Superaremos o "pibinho" por um projeto de República que mereça esse nome? |
O diabo é que Lula e o PT colocaram em funcionamento o maior
programa de compra de votos do mundo, segundo palavras do senador Jarbas
Vasconcelos, na famosa entrevista concedida à Revista Veja em 2009 [“O PMDB é
corrupto” entrevista publicada na edição número 2100, de 18 de fevereiro de
2009]. Nessa entrevista, o senador frisava: “O Bolsa Família é o maior programa
oficial de compra de votos do mundo (...). Há um benefício imediato e uma
consequência futura nefasta, pois o programa não tem compromisso com a
educação, com a qualificação, com a formação de quadros para o trabalho. Em algumas
regiões de Pernambuco, como a Zona da Mata e o agreste, já há uma grande
carência de mão-de-obra. Famílias com dois ou três beneficiados pelo programa
deixam o trabalho de lado, preferem viver de assistencialismo. Há um
restaurante que eu frequento há mais de trinta anos no bairro de Brasília
Teimosa, no Recife. Na semana passada cheguei lá e não encontrei o garçom que
sempre me atendeu. Perguntei ao gerente e descobri que ele conseguiu uma bolsa
para ele e outra para o filho e desistiu de trabalhar. Esse é um retrato do
Bolsa Família. A situação imediata do nordestino melhorou, mas a miséria social
permanece”.
Ora, não se desmitologiza uma crença se ela não mostra, na
prática, aonde pode nos conduzir. E se
não for substituída por outra crença que ocupe o seu lugar, como frisava Ortega
y Gasset. O problema é que demoramos dez anos para cair na real. Poderíamos ter
esconjurando o fantasma logo após o primeiro governo Lula. Mas preferimos ficar
em “berço esplêndido”, fazendo de conta que tudo estava ótimo. O máximo que os políticos contrários à onda
lulopetista fizeram foi “deixar sangrar” o Lula após o affaire do mensalão,
sendo que tinham nas mãos a possibilidade de coloca-lo para fora do poder mediante
um impeachment. Faltou coragem de
estadistas aos que faziam oposição. Lula, como bom populista, se refez
aproveitando o vácuo de inação dos oposicionistas e o resultado todos
conhecemos: reergueu-se, deu a volta por cima e, em 2006, reelegeu-se para mais
quatro anos de palanque e de roubalheira lulopetralha.
A solução é o caminho da razão e a penosa tarefa de
elaborarmos um plano de governo que coloque freio à pretensa hegemonia
lulopetista. Precisamos substituir a crença no salvacionismo messiânico fácil,
profundamente ancorada no sentimento sebastianista do povo brasileiro, pela convicção
de que sem defesa da liberdade dos indivíduos e de que sem transparência na
gestão dos negócios públicos não há República que mereça esse nome. Trata-se,
hoje, de substituir Marx e Gramsci por Kant e por Tocqueville. Devemos superar
a crença fácil de que o “novo príncipe” nos conduzirá à riqueza e à felicidade
geral da Nação e substituí-la pela convicção de que somente a defesa da
liberdade e o reto uso da razão na gestão pública poderão nos remir das
desgraças presentes.
Quando falo em defesa da liberdade, considero que ela deve
ser objetivo a ser conquistado em todos os campos, o econômico, o político e o
cultural. No campo econômico, com o fim da ideia do Estado empresário em que
embarcou falaciosamente a esquerda. No campo político, com a defesa da
representação e do seu aprimoramento, contra a falaz proposta da “democracia da
praça pública” que conduz à manipulação da massa pelos militantes jacobinos. No
campo cultural, com a valorização da cultura humanista e da formação do cidadão
nela, a fim de não cair na cilada do dogmatismo cientificista. A democracia,
certamente, não cai do céu. Precisamos construí-la. Diante do desgoverno destes
dez anos de privatização do poder por um partido, devemos sacudir o pó e nos
reerguermos com coragem, para enfrentarmos a tarefa de pensar o Brasil da
próxima geração.
É isso aí professor, o que o Brasil mais precisa são Kants e Tocquevilles, que possam desconstruir o mito dos petralhas.
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