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quarta-feira, 22 de abril de 2020

O CIENTIFICISMO NAS ORIGENS DA SOCIOLOGIA



O cartesianismo não se restringiu, apenas, ao terreno do conhecimento. Nos séculos subsequentes à sua formulação estendeu-se, também, ao plano social. A culminância desse processo seria a emergência da moderna burocracia, fenômeno detalhadamente estudado por Max Weber (1864-1920).
A administração burocrática pura emergiu da forma de dominação racional. Partiu da tentativa, típica da modernidade pós-cartesiana, de estender o domínio da razão sobre o mundo (e, forçosamente, sobre as organizações). A respeito, escreve Weber: “A administração burocrática pura, ou seja, a administração burocrático-monocrática aplicada ao expediente é, consoante a experiência, a forma mais racional de se exercer uma dominação. É racional nos seguintes sentidos: em precisão, continuidade, disciplina, rigor e confiança; implica, portanto, para o soberano e os interessados, exercício de cálculo; pressupõe, também, aplicabilidade formalmente universal a todo tipo de tarefas; pressupõe, outrossim, possibilidade de aperfeiçoamento técnico para atingir o melhor resultado. O desenvolvimento das formas modernas de associações, em todo tipo de terrenos, (estado, igreja, exército, partido, exploração econômica, associação de interessados, uniões, fundações e quaisquer outras que possam ser mencionadas); coincide, totalmente, com o desenvolvimento e incremento crescente da administração burocrática: a sua aparição é, por exemplo, o germe do estado moderno ocidental”.[1]
I – Tendências Gerais do Cientificismo
Se bem é certo que a culminância do processo de racionalização da sociedade é a moderna burocracia, na forma descrita por Weber, o seu advento esteve precedido de amplo trabalho de reflexão sobre a forma em que se poderia compreender e organizar a sociedade, à luz do conhecimento científico. Os pensadores iluministas, por exemplo, esforçaram-se por aplicar o modelo de racionalidade científica (à luz do qual se tinha consolidado a nova ciência da natureza, nos séculos 17 e 18), à organização da sociedade. Dessa empreitada surgiram, no limitar dos séculos XVIII e XIX, na França, na Inglaterra e na Alemanha, quatro grandes tendências que buscavam, de uma forma ou de outra, a racionalidade social. Mencionemo-las:
1) Tendência da matemática social, representada por Condorcet (1743-1794) e Laplace (1749-1827), herdeiros do modelo da aritmética política proposto por Lagrange (1736-1813) e Lavoisier (1743-1794). A expressão matemática social foi criada por Condorcet em sua obra Quadro geral da ciência que possui por objeto a aplicação do cálculo às ciências morais e políticas, publicada, pela primeira vez, em 1795 e conhecida, em edições posteriores, com o título mais conciso de: Matemáticas e sociedade.[2] Laplace caracterizou esse esforço matemático da seguinte forma, na sua obra Ensaio filosófico sobre as probabilidades: “Apliquemos às ciências morais e políticas o método fundado na observação e no cálculo, método que nos tem servido tão bem nas ciências naturais”.[3]  É conhecida a aplicação feita por Augusto Comte (1798-1857) desse princípio na sua física social, pretensão que já o marquês de Pombal (1699-1782) tinha tentado na sua aritmética política. Essas duas tendências inspirariam, aliás, no universo cultural brasileiro, o fenômeno do cientificismo, que deu ensejo à geometria política de frei Caneca (1779-1825), ao poder legitimado pelo saber dos nossos positivistas no final do século XIX, ao princípio do equacionamento técnico dos problemas, formulado e posto em prática por Getúlio Vargas (1883-1954) e a segunda geração castilhista, e à engenharia política do general Golbery do Couto e Silva (1911-1987).[4]
2) Tendência da fisiologia social, representada por Cabanis (1757-1808), Bichat (1771-1802), Vicq D´Azyr (1748-1794), Pinel (1745-1826) e Saint-Simon (1760-1825). A fonte principal desta vertente foi a obra de Cabanis intitulada: Relações do físico e do moral no homem, publicada em 1802. Ele entendia que, no homem, o aspecto moral é indissociável da dimensão física. Tanto o governo quanto as políticas de saúde devem obedecer às mesmas leis que constituem a ciência do homem, disciplina que abarca três capítulos: a fisiologia, a análise das idéias e a moral. Cabanis estava convencido de que, a partir do conhecimento das necessidades e das faculdades do homem, os legisladores poderiam elaborar uma acertada sintomatologia dos seus males sociais e formular, como verdadeiros médicos sociais, o tratamento mais adequado às doenças da coletividade. Esses cuidados de higiene social permitiriam às sociedades evoluir pacificamente, livres das doenças identificadas com as paixões revolucionárias. Tratava-se, sem dúvida, de garantir ao corpo social a sua evolução orgânica. A respeito, frisava Cabanis: “É necessário, numa palavra, que a higiene aspire a aperfeiçoar a natureza geral (...). Para atingir essa finalidade, é necessário seguir uma concepção digna de uma época de regeneração; é hora de ousarmos fazer com nós mesmos o que tão felizmente temos feito com outros companheiros nossos de existência (os animais e as plantas); é necessário que ousemos rever e corrigir a obra da natureza”.[5]
3) Tendência da economia política, representada por David Hume (1711-1776), Jean-Baptiste Say (1767-1832), Destutt de Tracy (1754-1836), Roederer (1754-1835), Adam Smith (1723-1790), etc. e que se desenvolveu como herança da moral escocesa do século XVIII, que pretendia oferecer uma alternativa racional às teorias contratualistas. Seria possível, como pensava Hume, reduzir a política a uma ciência referida à economia e aos negócios públicos. Essa temática foi retomada por ideólogos como Jean-Baptiste Say (1767-1832) que, no seu trabalho intitulado: Tratado de economia política, publicado em 1803, identificava a nova ciência, por ele proposta, com um saber racional alicerçado na experiência, irredutível à matemática, mas passível de ser resumido em poucos princípios evidentes para todos. A respeito, escrevia Say: “Assim como as ciências exatas, a economia política se compõe de um número reduzido de princípios fundamentais e de um grande número de corolários ou deduções desses princípios. O importante para os progressos da ciência é que os princípios decorram, naturalmente, da observação; em seguida, cada autor multiplica ou reduz, de acordo com sua vontade, o número e conseqüências, conforme o objetivo a que se propõe. (...) Um tratado de economia política se reduzirá, então, a um pequeno número de princípios que nem sequer precisaremos basear em provas, pois eles serão, apenas, o enunciado daquilo que todo mundo já saberá, disposto numa ordem apropriada, a fim de poder apreender seu conjunto e suas relações”.[6]
Na trilha desta tendência da Economia Política surgiu, na Inglaterra, ao longo do século XIX, a Tendência Utilitarista. Três foram os representantes mais importantes dessa corrente: Jeremy Bentham (1748-1832), John Stuart Mill (1806-1873) e Henry Sydwick (1838-1900), que exerceram uma influência decisiva sobre o Pragmatismo, no século XX.[7]
4) Tendência historicista, cujos formuladores foram Savigny (1779-1861) e Hegel (1770-1831), seguidos pelos autores da denominada esquerda hegeliana. Hegel definia, claramente, a ambiciosa meta que assinalava ao saber filosófico, nos seguintes termos, em Princípios da filosofia do direito: “Precisamente porque a filosofia é o fundamento do racional, ela é a inteligência do presente e do real e não a construção de um além que se encontraria Deus sabe onde”.[8] Se bem é certo que, nesse texto, se ressalta a idéia do compromisso da filosofia com a realidade histórica do homem, é certo, também, que ela é entendida como pensamento do mundo, devendo, portanto, incorporar todos os aspectos do real. “Conceber o que é – escreve Hegel – eis a tarefa da filosofia, pois o que é, é a razão. No que concerne ao indivíduo, cada um é filho de seu tempo; do mesmo modo, a filosofia resume seu tempo no pensamento”. Tamanha missão, dar conta de tudo, faz com que a filosofia, na condição de sistema, chegue sempre tarde, como a coruja de Minerva, “que levanta voo quando as sombras da noite se aproximam”.
