O
modelo de sociedade pautada por um Estado patrimonialista está em crise. Mas
não apenas pela ação dos políticos larápios e dos empresários cooptados por
eles. O nosso modelo social entrou em parafuso por falta de sustentação
axiológica. A crise vem de baixo, da grande massa das famílias. Isso ficou
evidente em pesquisa recente efetuada pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo a qual o Brasil é campeão mundial em
mau comportamento em sala de aula, o que leva os professores a gastar 15% do
seu tempo tentando manter a disciplina.
Essa
lamentável realidade levou a presidente da Federação Nacional das Escolas
Particulares (Fenep), Amábile Pacios, a contestar o lema do governo federal,
que, no voluntarismo que o caracteriza, tentou erguer o bordão "Brasil,
pátria educadora", ao mesmo tempo que a presidente Dilma Rousseff tenta
acobertar os corruptores do PT no caso do petrolão. E ao mesmo tempo que o PT,
na sua reunião para "comemorar" os 35 anos de fundação, se
solidarizou com os larápios petralhas, ignorando o mal-estar que a sociedade
brasileira vive ao ensejo da pior onda corruptora do País, que conseguiu fazer
naufragar a nossa maior empresa estatal, a Petrobrás.
Para
Amábile Pacios, o slogan "Brasil, pátria educadora" constitui apenas
mais um jingle político bolado por marqueteiros. "Eu percebo", frisou
a presidente da Fenep, "que esse desrespeito vem muito do modelo de
sociedade que a gente está tendo e pelo modelo de família, e diz respeito à
falta de valores que a gente está impondo à sociedade". A mesma opinião
foi externada pelo presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no
Ensino Municipal de São Paulo, que representa 1.400 escolas.
Ora,
a crise vivida pelo ensino nos seus níveis primário e secundário se estende
também às universidades e faculdades. Antigas ilhas de excelência, como a
Universidade de São Paulo (USP), têm assistido a cenas de vandalismo e de longa
perturbação da ordem, em intermináveis greves de caráter político que têm como
prato forte a destruição do patrimônio, o consumo de tóxicos e o desrespeito à
sociedade. O modelo anarquista de greves generalizadas no ensino superior
estendeu-se pelo Brasil afora e reforça a convicção de que o nosso país perdeu
o rumo.
Duas
vias se apresentam, nesse conturbado cenário. Do ponto de vista da sociedade,
uma tomada de consciência da gravidade do problema, acompanhada da mudança de
comportamento, de forma a dar ensejo a nova atitude que leve a gerar
responsabilidade nos educandos e educadores. Do ponto de vista político, a
urgência de colocar sobre o tapete soluções na reformulação da nossa política,
que enveredou por esse caminho de privatização do Estado por clãs, como se o
único norte fosse beneficiar amigos e apaniguados.
Difícil
tarefa, quando o caminho para solucionar os conflitos passa por algo que as
pessoas se recusam a observar: os valores que as movem. Sem isso a revisão
deles e a mudança de atitudes se tornam tarefas impossíveis.
Mas
as coisas não param por aí. É necessário, também, reformular as nossas
instituições, a fim de que o Estado passe a servir à sociedade e não continue a
ser o balcão de negócios gerido por espertalhões que privatizaram o governo em
benefício próprio. Aqui a via necessária é a da reforma política, que deve
partir para reestruturar o nexo de responsabilidade entre eleito e eleitor,
impedindo a proliferação de partidos nanicos e adotando um modelo de voto, como
o distrital, que atrele o eleito às responsabilidades decorrentes da
representação de interesses dos cidadãos.
De
outro lado, faz-se necessário, na reforma apontada, colocar freio ao excessivo
poder acumulado pelo Poder Executivo, capaz de corromper o Poder Legislativo
mediante o oferecimento de vantagens pecuniárias. O caminho da reforma, neste
ponto específico, seria, em primeiro lugar, o da responsabilização da atual
presidente pelas decisões erradas em face da Petrobrás, que de forma criminosa
tiraram desta a sustentação de credibilidade no cenário.
Em
segundo lugar, a reforma política deveria contemplar a punição exemplar
daqueles que puseram as instituições do Estado a serviço de políticas
populistas que terminaram esvaziando os cofres públicos. É necessário deixar às
claras as obscuras decisões tomadas pelos governos de Lula e Dilma no caso do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para beneficiar
amigos no cenário internacional, sem que aparecessem as vantagens que daí
adviriam para o Brasil. Refiro-me, sobretudo, ao milionário financiamento para
a construção do porto de Mariel, em Cuba. Isso para não falar da falida
aventura da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, da qual
participaria com recursos o governo venezuelano, sem que até a data o Brasil
tenha recebido um só tostão.
Uma
providência necessária seria também acabar com a prática das "emendas
parlamentares", que só corrompem a representação e colocam o Legislativo
em mãos das negociatas inescrupulosas do Executivo.
O
cenário, como se vê, é complicado e não sairemos dele sem um grande esforço
pessoal e coletivo. Escrevia recentemente o Prêmio Nobel Mário Vargas Llosa
(Suicídio político em voga, O Estado de São Paulo, 8/2, A14) que as nações optam, às vezes, pelo
haraquiri político, tomando decisões erradas que comprometem o bem-estar de
futuras gerações. O Brasil, infelizmente, está nesse caminho. Não será fácil
sair dele. Mas não temos outra escolha, se quisermos legar aos nossos filhos um
País habitável, e não um cenário de conflito e destruição.
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