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sábado, 21 de setembro de 2019

INCÊNDIOS, MESSIANISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO


O governo Bolsonaro tem compromisso com a preservação da Amazônia. Participei das reuniões de Gabinete durante três meses e posso testemunhar isso. O problema que o governo enfrentou, na área ambiental, relacionava-se à atividade de inúmeras ONGs que recebiam dinheiro público, sem transparência na prestação de contas. Era evidente o enorme aparelhamento de que foi objeto o IBAMA por parte de militantes ao longo do ciclo lulopetista. O trabalho de saneamento do Ministério do Meio Ambiente foi enxergado erroneamente, pelos ativistas, como negação da política ambiental.

Achei gratuita e grosseira a crítica do presidente Macron, da França, ao governo brasileiro, como se inexistisse qualquer preocupação com a preservação da Amazônia e como se o atual governo incentivasse a destruição da floresta, estimulando os incêndios.

Afirmar que os países desenvolvidos têm o dever de tomar decisões para preservar a Amazônia é uma dessas frases, de tipo genérico, que podem ser capitalizadas políticamente a favor de algum governo, mas que também podem causar sérios problemas de interpretação, no que tange à legislação vigente e à ordem jurídica internacional. Um chamamento para que os governos se sensibilizem com a questão ambiental na Amazônia será sempre bem visto. As preocupações para com a preservação do meio ambiente são legítimas e se estendem pelo Planeta, como ficou evidente nas manifestações ocorridas em muitos países, com motivo do dia mundial de protesto contra a degradação ambiental.

A importância desta variável na discussão das questões humanas é essencial, e o Brasil, pela boca do maior pensador brasileiro do século XX, Miguel Reale (1910-2006), já deu prova da valorização que deve ser conferida a essa reflexão em obras como: Experiência e Cultura (1977), Paradigmas da Cultura Contemporânea (1996) e De olhos no Brasil e no Mundo (1997). Para Reale, não pode haver, hoje, projeto humano que deixe de levar em consideração o meio ambiente, como não podemos prescindir da reflexão sobre a natureza se quisermos ser responsáveis pela nossa presença no Planeta Terra. Afinal de contas, todos estamos sentindo as mudanças climáticas.

Mas não poderá ser aceita uma acusação genérica de que o Brasil não preserva a Amazônia e de que o atual governo apoia a destruição da floresta. Isso simplesmente não é verdade. Como não é verdade, também, a afirmação de que as queimadas na Amazônia brasileira são as maiores em áreas florestais pelo mundo afora, quando todos sabemos, graças aos informes da NASA, que queimadas mais generalizadas ocorrem em outros países e continentes, como na África, por exemplo.

Na tradição ocidental, tornou-se corriqueiro, a partir do século XIX, observar as questões sociais como variáveis a serem equacionadas sob a liderança de uma elite esclarecida, alicerçada na ciência. Embora os princípios científicos sejam auxiliares importantes no equacionamento das questões ambientais, não podemos cair na solução simplista do cientificismo, com lideranças que se tornam dogmáticas e com elites de sábios, ou governos, que pretendem praticar uma espécie de “ditadura científica”. Esse modelo já passou. O século XIX foi rico nesse tipo de solução simplória.

Valha a crítica que o pensador italiano, Giovanni Papini (1881-1956), fazia contra o simplismo positivista de Augusto Comte (1798-1857): Viver para outro! O indivíduo não é quase nada, a sociedade é quase tudo. A vida social reduz-se a uma cooperação; o único fim do poder central é comandar e ajudar todos os homens a pensar em todos os homens, mesmo apesar deles. O homem não é homem senão na medida em que participa da comunidade. Mas esse panteísmo social não implica somente premissas indemonstradas e indemonstráveis; termina por se opor à sua finalidade suprema, por se opor ao bem dos homens”. (Giovanni Papini. O crepúsculo dos filósofos, 1922).

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