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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

DOUTOR LULA

Lula discursando em Paris, ao receber o título de Doutor Honoris Causa de Sciences Po, em 27 de Setembro deste ano

Lula, como Brizola, é um grande comunicador. Mas, como Brizola também, é um grande populista. A característica fundamental desse tipo de líder é, como escreve o professor Taguieff (um dos grandes estudiosos do tema) que se trata de um demagogo cínico. Demagogo (no sentido aristotélico do termo), porque chefia uma versão de democracia deformada, aquela em que as massas seguem o líder, em virtude do carisma do mesmo, em que pese o fato dessa liderança conduzir o povo à sua destruição. O cinismo do líder populista já fica por conta da duplicidade que ele vive, entre uma promessa de esperança (e como Lula sabe fazer isso: “os jovens devem ter esperança porque são o futuro da Nação”, “o pré-sal é a salvação do brasileiro” e por aí vai), de um lado, e, de outro, a nua e crua realidade que ele ajudou a construir, ou melhor, a desconstruir, com a falência das instituições que garantiriam a esse povo chegar lá, à utopia prometida...

Lula acelerou o processo de desconstrução das instituições que balizam o Estado brasileiro. Desconstruiu acintosamente a representação, mediante a deslavada compra sistemática de votos, alegando ulteriormente que se tratava de mais uma prática de “caixa 2” praticada por todos os Partidos (seguindo, nessa alegação, “parecer” do jurista Márcio Thomas Bastos), e proclamando, em alto e bom som, que “mensalão nunca existiu” . Sob a sua influência, acelerou-se o processo de subserviência do Judiciário aos ditames do Executivo (fator que nos ciclos autoritários da história republicana se acirrou, mas que, sob o PT, voltou a ter uma periclitante revivescência, haja vista a dificuldade que a suprema corte brasileira tem para julgar os responsáveis pelo “mensalão”, ou a censura odiosa que pesa sobre importante jornal há mais de um ano, para salvar um membro de conhecido clã favorável ao ex-mandatário petista). Lula desconstruiu, de forma sistemática, a tradição de seriedade da diplomacia brasileira, se aliando a tudo quanto é ditador e patife pelo mundo afora, com a finalidade de mostrar novidades nessa empreitada, brandindo a consigna de um “Brasil grande” que é independente dos odiados norte-americanos, mas que, certamente, está a nos causar mais prejuízos do que benefícios no complicado xadrez global: o Brasil não conseguiu emplacar, com essa maluca diplomacia de palanque, nem a direção da Unesco, nem a presidência da Organização Mundial do Comércio, nem a entrada permanente do Brasil para o Conselho de Segurança da ONU. Lula, com a desfaçatez em que é mestre, conseguiu derrubar a lei de responsabilidade fiscal, abrindo as torneiras do orçamento da União para municípios governados por aliados que não fizeram o dever de casa, fenômeno que se repete no governo Dilma. De outro lado, isentou da vigilância dos órgãos competentes (TCU, notadamente) as organizações sindicais, que passaram a chafurdar nas águas do orçamento sem fiscalização de ninguém. Esse mesmo “liberou-geral” valeu também para os ditos “movimentos sociais” (MST e quejandos), que receberam luz verde para continuar pleiteando de forma truculenta mais recursos da Nação para as suas finalidades políticas de clã. Os desmandos do seu governo foram, para o ex-líder sindical, invenções da imprensa marrom a serviço dos poderosos. A política social do programa “bolsa família” converteu-se numa faca de dois gumes, que, se bem distribuiu renda entre os mais pobres, levou à dependência do favor estatal a milhões de brasileiros, que largaram os seus empregos para ganhar os benefícios concedidos sem contrapartida nem fiscalização. Enquanto acontecia isso, o fisco, sob o consulado lulista, tornou-se mais rigoroso com os produtores de riqueza, os empresários. “Nunca na história deste país” tributou-se tanto como sob os mandatos petistas, impedindo, assim, que a livre iniciativa fizesse crescer o mercado de trabalho em bases firmes, não inflacionárias. E nem falar das trapalhadas educacionais, com Universidades abertas do norte ao sul do país, sem provisão de mestres e sem contar com os recursos suficientes para funcionar. Nem lembremos as inépcias do Inep, que frustraram milhões de jovens em concursos vestibulares que não funcionaram a contento. Nem trazer à tona as desgraças da saúde, com uma administração estupidamente centralizada em Brasília, que ignora o que se passa nos municípios onde os cidadãos morrem na fila do SUS.