É o que Hegel reconhece, com os seguintes termos: “Para dizer uma palavra sobre a pretensão de ensinar como deve ser o mundo, indicaremos que, em todo caso, a filosofia chega sempre muito tarde. Na condição de pensamento do mundo, ela somente aparece quando a realidade cumpriu e terminou seu processo de formação”.
Marx (1818-1883) reformulou o historicismo hegeliano, colocando-o no contexto do materialismo histórico. Os aspectos essenciais do historicismo de Marx poderiam ser sintetizados da seguinte forma: segundo ele, a consciência da necessidade nasce, não apenas, da exterioridade da natureza, mas, também, da própria história humana, da interioridade das condições históricas, da sociedade humana e de suas formas, bem como das relações e condições que influem em sua consolidação. O estímulo para o movimento e a transformação é interior à própria realidade humana, não apenas, natural e exterior. A necessidade é, portanto, não somente, exigência natural, mas, também, força geradora e motora da história. Em vez do homem abstrato da natureza, temos o homem concreto e vivo da história, por meio da classe social; o homem que adquiriu consciência de classe, o proletário organizado para a luta; esse é o principal ator da história.  A massa humana, que tinha sido idealizada por Feuerbach (1804-1882), encontra, em Marx, uma formulação concreta e atuante.[9]
II - Claude-Henri de Saint-Simon (1760-1825) e o Cientificismo da Fisiologia Social.
A atualidade do conde Claude-Henri de Saint Simon é inegável. Temas que interessam ao mundo de hoje como os da aproximação entre teoria e prática, da possibilidade de uma religião universal, da organização da sociedade a partir do saber e não, simplesmente, do ter ou do poder, das características e funções do “poder operário” e da “nação trabalhadora”, etc., são de inspiração saint-simoniana. Fenômenos tão contemporâneos como a revolução cultural ou a organização totalizante da sociedade deitam raízes na sua obra. A preocupação com a interdisciplinaridade foi por ele acalentada: o teatral conde chegou a propor a criação de um “Instituto Internacional de Pesquisa Científica Interdisciplinar”. E um fato tão latino-americano como a teologia da libertação inspira-se no “novo cristianismo”, sistematizado e apregoado por Saint-Simon e os seus discípulos. A leitura de sua obra é interessante para o leitor contemporâneo.
Para o público brasileiro, existem razões adicionais que recomendam a leitura de Saint-Simon. A nossa propaganda republicana, ao longo do século XIX, alicerçou-se, em boa medida, no fervor político-religioso que os saint-simonianos difundiram após a morte do mestre, em 1825. Uma prova dessa influência, recebida no Brasil através da obra de Augusto Comte (1798-1857), o fundador da “Religião da Humanidade”, foram os ideais de ética absoluta e de regeneração social cultuados pela Igreja Positivista Brasileira, criada no Rio de Janeiro, em 1881, por Miguel Lemos (1854-1917) e Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927).
O “messianismo político” saint-simoniano, certamente, esteve muito próximo dos nossos surtos populistas, sendo o mais importante o ensejado pela opção modernizadora de Getúlio Vargas (1883-1954), na sua longa permanência no poder, nos períodos 1930/1945, e 1951/1954. Getúlio, formado no positivismo castilhista, assimilou as idéias saint-simonianas através da leitura da obra do romancista Emile Zola (1840-1902), um dos principais divulgadores do pensamento de Saint-Simon na França. Vargas transferiu para o castilhismo uma visão organicista, mais maleável que o ríspido comtismo gaúcho.
Três experiências foram marcantes na vida de Saint-Simon, no período que transcorre entre 1760 e 1803: em primeiro lugar, a da sua formação, na infância e na adolescência, no ambiente da Enciclopédia. Em segundo lugar, a da “prática libertadora”, ao ensejo da participação do jovem conde na Revolução Americana (1776), na brigada de voluntários comandada pelo marquês de Lafayette (1757-1834), que ajudou George Washington (1732-1799) na empreitada revolucionária. Anos mais tarde, Saint-Simon afirmava, com indisfarçável orgulho: “Eu posso me considerar como um dos fundadores da liberdade nos Estados Unidos”. A terceira experiência marcante foi a sua participação na Revolução Francesa (1789), mais como observador arguto do que como militante. Em relação a essa tríplice experiência, a nostalgia da Enciclopédia, a libertação dos Estados Unidos e a Revolução Francesa, destaca um dos principais estudiosos do pensamento saint-simoniano, o sociólogo francês Henri Desroche (1914-1994): “Da primeira, ele tirou a sua veneração por um humanismo do homo sapiens. Da segunda, a sua valorização do humanismo do homo faber. Da terceira, a sua alergia ao modelo do homo ludens”.
Saint-Simon deixou muitos escritos, que abarcam 47 obras, publicadas, hoje, em 6 volumes com o título de Obras [Oeuvres, Paris, 1966]. As mais importantes são estas: Cartas de um habitante de Genebra aos seus contemporâneos (1802); Um sonho (1803); Introdução aos trabalhos científicos do século XIX (1807); Esboço de uma nova enciclopédia (1810); Trabalho sobre a gravitação universal (1813); Fisiologia Social – Memórias sobre a ciência do homem (1813-1816), Sobre a reorganização da sociedade européia (em colaboração com A. Thierry, 1814); A indústria, ou discussões políticas, morais e filosóficas, no interesse de todos os homens entregues aos trabalhos úteis e independentes (1817); O organizador (1819-1820); O sistema industrial (1821); O catecismo dos industriais (1823); O Novo Cristianismo (1825); Opiniões literárias, filosóficas e industriais (1825).
