O fenômeno do desajeitado voo galináceo do desenvolvimento
brasileiro manifesta-se, notadamente, no campo educacional. As políticas
públicas para o setor não tiveram continuidade ao longo dos últimos cinquenta
anos, além da circunstância de que, em geral, não foram adequadamente traçadas.
É o que mostrarei nas próximas páginas. Analisarei, em
primeiro lugar, as reformas educacionais do ciclo militar, destacando a
tradição cientificista em que elas ancoraram. Passarei a analisar, em seguida,
os problemas do ensino na Nova República, e as políticas públicas com que os
governos tentaram dar resposta, notadamente ao longo dos mandatos de Fernando
Henrique Cardoso (1994-2002). Analisarei, em terceiro lugar, as políticas
públicas de educação ao longo dos governos petistas.
Concluirei destacando a falta de continuidade na formulação
das políticas públicas em educação nesses três momentos da história
republicana.
1 - As reformas educacionais
no ciclo militar e a tradição cientificista em que elas ancoraram.
O ciclo militar centrou a sua preocupação na formação
universitária, tendo ampliado de forma exponencial os índices de acesso à
educação superior. Seguiam os militares as recomendações estratégicas de um dos
pilares da proposta modernizadora brasileira, Oliveira Vianna [1]
(que tinha sido adotado pelo Getúlio, desde os seus tempos de parlamentar, entre
1923 e 1926, como parâmetro a ser seguido na equação da denominada
“circularidade”, ou integração nacional). Neste terreno os militares
continuaram na trilha do modelo modernizador getuliano. A lei 5692 de 1971 colocou
o sistema de ensino num contexto em que os três níveis (básico, médio e
superior) se integravam harmoniosamente como coadjuvantes do modelo
desenvolvimentista adotado no plano econômico.
No modelo proposto por Oliveira Vianna, a educação para a
cidadania era considerada item fundamental para superar o “complexo de clã”,
responsável pela ausência de espírito público. Os militares deram atenção a
esse importante aspecto, mediante a programação da disciplina “educação moral e
cívica” para os níveis básico e secundário, bem como da disciplina “estudo de
problemas brasileiros” para o nível superior.
Nada de errado se a concretização do modelo tivesse
respeitado a identidade de cada um dos seus níveis. Na prática, porém, terminou
acontecendo que os três níveis passaram a ser entendidos em função do
imediatamente superior, tudo polarizado numa visão puramente profissionalizante.
Assim, o ensino básico foi simplesmente considerado como patamar do secundário,
que passou, por sua vez, a ser entendido como etapa preparatória para o
universitário, que foi enclausurado na visão profissionalizante. Surgidos os
cursos de pós-graduação a partir dos anos 80, estes passaram a dominar o
panorama, ao ser a Universidade, no nível de graduação, entendida como etapa
preparatória para a pós-graduação.
A prática do ensino, coordenada pelos burocratas do MEC e
cada vez mais desligada da realidade, terminou sendo fechada no que tenho
denominado de “funil da insensatez”, que consiste na seguinte hierarquização: o
ensino básico prepara para o secundário, que prepara para a graduação
universitária, que junto com a pós-graduação, deveria preparar para o mercado
de trabalho... Só que, como o sistema foi pensado à margem do setor produtivo,
nem sequer cumpriu com a sua finalidade profissionalizante a contento, pois
foram oferecidas opções nem sempre acordes com as vagas de trabalho existentes
no mercado. Isso, evidentemente, traduziu-se em desemprego profissional.
Leonardo Prota identificou com propriedade a crise da
Universidade brasileira no seu livro Um novo modelo de Universidade (São
Paulo: Convívio, 1987). Essa crise repousa na identidade puramente
profissionalizante de que a Universidade passou a se revestir no Brasil, na
trilha da herança pombalina, tendo sido abandonada a formação humanística. A
respeito, estas são as palavras de Prota, na Introdução à mencionada obra:
“Partindo da ideia de que o ensino superior no Brasil, inexistente na Época
Colonial, estruturou-se, após a Independência, segundo o modelo francês das Grandes Escolas, voltadas exclusivamente
para a profissionalização, o que viria ao encontro do estado de espírito
iniciado com a reforma pombalina, com base no ideário cientificista (...). Na
raiz da crise (...) está precisamente a tradição profissionalizante”. [2]
Houve um esforço, nos anos trinta do século passado, no
sentido de superar o viés puramente profissionalizante, com a criação da
Faculdade de Filosofia da USP e da Escola de Ciências da Universidade do
Distrito Federal, no Rio de Janeiro. A propósito, frisa o professor Prota:
“(...) Momentos efêmeros, embora com certos reflexos mais permanentes na
prática da pesquisa científica, não suficientemente fortes, porém, para superar
a tradição profissionalizante. Nem a terceira tentativa, da Universidade de
Brasília, criada com firme propósito de oferecer um modelo de Universidade
moderna, que coloca a pesquisa científica como nota distintiva, alcançou o
êxito esperado (...)”. [3]
Ao longo do ciclo militar, três vícios foram detectados para
o sistema de ensino, notadamente o superior: massificação, profissionalização e
superespecialização. Ilustremos o primeiro. No período apontado, os números
superaram largamente a infraestrutura, no seio da tendência à massificação do
ensino universitário. Em artigo que publiquei em 1984, assim caracterizava esse
fenômeno: “Os dados estatísticos ilustram claramente acerca a forma em que
aparece (...) o fenômeno da massificação do ensino superior brasileiro.
Atendendo à evolução do número de instituições de ensino superior, segundo a
natureza e a dependência administrativa na década 1970-1980, constatamos que
número total delas passou de 516, no início do período, para 875, no final,
revelando um crescimento bastante acentuado. A evolução do número de cursos de
graduação, no período 1970-1980, foi também bastante significativa: o número de
cursos oferecidos passou de 2.166 em 1970, para 4.070 em 1980”. [4]
O crescimento se deu também no ensino de segundo grau e foi o
fator que levou ao aumento das vagas nas Universidades. Ilustrei esse fato da
seguinte maneira: “A pressão sobre o sistema de ensino superior veio, sem
dúvida, a partir do ensino médio, segundo revela a evolução das conclusões de
segundo grau, das inscrições e da oferta de vagas no vestibular no período em
apreço: as conclusões de segundo grau passaram de 225.913 em 1970, para 597.000
em 1980. A pressão exercida pela população de ensino médio sobre o sistema de
ensino superior se revela, sobre tudo, no enorme crescimento que experimentaram
as inscrições no vestibular: 328.931 em 1970 e 1.750.000 em 1980. As vagas
oferecidas passaram de 145.000, no início do período, para 409.000, no final do
mesmo. Se atendermos à evolução do alunado de graduação, segundo a natureza e a
dependência administrativa das instituições, no período 1970-1980, observaremos
também um crescimento bastante grande: o total geral de alunos matriculados
passa de 456.134, no início do período, para 1.345.000, no final do mesmo.
Quanto à evolução do alunado de graduação, por área de conhecimento, no período
1974-1980, deve ser salientado o papel importante representado pelo crescimento
das matrículas nos cursos de ciências humanas, cujo total de alunos em 1980
(711.000) representava mais da metade da população universitária brasileira
(1.345.000)”. [5]
O crescimento acelerado do sistema de ensino como um todo
teve reflexos no mercado de trabalho, dando lugar ao desemprego profissional.
Em primeiro lugar, porque não foi organizado o perfil profissionalizante do
segundo grau; em segundo lugar, porque o ensino universitário foi todo ele
entendido como opção profissionalizante, sem atender à capacidade de absorção
dos egressados por parte do mercado de trabalho. Em boa medida isto ocorreu
pela falta de entrosamento que sempre se tem observado, no Brasil, até os dias
de hoje, entre sistema de produção e sistema educacional.