Diante de tudo isso e levando em consideração que o Brasil cresceu, na última década, menos do que seus vizinhos latino-americanos, o título de doutor honoris causa concedido a Lula, recentemente, pela prestigiosa casa de estudos francesa Sciences Po, em Paris, é ou uma boa piada, ou fruto de tremenda ignorância do que se passa no nosso país. Os doutores franceses deveriam olhar para a nossa inflação crescente, para a corrupção desenfreada fruto da era lulista, para o desmonte das instituições republicanas praticado pelo líder carismático e para as nuvens que, ameaçadoras, se desenham no horizonte de uma agudização da crise financeira mundial, que certamente nos encontrará com menos recursos do que outrora. Ao que tudo indica, os docentes de Sciences Po ficaram encantados com essa flor de “la pensée sauvage”, o filho de Dona Lindu, que conseguiu fazer tamanho estrago sem perder a pose. Sempre o mito do “bon sauvage” a encantar os Franceses! O líder prestigiado pela academia gaulesa falou, no final do seu discurso, uma verdade: a homenagem, ele entendia ter sido feita ao povo brasileiro, que paga agora com acréscimos a festança demagógica de Lula e que enfrenta com minguada esperança a luta de cada dia.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

BAIXA QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

Em que pese os discursos ufanistas do presidente Lula, ao longo dos seus oito anos de mandato, a situação do ensino superior brasileiro é ruim. A começar pelo fato de que há dois pesos e duas medidas para a avaliação do ensino nas Instituições Particulares (que são as que mais alunos atendem, chegando a 78% a participação dessas Instituições no total nacional) e nas Públicas. Todo rigor é aplicado pelo governo na avaliação das primeiras, enquanto que, no que tange às segundas, não são levados em conta os fiascos evidentes. As exigências, por exemplo, para credenciar cursos de pós-graduação, para as Instituições Particulares, são efetivamente cobradas, a começar pelas instalações de bibliotecas especializadas e salas de atendimento para os professores. Já nas Instituições Públicas, essas exigências são muito relativas. Conheço cursos de pós-graduação de Universidades Federais, bem classificados pela CAPES, que não têm biblioteca para os alunos, constituindo, assim, um grave problema para a pesquisa. 

De outro lado, as mais importantes Instituições públicas de ensino (as que compõem o sistema paulista, USP, UNICAMP e as demais Estaduais paulistas) não participam das avaliações, o que é um tremendo furo no sistema de aferimento de resultados. Ora, se as mais importantes entidades públicas de ensino superior do país não acreditam no sistema de avaliação vigente, o sinal que se passa à sociedade e ao mundo em geral, é que se trata de um falso sistema de avaliação. Como dizia o meu amigo embaixador Meira Penna no seu livro O Brasil na idade da razão, não fazemos uso da mesma nas mais corriqueiras circunstâncias do dia-a-dia; nem falar do uso do raciocínio e da coerência lógica em coisas de maior monta, como as avaliações do sistema de ensino superior. O princípio cartesiano do "cogito ergo sum" foi lido pelo homem cordial brasileiro como: "coito ergo sum". Essa falta de esclarecimento, no que tange à gestão e avaliação do nosso sistema educacional, constitui um total desastre. Não foi à toa que, recentemente, em palanque em campus de Universidade Federal no ABC, o ministro da educação foi vaiado, ao lado do seu mentor Lula

Coloco, a seguir, artigo muito esclarecedor do estudioso Simon Schawartzman, uma das mais importantes autoridades acadêmicas brasileiras no ramo da avaliação do sistema de ensino. As coisas não andam no Brasil por falta de idéias claras a respeito do que se deve fazer em matéria de avaliação de desempenho acadêmico da educação superior. O sistema vigente é caro e inútil.

