Aliança entre o patrimonialismo do passado e o do presente: a mesma fórmula de tratar a Res Publica como res privata ou coisa nossa. (Foto: Wikipédia). |
Reza o folclore político colombiano o seguinte princípio:
“Dios los cria y ellos se juntan”. Pois bem: das relações entre Lula e o clã
Sarney pode-se dizer exatamente isso. Após ter criticado duramente enquanto era
oposição “tudo isso que está aí”, quando chegou ao poder Lula afinou-se
perfeitamente com o clã maranhense, a tal ponto que, quando se revelaram as
pressões deste para que a imprensa não divulgasse notícias do processo que
corria contra um dos filhos do Sarney, o empresário Fernando [1],
o então presidente afirmou: “O Senador Sarney é uma pessoa especial”. Ou seja:
a lei deve poupá-lo, por ser de outra natureza que o comum dos mortais. Algo
que Lula, aliás, defende também em relação aos seus companheiros de partido,
surpreendidos já duas vezes com a boca na botija da roubalheira dos dinheiros
públicos, primeiro no Mensalão e, agora, no Petrolão.
Considerava o grande Alexis de Tocqueville que o problema dos
déspotas não é que não valorizem a liberdade. Pelo contrário, valorizam-na
demais, só que em relação a eles próprios. O problema deles é que têm um
conceito muito desvalorizado do resto da humanidade, como não sendo digna do
exercício da Liberdade, que reclamam inteira para eles próprios e incompleta ou
nula para o resto. Disso Lula sabe muito bem, quando quer, como dizia Lenine,
um poder “não controlado por leis” para o PT, a fim de garantir a hegemonia
partidária que possibilitará a “felicidade geral da nação”.
O clã Sarney pensa de forma semelhante. Tudo para engordar as
empresas familiares. Nada, ou quase nada, para o resto da população. Essa é a
conclusão que se tira ao ler a reportagem especial do Estadão de domingo
passado, que leva o seguinte título: “Gestão em família: as suspeitas que
explicam a saúde do Maranhão” (reportagem de Ricardo Galhardo, 3 de Maio de
2015). Assim começa a reportagem: “Um copo de leite com biscoito a R$ 11, mais
de 20 hospitais novos sem uso, superfaturamento de até 85% em serviços de
saúde, equipamentos para exames de última geração parados por falta de espaço
adequado, suspeita de uso de um helicóptero-ambulância na campanha da filha do
secretário. Enquanto isso a população amarga o pior índice de mortalidade
infantil do País e doenças do século passado como a hanseníase. Após quase 50
anos de domínio do clã Sarney no Maranhão, a caixa-preta do Estado começa a ser
aberta por auditorias encomendadas pela atual gestão, que derrotou o grupo
político da família do ex-presidente da República”.
Contrastando com a pobreza que sofre a maior parte dos
habitantes de São Luís, a sede do poder estadual foi decorada pelo clã Sarney,
nos quase cinquenta anos durante os quais exerceu a sua dominação sobre a
sociedade maranhense, com requintado luxo de inspiração francesa, misturado com
estilo duvidoso de tipo kitsch. A respeito escreve o jornalista Ricardo
Galhardo: “Decoradores que tiveram acesso ao interior do Palácio dos Leões,
sede administrativa e residência oficial dos governantes do Maranhão, dizem que
as adegas climatizadas para centenas de garrafas de vinho, salão de beleza e
até uma cama com ajustes elétricos incorporados com o tempo não combinam com o
mobiliário estilo clássico francês dos séculos XVIII e XIX. O contraste que
salta aos olhos de quem visita o interior do palácio, é do luxo disponível aos
mandatários maranhenses em comparação à miséria do Estado, que tem o segundo
pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do País, à frente apenas de
Alagoas”.