Em sete pontos podemos sintetizar as idéias fundamentais de Saint-Simon:
1 - Busca de um princípio único para explicar a história da espécie humana. O nosso autor procurava descrever essa saga, a partir de um único princípio que explicasse o comportamento dos homens, a fim de evitar, doravante, as desordens causadas pelas revoluções. Situa-se, aqui, Saint-Simon como um dos pensadores que, ao lado de Joseph de Maistre (1753-1821), de Luis de Bonald (1754-1840) e do próprio Augusto Comte (1798-1857), buscam reagir, de forma conservadora, contra os perversos efeitos da Revolução Francesa. A sociedade é concebida, pelo filósofo, como um organismo cósmico que constitui uma “verdadeira máquina organizada” que, ao longo dos séculos, foi criando os seus próprios órgãos para se adaptar às diferentes circunstâncias. Emerge daí uma concepção determinística do homem, que se submete às inexoráveis leis que comandam o organismo social. A unidade inteligível da História não é nem o Estado, nem a Nação, nem o Indivíduo, mas a Sociedade Orgânica.
2 - Tradução desse esforço de adaptação do organismo social nos sistemas filosóficos. Todo sistema social revela-se num sistema filosófico. A respeito deste ponto, escreveu o estudioso J. L. Talmon[10] na sua clássica obra intitulada Mesianismo político, la etapa romántica: “A religião, a política, a moral, a instrução pública não são mais do que o reflexo e a aplicação de um sistema de idéias, de uma Weltanschauung”.
3 - A formulação dos sistemas filosóficos é feita, nas várias épocas, por uma cabeça que pensa pelo todo social. Como frisa acerca deste ponto Emil Bréhier[11], “Saint-Simon é aristocrata demais para poder acreditar que o povo, em cujo favor ele trabalha, seja capaz de fazer alguma coisa em prol de sua renovação”. Essa cabeça, como veremos logo mais, é constituída pelos cientistas (denominados pelo filósofo de savants positifs).
4 - A culminância desse esforço evolutivo do organismo social é constituída pela Sociedade Industrial. Esta é a meta do processo humano e é marcada por duas características: em primeiro lugar, o esforço produtivo industrial é objetivo, pois seus elementos são mensuráveis e tangíveis por todos, e o seu funcionamento é uma questão de precisão e de disciplina científica, não havendo lugar para opiniões amadorísticas; em segundo lugar, trata-se de uma organização com um máximo de coesão, o que realça o seu caráter orgânico. Na sua obra A Fisiologia Social, Saint-Simon escreve: “A reunião dos homens constitui um verdadeiro Ser, cuja existência é mais ou menos vigorosa ou fraca, segundo os seus órgãos assumam, mais ou menos regularmente, as funções que lhes são confiadas”.[12]
5 - Os cientistas – savants positifs – devem presidir o Corpo Social como cabeça pensante deste, de mãos dadas com os industriais. O próprio Saint-Simon se colocava como líder dos cientistas. O papel dos homens de ciência consiste em pregar a grande revolução, que será efetivada pela passagem da sociedade tradicional à industrial. A missão da elite intelectual é meramente persuasiva, não violenta, devendo limitar-se a mostrar aos reis, povos, aristocracias e governos a inevitabilidade do advento do sistema industrial. A parte prática do processo cabe aos industriais, guiados pelos cientistas. Eles colaborarão, com estes, na implantação da nova sociedade, mostrando aos vários membros da coletividade de que forma as funções que cada um exerce são importantes para a construção da nova ordem, banindo o conflito social e a revolução violenta. Saint-Simon ficou entusiasmado com a ascensão de Napoleão Bonaparte (1769-1821) ao poder, em 1804, como Imperador dos Franceses, e com a sua decisão de governar alicerçado em Conselhos Técnicos, dispensando a opinião dos políticos. O filósofo imaginava ser o pensador da nova ordem, o seu cientista. Tal modelo empolgou a Getúlio Vargas, quando assumiu o poder na Revolução de 30.
6 - Saint-Simon propôs, no final da sua vida, inspirado em Jean-Jacques Rousseau (1717-1778), uma outra liderança que deveria presidir, do ponto de vista espiritual, a evolução do Corpo Social: os sacerdotes do Novo Cristianismo, do qual ele próprio seria o líder. A nova religião tinha as seguintes características: A – Ela devia fornecer aos cidadãos a visão de mundo que lhes permitiria entender o lugar que ocupavam no universo, bem como o código de conduta que deveriam seguir. B – Essa religião deveria ser indissociável do fator político e social, porquanto seria o alicerce deles, não cabendo divisão entre poder espiritual e temporal, entre Igreja e Estado. C – A vivência religiosa, ao fazer sentir o homem dependente de alguma realidade objetiva, exterior a si mesmo, impediria a dominação egoísta sobre os seus semelhantes, bem como os conflitos de interesses. D – Essa religião era o Cristianismo revitalizado, mediante a incorporação de todos os progressos científicos e a sua identificação total com a classe trabalhadora, substituindo as idéias metafísicas e as esperanças do além por idéias sociais. E – O novo Cristianismo deveria ser administrado por uma nova Igreja, que vigiaria para que o sistema industrial produzisse os seus frutos, elaborando planos que desenvolvessem, ao máximo, a inteligência e a produtividade dos membros da nova sociedade. F – Saint-Simon colocava-se como o pontífice máximo da nova religião, assumindo um caráter messiânico, porquanto portador de uma mensagem que garantiria a definitiva salvação da Humanidade (por este motivo, o filósofo é considerado, pelos estudiosos, como o pai do messianismo político moderno). A nova Igreja contaria com uma rigorosa hierarquia, sendo os imediatos colaboradores do novo líder aqueles que, historicamente, tivessem sido rejeitados pela sociedade: nesse lugar estariam os judeus, perseguidos em vários países pela Inquisição católica e por outras religiões como o Cristianismo Ortodoxo, na Rússia. Ricos refugiados portugueses, que na França se acolheram ao Edito de Nantes (1598) promulgado por Henrique IV (1553-1610) e que criaram a Banca francesa (Irmãos Pereira, Olinde Rodrigues, etc.) terminaram entrando nas fileiras da Igreja Saint-Simoniana e garantiram o financiamento das atividades do Novo Cristianismo, que contou com o seu jornal, Le Globe, no qual foram divulgadas, amplamente, as idéias do filósofo.
7 - Sobrevivência do messianismo saint-simoniano em outros messianismos políticos. A doutrina do Novo Cristianismo influenciou, no decorrer dos séculos XIX e XX, as restantes manifestações do messianismo político. Essa ideologia salvacionista empolgou o pensamento de autores tão variados como Augusto Comte (1798-1857), Jules Michelet (1798-1874), Giuseppe Mazzini (1805-1872), Karl Marx (1818-1883), Hugues-Felicité Robert de Lamennais (1782-1854), Teófilo Braga (1843-1924), Oliveira Martins (1845-1894), Antero de Quental (1842-1891), Getúlio Vargas (1883-1954), Camilo Torres Restrepo (1929-1966), Leonardo Boff (1938), etc. Não há dúvida de que este messianismo político empolgou ao jovem Marx, quando da sua passagem por Paris (1844-1845).
III - Augusto Comte (1798-1857) e o Cientificismo da Física Social.
