Páginas

terça-feira, 5 de abril de 2016

LEONARDO PROTA (1930-2016) - Por JORGE JAIME


Faleceu recentemente em Londrina o Professor Leonardo Prota. Reproduzo, a seguir, em homenagem ao grande Amigo, texto de autoria do saudoso Jorge Jaime, Fundador e Presidente Emérito da Academia Brasileira de Filosofia, acerca do Leonardo, destacando os aspectos fundamentais da sua fecunda existência. 

Se há um termo para resumir a vida do Prota é o de Educador. O testemunho de Jorge Jaime deixa isso bem claro. Um educador que alicerçou a sua vocação na mais larga missão de evangelizador, tendo como fulcro a ideia da dignidade de todos os seres humanos. O texto de Jorge Jaime forma parte do Projeto Ensaio Hispânico, desenvolvido, na Universidade de Georgia, nos Estados Unidos, pelo Professor Dr. José Luis Gómez Martínez. 

O texto de Jorge Jaime encontra-se no seguinte endereço:


http://www.ensayistas.org/filosofos/brasil/prota/prota1.htm

LEONARDO PROTA - O HOMEM E A SUA OBRA

Jorge Jaime

Fundador e Presidente Emérito da
Academia Brasileira de Filosofia, Rio de Janeiro

 Breve Síntese Biobibliográfica


O ocupante da cadeira no. 26 da Academia Brasileira de Filosofia, cujo patrono é Manuel Amoroso Costa, profundo pensador nacional das ciências matemáticas, é o incansável Leonardo Protamembro-fundador do nosso sodalício que, agora, posso lhes informar, já possui a sua sede definitiva à Rua Riachuelo, no. 303, no centro da cidade do Rio de Janeiro...

Nasceu este tão ilustre confrade na cidade italiana de Monte Sant’Angelo aos 18 de julho de 1930, filho de Antonio Prota e de Maria Francesca Salatino. Iniciou os seus estudos de primeiro grau em Bari, na Itália e, contando somente onze anos de idade, entrou para o Seminário dos Oblatos de São José, congregação fundada por Dom José Morello, beatificado pelo Papa João Paulo II e por ele canonizado no mês de novembro de 2001. Freqüentou diversos colégios desses religiosos, localizados na Região de Piemonte. Em Roma, no Studentato Internazionale dos Oblatos de São José, além de concluir o Liceu Clássico, completou seus estudos de licenciatura filosófica, seguidos por conhecimentos teológicos.

Por iniciativa dos Superiores da Província dos Oblatos no Brasil, veio o nosso filósofo trabalhar em terras brasileiras, passando a pertencer à Arquidiocese de São Paulo, à época do Cardeal Arns. Hoje, canonicamente, é considerado como clericus vagus, definindo-se como sacerdote eclesial e não um clerical. O que, realmente, Leonardo Prota sempre foi é uma energia extraordinária para a ação, entregando-se inteiramente, muitas vezes além das suas limitadas forças, em prol do desenvolvimento da intelectualidade brasileira. Essa atividade aqui começou em 1964, durante um período politicamente conturbado, que muito marcou a sua trajetória de educador nas terras brasileiras. A primeira fase de sua estada no Brasil terminou em 1971, período onde a sua atividade chegou ao exagero ministrando aulas de diversas matérias, muitas vezes por mais de doze horas por dia, nunca abrangendo menos de sessenta horas semanais, concomitantemente com o exercício de diversas funções administrativas em pequenos municípios carentes do essencial à cultura e à educação. Prota não se restringiu à contemplação das deficiências encontradas: procurou saná-las, organizando forças para o combate em prol da educação, da assistência social, enfim, em Jandaia do Sul, em Apucarana, cidade vizinha a esta (no Estado do Paraná), ao mesmo tempo em que lecionava Inglês, Matemática, Francês, Estudos Sociais, Sociologia, Filosofia, atuava igualmente como Diretor do colégio estadual, Diretor Administrativo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, professor de Sociologia na Faculdade Estadual de Ciências Econômicas. Foi Diretor de Ensino do Departamento de Educação e Assistência Social do Município de Apucarana, Diretor Pedagógico do Colégio 7 de Setembro, Diretor do Colégio São José, Presidente da Associação dos Professores de Apucarana, para não citar outras das inúmeras atividades que exerceu nos seus primeiros anos, descobrindo o Brasil que tanto precisava do seu entusiasmo e senso prático das coisas do ensino.