Essa sina trágica de rápido enriquecimento com o dinheiro
surrupiado dos cofres públicos por oligarquias famintas de luxo é uma das notas
características do Patrimonialismo latino-americano, como deixei destacado no
meu livro intitulado: A análise do Patrimonialismo através da
literatura latino-americana - O Estado gerido como bem familiar.[2]
Nessa obra, fundamentada na sociologia do Patrimonialismo efetivada por Max
Weber em Economia e Sociedade [3],
deixei destacado o seguinte: “O Estado não constitui, propriamente, uma
instância pública, projetada para o bem-estar dos cidadãos. O aparelho estatal
tende a ser privatizado em benefício dos governantes, do estamento burocrático
e dos segmentos sociais cooptados por eles”.[4]
Em relação ao caráter parasita dessas oligarquias, que
engordam às custas da vida da Nação, escrevi: “Esse ordenamento político
alicerçou-se, no contexto ibérico e ibero-americano, numa versão de ética do
não trabalho, decorrente dos valores heroicos cultuados pela guerra de oito
séculos contra o invasor muçulmano (em Espanha e em Portugal), valores que
foram continuados na conquista do Novo Mundo. Esse pano de fundo axiológico
encontrou marco teórico definido na reação da Contra-Reforma católica
patrocinada por Espanha e Portugal, nos séculos XVI e XVII. Esses valores
continuaram a inspirar as elites ibero-americanas que deflagraram, no decorrer
do século XIX, os processos de independência das metrópoles espanhola e
portuguesa. Emergiu, ao ensejo do ciclo do despotismo
ilustrado, com Pombal em Portugal, e com Carlos III na Espanha, a ideia do Estado Empresário que garante a riqueza
da Nação. Para vingar economicamente, os súditos deveriam encostar-se no
Estado, surgindo daí essa velha tendência ibérica e ibero-americana a
considerar a posse do poder político como fonte de enriquecimento”. [5]
O modelo pombalino, como ilustrou Antônio Paim no seu livro
intitulado: A querela do estatismo,[6]
efetivou essa privatização do Estado como empresa do Rei que, através dos
monopólios reais, passou a distribuir benesses entre os seus servidores,
deixando à míngua a própria sociedade portuguesa, que se empobreceu
brutalmente, enquanto o Estado e os seus burocratas enriqueciam. Os burocratas
do rei, corruptos, apropriavam-se dos lucros dos monopólios, tendo sido
denominados, à época, de “cupins”.[7]
Nome que, aliás, conviria muito bem aos atuais desmanteladores das estatais,
como tem acontecido com a Petrobrás.
Farra para os mandatários e os seus amigos: essa é a fórmula
do enriquecimento meteórico dos soberanos patrimonialistas, generosos para com
os seus parasitas (familiares, amigos e apaniguados) e terrivelmente tacanhos
para com o resto dos cidadãos. Literalmente o clã Sarney fez a farra não do
trem da alegria, mas do Boeing presidencial da folia, nas épocas douradas em
que o patriarca exercia a presidência da República e os seus prepostos
dominavam tranquilos no Maranhão, quando Sarney viajou num avião lotado com 150
alegres convidados para comemorar o bicentenário da Revolução Francesa em Paris
(1989), tendo sido a comitiva mais numerosa do Planeta. O Japão, na época,
enviou 80 pessoas e a Itália somente 60 (viajando por terra). Imunes ao perigo
da guilhotina que cortou a cabeça da corrupta corte de Luís XVI, os convivas do
clã maranhense desembarcaram na Europa, deixando perplexos os franceses com
tanta gastança. Os cidadãos de Paris perguntavam se a Revolução Francesa teria
servido aos brasileiros para conter a gastança das suas elites, como lembrava o
escritor Rui Guerra na sua coluna publicada na Folha de São Paulo,[8]
escrita para comentar outra folia: a que teve lugar na Itália, quando da visita
que a Presidenta Dilma fez ao Papa Francisco, com uma comitiva para faraó
nenhum botar defeito.
Com Lula, certamente, a gastança dos donos do poder adquiriu
uma nova conotação: transformou-se de episódica em sistémica, a fim de durar
para sempre, garantida, obviamente, a hegemonia do PT por décadas sem fim.
Parece que o modelo petralha de financiamento da gastança aproximou-se do
praticado pelo PRI no México, ao longo dos sessenta e tantos anos de ditadura
patrimonialista, no decorrer do século XX. Tomadas de assalto as estatais pelos
companheiros, a gastança para a farra infindável estava garantida.