Augusto Comte nasceu em Montpellier, e faleceu em Paris. Nos anos 1817-1824 tornou-se secretário do conde Saint-Simon, tendo renunciado a essa função por discordar a índole prática da doutrina apregoada pelo seu chefe. Em 1832, foi nomeado repetidor de análise matemática e de mecânica da Escola Politécnica de Paris, onde ingressara, como estudante, em 1814. Nessa escola, o nosso autor recebeu a influência de intelectuais de renome, como o físico Sadi Carnot (1796-1823), o matemático Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) e o astrônomo Pierre Simon de Laplace (1749-1827). Tendo sido fechada a Escola Politécnica em 1816, Comte dedicou-se aos estudos sociológicos, econômicos, filosóficos e políticos em Paris: leu as obras de Destutt de Tracy (1754-1836), de Pierre Cabanis (1757-1808), do conde de Volney (1757-1820), de Adam Smith (1723-1790), de Jean-Baptiste Say (1767-1832), de David Hume (1711-1776) e de William Robertson (1721-1793). Mas o autor que mais o influenciou, depois de Saint-Simon, foi Antoine Nicolas de Caritat, marquês de Condorcet (1743-1794), com o seu livro intitulado: Esboço de um quadro histórico dos progressos do espírito humano.
Como o conde Saint-Simon, Comte era consciente de que lhe estava incumbida uma missão providencial. Em que pese o fato de, apenas nos últimos doze anos da sua vida, a partir de 1845, ele ter feito uma síntese, visando interpretar a sua missão em termos religiosos, desde cedo entendeu que o seu trabalho estava ligado, indissoluvelmente, ao esforço para salvar a sociedade da anarquia em que tinha mergulhado, após a Revolução Francesa, mediante a adoção de um novo sistema orgânico de pensamento.
Eis o que o jovem filósofo escrevia em 1822, no seu opúsculo intitulado: Plano dos trabalhos científicos necessários para reorganizar a sociedade[13]: “A única maneira de pôr termo a esta tempestuosa situação, detendo a anarquia que invade dia a dia a sociedade, reduzindo, por fim, a crise a simples movimento moral, é determinar as nações civilizadas a deixarem a direção crítica, a fim de tomarem a direção orgânica, convergindo todos os seus esforços para a formação de um novo sistema social, meta definitiva da crise, e para a qual é simplesmente preparatório tudo quanto se tem feito até o presente. Tal é a primeira necessidade da nossa época. Este, também, em resumo, o alvo geral de meus trabalhos e a finalidade particular deste escrito, que tem por objetivo pôr em jogo as forças que devem impelir a sociedade do novo sistema”.
O fato de Comte ter proposto, diretamente, não a institucionalização da sociedade industrial, mas uma mudança mental (que ele denominava de abandono da direção crítica), levou ao rompimento com Saint-Simon. Comte não aceitava que o seu mestre, nesse período, deixasse, em segundo plano, a reforma teórica do conhecimento e se dedicasse à formação da nova elite industrial e científica. Comte, porém, conservou idêntica a inspiração salvadora que lhe incutira Saint-Simon.
Comte, como Saint-Simon, percorreu duas etapas na sua evolução filosófica: a primeira, ligada à valorização da ciência e de uma proposta educativa decorrente dela; a segunda, alicerçada na valorização do sentimento, que encontrou eco na Religião da Humanidade, formulada em 1845. Os escritos do autor serão mencionados ao longo da exposição do seu pensamento.
Em 8 pontos poderíamos sintetizar as linhas mestras do pensamento e da influência filosófica de Augusto Comte:
1 – Pregação da regeneração social a partir da reestruturação do saber e da mente humana; esta idéia foi sistematizada entre 1819 e 1845. Comte concretizou esta primeira parte do seu pensamento nas seguintes obras: Separação geral entre as opiniões e os desejos (1819), Sumária apreciação do conjunto do passado moderno (1820), Plano dos trabalhos científicos necessários para reorganizar a sociedade (1822), Considerações filosóficas sobre as ciências e os cientistas (1825), Considerações sobre o poder espiritual (1826), Exame do tratado de Broussais sobre a irritação e a loucura (1828), Curso de Filosofia Positiva (6 volumes, 1830-1842), Tratado elementar de Geometria analítica (1843) e o Discurso sobre o espírito positivo (1844). A Humanidade, segundo Comte, passou por três estados, ao tentar conceber a realidade do mundo e da vida. Esses três estados, ou atitudes espirituais, foram o teológico (em que dominam as forças sobrenaturais e que se exprime nos mitos), o metafísico (caracterizado pela crítica vazia e pela desordem espiritual, fruto do liberalismo) e o positivo (que supera as explicações insuficientes do mundo, mediante a substituição das hipóteses religiosas ou metafísicas pelas leis científicas).
2 - Regeneração social a partir de uma ação teórica e educadora dos savants positifs, que se sobrepõe à organização prática da sociedade pelos industriais e que enseja uma classificação das ciências.  A incumbência teórica cabe, portanto, aos sábios (denominados por Comte, como fizera seu mestre, de savants positifs), enquanto os trabalhos práticos são de responsabilidade dos industriais. Essa divisão de funções alicerçava-se, segundo o pensador, no atento estudo da marcha da civilização e mostra que a anarquia mental precedeu e produziu a temporal.
No seu ensaio intitulado: Plano dos trabalhos científicos necessários para reorganizar a sociedade, o filósofo frisava: “Há absoluta necessidade de separar os trabalhos teóricos da reorganização social, adequada à nossa época, dos trabalhos práticos; isto é, faz-se mister conceber e executar os que se referem ao espírito da nova ordem social, ao sistema de idéias gerais que lhe deve corresponder, isoladamente dos que têm por objetivo o sistema de relações sociais e o modo administrativo que das mesmas deve resultar”.
A fim de deitar os alicerces para a reorganização mental, base da mudança social, o nosso pensador passou a elaborar uma rigorosa classificação das ciências alicerçada na observação dos fenômenos, mas com a preocupação de encontrar, como suporte deles, uma rede de leis imutáveis, sendo que cada ramo do conhecimento organizaria uma série determinada de fenômenos, o que facilitaria a previsão de eventos. As ciências classificam-se de acordo com a maior ou menor simplicidade de seus correspondentes objetos. Segundo a complexidade crescente, a classificação, por Comte proposta, era a seguinte: matemáticas, astronomia, física, química, biologia e sociologia. A totalização do saber somente se consegue na sociologia. Ela constitui, frisa o filósofo, “um sistema verdadeiramente indivisível, onde toda decomposição é radicalmente artificial, tudo se relacionando com a Humanidade, única concepção completamente universal”. Comte distingue entre estática e dinâmica social: a primeira estuda as condições constantes da sociedade e a segunda as leis do seu progressivo desenvolvimento. A idéia básica da estática é a ordem e a da dinâmica o progresso.
3 - Dimensão messiânica da regeneração social. É palpável, na obra de Comte, o caráter salvífico dos trabalhos teóricos que devem ser empreendidos pelos savants positifs, com vistas a regenerar a sociedade em crise, mudando a mentalidade das pessoas. Só um espírito superior ou homem de gênio (como se considerava a si próprio Augusto Comte) e os sábios ou cientistas positivos (seus colaboradores) conheciam o caminho para salvar a sociedade da crise em que afundava.