Eis a forma em que, em 1984, ilustrava no meu artigo esse
fenômeno: “Nada de estranho que esse crescimento desregrado do sistema de
ensino superior tenha contribuído significativamente para o agravamento do
problema do desemprego profissional (...). Alguns dados estatísticos podem
ilustrar o tamanho da crise. Atendendo ao número de médicos formados anualmente
no Brasil, no período de 1950-1982, o total passou de 1.070 para
aproximadamente 10.000. O país, com uma população médica de aproximadamente
115.000 profissionais em 1983, possui uma relação estatística de um médico por
1.000 habitantes, relação bem próxima à de um médico por 600/700 habitantes
(Inglaterra, França, Estados Unidos) e à de um médico por 500/550 habitantes
(Bélgica, Alemanha Ocidental, Espanha). No entanto, devido à concentração nas
áreas metropolitanas e aos altos custos da medicina, o total de desempregados
no setor, na cidade do Rio de Janeiro, era de 3.000 e o de subempregados de
7.000 em 1982. Já a população de engenheiros desempregados no Brasil em 1981
chegava a 30.000, correspondentes a 13,65% do total de profissionais nesse
setor (220.000)”. [6]
No que tange ao vício da profissionalização do ensino
superior brasileiro, Simon Schwartzman assim o caracterizou: “A situação no
Brasil é particularmente grave (...) porque a inspiração original de nosso
sistema de ensino superior são as escolas profissionais francesas, o chamado modelo napoleônico, que consiste em uma
série de estabelecimentos de ensino que têm a faculdade, ou seja, a permissão de outorgar títulos e qualificações
profissionais. A função dessas faculdades é distribuir na sociedade certos
privilégios, corporificados nos diplomas que emitem e que devem ser depois
sancionados pelo Estado. Se acrescentarmos a isso o fato de que a tradição
cultural brasileira, católica ou positivista, nunca chegou a incorporar os
valores e as motivações da atividade científica; e que o desenvolvimento
econômico do país, na periferia dos grandes centros industriais, nunca criou
maior demanda por uma atividade tecnologicamente mais complexa, poderemos
sentir a dificuldade de levar à frente, em nosso meio, o ideal do
ensino-pesquisa”. [7]
Anísio Teixeira, no discurso pronunciado quando da
inauguração dos cursos da Universidade do Distrito Federal em 1935,
caracterizou assim o vezo profissionalizante que afetou ao ensino no Brasil
desde o seu nascedouro: “Entre nós predominou (...), em cultura, o mais
espantoso praticismo que já alguma
vez assolou uma nação. Em ensino primário, basta-nos alfabetização e, acima
dele, bastar-nos-ia, todos o repetem, ensino de ofícios e artes. Que estranho
país seria esse em que a cultura e a ciência ainda não chegaram a ser aceitas
e, por toda a parte, se pede tão singular e universal formação utilitarista, no
sentido limitado e restrito da palavra? Esse é o país dos diplomas
universitários honoríficos, é o país que deu às suas escolas uma organização
tão fechada e tão limitada que substituiu a cultura por duas ou três profissões
práticas, é o país em que a educação, por isso mesmo, se transformou em título
para ganhar um emprego. Haverá, por acaso, demasiado ensino superior no Brasil?
O que há são demasiadas escolas de certo tipo profissional, distribuindo
anualmente diplomas em número muito maior que o necessário e o possível, no
momento, de se consumir”. [8]
Já o fenômeno da superespecialização foi caracterizado por
Antônio Paim como uma louca corrida empreendida pelo sistema de ensino
superior, sem que houvesse clara consciência dos fins que estariam sendo
perseguidos, nem dos desastrosos resultados que se atingiriam. Referindo-se
especialmente a dois casos que se tornaram clássicos na corrida em prol da
superespecialização, a engenharia e os cursos de comunicação, Paim frisa: “Na
década de 50, o ensino de engenharia no país oferecia três opções (civil,
mecânica e elétrica). A eletrônica era uma das opções do curso de engenharia
elétrica. Na atualidade, o curso de eletrônica não só tornou-se autônomo, como
oferece até dez opções. Ora, a experiência sugere que a grande maioria das
tarefas executadas pelos engenheiros exige conhecimentos politécnicos. A
familiaridade com uma atividade específica adquire-se pela prática e, em muitos
casos, seu executante não precisa dispor de curso superior. O que aconteceu com
a engenharia verificou-se igualmente na medicina e nos outros cursos profissionais.
O antigo curso de jornalismo, que em muitos casos consistia no ensino dessa
técnica, por profissionais competentes, a quem já dispunha de cultura geral,
passou a chamar-se de comunicações e envolve diversas opções. Sob a máscara da
especialização, o que se pretendeu foi substituir a tarefa que incumbe à
sociedade de promover a difusão da cultura por um simulacro que nada tem a ver
com essa legítima pretensão: a democratização
das profissões (...)”. [9]
A massificação da Universidade deu ensejo à queda do nível
acadêmico e explicitou as carências quanto à formação de professores e
pesquisadores, a fim de atender às demandas crescentes do sistema.
Paralelamente, o crescimento acelerado do número de alunos de ensino secundário
não foi acompanhado por um aumento real do número de mestres. As novas
Faculdades de Pedagogia, que pipocaram pelo país afora, não conseguiram
garantir a formação de docentes, com o nível de competência com que eram
formados nas antigas Escolas Normais, que passaram a amargar progressiva crise.
As reformas efetivadas no ciclo militar, se bem apresentavam
as deficiências que foram anotadas acima, no entanto garantiram que se formassem,
especialmente nas áreas técnicas, os profissionais que deram sustentação aos
Planos de Desenvolvimento. A formação humanística de nível superior não
acompanhou, infelizmente, esse crescimento. As Faculdades de Filosofia e
Sociologia, notadamente, passaram a amargar séria crise, em decorrência do fato
de que os seus ex-alunos e alunos foram identificados como contestadores da
ordem estabelecida. Faltou, porém, ao regime desenhar claramente um perfil de
formação humanística que, sem se identificar com a ideologização que tinha
tomado conta dessas áreas, oferecesse as oportunidades de ensino e pesquisa de
que a Universidade precisava.
Iniciativas novas foram deixadas por conta de atores
particulares. Menciono dois desses atores, com os quais colaborei entre 1979 e
2000: o Instituto Brasileiro de Filosofia, fundado e dirigido pelo saudoso Miguel
Reale e que publicou ininterruptamente, desde sua fundação, em 1949, até o
falecimento do mestre em 2006, a Revista Brasileira de Filosofia, uma
tribuna pluralista e livre para discutir temas essenciais da cultura e da
política brasileiras, com ênfase na meditação filosófica.
A segunda iniciativa que gostaria de lembrar é constituída
pela Revista Convivium, órgão da Sociedade Brasileira de Cultura Convívio,
fundada nos anos 60 pelo saudoso Adolpho Crippa e publicada sem interrupção até
o início do presente século, após o falecimento do fundador. A finalidade
principal da mencionada publicação consistia no livre debate acerca dos modelos
de desenvolvimento e de modernização que o Brasil almejava, preservando a
liberdade individual e o respeito pela pessoa humana. Além da mencionada
revista, as idéias do Convívio eram debatidas em cursos livres oferecidos nos
quatro cantos do país pelo Centro de Estudos do Desenvolvimento. Várias
Universidades e Faculdades concederam ao mencionado Centro a possibilidade de
oferecer os seus cursos como parte da matéria “Estudo de Problemas
Brasileiros”.