Foi aí que os petralhas passaram a mão na Petrobrás e
colocaram os bancos públicos, notadamente o BNDES, a seu serviço. Isso garantiu
a Lula, durante seus dois mandatos, vida de nababo a bordo do Aerolula, com
farta comitiva – que incluía a amante presidencial, Rosemary Noronha -. Os
brasileiros pagamos agora, com o aperto econômico e a volta da inflação, a
generosidade petralha. Com o agravante de que o PT chegou ao poder justamente
porque criticava ferinamente os desmandos das elites brasileiras. O certo é que
Lula está riquíssimo e o teflon do ex-presidente (digamos, o capital
biliardário que ele acumulou) ainda garante que ninguém ouse foçar nas fontes
que abasteceram a sua fortuna.
O tradicional patrimonialismo brasileiro anterior à era Lula não era
sistémico, mas pontual. Não conseguia pôr ao seu serviço a totalidade da
economia. Sob Lula, alarga-se brutalmente o poder do Estado orçamentívoro. Na
época de Sarney, uma das principais fontes de enriquecimento rápido parece ter
sido o Ministério das Minas e Energia, confiado a fiel colaborador do clã, José
Reinaldo Tavares. O imposto compulsório sobre os combustíveis, praticado
durante o mandato de Sarney, certamente enriqueceu o tesouro particular do
patriarca. Afinal de contas, todos os donos de veículos do Brasil, durante o
período, pagaram essa contribuição “involuntária” ao dono do poder.
[1]
GALHARDO, Ricardo. “Gestão em família: as suspeitas que explicam a saúde no
Maranhão”. O Estado de São Paulo, 3 de Maio de 2015, páginas A8 e A9. O
episódio relativo ao processo instaurado contra Fernando
Sarney, filho mais velho do Senador, foi no início bastante divulgado pela
imprensa. Contam as reportagens que Fernando estava na mira da Receita Federal
desde 2007. A investigação ocorria na trilha da Operação Faktor da Polícia Federal (sob o nome de Operação Boi Barrica). Essa investigação
mapeou os negócios do clã maranhense e detectou remessas milionárias para o
exterior, bem como para contas de empresas controladas por laranjas do filho mais velho do Senador. Em depoimento no
Congresso, a secretária da Receita Federal, Lina Vieira, confirmou que havia
vários processos contra Fernando Sarney, e que a investigação ainda não havia
sido terminada. Em Setembro de 2011, o Superior Tribunal de Justiça anulou as
provas obtidas pela Operação Faktor,
tendo entendido que a quebra do sigilo dos suspeitos não tinha suficiente
amparo legal. À época da decisão do Tribunal, a investigação sobre as
atividades do clã Sarney já havia dado lugar a cinco inquéritos, sendo que três
deles estavam prestes a se transformar em processos judiciais. A Polícia
Federal e o Ministério Público contestaram a decisão do STJ. Paralelamente, a
Justiça em São Paulo proibiu que se noticiassem os fatos relativos a esse affaire, tendo trazido de volta a
censura à imprensa. Desta vez, o Jornal O Estado de São Paulo foi a vítima
desse atentado à liberdade de expressão.
[2]
VÉLEZ Rodríguez, Ricardo. A análise do patrimonialismo através da
literatura latino-americana – O Estado gerido como bem de família.
(Prefácio de Arno Wehling). Rio de Janeiro: Documenta Histórica / Instituto
Liberal, 2008.
[3] WEBER, Max. Economía y Sociedad. 1ª
edição em espanhol. (Tradução de José Medina Echavarría et alii). México: Fondo de Cultura Económica, 1944, 4 volumes.
[4]
VÉLEZ Rodríguez, Ricardo. A análise do patrimonialismo através da
literatura – O Estado gerido como bem familiar. Ob. cit., p. 26.
[5] VÉLEZ
Rodríguez, Ricardo. A análise do patrimonialismo através da literatura – O Estado gerido
como bem familiar. Ob. cit., p. 27.
[6]
PAIM, Antônio. A querela do estatismo. 1ª edição. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1978.
[7]
Cf. PAIM, Gilberto. De Pombal à abertura dos portos. Rio de Janeiro: Escrita, 2011,
p. 36.