A sua missão obedecia a um destino inexorável, que era identificado com a marcha natural da civilização humana, de que eles eram conscientes, chefiados, evidentemente, pelo homem de gênio. A respeito, frisava o filósofo: “Todos os homens que exerceram uma ação real e durável sobre a espécie humana, quer no temporal, quer no espiritual, foram guiados e sustentados por esta verdade fundamental, que o instinto ordinário do gênio lhes faz entrever, embora não estivesse, ainda, estabelecida por uma demonstração metódica”.
4 - Ignorância, por Comte, da história da filosofia ocidental. Na sua posição de líder dos sábios que deveriam educar a sociedade no método positivo, o nosso pensador considerava que a única luz que o deveria guiar seria a sua própria intuição, bem como o estudo do processo evolutivo da espécie humana. Para nada serviria o aprendizado da filosofia tradicional que, simplesmente, era considerada, grosso modo, como pertencente à confusa metafísica liberal, a ser superada no terceiro estado da Humanidade, o científico.
 No prefácio pessoal ao Curso de Filosofia Positiva frisava Comte o seguinte, destacando a sua ignorância em relação aos clássicos da filosofia moderna: “Jamais li, em língua alguma, nem Vico, nem Kant, nem Herder, nem Hegel, etc.; somente conheço suas diversas obras através de algumas relações indiretas e de certos resumos demasiado insuficientes. Quaisquer que possam ser os inconvenientes dessa negligência voluntária, estou convencido de que muito contribuiu para a pureza e a harmonia de minha filosofia social”.
Essa autossuficiência em matéria de pensamento, bem como o dogmatismo que o acompanha, foram as razões que levaram Sílvio Romero a afirmar, no seu ensaio intitulado O Positivismo em suas idéias capitais:[14] “O Positivismo é uma coisa perigosa e deve ser combatido com seriedade”.
5 - Concepção determinística do homem, num contexto dogmático. Em Comte, como em Saint-Simon, o plano salvífico da sociedade deveria se desenvolver no seio de uma visão determinística do homem, segundo a qual a ação humana não valeria senão na medida em que se exercesse “no sentido da força da civilização”, “quando se propõe a operar mudanças impostas por essa força. A ação é nula, ou pelo menos efêmera, em qualquer outra hipótese”.[15] Ora, em que consistiria essa “força da civilização” e o seu sentido de desenvolvimento? A resposta é, no mínimo, nebulosa, porquanto somente espíritos geniais, como Comte, teriam acesso a ela. Em termos científicos, de avaliação da “credibilidade” da hipótese levantada, torna-se impossível auferir a validade da mesma, em virtude do fato de que somente espíritos privilegiados teriam acesso a essa secreta realidade. Tratar-se-ia, portanto, de um conhecimento hierático, para iniciados.
A questão da liberdade, quando considerada em si mesma, sem referência ao contexto da marcha da civilização, é um problema metafísico. Só tem sentido falar da ação do homem quando ela está inserida no seio do processo supraindividual. Em termos comteanos, será mais livre aquele que se entregar mais conscientemente ao processo impessoal da evolução da realidade. Inspira-se Comte, aqui, no modelo rousseauniano, que apregoava a entrega total do indivíduo em mãos da vaporosa “vontade geral”, que o obrigava a se despir dos seus interesses materiais e o libertaria. Mas, cabe perguntar, de novo: onde se encontra esse processo (“contexto da marcha da civilização”, “vontade geral”), como fazer para o indivíduo mergulhar nele? A resposta estaria, unicamente, num lugar: no pensamento do filósofo de Montpellier e dos seus discípulos. Trata-se, portanto, de uma questão dogmática, que se situa nas vizinhanças da religião revelada.
6 - Complementação do determinismo comteano na Religião da Humanidade, proposta pelo pensador a partir de 1845. Em duas obras Comte partiu para esta última fase do seu pensamento filosófico: Sistema de política positiva (1851-1854) e Catecismo Positivista (1852). Considerava o filósofo que a ação regeneradora dos savants positifs e dos industriais somente tocava a razão dos indivíduos, deixando intocado o terreno dos sentimentos, onde, ainda, se alojaria o egoísmo. A fim de superar este entrave, que dificultava a plena eclosão da Civilização, seria necessário plantar, nos indivíduos, sentimentos de filantropia e de generosidade, que abrissem o caminho para a prática de virtudes altruístas, que conduzissem a Sociedade à sua plena manifestação racional. Para isso, o pensador sistematizou a sua Religião da Humanidade, motivado, na sua existência pessoal, pela paixão platônica que desenvolveu por Clotilde de Vaux (1815-1846), uma bela viúva de quem se aproximou, após ter sido abandonado pela sua esposa.
John Stuart Mill (1806-1873), na sua obra: Comte e o positivismo,[16] explicitou claramente a finalidade que o filósofo perseguia com a sua Religião da Humanidade: garantir a unidade e a sistematização da vida humana. Idêntico propósito, aliás, tinha animado a Saint-Simon, ao formular o seu Novo Cristianismo. Sabe-se que foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) quem deu vida a essa proposta, com a sua Religião Civil. O homem livre realiza-se, no sentir destes autores, mediante a negação da individualidade (e da liberdade nesse plano), na entrega incondicionada destes ao destino geral da Humanidade previsto pelos chefes da “religião civil” (rousseauniana, saint-simoniana ou comteana). É evidente a concepção totalitária de homem que emerge dessa visão de mundo.
Referindo-se à Religião da Humanidade, escreve Stuart Mill: “Comte é um homem intoxicado de moral. Para ele, qualquer questão se converte num assunto de moralidade e não é permitida nenhuma motivação, a não ser as da moralidade. A explicação disto achamo-la numa original peculiaridade mental, muito comum entre os pensadores franceses, mas na qual Comte tem-se distinguido sobre todos eles. Não poderia ter-se omitido na questão da chamada unidade. Por causa da Unidade, a religião resultou desejável aos seus olhos. Não no simples sentido de Unanimidade, mas num sentido mais amplo. Uma religião tem de ser alguma coisa mediante a qual se sistematize a vida humana”.
7 - Cooptação, pela Igreja Positivista, dos menosprezados (mulheres e proletários), como auxiliares diretos do Poder Espiritual. Compreendida a Religião da Humanidade no sentido totalitário que acaba de ser exposto, Comte partiu para organizar a Igreja Positivista, à semelhança da estrutura presente na Igreja Católica, com Papa, Sacerdotes, Sacramentos, Santos, Culto e Excomunhões. A bizarra organização (que somente encontrou repercussão no Brasil, na Igreja Positivista, chefiada por Miguel Lemos e Teixeira Mendes) cooptou as mulheres e os proletários, abandonados, segundo Comte, pela Sociedade Ocidental, a fim de que, com a sua ajuda, o clero positivista conseguisse converter os indivíduos, do egoísmo para o altruísmo, a fim de que todos se entregassem, sem limites, à identificação coletiva com a ação redentora da Igreja Positivista. Somente, assim, seria possível a plena felicidade humana, numa espécie de paraíso terrestre, em que o objeto de culto não seria um Deus longínquo, mas a Humanidade Regenerada, simbolizada na maternal figura de Clotilde de Vaux, elevada aos altares da nova religião como símbolo do novo homem liberto, totalmente, do egoísmo. O filósofo tinha-se apaixonado por ela, depois de ter sido abandonado pela sua esposa Caroline Massin (1802-1877).
