua missão
de escritor e no culto à arte e aos valores espirituais, encontrar um sentido
para viver com dignidade.
Nessa
lição de dignidade, como frisei atrás, pode ser sintetizada a vida de Fidelino
de Figueiredo. Nada melhor do que fazer minhas, aqui, as palavras do ilustre
ensaísta português: "(...) Se a nossa obstinação em ver na morte o fim de
tudo a todos vence, nada ganhamos, porque tudo acaba, mas também nada perdemos
em ter vivido com dignidade; se a nossa obstinação é vencida, nada perdemos,
porque possuímos uma honrada fé de ofício para exibir como passaporte recomendatório,
honrada porque fez da própria honra o seu objectivo único e ignorou todo o
cálculo, toda a adulação e todo o medo. Si vous
gagnez, vous ne gagnez rien; si vous perdez, vous gagnez la valeur de votre
vie..." 45. Bela confissão do mais puro
estoicismo lusitano.
Bibliografia e Documentos consultados
AMORA, Antônio Soares. Entrevista concedida em São Paulo. 10 de setembro de 1979.
AZORÍN. La
generación del 98. In:ABC, Madrid, 10/02/1913. O texto deste artigo foi consultado in: Literario Dominical - El Colombiano,
Medellín, 11/01/1998.
FERREIRA, Herti Hoeppner. Trajetória espiritual de uma correspondência
(1965). In: Julio García Morejón, Dos
coleccionadores de angustias. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Assis, 1967, pg. 68 seg.
FIGUEIREDO, Fidelino de. As
duas Espanhas. Lisboa: Ed. Europa, 1932. Foi consultada também a 4ª
edição, Lisboa: Guimarães, 1959.
FIGUEIREDO, Fidelino de. Correspondência passiva. São
Paulo: USP-Centro de Estudos Portugueses. (Pesquisa realizada ao longo do ano
1979).
FIGUEIREDO, Fidelino de. Diálogo ao espelho. Lisboa:
Guimarães, 1957.
FIGUEIREDO, Fidelino de. Pyrenne. 2ª edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1935.
FIGUEIREDO, Fidelino de. Sob as cinzas do tédio, romance de uma consciência. Coimbra:
Nobel, 1944.
FIGUEIREDO, Fidelino de. Um colecionador de angústias. 1ª
edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1951.
FIGUEIREDO, Fidelino de. Um homem na sua humanidade. 2ª
edição. Lisboa: Guimarães, 1957.
FIGUEIREDO, Fidelino de. Viagem à Espanha literária. Rio
de Janeiro: Tupi, 1951.
GARCÍA Morejón, Julio. Dos coleccionadores de angustias.
São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, 1967.
GINER DE LOS RÍOS, Francisco. Ensayos. (Seleção, edição e
prólogo de Juan López Morillas). Madrid: Alianza, 1969.
PEREIRA, Carlos de Assis. Ideário crítico de Fidelino de
Figueiredo. São Paulo: USP-Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
1962.
QUADROS, António. Fidelino de Figueiredo. In: Lógos - Enciclopédia Luso-Brasileira de
Filosofia. Lisboa: Verbo, 1990.
RICARD, Robert. Prólogo. In: Fidelino de Figueiredo.Bajo las cenizas del tedio. Buenos Aires:
Espasa-Calpe, 1947.
VÉLEZ RODRÍGUEZ, Ricardo. Traços biográficos de Fidelino de
Figueiredo. In: Boletim, Universidade
Estadual de Londrina-Departamento de Ciências Sociais, no. 2 (1982): pgs.
12-24.
[1]
Carta de Max Fleuiss a Fidelino de Figueiredo, Rio de Janeiro, 18/4/1913. A
correspondência passiva de Fidelino está arquivada e organizada no Centro de
Estudos Portugueses da Universidade de São Paulo.
[2]
Cf. carta de Max Fleuiss a Fidelino de Figueiredo, 10/6/1912.
[3]
García Morejón, Julio. Dos
coleccionadores de angustias. São Paulo: Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Assis, 1967, pg. 15. O autor faz referência às seguintes
obras de Fidelino de Figueiredo: Viagem através da Espanha literária,
Rio de Janeiro, 1951, pgs. 7 e 53 e Estudos
de literatura, (primeira série, 1910/1912), Lisboa:, 1917, pg. 230.
[4]
Soares Amora, Antônio (genro e discípulo de Fidelino de Figueiredo). Entrevista
concedida em São Paulo, 10/9/79.
[5] García Morejón, Julio.Dos coleccionadores de angustias,
ob. cit., pgs. 17/18. Na sua obra Um
colecionador de angústias (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1951,
1ª edição, pgs. 134/135), Fidelino de Figueiredo refere-se à sua viagem a
Espanha.
[6] Foram
consultadas, para este trabalho, duas edições: Lisboa: Editorial Europa, s. d.