Os modelos de desenvolvimento defendidos pelo Instituto
Brasileiro de Filosofia e pelo Convívio, certamente contrapunham-se àqueles
apregoados pelos ideólogos marxistas. De outro lado, ambas as instituições
faziam críticas ao modelo desenvolvimentista adotado pelos militares;
tratava-se, claro, de uma crítica construtiva muito diferente da guerrilha
ideológica ensejada pela esquerda. Era criticado o regime militar pelo viés autoritário
do mesmo que, tendo deformado a representação, terminou cortando um canal de
comunicação direto com a sociedade. O sistema de ensino era criticado pela
falta de formação humanística.
A declarada defesa da liberdade, tanto pela Revista
Brasileira de Filosofia quanto pela Convivium, foram
suficiente motivo para que, uma vez instaurada a democratização do país após o
fim do ciclo militar, os ativistas de esquerda, inseridos na máquina do Estado,
torpedeassem ambas as publicações. Coube a Francisco Weffort, quando ministro
da Cultura do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, a ignóbil decisão
de cortar a modesta verba repassada pela pasta sob seu comando à Revista
Brasileira de Filosofia, com a finalidade de custear os portes de
correio para distribuição da mesma. Coube à Capes, pela mão dos seus dirigentes
da área humanística (filosofia e teologia) – afinados com as ideias
totalitárias da Ação Popular, sob a inspiração do padre jesuíta Henrique
Cláudio de Lima Vaz e que passaram a controlar, já desde o final do ciclo
militar, o correspondente comitê de avaliação - banir a Revista Convivium
da lista das publicações reconhecidas por essa agência. Pequenas e mesquinhas
vinganças, que revelaram, no entanto, a índole totalitária dos seus feitores.
A grande vingança dos discípulos de Lima Vaz para quem
pensava diferente do totalitarismo da esquerda raivosa foi, contudo, o
descredenciamento fulminante dos Cursos de Pensamento Brasileiro que tinham
sido criados na PUC do Rio (em 1972), na Universidade Gama Filho (em 1979) e na
Universidade Federal de Juiz de Fora (em 1984). Tudo motivado pelo fato de que
os mencionados cursos tinham caído fora da área de controle do comitê de
humanidades da Capes.
Antes de finalizar este item, recordarei, brevemente, a
tradição cientificista em que ancoraram as reformas educacionais empreendidas
pelo ciclo militar. Os três aspectos que acabamos de analisar (massificação,
profissionalização, superespecialização), como constituintes da crise que
sofreu nessa época o ensino superior no Brasil, alicerçaram-se, do ponto de
vista cultural, em correlatas concepções parciais da ciência, da democratização
da cultura e da modernização da estrutura curricular. No bojo do processo maior
de adaptações culturais que constituiu a evolução da educação no Brasil,
ingressaram as idéias da ciência entendida exclusivamente como ciência aplicada
a serviço do Estado, bem como de democratização das profissões e
superespecialização da estrutura curricular.
Antônio Paim identificou a origem da idéia profissionalizante
na cultura luso-brasileira. [10]
Tal idéia surgiu no século XVIII do conjunto de reformas que efetivou em
Portugal o Marquês de Pombal e que tinham como alicerce filosófico o
cientificismo, consistente, como já foi apontado, na identificação do saber
racional com a ciência aplicada, controlada pelo Estado. Quatro aspectos
distingue Paim no empirismo pombalino, que inspirou a organização do sistema
brasileiro de ensino superior num contexto profissionalizante, ao longo do
século XIX: em primeiro lugar, a redução da filosofia à ciência; em segundo
lugar, a atribuição ao Estado, como missão precípua, da tarefa de promover a
racionalidade econômica; em terceiro lugar, a crença de que a ciência aplicada
a serviço do Estado é o meio hábil para a conquista da riqueza; em quarto
lugar, a suposição de que a ciência aplicada deve inspirar também a ação do
governo (política) e as relações entre os homens (moral).
A filosofia positivista, que se desenvolveu no país a partir
do “surto de idéias novas” na década de 1860, encontrou no cientificismo
pombalino terreno abonado para semear os preconceitos que o comtismo professava
contra a Universidade, reforçando assim a tradição profissionalizante. Foi
nesse contexto cientificista que ancoraram as reformas educacionais
empreendidas pelo ciclo militar.
Ao longo do ciclo militar, contudo, o Brasil realmente
transformou-se em país industrializado. Consolidou-se a indústria petroleira e
desenvolveu-se a petroquímica, bem como a siderurgia e a fabricação de
maquinaria pesada. A engenharia deu um grande salto para frente, com as obras
públicas (notadamente barragens, pontes, aeroportos, ferrovias e estradas), que
pipocaram pelos quatro cantos do território nacional. Efetivou-se, com o
fantástico desenvolvimento das telecomunicações e com a política de abertura de
vias de comunicação, a denominada por Oliveira Vianna de “circulação nacional”,
unindo ao centro nevrálgico do poder as regiões mais afastadas e ligando estas
às mais importantes áreas metropolitanas. 64 tinha um propósito, em que pese o
viés autoritário evidentemente criticável. Em compensação hoje, trinta anos
após o fim do ciclo militar, carecemos de um projeto estratégico que nos
indique para onde irá o país nas próximas décadas.
2 - Os problemas do ensino no período
da Nova República e as políticas públicas formuladas pelos governos.
O surgimento, ao ensejo das reformas contidas na lei 5692, de
Faculdades de Pedagogia como substitutas das antigas Escolas Normais, fez com
que se perdesse uma tradição consolidada na formação de mestres para os níveis
básico e secundário. Consequentemente, ao longo das duas décadas seguintes,
entre 1980 e 2000, registrou-se séria deterioração na qualidade da formação dos
docentes. Tudo agravado pela progressiva ideologização das Faculdades de
Pedagogia, à sombra de um difuso socialismo acalentado como fim a ser atingido
pelo sistema de ensino. Nessa tendência, a aplicação das teorias de Paulo
Freire foi bastante efetiva. A militância petista foi escalando posições dentro
do MEC e no interior das Secretarias de Educação nos Estados. O resultado de
tudo isso foi uma significativa marxistização na formulação e na execução de
políticas públicas educacionais nos Estados. Ajudou à orquestração dessa
tendência ideológica a pregação, por parte da CNBB, da “teologia da libertação”
[11]
em moldes da vulgata marxista, fenômeno que terminou consolidando o processo de
marxistização do ensino em colégios tradicionais sob a direção de comunidades
religiosas (como aconteceu, por exemplo, no Colégio Anchieta, de Porto Alegre,
sob a direção dos padres jesuítas).
A tradicional disciplina “educação moral e cívica” foi
abandonada e substituída por uma pregação ideológica que visava desmontar a
“sociedade capitalista”, culpada por todos os males. Esse processo acelerou-se
por força da adoção, por parte dos militantes esquerdistas, da filosofia
gramsciana como roteiro para o desmonte mencionado. A ordem do dia do sistema
de ensino, pensado pelos ideólogos e pelos militantes que voltaram após a
Anistia, consistia em acelerar o advento do socialismo como fórmula mágica para
todas as mazelas nacionais.
Data da década de 90 do século passado a fundação do Foro de
São Paulo, que passou a catalisar muitas dessas reivindicações, não só no
Brasil, mas no âmbito latino-americano. A ideia do Foro surgiu em julho de
1990, com motivo da visita feita por Fidel Castro a Lula em São Bernardo do
Campo e foi formalizada quando 48 organizações, partidos e frentes de esquerda
da América Latina e do Caribe, atendendo a convite do PT, reuniram-se em São
Paulo, com a finalidade de debater a nova conjuntura internacional surgida com
o fracasso do comunismo no leste europeu, concretizado com a queda do Muro de
Berlim em 1989.