As políticas de “incorporação do proletariado à sociedade”, presentes na Constituição castilhista de 1891, bem como na legislação trabalhista getuliana, de 1943, encontram, na Religião Positivista, o seu ponto de inspiração.
8 - Significativa influência do Positivismo na América Latina. Embora a filosofia de Comte tivesse encontrado seguidores ilustrados (críticos do dogmatismo comteano) na Inglaterra com John Stuart Mill (1806-1873) e Herbert Spencer (1820-1903), e na França com Emile Littré (1801-1881), a parte religiosa do positivismo teve pouca ressonância, sendo Pierre Laffitte (1823-1903) o discípulo mais renomado no seio da cultura francesa. A influência do fundador do Positivismo foi mais marcante, no entanto, na América Latina.
No Brasil, houve quatro grandes manifestações do comtismo: em primeiro lugar, a corrente do Positivismo Ilustrado, com Luiz Pereira Barreto (1840-1923), Pedro Lessa (1859-1921), Ivan Lins Monteiro de Barros (1904-1975), etc. Em segundo lugar, a vertente do Positivismo Militar, cujos mais importantes expoentes foram Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891) e o Marechal Cândido Rondon (1865-1958). Em terceiro lugar, deve ser mencionada a corrente do Positivismo Religioso, que desaguou na Igreja Positivista Brasileira, organizada por Miguel Lemos (1854-1917) e Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927). Em quarto lugar, consolidou-se a vertente do Positivismo Político, que floresceu no Rio Grande do Sul, ao ensejo da ditadura republicana de Júlio de Castilhos (1860-1903) e Borges de Medeiros (1863-1961), modelo autocrático que foi levado ao plano nacional por Getúlio Vargas (1883-1954), em 1930.
No Chile, o Positivismo teve duas manifestações diferentes: a da Igreja Positivista, organizada pelos irmãos Lagarrigue: Jorge (1854-1894), Juan Enrique (1852-1927) e Luis (1864-1949) e a vertente do Positivismo Ilustrado, cujos expoentes foram Valentín Letelier (1852-1919) e José Victorino Lastarria (1816-1888). Na Argentina, o Positivismo ganhou, apenas, a dimensão Ilustrada com José Ramos Mejía (1849-1914), Agustín Alvarez (1857-1914), José Ingenieros (1877-1925) e Carlos Octavio Bunge (1875-1918).
Na Colômbia, desenvolveu-se a vertente Ilustrada com Salvador Camacho Roldán (1827-1900), bem como a Política com Rafael Núñez (1825-1894). Por último, no México encontramos a variante Ilustrada, com Gabino Barreda (1818-1881) e José Yves Limantour (1854-1935), bem como a corrente Política, cujo grande representante foi o general Porfirio Díaz (1830-1915), que estabeleceu o modelo da “ditadura científica”.
IV - O Cientificismo de Marx e a formulação do Materialismo Histórico. Karl Marx nasceu em Treves, capital da província alemã do Reno, em 1818 e faleceu em Londres, em 1883. Na cidade natal, o nosso autor teve oportunidade de sentir duas influências contrárias: o liberalismo revolucionário, herdeiro do jacobinismo francês e, de outro lado, a reação conservadora capitaneada pela Prússia, defensora do Antigo Regime. O pai de Karl, Hirschel Marx (1777-1838) era advogado, tendo abandonado o judaísmo em 1824, batizando-se na Igreja Luterana com o nome de Heinrich. Os estudiosos consideram que nessa conversão mediaram motivos de índole econômica, pois na Renânia, onde residia a família Marx, os cargos públicos estavam vedados aos judeus. A mãe do nosso autor, Enriqueta Pressburg (1787-1863), era descendente de rabinos.
Completados os estudos secundários em Treves, Marx ingressou na Universidade de Bonn, a fim de estudar Direito. Em 1836, o jovem estudante transferiu-se para a Universidade Friedrich Wilhelm, de Berlim, para continuar os estudos de Direito. O seu foco de interesse, no entanto, era o estudo da História e da Filosofia, tendo abandonado o curso inicial. Em Berlim, o nosso autor recebeu a influência do pensamento de Hegel. O estudante dedicado que era Marx, logo se filiou à denominada corrente da Esquerda Hegeliana capitaneada por Ludwig Feuerbach (1804-1872), que repudiava a exaltação que Hegel (1770-1831) tinha feito do Estado Prussiano.
Em Berlim, Marx ingressou no Doktor Club, que era liderado por Bruno Bauer (1809-1882). Em 1841, obteve o título de doutor em Filosofia com a tese intitulada: Diferenças da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro. Não tendo conseguido empreender a carreira acadêmica em decorrência das suas idéias radicais, tornou-se, em 1842, redator do jornal Gazeta Renana, editado em Colônia, onde conheceu aquele que seria o seu mais fiel amigo, o jovem Friedrich Engels (1820-1895), filho de um industrial de Barmen (Alemanha). Em 1843, tendo sido fechada a Gazeta Renana pelo governo prussiano, Marx partiu para Paris, onde assumiu a direção da revista Anais Franco-Alemães, tendo-se casado, pouco antes, com a bela Jenny von Westphalen (1814-1881), filha do barão prussiano Ludwig von Westphalen (1770-1842), professor universitário em Berlim.
Na capital francesa, ciceroneado pelo poeta romântico Heinrich Heine (1797-1856), o nosso autor participou de vários círculos de estudos e sociedades secretas, dentre os quais cabe mencionar a Igreja Saint-simoniana. Teve oportunidade, outrossim, de ler os escritos de François Guizot (1787-1874), o poderoso primeiro-ministro de Luis Felipe I (1773-1850). Ainda em Paris, em 1843, Marx escreveu a Crítica da filosofia do direito de Hegel e A questão judaica. No ano seguinte, teve contato com a Liga dos Justos (que mais tarde seria conhecida como Liga dos Comunistas) e escreveu os Manuscritos econômico-filosóficos, bem como o famoso artigo acerca de uma greve ocorrida na Silésia, que lhe causaria a expulsão da França, em 1845, a pedido do governo prussiano.
Tendo-se mudado para Bruxelas, Marx escreveu, ainda em 1845, as Teses sobre Feuerbach e, junto com Engels, A sagrada família. Em 1846, em parceria com Engels, escreveu A Ideologia Alemã, que só seria publicada anos mais tarde. Ajudado pelo amigo, organizou, na capital belga, o Comitê de Correspondência da Liga dos Justos que, como já foi frisado, passou a ser chamada de Liga dos Comunistas. Em 1847 viajou para Londres, onde publicou a Miséria da Filosofia. De volta para a Bélgica, terminou expulso pelo governo desse país em 1848 e, junto com Engels, mudou-se para Colônia, onde fundou a Nova Gazeta Renana. Nesse ano foi publicado, em Londres, o Manifesto comunista, de autoria de Marx e Engels.