DILEMAS DA EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR

 Simon Schwartzman



O governo federal anunciou recentemente, com forte publicidade,  uma nova expansão do sistema federal de ensino superior. Não há informações, no entanto, sobre os procedimentos que serão adotados para que esta expansão seja feita com qualidade e pertinência, e é improvável que o atual sistema de avaliação federal, o SINAES, consiga dar conta o recado. É este o teor do texto publicado no site “The World View of Higher Education”, que pode ser acessado aqui.


Segue a versão em português, cortesia de Aparecida Andrés:


A educação brasileira tem se expandido rapidamente nos últimos anos, devido principalmente à instituições privadas, que hoje respondem por 78% do total de matrículas. A maioria destas instituições têm fins lucrativos e baixo custo, e fornecem cursos à noite  em áreas “soft” (gestão, direito, contabilidade, educação). No últimos anos, o governo federal tem tentado aumentar o acesso a instituições públicas através de ação afirmativa para estudantes oriundos de escolas públicas e negros, através da criação de novas instituições federais e da expansão das existentes.


Recentemente o governo anunciou a criação de quatro novas universidades federais em alguns dos estados mais pobres do país (Bahia, Pará e Ceará), além de 47 novos campi em universidades já existentes, bem como um grande número de institutos federais de educação técnica em parceria com municípios. Em 2009, havia 3.700.000 estudantes em instituições privadas e 1.300 mil no setor público, dos quais 752.000 estavam matriculados em instituições federais. O projeto atual é adicionar 250 mil estudantes às universidades federais para se chegar a uma matrícula total de mais de 1 milhão de alunos neste setor. Além disso, através da criação de novos institutos técnicos, o governo espera aumentar as matrículas no ensino técnico por meio de um adicional de 600 mil estudantes – seria uma expansão dramática a partir de apenas 54 mil alunos em 2009.


E a qualidade?


Qual a qualidade das instituições existentes e o que se pode esperar das novas que estão sendo criadas? Em meados de 1990, o Brasil introduziu um sistema de avaliação para o ensino superior com base em testes administrados a alunos em diferentes disciplinas, no ano de sua formatura. A média dos resultados de cada curso foi usada como medida de sua qualidade. Ao mesmo tempo, o governo introduziu uma série de requisitos mínimos para instituições privadas de ensino superior que queiram obter autorização para operar e ter os seus títulos legalmente reconhecidos. Em 2004 estes procedimentos foram modificados e reunidos em um Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), supervisionado por um Conselho Nacional de Acreditação (CONAES) e implementado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), órgão do Ministério da Educação.


O último Censo da Educação Superior, de 2009, lista cerca de 63 mil cursos que têm de ser avaliados a cada três anos, de acordo com a legislação em vigor. A avaliação inclui visitas in loco por avaliadores externos, bem como os exames aplicados aos alunos. Todos os dados são combinados através de procedimentos estatísticos complexos levando a um ranking dos programas de curso em cinco categorias, e esses rankings, além da informação proveniente de avaliações da pós-graduação e pesquisa, realizadas separadamente, são combinados novamente para produzir um ranking de cinco pontos de cada instituição. Tais rankings são publicados em jornais e no site do Ministério da Educação, e, supostamente, cursos e instituições que estão no nível mais baixo ficam sujeitos a uma inspeção mais direta e, em casos extremos, devem ser fechados.


Este é um sistema gigantesco, muito caro e tem sido criticado por vários motivos. Os cursos e as instituições são classificados, mas não existem padrões mínimos, o que significa que é impossível interpretar o significado dos resultados. O setor privado reclama que eles perdem pontos e posicionam-se nos escalões mais baixos do que as instituições públicas, porque têm poucos professores em tempo integral e com titulações mais elevadas, uma vez que são apenas e principalmente instituições de ensino. Não existem dados sobre o emprego para os alunos após a graduação, para que possam determinar a qualidade dos programas de curso a partir da perspectiva do mercado de trabalho.


Finalmente, enquanto as instituições particulares podem perder alunos e, eventualmente, ser fechadas se se sairem mal nessas avaliações, as universidades públicas são autônomas e imunes a sanções do Ministério da Educação. As universidades estaduais de São Paulo – incluindo a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade de Campinas (UNICAMP) e da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), entre as melhores universidades do país – se recusam há anos a participar do sistema nacional de avaliação.