Tratava-se, na verdade, de um esforço em prol da
revivescência do comunismo internacional a partir da América Latina, o que sem
dúvida traria dividendos econômicos para a falida ditadura cubana, privada do
“ouro de Moscou” com a implosão da União Soviética. Desde esse ponto de vista,
o Foro cumpriu com a sua função, haja vista os benefícios econômicos que a
ditadura chavista trouxe aos irmãos Castro, além da colaboração de outros
países “bolivarianos” com a caixinha dos comunistas da ilha, comprando a
colaboração dos “médicos cubanos” em programas sociais financiados pelos
governos, tanto na Venezuela, como na Bolívia, no Equador e no Brasil. A
preocupação crescente de Havana, nos dias que correm, com o desmoronamento do
regime chavista presidido pelo corrupto e ineficiente Maduro é mais uma prova
disso. [12]
Em que pese esse abuso da ideologia, os sucessivos governos
no decorrer do período que vai de 1989 a 2002, concretizaram algumas políticas
públicas importantes, que visavam a atender às demandas do ensino básico e
secundário. As mais importantes dessas iniciativas foram, em primeiro lugar, a
criação de mecanismos que permitiriam aos Estados e municípios a aplicação, sem
desvios, das verbas destinadas à educação básica. Em segundo lugar, convém
mencionar a adoção, pelo primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, do
programa “Bolsa Escola”, [13]
que tinha como finalidade garantir a permanência das crianças na Escola, a fim
de superar a evasão.
Durante o governo de Eduardo Azeredo (PSDB) como governador
de Minas Gerais (1994-1998), o seu vice-governador Walfrido dos Mares Guia
(PSB), que desempenhou também a função de Secretário Estadual de Educação,
promoveu uma série de melhorias na educação pública daquele Estado. Entre elas,
foi responsável pela introdução de um sistema de avaliação de ensino da rede
pública, numa iniciativa inédita no País. Esta foi a base a partir da qual o
PT, no ciclo subsequente, sob a presidência de Luís Inácio Lula da Silva,
adotou o sistema de avaliação do ensino público em nível nacional.
No campo do ensino universitário público, foi adotado pelo
governo de Fernando Henrique Cardoso um mecanismo de avaliação da produtividade
docente nas Universidades públicas, o denominado “GED”. A prática, no entanto,
terminou deturpando o espírito deste instrumento, que visava a garantir a
educação de qualidade nas Universidades Federais e Estaduais do país. Com o
democratismo que se instalou nas Universidades públicas para eleição de
reitores, os sindicatos foram assumindo a tarefa de fixar critérios para a
avaliação dos professores.
Consequência: o baixo clero tomou conta das comissões de avaliação,
tendo colocado em segundo lugar a produtividade acadêmica e deixando em
primeiro plano as atividades burocráticas. Nos meus anos de ensino no Brasil,
somente encontrei mecanismos de avaliação objetivos e continuados nas academias
militares; tive oportunidade de testemunhar isso, por exemplo, no Centro de
Estudos de Pessoal do Exército, na praia do Leme, no Rio de Janeiro. Prática
semelhante encontrei na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, no Rio,
onde tenho a honra de ser professor emérito.
3 - Políticas públicas
de ensino ao longo dos governos petistas.
Os dois governos sob o comando de Lula, entre 2003 e 2010,
encontraram a economia saneada. O Plano Real funcionou como força que conteve a
inflação e deu novo estímulo à economia. As contas públicas foram equilibradas
ao longo dos dois períodos presidenciais de FHC. Por força dessa situação, os
governos petistas passaram a administrar um orçamento mais folgado, que
canalizaram em boa medida para a materialização de políticas sociais e o aumento
acelerado da burocracia estatal.
Uma das características fundamentais do lulopetismo é a
incapacidade para elaborar um plano de governo. Lula elegeu-se, em 2002, na
trilha do conselho do seu marqueteiro, aliado aos que, do ângulo econômico,
aconselhavam o candidato petista. Dentre eles, vale a pena mencionar o
ex-prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci e o banqueiro Fernando Meirelles
que seria presidente do Banco Central. Lula apresentou-se, na “Carta ao Povo
Brasileiro”, [14]
ao longo da campanha presidencial, como um moderado socialdemocrata, que
manteria a política adotada por Fernando Henrique Cardoso, respeitando o marco macroeconômico,
bem como os contratos internacionais. As lideranças políticas contrárias à
eleição de Lula não tiveram perspicácia nem presença de espírito para sair à
lide contra o candidato petista, mostrando a inconsequência da nova postura com
as posições costumeiras do Partido dos Trabalhadores, (que sempre se mostrou
afinado com um socialismo de cunho totalitário, fiel ao modelo cubano). E o
eleitorado, carente de formação política mais aprofundada, simplesmente mordeu
o anzol da “conversão” lulista ao modelo socialdemocrata e votou maciçamente no
candidato petista.
No terreno das políticas educacionais, Lula simplesmente não
tinha programa. Deu continuidade, por inércia, ao legado de Fernando Henrique
Cardoso. Demitiu pelo telefone o seu primeiro ministro da Educação, que pedia
definição de roteiros e financiamento para o ensino básico. Após a eclosão das
denúncias sobre o mensalão, em maio de 2005, Lula decidiu abrir as portas do
tesouro para o financiamento de políticas sociais, com a finalidade de criar
apoio popular ao governo.
O programa “Fome Zero”, bandeira improvisada do início do seu
mandato e que não tinha decolado, foi substituído pelo programa “Bolsa Família”
(uma adaptação bastante piorada do programa existente no governo de Fernando
Henrique sob o nome de “Bolsa Escola”). Houve, também, uma aceleração dos
programas de financiamento à educação, que se traduziram em ampliação atabalhoada
dos gastos públicos no setor. O Governo enviou ao Congresso Nacional a Proposta
de Emenda Constitucional nº 415/05 que criava o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica (FUNDEB), com a finalidade de atender, (entre 2006 e 2019),
47,2 milhões de alunos. A aprovação da Lei nº 10.832/03 do Salário-Educação
permitiu que, a partir de 2004, a transferência direta de recursos fosse feita
diretamente aos municípios.
No entanto, a adequada destinação desses recursos ficou
comprometida pelo desmonte dos mecanismos de controle sobre as despesas do
governo, bem como pelas críticas de Lula e dos petistas à Lei de
Responsabilidade Fiscal, que controlava os gastos do setor público nas três
esferas: federal, estadual e municipal. É sabido que Lula tentou desmoralizar o
Tribunal de Contas da União, dificultando o acesso dele às contas dos
sindicatos e dos mal chamados Movimentos Sociais como o MST. Práticas que
tinham sido erradicadas nas gestões passadas, como o uso indevido, pelos
municípios, do dinheiro dedicado à educação, voltaram a reviver, no ambiente de
“liberou geral” que se instalou no país com a falta de transparência. A
corrupção passou a invadir áreas já saneadas, como as ligadas ao ensino básico
e à prestação de serviços de saúde. O descalabro foi geral, o que fez aumentar,
de forma exponencial, a dívida pública brasileira.
O governo Lula ampliou o ensino universitário a cargo da
União. Foram criadas 14 Universidades Federais: UFTM (Uberaba, MG), UFCSPA
(Porto Alegre, RS), UNIFAL (Alfenas, MG), UTFPR (Curitiba, PR), UFABC (Santo
André, SP) UFVJM (Diamantina, MG), UNIPAMPA (Bagé, RS), UFGD (Dourados, MS),
UFERSA (Mossoró, RN), UFRB (Cruz das Almas, BA), UFOPA (Santarém PA), UFFS
(Chapecó, SC), UNILA (Foz do Iguaçu, PR), UNILAB (Redenção, CE). Isso além da
multiplicação de extensões dos campi de Universidades tradicionais como a UFJF,
a UFSJ (em Minas Gerais) e de outras Universidades Federais em várias regiões
do país.
