Eleição se ganha com dois procedimentos: um de médio, outro de curto prazo. O de médio prazo relaciona-se com pontos fundamentais da campanha, nos terrenos vitais da vida social do país, no econômico, no político e no cultural. O de curto prazo, vincula-se às expectativas cotidianas da maior parte do eleitorado, àquilo que as pessoas esperam no seu dia a dia.
O procedimento de médio prazo visa à parcela mais ilustrada da sociedade, aquela que lê jornais e assiste aos noticiários oferecidos pelas redes a cabo, menos dependentes do controle imediato do governo. Para esta parcela da população, pesa de forma especial a divulgação dos malfeitos deste segundo e vergonhoso mensalão, ligado às cavernosas negociações do doleiro Youssef e do ex-vicepresidente da Câmara André Vargas. Ora, essa divulgação, hoje, terminou desaguando no tráfico internacional da cocaína, como tem revelado as ligações dessa turma de larápios com a máfia napolitana, no lucrativo negócio de exportação de cocaína via portos brasileiros para o mercado europeu. O dinheiro para aquisição da droga proveio, segundo revelam as denúncias do Ministério Público, de negócios escusos do mencionado doleiro, inclusive daqueles ligados aos desvios de dinheiro da Petrobrás com a intermediação de empresas fantasmas. Para a parcela mais ilustrada do eleitorado, esses fatos são definitivos na hora de escolher em quem votarão. Certamente não o farão em Dilma nem no PT, associado a toda essa lambança.
No procedimento de médio prazo ocupa lugar de relevância a elaboração de um plano de voo para um futuro governo oposicionista que corrija os desvios do modelo lulopetista. Isto vale, especialmente para as políticas públicas no campo econômico. A sociedade brasileira está cansada com a concepção puramente distributivista dessas políticas pelos militantes-burocratas, como se tudo se resolvesse dando dinheiro do Tesouro à torta e à direita, através das famigeradas bolsas de todos os matizes, sem que se enxergue a forma de estimular o setor produtivo ligado à iniciativa privada (que garante, mediante os impostos, os programas sociais do governo). No terreno das políticas internacionais, impõe-se, num novo programa de governo, a correção dos rumos terceiro-mundistas e antiamericanos do Itamaraty, projetados hoje para reforçar o populismo dito "bolivariano". No campo das políticas culturais, ocupa lugar de importância a identificação de prioridades com a melhora da educação básica e secundária e com a fixação de parâmetros não ideológicos nas provas do Enade. É urgente, outrossim, a revisão de programas ineficazes e megalomaníacos como o "Ciência sem fronteiras", que cria mais problemas do que benefícios, ao desviar recursos orçamentários que antes favoreciam projetos sérios de pesquisa básica nas melhores Universidades brasileiras, para colocar em centros de estudos do primeiro mundo indivíduos que não preenchem as condições acadêmicas mínimas, como domínio da língua estrangeira, dando ensejo ao pernicioso e conhecido "turismo acadêmico".
É claro que os discursos preeleitorais devem dar atenção aos interesses daqueles eleitores menos esclarecidos, que constituem ainda hoje a maior parte do eleitorado brasileiro. Para estes eleitores, os programas sociais que lhes garantem dinheiro básico destinado à sobrevivência, são de capital importância. No entanto, é possível esclarecer estas pessoas, mediante uma campanha bem elaborada, no sentido de que a melhor garantia para conservar os benefícios que hoje recebem, consiste em sanear a economia, a fim de que esses recursos não faltem e sejam distribuídos aos que precisam, evitando a corrupção que provoca desvio dos mesmos. Os descaminhos de gestão que desviam enormes somas de dinheiro público causam inflação. E esta o povinho sabe o que é. A campanha pode estabelecer a ponte entre os descaminhos e a desgraça inflacionária.
É importante que os candidatos oposicionistas desçam do muro da linguagem acadêmica que somente chega à classe média e elaborem, mediante o auxílio de hábeis marqueteiros, um discurso que atinja as classes populares. É lorota petista dizer que estas já foram guindadas à classe média. É necessário falar para esses segmentos menos favorecidos. E falar para eles significa elaborar propostas viáveis, alicerçadas em políticas públicas duradouras. Sem levar em consideração este importante segmento do eleitorado, os candidatos oposicionistas morrerão na praia, como já aconteceu em eleições passadas. O PT é mestre em marquetagem política, mas não é invencível nesse terreno. O seu ponto fraco consiste em que os petralhas sempre misturaram sadias esperanças com propostas inatingíveis. É aí que entra a vez dos candidatos da oposição, que podem elaborar um discurso de confronto às propostas petistas, prometendo metas atingíveis mediante uma sadia dosagem dos programas sociais que ajudam, mas não são panaceia.
Dizia Fernando Gabeira em recente artigo ("A volta do retorno", O Estado de S. Paulo, 09-05-2014) que a apreensão do naufrágio "se define com a perda do horizonte. Mesmo o famoso mercado parece esperar a derrota de Dilma. Quando cai nas pesquisas, a Bolsa sobe. Mas nem sempre o mercado tem razão diante da política. Senão, substituiríamos o debate parlamentar pelo grito dos corretores na Bolsa. Realizar uma política social generosa, muitas vezes, bate de frente com o mercado. Só é possível levá-la adiante, de fato, num quadro econômico de crescimento sustentável. E parece existir no mercado a compreensão de que a atual política econômica está fracassando, de que Dilma foi má administradora em campos vitais, como a energia, e incompetente para deter a degradação da Petrobrás. (...) Nada como esperar a campanha presidencial de 2014. Por enquanto, o discurso do governo é 80% mentira e 20% malandragem". Concordo com Gabeira. Um discurso de campanha bem articulado estabelecerá a ponte necessária entre o político e o econômico, de forma a ilustrar os eleitores acerca dos riscos de propostas populistas como as que o PT apresenta costumeiramente.
Como é difícil para a oposição entender e praticar isto. É preciso trancar o "moinho" no jogo do moinho. O jogo russo não se ganha com beijinhos nos ombros.
ResponderExcluirObrigado, caro Selvino, pelo teu comentário. É difícil mesmo a oposição entender isto, infelizmente! Abraço
ExcluirPercebi claramente isso mesmo Ricardo, Os senhores do poder falam e agem para a maioria dos brasileiros e por isso ganham eleições.A oposição infelizmente não consegue descer o nivel do discurso, falando apenas para a minoria. Que pena que essa seja a minoria.
ResponderExcluirObrigado, cara amiga, pelo teu comentário. Traduzir as grandes questões em linguagem popular, eis o desafio que, infelizmente até agora, o PT realiza magistralmente, em que pese os seus descaminhos nestes dez anos de lulopetismo. Tomara que na seara oposicionista haja esforço de tradução equivalente. O Brasil não aguenta mais um governo lulopetista! Abraço grande.
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