Foi lançado em São Paulo, no passado 19 de Maio, na Livraria Cultura do Shopping Market Place, no Morumbi, o meu livro intitulado: Da guerra à pacificação: a escolha colombiana (Campinas: Vide Editorial, 2010, 165 p.). Tive a alegria de lançar o meu livro ao lado do mestre e amigo Antônio Paim, cuja obra intitulada: Marxismo e Descendência (publicada pela mesma editora em 1009 e já resenhada no meu blog) foi lançada em São Paulo nessa oportunidade (o primeiro lançamento tinha acontecido, em Campinas, no final do ano passado).
O programa de publicações da Vide Editorial foi apresentado pelo seu diretor, Antônio Roberto Batista. A apresentação das obras lançadas ficou a cargo de três debatedores: Antônio Carlos Pereira (redator do jornal O Estado de São Paulo), Sílvio Passarelli (da Fundação Armando Álvares Penteado) e Luiz Alberto Machado (do programa de pós-graduação em Relações Internacionais da mesma instituição). Fiquei muito feliz de rever, na mesa de debates, estes três colegas de trabalho de há trinta anos atrás, quando nos conhecemos na Sociedade Brasileira de Cultura Convívio, de São Paulo, na redação dos boletins “Planalto”, bem como das revistas Convivium e Política e Estratégia.
Farei, a seguir, uma breve síntese da minha obra Da guerra à pacificação: a escolha colombiana. O livro consta de cinco capítulos, que abarcam os seguintes temas: 1 - A violência colombiana, no seio da tradição patrimonialista da América Latina. 2 - Primórdios da guerra do narcotráfico na Colômbia. 3 - Do messianismo político ao narco-estado: os descaminhos da Teologia da Libertação. 4 - O conflito colombiano: uma guerra contra a sociedade. 5 - Colômbia: uma nova realidade. 6 - Perspectivas para a próxima década, à luz da experiência colombiana.
A problemática da violência sempre foi um fator presente nas sociedades latino-americanas. A configuração dos Estados como instâncias mais fortes do que a sociedade, numa tendência de privatização do espaço público pelos clãs, foi a causa básica do fenômeno. É a herança ibérica que, superada no Velho Mundo, ainda não foi vencida em terras americanas. É fator constituinte do denominado "custo Brasil”. O Estado, como frisava Raymundo Faoro, “sempre teve donos”. Ou como apontava Oliveira Vianna, a ausência de espírito público, essa é uma das marcas registradas na nossa cultura política. Até o final do século XX, essa realidade deu ensejo a Estados em que o compadrio era a lei que comandava o preenchimento de cargos, com toda a seqüela de falta de visão nacional e ausência de patriotismo. O patotismo, na América Latina, sufocou o patriotismo. Patotismo ou clientelismo que deu ensejo, ao longo do nosso Continente sul-americano e também na América Central e no México, às várias gerações de compadres que dominavam a ferro e fogo. Resquícios dessa pesada herança são a ditadura dos irmãos Castro em Cuba e o populismo dito bolivariano do coronel Chávez na Venezuela. Embora tenhamos caminhado, no Brasil, em direção à consolidação de instituições democráticas, notadamente ao longo dos últimos vinte anos, não podemos negar que o patrimonialismo ainda grassa na nossa cultura política. São as várias clientelas que, no recente ciclo de abertura e de amadurecimento democrático, têm preenchido os cargos federais com amigos e apaniguados dos Presidentes, fenômeno que tem dado ensejo às várias "Repúblicas" que caracterizam a nossa história recente: "República do Maranhão", "República das Alagoas", "República do pão de queijo", "República dos companheiros"...