Expulso de Colônia, em 1849, Marx enfrentou sérias dificuldades financeiras, das quais saiu graças à ajuda do pensador e líder socialista alemão Ferdinand de Lasalle (1825-1864), que depois seria atacado pelo próprio Marx. Nesse ano, o nosso autor escreveu Trabalho assalariado e capital. Em Londres, Marx dedicou-se aos estudos econômicos na biblioteca do Museu Britânico. Para subsistir, trabalhou como redator no New York Daily Tribune. Em 1852, publicou O 18 brumário de Luís Bonaparte, dedicado à análise dos eventos ocorridos ao ensejo do golpe de estado perpetrado por Charles-Louis Napoleão (1808-1873), sobrinho do falecido imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821). Charles-Louis se coroou, depois, como Imperador dos Franceses, com o nome de Napoleão III.
Dedicado integralmente ao estudo na capital inglesa, em que pese inúmeros e sérios distúrbios de saúde, Marx publicou, em 1857, a obra intitulada: Esboço de uma crítica da economia política. Em 1859 apareceu, em Berlim, a obra intitulada: Para uma crítica da economia política, ao ensejo da qual o nosso autor frisou com ironia: “Com certeza é a primeira vez que alguém escreve sobre o dinheiro com tanta falta dele”. Em 1864, Marx propôs a criação da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), denominada, popularmente, de Primeira Internacional. Em 1865, publicou Salário, preço e lucro, além de uma biografia de Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), com quem manteve séria polêmica, em decorrência do fato de discordar do modelo de socialismo democrático proposto por Proudhon. Em 1867 apareceu publicado, em Hamburgo, o primeiro volume de O Capital.
Em 1869, o nosso autor deu continuidade à escrita do segundo volume desta obra, que tinha interrompido devido ao seu precário estado de saúde, agravado pela crise financeira familiar. Ao ensejo da revolta conhecida como Comuna de Paris publicou, em 1871, A guerra civil na França. Em 1873, o nosso autor encaminhou o seu primeiro volume de O Capital a duas personalidades da intelectualidade britânica: Charles Darwin (1809-1882) e Herbert Spencer (1820-1903). Em que pese o fato de o médico ter-lhe proibido qualquer tipo de esforço, em decorrência do agravamento da saúde, o nosso autor continuou trabalhando incessantemente na redação de O Capital, e fez inúmeras leituras acerca de temas diferentes como Matemática, Geologia, Física e a situação social e política da Rússia. Em 1875, Marx publicou Crítica do programa de Gotha. Sob os cuidados de Engels foram publicadas, postumamente, as edições do segundo volume (1885) e do terceiro volume (1894) de O Capital.
As idéias filosóficas de Marx podem ser sintetizadas nos seguintes pontos:
·                  Adoção da perspectiva transcendental.- Marx, no seio da perspectiva crítica ou transcendental, sistematizada por Immanuel Kant (1724-1804), desmistifica o conhecimento humano, que nas metafísicas dogmáticas tinha ficado reduzido a uma cópia passiva da realidade exterior. Quando o nosso autor afirmava que “até agora os filósofos estiveram preocupados em contemplar o mundo, nós vamos transformá-lo”, justamente propunha um novo tipo de conhecimento em que a verdade fosse efeito da ação humana, não a pura contemplação de um arquétipo pré-existente fora da razão.
·                  Formulação do 11º mandamento: “Não explorarás o trabalho alheio”. Marx reagiu contra um princípio de ação estranho ao homem (moralidade pautada pela religião ou pelas leis da circulação de mercadorias), e colocou como critério de ação o homem mesmo, na sua dinâmica histórica, no seio da consciência de classe. Não há dúvida quanto à inspiração kantiana do imperativo formulado por Marx. Como frisa Antônio Paim: “segundo Kant, os princípios morais só o são se não se subordinam a qualquer classe de coação externa e se correspondem a uma exigência profunda da racionalidade, aparecendo ao homem como autêntico imperativo. Essa afirmativa não envolve, por certo, a solução do grave problema da coerência do homem com semelhantes princípios, mas explica satisfatoriamente a vitalidade da ética cristã. A força do marxismo reside no mesmo princípio. O mandamento segundo o qual ‘Não explorarás o trabalho alheio´, parece consistir no ápice de toda uma ética humanista”.[17]
·                  Formulação do materialismo histórico. Competiria a Marx corrigir o rumo da reflexão feuerbachiana operando o trânsito entre o naturalismo de Feuerbach e o historicismo. A consciência da necessidade nasce não apenas da exterioridade da natureza, mas, também, da própria história humana. O estímulo para o movimento e a transformação é interior à própria realidade humana. A necessidade é, portanto, não apenas exigência natural, mas, também, força geradora e motora da história. Em lugar do homem abstrato da natureza, temos o homem concreto e vivo da história, através da classe social. O homem que adquiriu consciência de classe entra na luta de classes, na qual consiste a essência da política (idéias que Marx tirou dos doutrinários franceses, Benjamin Constant e François Guizot). A massa humana, que tinha sido idealizada por Feuerbach, encontra, em Marx, uma formulação concreta e atuante.[18] Marx sintetizou esta dimensão na sua frase, presente na obra A ideologia alemã: “A existência humana determina a consciência”. A propósito deste ponto, frisa Antônio Paim:[19] “Resumindo, temos que o momento Kant-Hegel chega a uma fase de plena configuração com a esquerda hegeliana, em particular com Feuerbach-Marx. Ao invés da perspectiva platônica (o outro lado das coisas, a permanência, a substância), a perspectiva kantiana (meditação limitada à dimensão humana) desenvolvida no sentido de apreender o homem através de tudo quanto criou, não um homem dado e acabado ex nihilo mas envolvido no próprio processo de sua criação”.
·                  Inspiração de Marx em Claude-Henri de Saint-Simon (1760-1825). Segundo Gurvitch, as teses filosófico-sociológicas em que Marx se inspirou no pensamento saint-simoniano foram as seguintes: A – A afirmação de que “a vida social é essencialmente prática”, bem como a idéia de que “a produção faz o homem” e de que homens e sociedade se produzem a si mesmos pelo seu esforço. B – A idéia de que certas estruturas sociais e determinados modos de produção “impedem a sociedade de entrar em plena posse de seu impulso criador”, sendo que Marx amplia essa idéia na sua teoria das alienações e das ideologias. C – A afirmação de que “as obras da consciência real”, ou obras da civilização, e até as ideologias se integram, de alguma maneira, nas forças produtivas. D – A inclinação de Marx em favor de uma visão dicotômica das relações entre as classes, que o leva a considerar o Estado como seu órgão de domínio de classe. E - A crença de Marx na desaparição do Estado e a adoção, por ele, de slogans saint-simonianos, tais como: “o governo das pessoas será substituído pela administração das coisas”, ou “a cada um de acordo com as suas capacidades, a cada um segundo as suas obras”. F – A concepção escatológica da história. A respeito, escreve Gurvitch: “Marx não evita a tentação de uma filosofia da história que submete a sociologia e que profetiza o fim da história. É neste aspecto que Marx, apesar dos seus esforços, permanece, mais do que Proudhon, fiel a Saint-Simon e à sua escola”.[20]
·                  Inspiração de Marx em Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865).  Segundo Gurvitch, Marx inspirou-se nos seguintes pontos do pensamento proudhoniano: A – A crítica às “classes altas”, burgueses e patrões, pela sua ociosidade. B – O conceito de “força coletiva”, que inspira o conceito marxista de “forças produtivas”. C – A predição acerca da desaparição do Estado.