Toda essa ampliação do ensino superior não obedeceu, contudo,
às regras do planejamento responsável. Na maior parte das Universidades
apontadas houve sérios problemas de planejamento acadêmico e de infraestrutura,
o que levou alunos e docentes a entrarem em greve para exigir do governo que
melhorasse as condições de trabalho. Isso até numa das instituições-ícone do
reformismo oficial, a Universidade do ABC que, ao longo de 2013, entrou em
greve por falta de condições acadêmicas.
O jornal Folha de São Paulo mostrou que a
maioria dessas novas Universidades não teve nenhuma repercussão para o setor
produtivo. A propósito, frisava artigo da jornalista Natália Cancian: “Bandeiras
das gestões do PT no Planalto, as universidades federais criadas nos últimos
dez anos são pouco lembradas no mercado e enfrentam dificuldades para atrair
docentes qualificados e investir em infraestrutura. Esse é o diagnóstico de 14
universidades criadas durante a política de expansão do ensino superior do
governo Lula e analisadas pelo Ranking Universitário Folha. Das 14, cinco são
efetivamente novas. As demais surgiram da divisão de instituições ou tiveram
status alterado (...)”. [15]
Como a administração universitária passou a ser regida, nas
duas últimas décadas, de acordo aos interesses dos sindicatos do setor
(lembremos que a aparelhagem dos mesmos pela militância petista já tinha
ocorrido antes da era Lula), os reitores eleitos ao longo da última década,
reféns dos sindicatos, simplesmente se jogaram nos braços do governo, cumprindo
tudo aquilo que o MEC exigia para liberação de verbas. Quem aprovasse os
projetos de ampliação de vagas, recebia mais recursos. Obras para ampliação
física dos campi foram realizadas ao longo do país, sem que se levasse em conta
a questão da qualidade acadêmica. De outro lado, como já foi frisado, o governo
federal deu carta branca aos sindicatos para que gastassem sem ter de prestar
contas aos órgãos competentes (como o Tribunal de Contas da União). O aumento
desordenado das despesas por parte dos reitores não foi contestado pelos
sindicatos. Assim, os gastos do setor viraram um enorme buraco negro, tendo
sido banida a transparência.
O governo, de outro lado, cooptou os diretórios estudantis,
contemplando-os com generosas verbas oficiais, sem que fosse exigida
transparência nos gastos, como de resto, aliás, aconteceu em outras áreas
ligadas à cultura e à prestação de serviços de saúde. ONGs de todos os tipos
foram beneficiadas com generosas verbas do orçamento sem a devida
transparência. Tudo isso, como se sabe, veio aprofundar o abismo do déficit
público, com as lamentáveis consequências de pressão inflacionária e
comprometendo os recursos que deveriam ser destinados à infraestrutura.
O programa “Bolsa Família” converteu-se em enorme fiasco, ao
não serem controlados os beneficiários. Até bichano apareceu recebendo o
benefício, sem falar em burocratas miúdos ligados ao partido do governo.
Segundo afirmava o senador Jarbas Vasconcellos, do PMDB, na memorável entrevista
concedida à revista Veja (18/02/2009), o programa constituiu o maior projeto de
compra de votos do mundo.[16]
Poderíamos sintetizar em dez pontos os aspectos negativos do
sistema de ensino brasileiro ao longo dos dois governos de Lula e do governo da
sua sucessora, Dilma Rousseff:
1 – Queda do setor de ensino primário nas avaliações
internacionais.
2 – Queda do setor de ensino secundário nas avaliações
internacionais.
3 – Queda do setor de ensino superior nas avaliações
internacionais.
4 – Critérios dúbios adotados pelo Ministério de Educação na
avaliação do sistema de ensino brasileiro nos seus três níveis.
5 – Pano de fundo altamente ideológico e radical das reformas
educacionais petistas, no contexto da denominada “revolução cultural” de
inspiração gramsciana.
6 – Inépcia do INEP na gestão dos vestibulares.
7 – Aparelhamento, pelo Partido dos Trabalhadores, dos
Institutos de Pesquisa do Estado em relação ao desenvolvimento econômico e
social (IPEA, IBGE).
8 – Inadequada formulação do programa “Ciência sem
Fronteiras”, para enviar ao exterior 100 mil estudantes brasileiros de nível
superior, um caso gritante de “turismo acadêmico”.
9 – Preconceitos do PT em face do setor privado no terreno
educacional.
10 – Despreparo do governo para lidar com o ensino digital de
grandes proporções.
Ultrapassaria o espaço deste trabalho se fosse analisar, um a
um, os itens que acabam de ser mencionados. A fim de ilustrar a falta de
planejamento crônica nos governos do PT, ao longo destes onze anos, analisarei
unicamente dois itens: o relacionado ao falido programa “Ciência sem
Fronteiras” e o que se refere aos preconceitos do PT em face do setor privado
no terreno educacional.
A falta de planejamento adequado do programa “Ciência sem
Fronteiras” está criando problemas para os pesquisadores brasileiros, na medida
em que recursos que tradicionalmente iriam para financiar projetos foram
desviados para bancar mais esse programa eleitoreiro do PT. A propósito da
falta de planejamento do programa, que escolheu candidatos sem o domínio da
língua estrangeira, frisava recente editorial do jornal O Estado de S. Paulo: “Lançado
em 2011 pela presidente Dilma Rousseff como uma das mais importantes
iniciativas de sua gestão no campo da educação, o programa Ciência sem
Fronteiras - que prevê a concessão de 101 mil bolsas a estudantes interessados
em fazer iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior
- está enfrentando duas grandes dificuldades. A primeira dificuldade diz
respeito ao perfil dos estudantes beneficiados pelo programa. Muitos não
atendiam ao requisito de fluência em inglês quando foram escolhidos para
estudar na Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Por esse motivo, não
conseguiram acompanhar os cursos nos quais se matricularam. Como as bolsas
estão chegando ao fim, correm o risco de voltar sem ter aprendido inglês e sem
ter se qualificado academicamente. Também há alunos que, por terem perdido
muito tempo aprendendo inglês, não se prepararam suficientemente e não foram
aprovados no processo seletivo das universidades que escolheram (...). A
segunda dificuldade do programa está no modo como foi concebido. A meta era
mandar 101 mil estudantes brasileiros para o exterior no período de quatro
anos, mas o governo dispunha de recursos para bancar apenas 75 mil bolsas.
Pediu, portanto, a instituições financeiras, conglomerados industriais e
entidades empresariais que financiassem as outras 26 mil bolsas. Desse total,
até o momento a iniciativa privada teria financiado apenas 3,4 mil bolsas de
estudo - cerca de 13% do prometido, segundo a Capes. Esse número é questionado
pelas empresas privadas, que alegam já ter concedido 5,3 mil bolsas - ou seja,
20% do previsto”. [17]
Enviar alunos ao exterior sem o domínio da língua é um
tremendo desperdício de dinheiro e só serve para incrementar o “turismo
acadêmico”. Não é à toa que, nas redes sociais, aparecem muitos desses
“estudantes” passeando ou fazendo alegres baladas, nos Estados Unidos e em
outros países do primeiro mundo. O descaso oficial neste ponto me faz lembrar
as famosas “Bolsas Grão Marechal de Ayacucho” que, nos anos 60 e 70 do século
passado, o governo venezuelano distribuía generosamente entre amigos e
apaniguados dos políticos de plantão, sem se preocupar um mínimo com o
aproveitamento acadêmico dos escolhidos. Resultado: as casas de massagem e os Nigth Clubs dos Estados Unidos
agradeceram penhorados. Mas os contribuintes venezuelanos não se beneficiaram
com a dinheirama dos cofres públicos gasta nessa aventura. Algo semelhante está
acontecendo com o programa “Ciência sem Fronteiras”. É lógico que, quando o
governo pede à iniciativa privada que participe financiando essas bolsas, os
investidores queiram ter participação na seleção de candidatos, como têm
manifestado alguns empresários. Afinal de contas, quem gasta sem perguntar como
o dinheiro foi gasto é apenas o governo. Na iniciativa privada o papo é outro.