[8]
GUERRA,
Ruy. “Rega-Bofes”, Folha de São Paulo, 22-03-2013. Eis o teor da coluna do
escritor e jornalista: “Rio de Janeiro - Em sua
visita ao papa Francisco em Roma, a presidente Dilma rebocou quatro ministros
de Estado, assessores sortidos, os protocolares aspones e um batalhão de
seguranças. Juntos, ocuparam 52 quartos de hotel na cidade, dos quais 30 no
Excelsior, equivalente ao nosso Copacabana Palace e cujas diárias vão de R$ 970
a R$ 7.700. O Excelsior fica na via Vêneto, cenário do épico de Fellini, A Doce Vida, de 1960, filme que a Igreja
Católica tentou incinerar. Para se deslocar entre A Doce Vida e o Vaticano --meia hora de táxi para os turistas
comuns--, a comitiva brasileira contratou 17 veículos, incluindo sedans, carros
blindados, vans executivas, micro-ônibus, caminhão-baú e furgões. Ainda não se
sabe o custo em molhos e vinhos da expedição. Bem que o papa tentou
desestimular os governantes, exortando-os a dar o dinheiro aos pobres em vez de
torrá-lo no beija-mão, mas eles não o ouviram. No passado, tais rega-bofes de
brasileiros no exterior, pagos pelos cofres públicos, eram combatidos pelos que
estão hoje no poder. Em 1989, por exemplo, a comitiva do presidente Sarney ao
bicentenário da Revolução Francesa, em Paris, chocou até os locais --centenas
de brazucas hospedados no hotel Crillon, compras na rue Cambon e brindes sem
conta com Cristal, Krug e Taittinger. Ao ver aquilo, os franceses se
perguntaram para que servira 1789. Dessa vez, que bom que o papa confirmou para
Dilma sua vinda ao Festival Mundial da Juventude, no Rio, em julho. Mas que não
se espere pompa em sua estadia. Para começar, ele não se hospedará no Copa, mas
num retiro no Alto da Boa Vista ou numa casa na Glória, sendo que, desta, lhe
será mais fácil, se quiser, pedir refeições da Spaghettilândia. E para que
caminhão-baú se suas batinas ocupam menos espaço que os terninhos e tailleurs
da presidente?”
CURTAS E GROSSAS SOBRE A ARRUAÇA DO 29 DE ABRIL EM CURITIBA
A ARRUAÇA DE 29 DE
ABRIL EM CURITIBA E A REPÚBLICA
As professoras de várias Faculdades do Paraná vestiram de luto como
protesto pelos 213 feridos na manifestação de 29 de Abril, em Curitiba, nos
arredores da Assembleia Legislativa, ao ensejo dos atos violentos praticados
por militantes contra as forças da ordem. Solidarizavam-se com os docentes que
tinham levado pancadas e tiros de borracha na confusão. Contudo, acho que o
motivo do luto deveria ter sido outro: a instrumentalização dos professores
pelo sindicato ligado à CUT e que segue as diretrizes do PT.
Como noticiou Reinaldo Azevedo no seu blog em 30 de Abril, “O confronto
no Paraná foi meticulosamente planejado por extremistas e por profissionais da
baderna”. Vendo as imagens passadas pelos noticiários, pode-se ter a convicção
de que elementos estranhos participaram com a finalidade de radicalizar os
ânimos e levar ao confronto. O sindicato dos professores, de outro lado, agiu
como braço do PT. O sindicato, também, está desobedecendo a ordem da Justiça no
sentido de parar com a greve decretada.
Qual era, na realidade, o fim perseguido no confronto? Alterar o texto
da proposta apresentada pelo governo paranaense em relação ao financiamento das
aposentadorias dos servidores públicos? A julgar pela animosidade da
manifestação que foi mais um ato de violência para provocar a reação da força
policial, tratava-se de desprestigiar o atual governo presidido por um partido
que se situa na oposição ao PT e que ganhou as eleições para o governo do
Estado do Paraná, por ampla maioria sobre a candidata petista.
Vale a pena que lembremos um pouco fatos anteriores à pancadaria do dia
29. As imagens da ocupação da Assembleia Legislativa do Paraná, em 10 de
Fevereiro deste ano, mostram que o sindicato agiu, nessa oportunidade, movido
pela radicalização política, visando a desacreditar um dos poderes públicos
legitimamente constituídos e causando sérios danos ao patrimônio do Estado. Uma
coisa é uma organização sindical, dentro do marco da lei, reagir contra uma
proposta que não satisfaz, pretensamente, os interesses da categoria de
trabalhadores que representa. Outra muito diferente é partir para o confronto,
visando unicamente o desconhecimento da ordem legal.