·                  Comunismo implantado por métodos violentos: a destruição do Estado burguês. Este elemento permanece claro na obra de Marx e se contrapõe aos esforços dos socialistas franceses, ingleses e alemães, em prol da construção de uma nova sociedade mediante reformas, com a chegada do proletariado ao poder, através de eleições (como terminou, de fato, acontecendo, ao longo dos séculos XIX e XX). Marx considerava ser ele o líder da revolução violenta apregoada. A verdade claudicou diante da militância política. Marx foi desmoralizando, um a um, todos os pensadores e líderes socialistas que tinham aderido a um socialismo democrático, diferente do modelo totalitário por ele apregoado. Fez isso, por exemplo, na Alemanha, com Ferdinand Lasalle (1825-1864) e, na França, com Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Antônio Paim deixa claro que houve uma influência muito grande do regime apregoado por Marx sobre o adotado, na Rússia, após a Revolução de 1917, por Lenine (1870-1924). Para ambos, somente valia um tipo de comunismo: o imposto pelo líder, com absoluto banimento da dissidência e com a implantação de um regime de poder total. Na Rússia, o regime bolchevique foi o novo capítulo do “despotismo oriental” czarista.[21]
·                  Inspiração em Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Marx recebeu esta influência, ao longo de sua permanência em Paris. Para o filósofo genebrino, a soberania do povo repousa na “vontade geral”. Esta é apropriada pela “vanguarda do povo”, constituída pelos “puros”, aqueles que se despiram dos seus interesses individuais para defender o interesse público. Ora, essa vanguarda é chefiada, no caso da revolução comunista, pelo próprio Marx, que se converte numa espécie de salvador das massas proletárias.
·                  Inspiração no pensamento dos liberais franceses Benjamin Constant de Rebecque (1767-1830) e François Guizot (1787-1874). Como destacou Georgi Valentinovich Plekhanov (1857-1918), um dos mais importantes estudiosos russos da obra de Marx, idéias básicas da sociologia do pensador alemão como interesses individuais, interesses de classe, consciência de classe, luta de classes, encontram a sua origem nesses pensadores liberais, cujas obras Marx leu durante a sua permanência em Paris.[22] Até a expressão, presente no Manifesto Comunista: “proletários do mundo, uni-vos” inspira-se na frase conhecida de Guizot: “burgueses da França, uni-vos” e “enriquecei-vos”.
BIBLIOGRAFIA
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[1] WEBER, Max. Economia y Sociedad, tradução espanhola de J. Medina Echavarría et alii, México: Fondo de Cultura Econômica, 1977, vol. I, p. 178.
[3] LAPLACE, Pierre Simon, marquês de. Théorie Analytique des Probabilités. Paris: Courcier, 1812.  - Cit. por ROSANVALLON, Pierre. In: Le moment Guizot, Paris: Gallimard, 1985, p. 18-25.
[4] Cf. PAIM, Antônio, (organizador). Pombal na cultura brasileira, Rio de Janeiro: Associação Cultural Brasil-Portugal / Tempo Brasileiro, 1982; VÉLEZ Rodríguez, Ricardo. “O fenômeno do cientificismo na cultura brasileira”, Revista Brasileira de Filosofia, São Paulo, 39, nº 161, p. 17-31.
[5] Cit. por ROSANVALLON, Pierre. Le moment Guizot, p. 22-23.
[6] SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política, São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 45.
[7] Cf. MULGAN, Tim. Utilitarismo (Tradução de Fábio Creder), Petrópolis; Vozes, 2012.
[8] Cit. por HYPPOLITE, Jean, Gênese e estrutura da Fenomenologia do Espírito de Hegel. Paris: Aubier, 1946.
[9] Cf. MARX – ENGELS – Moses HESS, A ideologia alemã, São Paulo: Hucitec, 1987.
[10] TALMON, J. L. Mesianismo político, la etapa romántica, México: Aguilar, 1960, p. 30.
[11] BRÉHIER, Émile. Historia de la filosofia, Buenos Aires: Editorial Suramericana, 1948, v. II, p. 712.
[12] SAINT-SIMON, Henri Claude. La Physiologie Sociale, Paris: PUF, 1965, p. 57.
[13] COMTE, Augusto. Opúsculos de filosofia social, (tradução de Ivan Lins e João Francisco de Souza), Porto Alegre: Globo; São Paulo: Edusp, 1972, p. 56.
[14] ROMERO, Sílvio. in: Obra Filosófica, Rio de Janeiro: José Olympio / São Paulo: Edusp, 1969, p. 314.
[15] COMTE, Auguste. “Plano dos trabalhos científicos para reorganizar a sociedade”. In: COMTE, Auguste. Opúsculos de filosofia social, (tradução de Ivan Lins e João Francisco de Souza), Porto Alegre: Globo; São Paulo: Edusp, 1972.

[16] MILL, JOHN Stuart. Comte e o Positivismo. Buenos Aires: Aguilar, 1972, p. 158.
[17] PAIM, Antônio. História das idéias filosóficas no Brasil, 3ª edição, São Paulo: Convívio, 1984, p. 502.
[18] Cf. MONDOLFO, Rodolfo. Marx y marxismo, México: Fondo de Cultura, 1960.
[19] PAIM, Antônio. História das idéias filosóficas no Brasil, ob. cit., p. 496.
[20] GURVITCH, Georges. Introdução à obra de Saint-Simon, La Physiologie sociale - Oeuvres choisies. Paris: PUF, 1965, p. 40.
[21] Cf. PAIM, Antônio. Marxismo e descendência, Campinas: Vide Editorial, 2009; WITTFOGEL, Karl Auguste, Le despotisme oriental, (tradução francesa de Micheline Pouteau). Paris: Minuit, 1977.
[22] Cf. ROSANVALLON, Pierre. Le moment Guizot, Paris: Gallimard, 1985. Cf. G. PLEKHANOV. "Les premières phases d'une théorie: la lutte des classes". In: Oeuvres philosophiques. V. II, Moscou, s. d. (Prefácio à segunda edição russa do Manifesto Comunista). Cit. por ROSANVALLON, Le moment Guizot, ob. cit., pg. 394. Acerca da influência de Guizot em Marx, escreve Rosanvallon: "Poderá ser observada a atração exercida por Guizot sobre certos teóricos de inspiração marxista, na medida em que ele tinha sido considerado por Marx e Engels como um dos historiadores burgueses que tinham inventado a noção de luta de classes". A respeito, Rosanvallon menciona, além de PLEKHANOV: Robert FOSSAERT, "La théorie des classes chez Guizot et Thierry", in: La Pensée, jan.-fev. 1955 e B. REIZOU, L'historiographie romantique française, 1815-1830. Moscou, s. d.



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