No que tange aos preconceitos do PT em face das instituições
privadas de ensino, não podemos deixar de mencionar o descredenciamento recente
de duas conceituadas Universidades particulares do Rio de Janeiro, a Gama Filho
e a UniverCidade, controladas pelo grupo Galileo. Não é de hoje, nem de ontem,
que os governos de esquerda, no Brasil, tiveram sérios preconceitos com a
iniciativa privada em matéria educacional. Essa tendência cresceu nos dois
governos de Fernando Henrique Cardoso e, com o PT, aumentou mais ainda. A idéia
é que a iniciativa privada não pode ter, em suas mãos, o sistema educacional,
pois não sabe educar, em decorrência do fato de que presta um serviço pago. Nos
mais de trinta anos de exercício da docência superior no Brasil (entre 1979 e
2013), quase sempre estive com um pé na iniciativa privada e outro no serviço
público. [18]
Pude, então, estabelecer um termo de comparação entre as duas realidades.
É falacioso dizer que as Universidades privadas não educam a
contento. Educam e ensinam com eficiência, atendendo, no nosso país, 70% dos
alunos que buscam curso superior. No entanto, a diferença de critérios é
gritante quando a Capes avalia cursos de pós-graduação e de graduação oferecidos
por instituições públicas ou privadas. Com estas últimas, os avaliadores
colocam em funcionamento todos os critérios, da maneira mais rígida possível:
bibliotecas, salas de estudo individuais para docentes e pós-graduandos, instalações
sanitárias, lanchonetes, etc. Com as públicas, pelo fato de sê-lo, os
avaliadores não olham para coisas fundamentais, bibliotecas por exemplo. As
notas dos avaliadores são em geral altas para as públicas, baixas para as
privadas. Imagino que todo esse preconceito venha na trilha do difuso
socialismo à brasileira, que a tradição cientificista espalhou, como um vírus,
entre docentes e pesquisadores.
A Gama Filho foi um centro de alto nível de pós-graduação e
de graduação, tendo sido a maior universidade privada brasileira nas décadas de
70 e 80 do século passado. Trabalhei nessa instituição por um longo período de
tempo, entre 1983 e 2002. O curso de pós-graduação estrito sensu em pensamento
luso-brasileiro, o primeiro a ser oferecido numa universidade de fala
portuguesa no mundo, fundado em 1978 e clausurado por ordem da Capes em 1998,
gozava de uma infraestrutura invejável: corpo docente de doutores de primeira
linha, duas bibliotecas magníficas, a Ivã Monteiro de Barros Lins (um dos
melhores acervos da cidade na área de filosofia moderna) e a Marcelo Caetano (o
maior acervo conhecido, na América Latina, sobre cultura e política portuguesa,
constituído pela biblioteca que o finado ex-primeiro ministro português doou à
Universidade). A produção acadêmica situava o curso da Gama Filho entre os mais
destacados do Brasil, [19]
tendo sido o primeiro a ser reconhecido no país, na área da filosofia, pelo
Conselho Federal de Educação, em 1982.
A Gama Filho caracterizou-se, sempre, por ter acolhido entre
os seus docentes e pesquisadores, intelectuais de renome perseguidos pelas suas
idéias políticas, não importando que fossem de esquerda ou de direita. Ali
foram se refugiar intelectuais portugueses cassados pelo regime comunista de
Vasco Gonçalves (Eduardo Abranches de Soveral e Marcelo Caetano), professores
esquerdistas que tinham sido perseguidos pelo regime militar brasileiro, pesquisadores
pioneiros da área de pensamento brasileiro censurados pela esquerda acadêmica
(como Antônio Paim, Francisco Martins de Sousa, Anna Maria Moog Rodrigues e
Ubiratan Borges de Macedo) ou docentes de outras disciplinas, como a psicologia
social. Foi marcante o exemplo do professor Haroldo Rodrigues, o mais
importante pesquisador brasileiro da área, cuja obra foi proibida pelos seus
pares nas Universidades públicas e que estruturou na Gama Filho o melhor
programa existente no país nessa especialidade. O saudoso ministro Luís Gama
Filho, fundador da Universidade, fazia questão de destacar a independência da instituição
em face dos políticos, tendo aberto mão, em várias oportunidades, dos subsídios
oferecidos pelo governo, a fim de manter a independência em relação ao poder.
A Faculdade da Cidade nasceu em 1982, com a fusão da
Faculdade Brasileiro de Almeida, pertencente à família do Maestro e Compositor
Tom Jobim, e o Centro Unificado Profissional. Sete anos mais tarde, foi
incorporada à instituição a Faculdade São Paulo Apóstolo, sediada no Méier e
pertencente ao professor Carlos Potsch. Em 1990, foi anexada à Faculdade da
Cidade a Faculdade da Lagoa. Em 1995 foram incorporadas à instituição as
Faculdades Reunidas Professor Nuno Lisbôa, que funcionavam nas zonas norte e
oeste da cidade. Um ano após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei Darcy Ribeiro, 1996) a direção da então Faculdade da
Cidade submeteu ao Ministério da Educação e ao Conselho Nacional de Educação um
projeto visando a transformação da instituição em Centro Universitário. Por
decreto presidencial de 30 de setembro de 1998 a nova instituição foi
credenciada, passando a se chamar Centro Universitário da Cidade, conhecida
popularmente como UniverCidade.
Além de atender a população mais pobre das zonas norte e
oeste da cidade, o Centro Universitário da Cidade caracterizou-se, ao longo dos
anos 80 e 90, por ter albergado entre os seus pesquisadores eminentes figuras
do pensamento conservador, como Paulo Mercadante e Olavo de Carvalho. A
instituição passou a desenvolver amplo trabalho editorial, tendo sido
publicados títulos de autores liberais como José Osvaldo de Meira Penna ou
clássicos do pensamento liberal-conservador como Alexis de Tocqueville,
abrindo, assim, em espaço de livre debate em face do pensamento marxista
preponderante nas Universidades públicas.
O PT tem memória de elefante e não deixou passar em branco o
fato de a Gama Filho e a UniverCidade terem optado, em décadas passadas, por
defender idéias liberais e conservadoras e por terem enveredado pelo estudo
crítico do pensamento luso-brasileiro. Não perdoa, tampouco, que ambas as
instituições tenham demonstrado independência em face do marxismo que grassa
nas Universidades públicas. Diante das dificuldades pelas que passa, nos atuais
momentos, o Grupo Galileo que é o gestor das duas instituições, o ministro Aloízio
Mercadante não pestanejou em punir as duas Universidades com o
descredenciamento total. Ora, se passar por dificuldades financeiras é motivo
para essa punição, o bravo ministro deveria ter fechado, também, as 14
Universidades criadas por Lula, todas elas com graves problemas financeiros
causados pelo mau planejamento dos burocratas incompetentes. Houve,
evidentemente, o plano de desmoralizar a iniciativa privada, de um lado e, de
outro, de punir aqueles que, mesmo no passado, ousaram peitar, com pluralismo, as
opções marxistas hoje tão em voga.