Em princípio, as novas instituições e programas dos cursos têm que passar por um processo de autorização e credenciamento para funcionar, mas as instituições públicas criadas por lei não tem que seguir estes procedimentos. Reportagens recentes nos jornais sugerem que a maioria das universidades federais criadas nos últimos anos não dispõe de instalações adequadas e pessoal acadêmico e que os institutos técnicos federais criados recentemente, boa parte deles constituindo-se em  uma atualização de escolas de nível médio técnicos existentes, estão passando por uma greve prolongada, devido à falta de condições de trabalho adequadas.


O governo federal não disse como irá garantir que as novas instituições e campus vão atender a padrões adequados de qualidade e é duvidoso que o sistema de avaliação em curso seja capaz de garantí-los.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

FILOSOFIA LUSO-BRASILEIRA: REALIZAÇÕES RECENTES


O estudo das Filosofias Nacionais corresponde a uma abordagem bastante atual da Filosofia. No Brasil, tal forma de estudo foi colocada na ordem do dia por Leonardo Prota, ao ensejo dos Encontros Nacionais de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira, por ele coordenados, e que se desenvolveram ao longo de mais de uma década, entre 1989 e 2001. Para fundamentar essa variante dos estudos filosóficos, o citado autor publicou a sua obra intitulada: As Filosofias Nacionais e a questão da universalidade da Filosofia, Londrina: Editora UEL, 2000. No mesmo contexto se situam os Colóquios Tobias Barreto e Antero de Quental, programados anualmente pelo Instituto de Filosofia Luso-brasileira (em Portugal, os primeiros, nos anos pares e no Brasil, os segundos, nos anos ímpares); esses encontros começaram em 1991 e continuam até hoje. Acaba de ser realizado, ENTRE 12 E 17 DE Setembro, o IX Colóquio Antero de Quental, que teve como sede a Universidade Federal de São João Del-Rei (onde se têm desenvolvido os três últimos colóquios brasileiros, sob a eficiente coordenação do professor José Maurício de Carvalho).
O IX Colóquio Antero de Quental centrou a atenção na meditação ética portuguesa e brasileira, entre os séculos XVIII e XIX. Participaram trinta pesquisadores brasileiros e portugueses, com as seguintes comunicações: “A moral católica no período colonial e seu impacto na tradição luso-brasileira” (José Maurício de Carvalho, Universidade Federal de São João Del Rei); “A moral contra-reformista: posição da Igreja na primeira metade do século XVIII)” (Antônio Paim, Instituto de Humanidades); “O lugar de O peregrino da América de Nuno Marques Pereira, no contexto geral” (Anna Maria Moog Rodrigues, Academia Brasileira de Filosofia); “Manuel de Góis e a ética conimbricense” (Joaquim Domingues, Instituto de Filosofia Luso-Brasileira – Lisboa); “A inquisição no Rio de Janeiro, no século XVIII – A possível fonte: Varnhagen” (Antônio Paim); “Revisão da interpretação brasileira de Feliciano de Souza Nunes” (Antônio Braz Teixeira, Universidade Lusófona – Lisboa); “O problema moral em António Vieira” (Manuel Cândido Pimentel, Universidade Católica Portuguesa – Lisboa); “Persistência da moral contra-reformista na cultura brasileira: a pesquisa resumida em A cabeça do brasileiro, de Alberto Carlos Almeida” (Antônio Paim); “Avaliação crítica da relação entre a meditação ética portuguesa e a brasileira” (Antônio Paim); “O problema moral em Luiz António Verney” (Pedro Calafate, Universidade de Lisboa); “O problema moral em Matias Aires” (António Pedro de Mesquita, Universidade do Minho); “O problema moral em António Soares Barbosa” (José Esteves Pereira, Universidade Nova de Lisboa); “O problema moral em Teodoro de Almeida” (Marta Maria Mendonça,  Universidade Nova de Lisboa); “O pensamento ético de Silvestre Pinheiro Ferreira e o Visconde de Cairú” (José Maurício de Carvalho); “O pensamento moral de Diogo Antônio Feijó (Humberto Schubert, Universidade Federal de Juiz de Fora – Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos); “A ética no pensamento de José Paulino Soares de Sousa, visconde de Uruguai” (Anna Maria Moog Rodrigues); “A fase final da Escola Eclética Brasileira” (Leonardo Prota, Instituto de Humanidades - Londrina); “As éticas espiritualistas de Eduardo Ferreira França e Cunha Seixas” (Bernardo Goytacazes de Araújo, Universidade Federal de Juiz de Fora – Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos); “O ético e o estético em Mário Vieira de Mello” (Luiz Alberto Cerqueira, Universidade Federal do Rio de Janeiro); “A ética espiritualista de Antônio Pedro de Figueiredo” (Tiago Adão Lara, Universidade Federal de Juiz de Fora); “O problema moral na visão de Antero de Quental” (Constança Marcondes César, Universidade Federal de Sergipe); “As éticas espiritualistas de Domingos Gonçalves de Magalhães e Alexandre Herculano” (Alexandro Ferreira de Souza, Universidade Federal de Juiz de Fora – Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos); “A ética entre Antônio Pedro de Figueiredo e Pedro Amorim Viana” (Antônio Gasparetto, Universidade Federal de Juiz de Fora – Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos); “Confluências e divergências na ética romântica de José de Alencar e Alexandre Herculano” (Marco Antônio Barroso, Universidade Federal de Juiz de Fora – Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos); “A moral positivista, à luz das análises de Sílvio Romero e Teófilo Braga” (Ricardo Vélez Rodríguez, Universidade Federal de Juiz de Fora – Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos); “A moral positivista de João Pinheiro da Silva” (Adelmo José da Silva, Universidade Federal de São João Del-Rei); “A moral positivista de Luiz Pereira Barreto” (José Luiz de Oliveira, Universidade Federal de São João Del-Rei); “A ética negativa diante do Culturalismo” (Júlio Cabrera, Universidade de Brasília); “O pensamento moral de Farias Brito e o espiritualismo de Leonardo Coimbra” (João Bosco Batista, Universidade Federal de São João Del-Rei).