A problemática da violência sempre foi um fator presente nas sociedades latino-americanas. A configuração dos Estados como instâncias mais fortes do que a sociedade, numa tendência de privatização do espaço público pelos clãs, foi a causa básica do fenômeno. É a herança ibérica que, superada no Velho Mundo, ainda não foi vencida em terras americanas. É fator constituinte do denominado "custo Brasil”. O Estado, como frisava Raymundo Faoro, “sempre teve donos”. Ou como apontava Oliveira Vianna, a ausência de espírito público, essa é uma das marcas registradas na nossa cultura política. Até o final do século XX, essa realidade deu ensejo a Estados em que o compadrio era a lei que comandava o preenchimento de cargos, com toda a seqüela de falta de visão nacional e ausência de patriotismo. O patotismo, na América Latina, sufocou o patriotismo. Patotismo ou clientelismo que deu ensejo, ao longo do nosso Continente sul-americano e também na América Central e no México, às várias gerações de compadres que dominavam a ferro e fogo. Resquícios dessa pesada herança são a ditadura dos irmãos Castro em Cuba e o populismo dito bolivariano do coronel Chávez na Venezuela. Embora tenhamos caminhado, no Brasil, em direção à consolidação de instituições democráticas, notadamente ao longo dos últimos vinte anos, não podemos negar que o patrimonialismo ainda grassa na nossa cultura política. São as várias clientelas que, no recente ciclo de abertura e de amadurecimento democrático, têm preenchido os cargos federais com amigos e apaniguados dos Presidentes, fenômeno que tem dado ensejo às várias "Repúblicas" que caracterizam a nossa história recente: "República do Maranhão", "República das Alagoas", "República do pão de queijo", "República dos companheiros"...
É claro que não estamos sozinhos no usufruto dessa pesada herança. O drama argentino consiste em não terem conseguido, os nossos vizinhos, estabelecer, por cima das clientelas de políticos provinciais, um centro de poder que governe efetivamente, traçando políticas de alcance nacional. Isso, aliás, não é novo na política platina, e já o grande Domingos Faustino Sarmiento em Facundo destacava, em 1846, que a tendência à privatização do Estado era o grande mal que afetava aos argentinos, sendo que o processo centralizador deu-se, no período de Rosas, sob o signo de uma sanguinolenta tirania que enquadrou todo mundo pela barbárie, repetindo, no plano federal, o que Facundo Quiroga tinha realizado anteriormente na sua província. Algo que teve o seu contrapeso do lado brasileiro, no regime de cooptação que Dom Pedro II impôs às oligarquias regionais, tendo dado ensejo às instituições imperiais. Diríamos que, em termos de organizar o Estado, o patrimonialismo estamental de Dom Pedro foi muito mais civilizado que o patrimonialismo de faca na bota de Rosas. No século XX, podemos estabelecer comparação semelhante entre o patrimonialismo sindical de Perón e o tecnocrático de Getúlio.
A hipótese que levanto neste livro é a seguinte: quando, no decorrer da segunda metade do século XX, o patrimonialismo vinculou-se, nos países latino-americanos, ao mercado dos tóxicos e à ação radical do Foro de São Paulo , a violência disparou e ensejou a formação de Estados dentro do Estado, cuja manifestação mais contundente foi a República das FARC que, entre 1998 e 2002, a guerrilha colombiana organizou na zona sul-oriental da Colômbia, numa área equivalente à do Estado do Rio de Janeiro, pondo em xeque a segurança continental, porquanto se constituiu em centro de irradiação do narcotráfico pelo Continente sul-americano afora, bem como em núcleo de exportação da narco-guerrilha aos países vizinhos. A América Latina conheceu, também, a sua Guerra do Ópio!
Em face desse fenômeno da narco-guerrilha, analiso os riscos que decorrem para o Brasil, notadamente. Considero que esses riscos aumentam, na medida em que a esquerda brasileira continua presa ainda a um modelo arcaico de comportamento politicamente correto, que a faz enxergar nos guerrilheiros colombianos combatentes idealistas pela justiça social e em prol da instauração do socialismo, quando o que realmente constituem é um núcleo de terroristas financiados pelo narcotráfico, que têm como única finalidade a racionalização dos seus negócios e a expansão do seu modelo de exploração para o resto do Continente sul-americano. O modelo colombiano da narco-guerrilha não está longe do Brasil: isso é testemunhado pelo fato de Fernandinho Beira Mar ter sido o elo entre as FARC e o narcotráfico carioca. Ou pelo fato, mais recente, da descoberta, pela Polícia Federal, de acampamentos de guerrilheiros das FARC, na Amazônia brasileira, para processamento e comercialização de cocaína e crack. É claro que isso se tornou possível em decorrência da leniência criminosa do governo brasileiro, que, ao longo dos últimos oito anos, fez vista grossa em face dos narcoterroristas das FARC, chegando até homiziá-los em território brasileiro, com a esfarrapada desculpa de que se tratava de concessão de “asilo político”, como aconteceu com funcionário graduado do grupo guerrilheiro, o padre Oliverio Medina.
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