Um detalhe sórdido de toda essa política fascistoide: antes
de punir com o fechamento total as duas instituições atrás mencionadas, os
petistas “roeram o osso” até o final, aproveitando para se saciarem, como
hienas, com a carne das duas Universidades que receberiam, logo depois, dos
petralhas, o tiro de misericórdia. A Revista Veja, em 22 de Janeiro
passado, noticiava o seguinte: “Marcio André Mendes Costa, de 42 anos, é um
advogado bem relacionado. Até o fim de 2012, ele era oficialmente o dono do
grupo Galileo e controlador das Universidades Gama Filho e UniverCidade (...)
entre as maiores instituições privadas do Rio de Janeiro. Nessa condição,
contratou como professores dois amigos, os ministros do Supremo Tribunal
Federal José Dias Toffoli e Ricardo Lewandoswski. Eles iam de Brasília ao Rio
às sextas-feiras para dar aulas, algumas vezes de jatinho pago pelo grupo. A
amizade era tanta que Costa chegou a fazer outro contrato de 1 milhão de reais
com os ministros para montar um curso a distância que nunca foi oferecido.
Enquanto os ministros recebiam tratamento vip,
as duas instituições se afundavam em dívidas e a qualidade dos cursos piorava.
Sindicalistas ligados à Gama Filho chegaram até ir a Brasília entregar ao
ministro de Educação, Aloízio Mercadante, um dossiê contra Costa. Mas o
ministro mandou só um recado para que voltassem outro dia. Nunca os recebeu
(...)”. [20]
Estivéssemos num país civilizado, em lugar de punir centos de
alunos e funcionários com o fechamento total, o MEC poderia ter acionado o Ministério
Público e o Congresso para que tomassem as devidas providências legais em face
dos fatos que acabam de ser mencionados, punindo com o rigor da lei dois
Magistrados da Suprema Corte que não souberam respeitar a toga por eles vestida
e um gestor irresponsável de duas instituições que tinham um passado
respeitável.
Conclusão
As reformas ensejadas no terreno da educação pelos vários
governos, a partir de 1964 até os dias de hoje, percorreram um via-crúcis de
não continuidade. Daí a semelhança apontada no título deste trabalho, como se
se tratasse de um voo de galinha.
Em lugar de uma intervenção tecnocrática do Estado que
melhorasse o seu desempenho num prazo
amplo, tais reformas constituíram, no seu conjunto, do ângulo técnico, um esforço
limitado. A mais consistente série de providências legais foi, sem dúvida, a
ensejada pelos governos militares, a despeito do seu caráter autoritário. Isso
justamente em decorrência do fato de que os generais no comando da nau do
Estado tinham um norte estratégico claramente traçado, os objetivos nacionais
permanentes, cujo dístico (que acompanhava o slogan positivista republicano de ordem e progresso se traduzia nas palavras de ordem conhecidas da doutrina
esguiana: democracia e desenvolvimento). Tratava-se,
certamente, de uma democracia e de um
desenvolvimento de cunho dirigista,
inseridos no contexto do denominado “autoritarismo instrumental” presente no
pensamento de Oliveira Viana.
De outro lado, os militares conseguiram dar coesão e
continuidade ao processo de formação profissional do elemento humano a serviço
das Forças Armadas, tanto na reforma efetivada no currículo da AMAN, nos anos
80, quanto nas modificações que se introduziram nas Escolas de formação da
Aeronáutica e da Marinha. Ainda se observa, como consequência benfazeja desse
clima, o respeito de que gozam os Colégios Militares pelo país afora.
Contudo, num panorama histórico
mais amplo do que o meio século abrangido neste estudo, ao se fazer um rápido
balanço do intervencionismo do Estado patrimonial brasileiro desde o século XIX
até a contemporaneidade, observa-se que a intervenção do Império em matéria
modernizadora, nas reformas equacionadas no terreno educacional entre 1840 e
1889, se bem ancoraram no cientificismo pombalino, no entanto estabeleceram com
essa tendência um equilíbrio em que o elemento que se contrapôs ao despotismo
ilustrado consistiu em ter levado em consideração os interesses dos cidadãos,
representados no Parlamento. A tecnocracia republicana, certamente, não estava
preocupada com isso.
Referências Bibliográficas
CANCIAN, Natália. “Novas
Universidades Federais são pouco citadas pelo mercado”, Folha de São Paulo, 15 de
Setembro de 2013.
CAMPOS, José Narino. Brasil:
uma Igreja diferente. São Paulo: Queiroz, 1981.
PAIM, Antônio. A
querela do estatismo. 1ª edição. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1978.
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a Universidade brasileira: proposta para obtenção de novo consenso”. Revista Humanidades,
Brasília, volume I, Nº 2: janeiro/março 1983.
PAIM, Antônio (organizador). Pombal
e a cultura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Cultural Brasil –
Portugal, 1982.
PAIM, Antônio. Para
entender o PT. Londrina: Edições Humanidades, 2002.
PROTA, Leonardo. Um
novo modelo de Universidade. São Paulo: Convívio, 1987.
RITTO, Cecília. “Gestão nota 0 –
Amigo de poderosos, o advogado Marcio Costa levou apenas dois anos para afundar
duas universidades”, Veja, 22 de Janeiro de 2014, p. 71.
SCHWARTZMAN, Simon. Ciência,
Universidade e ideologia: a política do conhecimento. Rio de Janeiro:
Zahar, 1981.
TEIXEIRA, Anísio. “A função das
Universidades”. Revista Humanidades, Brasília, volume I, Nº
3: abril/junho 1983.
VASCONCELLOS, Jarbas. “O PMDB é
corrupto”. Entrevista concedida pelo senador Jarbas Vasconcellos a Otávio
Cabral, in: Revista Veja, edição 2100 de 18/02/2006, p. 17-21.
VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. “A
crise do ensino superior no Brasil”. Legenda, Rio de Janeiro, Ano V, nº
9, ago./dez. 1984.
VIANA, Francisco José de
Oliveira. Populações Meridionais do Brasil e Instituições Políticas
Brasileiras. Primeira edição num único volume. (Organização e
Apresentação de Antônio Paim). Brasília: Câmara dos Deputados, 1982.
[1]
Duas obras de Francisco José de Oliveira Vianna, notadamente, influíram no
pensamento de Vargas: Populações Meridionais do Brasil e Instituições
Políticas Brasileiras. Pode ser consultada a edição das duas obras num
único volume organizado por Antônio Paim, publicada pela Câmara dos Deputados,
em 1982.
[2]
PROTA, Leonardo. Um novo modelo de Universidade. São Paulo: Convívio, 1987, p.
11.
[3]
PROTA, Leonardo. Um novo modelo de Universidade. Ob. cit., p. 11.
[4] VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. “A
crise do ensino superior no Brasil”. Legenda, Rio de Janeiro, Ano V, nº 9,
p. 6-7, ago./dez. 1984.
[5]
VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. “A crise do ensino superior no Brasil”. Legenda,
Rio de Janeiro, Ano V, nº 9, p. 7, ago./dez. 1984.
[6] VÉLEZ-RODRÍGUEZ,
Ricardo. “A crise do ensino superior no Brasil”. Legenda, Rio de Janeiro,
Ano V, nº 9, p. 7, ago./dez. 1984.
[7]
SCHWARTZMAN, Simon. Ciência, Universidade e ideologia: a política do conhecimento.
Rio de Janeiro: Zahar, 1981, p. 114.
[8]
TEIXEIRA, Anísio. “A função das Universidades”. Revista Humanidades, Brasília, volume
I, Nº 3: abril/junho 1983, p. 105.
[9]
PAIM, Antônio. “As humanidades e a Universidade brasileira: proposta para
obtenção de novo consenso”. Revista Humanidades, Brasília, volume I, Nº
2: janeiro/março 1983, p. 102.
[10]
Cf. PAIM, Antônio (organizador). Pombal e a cultura brasileira. Rio
de Janeiro: Fundação Cultural Brasil –
Portugal, 1982. Do mesmo autor, A querela do estatismo. 1ª edição.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978, pg. 15-27.