O governo do Estado preparou uma proposta para criação do plano
previdenciário dos funcionários do Estado. Essa proposta foi amplamente
divulgada e debatida. Não vejo como o plano previdenciário que foi aprovado
afete negativamente a vida dos professores. Muito pelo contrário, garante os
seus benefícios nas próximas décadas. A nova proposta foi votada seguindo o
trâmite legal. Os atos de violência praticados pelos ativistas visavam,
claramente, a acirrar o confronto com a polícia, que garantia a se segurança
dos deputados cumprindo com a sua missão quanto à preservação da segurança dos
deputados estaduais reunidos para votar o projeto apresentado pelo Executivo
estadual. Se houve exageros por parte da força policial, devem ser investigados
e os seus responsáveis enquadrados dentro das punições previstas em lei. Mas o
que se viu no dia 29 de Abril foi um movimento radical que buscava o confronto
com a polícia, com fins políticos. Os atiçadores do confronto, aliás, devem ser
identificados e punidos como a lei prescreve.
Reinaldo Azevedo deixou claros, no seu blog, os aspectos
que venho tratando, na súmula que escreveu acerca do confronto de 29 de Abril e
as circunstâncias que o antecederam. A respeito, o jornalista frisou no seu
blog do dia 30: “Os antecedentes de invasão violenta e depredação da Assembleia em
fevereiro levaram a Mesa Diretora da ALEP (Assembleia Legislativa do Estado do
Paraná) a solicitar um interdito proibitório antecipando uma nova invasão do APP-Sindicato
durante a votação da matéria sobre a Previdência. O juiz Eduardo Lourenço
Bana, do Tribunal de Justiça do Paraná, proibiu nova invasão da Assembleia e assemelhados e estabeleceu uma multa
diária de R$ 100 mil para o caso de o sindicato turbar ou esbulhar a posse da
Assembleia. (...) O magistrado autorizou desde
já a requisição de reforço policial para cumprimento da ordem e adiantou,
no seu despacho, que a APP-Sindicato, com
o intuito de inviabilizar a votação de projeto de lei contrário aos seus
interesses, pretende organizar novo cerco e invasão à Assembleia Legislativa.
O juiz justificou seu despacho com os antecedentes: Oportuno consignar que recentemente a requerida organizou movimento
similar, que culminou na invasão do prédio público, com danos materiais,
tentativa de agressão a parlamentares e necessidade de intervenção judicial,
com aplicação de multa e expedição de mandado de reintegração de posse.
(...) Ninguém, a não ser os mais soturnos cultivadores da máxima do quanto pior
melhor — eles existem e são bem conhecidos —, pode estar comemorando os
resultados desse confronto lastimável. Por mais que todos os cidadãos de boa-fé
lastimem o confronto e os feridos — tanto manifestantes como policiais —, é
preciso levar em conta as alternativas. Desrespeitar a determinação judicial
que garantia o livre funcionamento do Legislativo, permitir uma nova invasão da
Assembleia e a paralisação dos trabalhos da Casa, tudo isso equivaleria a
entregar o comando de um Poder legitimamente eleito ao arbítrio de uma
categoria radicalizada, sob o comando de lideranças que perderam qualquer
vestígio de equilíbrio e bom senso”.
Será que a sociedade brasileira se radicalizou em face desses fatos e
dos outros desmandos protagonizados pela militância petralha? Sinceramente não
vejo uma radicalização cidadã. Vejo, sim, uma mobilização pacifica. Tenho
participado das passeatas contra o governo Dilma e contra o PT e tudo o que
observei foi uma alegre manifestação dos cidadãos com as suas famílias,
protestando contra a corrupção, o aparelhamento do Estado e a sem-vergonhice
que o Mensalão e o Petrolão significam para as pessoas de bem que pagam a farra
dos corruptos com os seus impostos. Outra coisa são os manifestantes que,
ligados à militância dos desordeiros, causam tumulto, como aconteceu em várias
das manifestações de Junho de 2013.