Como se pode observar a partir do teor dos temas discutidos no evento, é rica a gama da pesquisa acerca da meditação luso-brasileira. Quatro aspectos, a meu ver, ressaltaram: 
 
1) De um lado, o confronto entre a perspectiva contra-reformista da meditação ética, em ambos os contextos (o português e o brasileiro) e a necessidade urgente de uma proposta modernizadora em matéria de moral social, que abra as portas para renovar as experiências democráticas em ambos os países. Na atual crise global da economia, ensejada pelo predomínio do capital especulativo, torna-se imperativo que as respectivas sociedades elaborem, no seu interior, propostas tendentes a sanear as relações econômicas, o que não se coaduna com o espírito de dependência excessiva do setor estatal e a desvalorização da livre iniciativa. Ora, estas tendências justamente se insinuam no teor cartorial das reformas modernizadoras que imperaram no contexto brasileiro e português, a partir do ciclo pombalino. Ambas as tendências malsãs estão presentes, hodiernamente, nas políticas estatizantes dos populismos socializantes, tanto em Portugal quanto no Brasil. A urgência de uma renovação na meditação ética, que abranja estes aspectos, foi claramente colocada por Antônio Paim e ensejou animado debate no evento.
2 - De outro lado, foi destacada por António Braz Teixeira, António Pedro de Mesquita e outros expositores, a importância da reflexão sobre os textos dos autores que, na sua época, abordaram as questões morais em sintonia com a problemática do tempo em que viveram, em que pese o fato de o terem feito de forma porventura mais literária do que filosófica (como foi o caso de Matias Aires), ou em contraposição a interpretações que, no seu tempo, foram consideradas mais relevantes. Nessa linha de pensamento, o estudo dos denominados “autores secundários” (como os que, em Portugal, acompanharam o debate dos conimbricenses, tema de que se desincumbe com invejável eficiência Pedro Calafate), será um trabalho de grande valor para a compreensão da meditação nacional pelas futuras gerações. Nessa mesma linha, no campo específico do pensamento político português, situa-se o dedicado trabalho que realiza na Universidade de Lisboa o professor Ernesto Castro Leal.
3 - Dois fatos auspiciosos foram apreciados por este cronista: a significativa presença, no IX Colóquio Antero de Quental, de alunos do curso de graduação em filosofia da Universidade Federal de São João Del-Rei e a participação de estudiosos da meditação brasileira provenientes de Universidades que até há pouco tempo não tinham enveredado pelo estudo dos filósofos luso-brasileiros. Tal foi o caso da participação do professor Júlio Cabrera[1], da Universidade de Brasília, que fundou recentemente a cátedra “Antônio Paim”, com a finalidade de estimular os alunos dessa instituição no estudo do pensamento brasileiro. Embora a comunicação apresentada por esse professor não se referisse ao contexto histórico assinalado para o Colóquio (séculos XVIII e XIX), mas tivesse focalizado a corrente culturalista, a sua participação foi significativa no sentido de que revelou o interesse que o estudo da filosofia brasileira continua suscitando, hodiernamente, no meio universitário, em que pese a tradicional oposição da burocracia da Capes para o surgimento de cursos de pós-graduação nessa área.
4 – Por último, vale a pena destacar a consolidação do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da Universidade Federal de Juiz de Fora, como grupo que colabora na programação e na realização dos Colóquios Antero de Quental e Tobias Barreto, segundo ficou decidido em 2007, no final do Congresso Luso-galaico-brasileiro, ocorrido na Universidade Católica do Porto. Cinco membros do mencionado Núcleo, além do coordenador do mesmo, apresentaram trabalhos no IX Colóquio, como fica patente na programação do evento, mencionada na primeira parte desta matéria. O Núcleo, através das revistas eletrônicas Ibérica [http://www.estudosibericos.com] e Cogitationes [http://www.cogitationes.org], divulga regularmente pesquisas e matérias relativas ao estudo da história do pensamento filosófico luso-brasileiro. Este grupo, junto com o que publica, em Portugal, a revista Nova Águia, representa a nova geração de estudiosos das filosofias nacionais, em Portugal e no Brasil.