[11]
Acerca da ação deletéria da Teologia da Libertação no meio intelectual
brasileiro, notadamente do clero católico, pode-se consultar a obra do padre
português José Narino de Campos, intitulada: Brasil: uma Igreja diferente
(São Paulo: Queiroz, 1981).
[12]
A preocupação dos irmãos Castro com a eventual queda do regime chavista é
tanta, que deslocaram para Caracas uma tropa de elite de contra insurgência,
integrada por mais de 400 homens, os denominados de “Avispas Negras” (“Vespas
Negras”), com a finalidade de esmagar o movimento estudantil.
[13]
O programa da Bolsa Escola foi implantado em janeiro de 1995 na cidade de
Campinas, sob inspiração de Cristovam Buarque, na administração do prefeito
José Roberto Magalhães Teixeira, do PSDB. O programa foi adotado em nível
federal em 2001 pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Durante a vigência
do mesmo no plano federal, as regras para o recebimento do benefício eram:
·
Estar matriculado e frequentando escola
(comprovado a cada três meses com um programa paralelo de controle de frequência).
·
Estar cadastrado juntamente com a família no Cadastro
Único que foi criado pelo governo federal em 2001 para acompanhar os
beneficiários dos programas sociais.
·
Possuir renda per capita inferior à
R$90,00.
O pagamento da bolsa de
R$15,00 (por filho, limitado ao máximo de três) dava-se através de saque em
agência da Caixa Econômica Federal.
[14]
Cf., a respeito: PAIM, Antônio. Para entender o PT. Londrina:
Edições Humanidades, 2002.
[15]
Assim continuava a análise feita pela jornalista Natália CANCIAN: “As demais (Universidades)
ainda patinam em alguns indicadores: nove não foram citadas como referência em
suas áreas nas entrevistas com avaliadores do Ministério da Educação. Uma delas
é a UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará), em 168º lugar no ranking e
com problemas de estrutura em alguns cursos. Faltam laboratórios e há institutos que não têm prédio, conta Luiz
Fernando de França, do sindicato dos docentes. Parte das aulas ocorre em um
hotel alugado pela universidade há três anos. Em julho, o local chegou a ser
interditado por cinco dias devido a rachaduras. A UFOPA diz que a sede é
provisória e que está construindo um novo local para os alunos em um dos campi
já existentes. Obras em andamento são outro ponto comum entre as novas
federais. Em Foz do Iguaçu (PR), a sede definitiva da UNILA (Universidade
Federal da Integração Latino-Americana) só deve sair em 2014. Até lá, as aulas
serão em um complexo da usina de Itaipu. A UNILAB (Universidade da Integração Internacional
da Lusofonia Afro-Brasileira) também se apressa para finalizar um novo campus,
mas não estipula prazos. A pouca idade pesou no ranking para essas duas
instituições. Sem experiência em pesquisa e sem notas no Enade por não ter
turmas formadas, ambas pontuaram mal. Destaque entre as recém-criadas, a
Universidade Federal do ABC aparece como líder em internacionalização e em 21º
lugar em pesquisa. O pró-reitor de pesquisa da instituição, Klaus Capelle,
atribui o bom resultado ao modelo em que apenas professores doutores são
contratados para dar aulas e há estímulo à pesquisa. Os estudantes também
cursam uma formação geral antes de optarem pela específica e saem com mais de
uma graduação. Um dos fatores que favorecem a UFABC é a proximidade de grandes
centros, onde há grande oferta de doutores (...)”. [Natália CANCIAN, “Novas
Universidades Federais são pouco citadas pelo mercado”, Folha de São Paulo, de 15
de Setembro de 2013].
[16]
“O PMDB é corrupto”. Entrevista concedida pelo senador Jarbas Vasconcellos a
Otávio Cabral, in: Revista Veja, edição 2100 de 18/02/2006, p.
17-21. Afirmava o Senador Jarbas Vasconcellos na sua entrevista: “O marketing e
o assistencialismo de Lula – frisa Jarbas Vasconcelos – conseguem mexer com o
país inteiro. Imagine isso no Nordeste, que é a região mais pobre. Imagine em
Pernambuco, que é a terra dele. Ele fez essa opção clara pelo assistencialismo
para milhões de famílias, o que é uma chave para a popularidade em um país
pobre. O Bolsa Família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo
(...). Há um benefício imediato e uma consequência futura nefasta, pois o
programa não tem compromisso com a educação, com a qualificação, com a formação
de quadros para o trabalho”. E para ilustrar esse caráter nefasto do mencionado
programa, o Senador conta uma história que se passou na terra dele, Pernambuco:
“Há um restaurante que eu frequento há mais de trinta anos no bairro de
Brasília Teimosa, no Recife. Na semana passada, cheguei lá e não encontrei o
garçom que sempre me atendeu. Perguntei ao gerente e descobri que ele conseguiu
uma bolsa, para ele e outra para o filho, e desistiu de trabalhar. Esse é um
retrato do Bolsa Família. A situação imediata do nordestino melhorou, mas a
miséria social permanece”.
[17]
Editorial. “Crise no Ciência sem Fronteiras”. O Estado de São Paulo,
edição de 19 de Fevereiro de 2014, caderno 1, p. 3.
[18]
Trabalhei na Universidade Gama Filho do Rio, na Faculdade Eclesiástica João
Paulo II do Rio, na Universidade Católica de Petrópolis, no Centro de Estudos
Superiores de Juiz de Fora, na Faculdade Granbery também de Juiz de Fora e na
FAAP de São Paulo, além de algumas Faculdades onde prestei serviços temporários
em cursos de pós-graduação (SESC-Grogotó de Barbacena, Universidade Mackenzie
de São Paulo, Universidade Estácio de Sá em Juiz de Fora, Faculdade Santa
Marcelina em Muriaé-MG, Universidade do Vale do Rio Verde UNINCOR em Três
Corações-MG, etc.). E fui concursado em várias Universidades públicas (UEL –
Londrina, UERJ – Rio de Janeiro, Uni-Rio e Universidade Federal de Juiz de
Fora). Fui, por outro lado, docente da USP (lecionando a disciplina EPB), do Centro
de Estudos de Pessoal do Exército (na Praia do Leme, Rio de Janeiro) e ainda
sou professor emérito da ECEME (no Rio). Pude, portanto, ter uma visão ampla do
trabalho acadêmico em todas essas instituições públicas e privadas.
[19]
Não podendo os técnicos da Capes negar esse fato, passaram a relativiza-lo:
tive de escutar, em Brasília, como representante da Gama Filho numa reunião com
os expertos da Capes, a seguinte explicação no mínimo hilariante: “produção
abundante, mas pouco significativa”. Nunca os sábios de Brasília conseguiram me
explicar essa distinção. Terminei concluindo que consistia no fato de que era
produção acadêmica proveniente de uma Universidade privada, que “na podia” ter
qualidade acadêmica.
[20]
RITTO, Cecília. “Gestão nota 0 – Amigo de poderosos, o advogado Marcio Costa
levou apenas dois anos para afundar duas universidades”, Veja, 22 de Janeiro de
2014, p. 71.
Olá senhor Velez-Rodriguez, o texto que escreveste é excelente, coloquei no meu blog um link para a sua página, caso algum leitor meu deseje lê-lo. Espero que não se incomode.
ResponderExcluirEXCELENTE IDEIA, OBRIGADO POR DIVULGAR O MEU TEXTO. ABRAÇO CORDIAL.
ExcluirUm ótimo resumo. Parabéns. Rercomendo aos amigos.
ResponderExcluirOBRIGADO!
ExcluirExcelente texto.
ResponderExcluirMeus parabéns Sr. Ricardo.
Obrigado, Djalma! Abraço
Excluir