Diferentemente dessas, nas atuais manifestações o que tem prevalecido é
a ordem e a tranquilidade. Os militantes radicais refluíram. Voltaram a
aparecer em Curitiba, no dia 29 de Abril, assim como partiram, em São Paulo,
para a destruição da fachada da Secretaria Estadual de Educação, há duas
semanas. O que a sociedade quer é simples: que os políticos coloquem sobre o
tapete reformas concretas, que ponham freio à corrupção reinante e ao
aparelhamento do Estado por um partido que age à margem da lei.
Como preservar a ordem constitucional e evitar a conflagração geral do
país nestes momentos? A resposta é muito simples: cumprindo com as
determinações da Justiça e respeitando as leis. A arruaça somente favorece aos
radicais. Todo mundo sai perdendo. E uma providência deveria ser tomada pelo
PT: não estimular a radicalização, que termina piorando as coisas. Lula, do
alto do seu eterno palanque, só tem ajudado a botar gasolina na fogueira. Em
lugar de ouvir o que os cidadãos indignados clamam nas ruas, o ex-presidente
petista fica conclamando o “exército de Stédile”, ou seja, a militância
radical. Isso em nada ajuda o país a encontrar soluções viáveis para os atuais
problemas.
O problema é que Lula, no seu populismo doentio, somente identifica,
como atores políticos qualificados, ele e os seus seguidores incondicionais,
prescindido das Instituições. Há uma vaga de anarquismo no lulopetismo, que tem
conduzido o Brasil ao beco sem saída em que se encontra. Quando defendo o
impeachment de Dilma, luto em prol de um corte radical com essa sina de
desgoverno e niilismo político, retomando a valorização das instituições
republicanas. O populismo lulopetralha causa um grande mal ao país, na medida
em que vende a falsa ilusão de que é possível viver sem leis. É a versão
macunaímica do princípio totalitário de Lenine, expresso nestas palavras do
fundador do bolchevismo: “conquistar um poder não limitado por leis”. Ora,
sejamos sinceros, esse é o poder que Lula e a petralhada almejam!
Os limites da indignação popular são aqueles que marcam a sobrevivência
das instituições republicanas. Não pode ser tolerada a violência. Não pode ser
aceita a destruição do patrimônio público e privado. As manifestações têm de
ser ordeiras. Atitudes de selvageria que visam a intimidar a opinião pública e
a desmoralizar as instituições republicanas devem ser banidas. Não pode ser
aceita a truculência dos militantes que visavam à ocupação violenta do Centro
Cívico em Curitiba, a fim de impedir o funcionamento do Poder Legislativo do
Estado. Isso é anarquia.
Em meio à instabilidade que a anarquia lulopetralha semeou no país,
colocando tudo a serviço do Partido e desmantelando as melhores práticas da
administração pública responsável, a reação indignada dos cidadãos deste país
já conseguiu algumas vitórias. Medidas concretas já começam a aparecer no seio
do Congresso. Um exemplo: a aprovação, pelo Senado, da proposta de José Serra
no sentido de adotar o voto distrital para as próximas eleições municipais.
Essa é uma conquista valiosa que deve ser apoiada pelos cidadãos. Se cada
cidade acima de 200 mil habitantes for dividida em distritos eleitorais de
aproximadamente 50 mil habitantes, os candidatos eleitos certamente deverão
prestar contas a um número detectável de eleitores que podem, se preciso for,
cassar o mandato dos corruptos. Ora, isso é uma autêntica revolução na
democracia brasileira! A partir daí o Brasil poderá encontrar um
rejuvenescimento da representação política, que hoje anda mal das pernas, em
decorrência da impossibilidade de os eleitores cobrarem algo dos seus eleitos,
porque o voto proporcional atualmente existente pulveriza os votos num universo
muito grande e indefinido. Ora, você pode perguntar como foi possível a
aprovação da proposta de criação do voto distrital. Muito simples: a voz das
ruas se fez ouvir no Congresso! Medidas semelhantes podem ser veiculadas no
seio do Legislativo para sanear a política e a economia que, aliás, já está
começando a caminhar no rumo certo, com as providências de controle do gasto
público adotadas (contra a vontade dos petralhas) pelo Ministro da Fazenda.
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