[1] Recebi do professor Julio Cabrera, em 10 de Setembro de 2011, a seguinte nota, que divulgo pelo seu valor no que tange ao diálogo acerca da filosofia brasileira: Estimado profesor Vélez Rodríguez: Estuve leyendo tardíamente su libro Tópicos especiais de Filosofia contemporânea; puedo decir que es uno de los mejores libros de filosofía en lengua portuguesa que leí en los últimos 5 años. Esto, que, en circunstancias normales, parecería un elogio desmesurado, en verdad no lo es, por lo menos a la luz de mi sombría visión actual de la filosofía brasileña, en donde es muy difícil ser sorprendido por un texto creativo e innovador. Pero tengo dudas y discordancias que no puedo dejar de exponerle, y que tal vez podamos conversar personalmente en la próxima semana. Me refiero a la relación hipercrítica que el grupo de pensadores en torno de Antonio Paim tiene con respecto a las filosofías de la liberación (tema del bellísimo capítulo 8 de su libro). Yo creo que las críticas están básicamente bien dirigidas: la cuestión de la pobreza como pretexto para construir una sociedad uni-direccionada y autoritaria guiada por un único orden de intereses; el mesianismo político delirante; los populismos desenfrenados; el modelo implícito de Rousseau, del “buen salvaje” corrompido por la civilización; el poder irracional de la propaganda; la presentación de una visión totalizadora en donde todos los detalles son re-interpretados mediante un criterio único (la liberación de los oprimidos); el sentimiento apocalíptico; la mística revolucionaria; la utilización de la religión como refuerzo del poder absoluto, y otros elementos críticos muy bien formulados en su texto. Todo esto está muy bien y es indiscutible, creo, a través de sus argumentos históricos y sistemáticos. Sólo que yo creo, primero, que ninguna de esas características está internamente vinculada con las éticas de la liberación. Lo que se dice contra el dogmatismo uni-direccional y la intolerancia podría ser perfectamente aplicado también, por ejemplo, contra cierta filosofía analítica contemporánea y contra la propia filosofía de Heidegger: ambas pueden verse como poderosas ideologías que pretenden mostrar que todo lo que pensamos hasta ahora estaba equivocado, y que debemos re-interpretar toda la historia humana a la luz de un nuevo principio y, de esa manera, liberarnos de una cierta opresión (en el caso de la filosofía analítica, liberarnos de la semántica tradicional que nos llevó a formular sin-sentidos; en el caso de Heidegger, liberarnos de la onto-teología tradicional que, de Platón a Nietzsche, aprisiona nuestras mentes). Me parece que estas dos pueden ser vistas como formas de mesianismo totalizante y autoritario que nada tienen que ver (al contrario, me parece, son políticamente opuestas) con las filosofías de la liberación. O sea, lo que se critica, muy bien y con toda justicia, de estas filosofías no me parece ser lo distintivo de ellas. En segundo lugar, lo que me parece sí distintivo, y que usted reconoce bien al comienzo del capítulo, es la formulación del problema moral de la pobreza y la desigualdad (que no es sólo económica, concuerdo con usted, sino también cultural y espiritual) y la cuestión de la dependencia en que se encuentran los países latino-americanos respecto no sólo de los países hegemónicos sino, y sobre todo, de sus representantes internos (un burócrata de la Capes