(1922), 292 pgs. e Lisboa: Guimarães, 4ª edição, 1959, 246 pgs.
[7]
Apresentação de Guimarães Editores à 4ª edição de As duas Espanhas, Lisboa: 1959.
[8] A
segunda edição é da Companhia Editora Nacional de São Paulo, 1935, fato que
indica que o autor escreveu o livro antes da sua segunda viagem aos Estados
Unidos.
[9]
"Carta datada no Rio de Janeiro, 30/8/42.
[10]
As principais idéias pedagógicas de Giner de los Ríos acham-se expostas nos
seus Ensayos (seleção, edição
e prólogo de Juan López Morillas), Madrid:
Alianza Editorial, 1969.
[11]
Além de conservar a correspondência passiva de Fidelino de Figueiredo, o Centro
de Estudos Portugueses (para cuja criação contribuiu definitivamente o mestre
português) publica um Boletim informativo
sob a direção do professor Massaud Moisés e possui uma completa biblioteca de
cultura portuguesa.
[12]
Entrevista concedida em São Paulo, 10/9/1979.
[13]
Ferreira, Herti Hoeppner, "Trajetória espiritual de uma correspondência
(1965)", apud Julio García Morejón, Dos
coleccionadores de angustias, ob. cit., pg. 68.
[14]
Ferreira, Herti Hoeppner, ob. cit., ibid.
[15] Cf.
Ferreira, Herti Hoeppner, ob. cit., ibid.
[16] Ob.
cit., pgs. 77-111.
[17]
"Trajetória espiritual de uma correspondência". Ob. cit., apud García Morejón, ob. cit., pg.
71.
[18] Ob. cit., apud García Morejón,
ob.cit., pg. 68
[19] Antônio
Soares Amora, entrevista concedido em São Paulo, 10/09/1979.
[20] Entrevista concedida em São Paulo,
10/09/1979.
[21] Soares Amora, entrevista concedida em São
Paulo, 10/09/1979.
[22] Um colecionador de angústias. 1ª
edição, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1951, pg. 31.
23 Fidelino
de Figueiredo, Um colecionador de
angústias, op. cit., pg. 23.
24 Op. cit., pg. 24.
25 Op. cit, pgs. 31-32.
26 Fidelino
de Figueiredo, Sob as cinzas do tédio,
romance de uma consciência, Coimbra: Nobel, 1944, pg. 11. Citado por
Carlos de Assis Pereira (organizador), in: Ideário
crítico de Fidelino de Figueiredo, São Paulo: USP/Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, 1962, pg. 430.
27 Fidelino de Figueiredo, Um colecionador de angústias, op. cit., pg. 56.
28 Um colecionador de angústias, op.
cit., pg. 58
29 Um colecionador de angústias, op.
cit., pg. 64.
30 Um colecionador de angústias, op.
cit., pg. 31.
31 Lisboa:
Guimarães, 1957, pg. 55-56.
32 Diálogo ao espelho, op. cit., pg.
54-55.
33 Diálogo ao espelho, op. cit., pg.
55.
34 Diálogo ao espelho, op. cit., pg.
56-57.
35 Diálogo ao espelho, op. cit., pg.
56.
36 Diálogo ao espelho, op. cit.,
ibid.
37Um colecionador de angústias,
op. cit., pg. 24
38 Lisboa:
Guimarães, 1957, pg. 107.
39 Citado
por Carlos de Assis Pereira, in: Ideário
crítico de Fidelino de Figueiredo, op. cit., pg. 298.
40 Prólogo a Bajo
las cenizas del tedio, de Fidelino
de Figueiredo, Buenos Aires: Espasa/Calpe, 1947, pg. 32-33. Apud
García Morejón, Dos coleccionadores de angustias, op. cit., pg. 9-10.
41 Fidelino
de Figueiredo, Um homem na sua
humanidade 2ª edição, Lisboa: Guimarães, 1957, pg. 33.
42 Herti
Hoeppner Ferreira, "Trajetória espiritual de uma correspondência",
in: García Morejón, Dos coleccionadores de angustias, op. cit., pg. 73-74.
43 Herti
Hoeppner Ferreira, "Trajetória espiritual de uma correspondência",
in: García Morejón, op. cit., pg. 71. As citações de Fidelino Figueiredo feitas
aqui por Herti H. Ferreira foram tomadas, respectivamente, das seguintes obras
do escritor português: Viagem da
Espanha literária, Rio de Janeiro: Tupi, 1951, pg. 11, e Diálogo ao espelho, Lisboa:
Guimarães, 1957, pg. 21.
44 Fidelino
de Figueiredo, Um colecionador de
angústias, 3ª edição, Lisboa: Guimarães, 1962, pg. 261.
45 Fidelino
de Figueiredo, Diálogo ao espelho, op. cit., pg. 71.
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