puede ser más intolerante que un dirigente de un país hegemónico). Yo, por mi parte, no tengo ninguna duda de que vivimos en una situación de dependencia, y específicamente de dependencia cultural (que es lo que más me afecta como intelectual). El hecho de que marxistas de 5ª categorías hayan usado y abusado de expresiones como “las clases dominantes”, no niega el hecho de que existen grupos que imponen autoritariamente formas de hacer filosofía, de las cuales parece legítimo querer liberarse. Por lo menos, es lo que yo pienso. Creo que la pobreza intelectual latino-americana está hoy producida por los grupos de burócratas que bloquean, por ejemplo, el estudio del pensamiento latino-americano y específicamente brasileño, en beneficio de una cultura euro-centrada. Y creo que el propio grupo en torno del profesor Paim ha sufrido y sufre aún precisamente el poder autoritario de esas “clases dominantes” que hoy ocupan todo el espacio político de la filosofía, sobre todo en las universidades, quedándose con todos los auxilios económicos,  poniendo en crisis el funcionamiento del Instituto Brasileiro de Filosofia y la publicación de su revista. Estamos, pues, en una situación de dependencia, sólo que de signo diferente a la denunciada por los marxistas habituales. Y nada impide usar categorías de las filosofías de la liberación para librarnos de estas nuevas relaciones de dependencia. Yo me siento agredido por un sistema que europeizó los curricula académicos y hace que los estudiantes de filosofía no conozcan ni siquiera el nombre de sus pensadores nacionales (aunque se saben al dedillo todo el iluminismo escocés). Precisamente, me aproximé a Paim, Mauricio, usted, etc, porque los veo también como intelectuales valiosos en cierta forma excluidos por el sistema actual. Estamos todos, pues, en situación de dependencia y exclusión. En esas circunstancias, y ésta sería mi pregunta fundamental, ¿no es desventajoso sostener una actitud totalmente contraria a las filosofías de la liberación, siendo que es de una filosofía libertadora de lo que precisamos para tratar de cambiar esta situación de exclusión y marginalización en la que se encuentra el pensamiento brasileño y latino-americano? ¿No sería posible una filosofía liberadora sin la actitud totalizante y dogmática, sin mesianismo, sin propaganda, sin chichés, sin uni-direccionalidad, etc, pero con plena conciencia de nuestra dependencia y de la necesidad de hacernos valer como intelectuales?  Me parece que lo útil e interesante de las filosofías de la liberación no está en los horrores que ellas comparten con todas las ideologías totalitarias, sino en los elementos de crítica contra relaciones de dependencia en general, en un mundo de pobreza económica e intelectual. En ese sentido, y abusando de su amabilidad, quería preguntarle (porque tal vez no entendí nada de su argumento) si usted tiene alguna duda de que vivimos en una situación de dependencia; y, en segundo lugar, siendo que el problema de la pobreza (económica y cultural) es reconocido por usted como problema ético legítimo - y si no queremos asumir ninguna forma de filosofía de la liberación - ¿cuáles serían entonces las alternativas filosóficas a las filosofías de la liberación para acabar, o al menos, para disminuir ese problema reconocidamente legítimo? Abrazos, Julio Cabrera.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

FIN DEL IDILIO CON CHINA

Me pareció muy clarividente el artíulo de Andés Oppenheimer, publicado hoy en el diario EL COLOMBIANO, de Medellín, en el que el analista norteamericano destaca los aspectos negativos de la ofensiva comercial china, especialmente frente a la América Latina; Si los chinos son hoy en día una fuerza económica importante, son, también, desde el ángulo de la cultura política, portadores del modelo del despotismo hidráulico, modelo milenario y no apenas una cosa del presente. Napoleón decía de los rusos: "arañad a un ruso, encontraréis un tártaro". El general francés diría hoy de los chinos: "arañad a un chino, encontraréis un déspota". Le doy la palabra en este espacio al articulista norteamericano, con su materia de hoy, que lleva el título con el que he ilustrado esta materia. A seguir, el artículo mencionado:

Después de varios años de exportaciones latinoamericanas récord a China -que ayudaron a la región a crecer significativamente pese a la recesión global- hay signos de que esa luna de miel podría estar a punto de terminar.

Cada vez más empresarios y expertos en comercio latinoamericano se están quejando de que China le compra a la región casi exclusivamente materias primas, y se niega a comprar productos latinoamericanos más sofisticados, y costosos, impidiéndole así a los países de la región tener economías más diversificadas. Además, las empresas chinas están introduciendo en la región dudosas prácticas comerciales, explotando a los trabajadores y destruyendo el medio ambiente, según dicen.

Una columna reciente del exdiplomático brasileño Rubens Barbosa, publicada en el diario O Estado de Sao Paulo , dice que junto con un aumento del comercio y de las inversiones, las empresas chinas están llevando a los países en desarrollo "una cultura del vale-todo, que incluye hasta la violencia física en las relaciones laborales". Citando un artículo de la revista The Economist sobre las inversiones chinas en África, Barbosa dice que China "está destruyendo parques y bosques en busca de recursos minerales y agrícolas, y viola las reglas más rudimentarias de seguridad laboral".

Hasta ahora, las empresas chinas tenían una enorme ventaja sobre las firmas estadounidenses y europeas con una larga historia de inversiones en los países en desarrollo: su presencia no era considerada con suspicacia ni con hostilidad. Pero eso está cambiando, dice Barbosa.

Barbosa, exembajador en Washington durante el gobierno de Luiz Inácio Lula da Silva, y ahora director del consejo de comercio exterior de la poderosa Federación de Industriales de Sao Paulo (Fiesp), dijo que los ejecutivos brasileños que trabajan para empresas nacionales también se quejan de "largas jornadas de trabajo, frecuentes horas extras, teleconferencias a la madrugada, vigilancia constante de los jefes, y metas de producción que no son realistas ni negociables".

Como resultado, el 42 por ciento de los ejecutivos brasileños que trabajan para empresas chinas abandonan sus empleos durante el primer año, dijo, citando un artículo del diario Folha de Sao Paulo.

Barbosa concluyó que las costumbres comerciales chinas "debían ser observadas con atención" por las autoridades, los sindicatos y asociaciones brasileñas.

Casi simultáneamente, un nuevo estudio de la Comisión Económica para América Latina y El Caribe (Cepal), titulado "Panorama de la inserción internacional" , revela que el 87 por ciento de las exportaciones latinoamericanas a Asia -principalmente a China- son materias primas, y sólo el 13 por ciento son productos manufacturados. En comparación, el 60 por ciento de las exportaciones latinoamericanas a Estados Unidos son productos manufacturados, y el restante 40 por ciento son materias primas.

Una de las principales asignaturas pendientes de América Latina es diversificar sus exportaciones a China, para no ser vulnerables en el caso de una repentina caída de los precios, agrega el informe.

Mi opinión: La aparición de China como principal comprador de materias primas latinoamericanas, sobre todo sudamericanas, ha sido una bendición para la región, pero también se ha convertido en un problema. Ha distraído a los países de la tarea urgente de diversificar sus exportaciones y fabricar productos más sofisticados.

Desafortunadamente, varios gobiernos sudamericanos están engañando a su población afirmando que su reciente crecimiento se debió a un supuesto novedoso modelo económico, más que a una ola de compras chinas que podría no durar para siempre. Ojalá que una visión más realista ayude a estos países en intercambios comerciales más maduros con China, que beneficien aún más a la región.