Antes de aqui instalar-se, esteve durante seis anos como missionário no México, contratado pelas Misiones Culturales Del Valle de Metzquital, uma sociedade civil sem fins lucrativos, que visava a realização de atividades de assistência aos carentes de uma população indígena de 35.000 almas sem grandes esperanças. Os trabalhos manuais feitos artesanalmente rendiam, cada um, cerca de cinqüenta centavos de dólar, o que acarretava uma situação coletiva de extrema pobreza.  Como remediar tal situação tão aflitiva? Leonardo Prota inaugurou uma Escola de Artes e Ofícios incentivando a fabricação de calças, camisas, sapatos, tijolos, de modo que a comercialização desses produtos pudesse proporcionar-lhes rendimentos mais proveitosos... Não contente com tais resultados, Prota, homem dinâmico, ia, a cada seis meses, passar uma temporada nos Estados Unidos, com o propósito de levantar fundos para as atividades das Misiones Culturales. Não se intimidava em participar de programas de rádio, administrar espetáculos com artistas de renome, freqüentar lançamentos internacionais de filmes, percorrer as principais cidades mexicanas, como Monterrey, Guadalajara, Puebla, Pachuca, Mérida e tantas outras, na ânsia de lutar em prol dos tão sofridos índios mexicanos. Para isto precisou manter íntima relação com os políticos influentes, fomentando atividades beneficentes, insuflando a alta sociedade a participar mais assiduamente dos eventos que instituía, com o apoio de colégios católicos e universidades cristãs, procurando atuar também no Centro de Televisão da Cidade do México. Assim é o homem Leonardo Prota, inventivo, ousado, persistente quando empunha a bandeira de uma causa nobre. Do México guarda, ainda hoje, recordações prazerosas do muito que conseguiu nas suas gloriosas andanças...

Na década de 70 encontramos Leonardo Prota no Brasil, à procura de um caminho, após breve convívio com o meio universitário brasileiro. Notou, dadas as circunstâncias observadas, que faltava o desenvolvimento do ensino profissional em nível de curso superior. Ao lado de outros profissionais, tornou-se sócio da Sociedade Civil Ateneu Brasil, sem fins lucrativos, com o propósito de atuar em cursos livres em áreas ainda não regulamentadas por currículo mínimo. Observando a demanda do mercado, naquela época, organizou um curso de Comércio Exterior e outro de Análise de Sistemas. O sucesso foi extraordinário, tanto pela procura como pela constituição de um corpo docente especializado nessas duas áreas. Estando em pleno funcionamento esses cursos, foi solicitado ao Ministério de Educação o enquadramento dos mesmos como cursos regulares de nível superior. Passadas as difíceis etapas fixadas pelo Conselho Federal de Educação, foram aprovados os currículos mínimos propostos, resultando a autorização oficial do Curso de Comércio Exterior como habilitação do Curso de Administração, e o de Análise de Sistemas como Administração em Análise de Sistemas Administrativos.Os dois cursos autorizados e, em seguida, reconhecidos pelo Ministério de Educação e Cultura, foram o início das Faculdades Associadas de São Paulo (FASP), que se tornaram padrão nessas áreas. A partir dessas iniciativas da FASP, proliferaram pelo Brasil afora tais especialidades.

Leonardo Prota, então Diretor da FASP, iniciou pesquisas para atender à criação de novos cursos que fossem ao encontro das mais recentes exigências do mercado. Surgiram, então, os cursos de Análise de Sistemas Econômico-Financeiros, Análise de Sistemas Técnico-Científicos, Informática, Processamento de Dados, etc. Voltado temporariamente para o ensino profissionalizante, Leonardo Prota, um europeu, notou a falta de ensino das humanidades nos candidatos aos cursos de nível superior. Era impressionante a ausência de um mínimo de cultura geral atinente àqueles jovens clamorosamente distantes do legado das gerações passadas, que se ausentava nas mentes da mocidade brasileira. Ainda na década de setenta, Leonardo Prota incentivando, organizando, iniciando vários cursos profissionalizantes, para aprimorar o seu pleno entendimento da nossa brasilidade, freqüentou cursos em nível de especialização como o de Moral e Cívica (1972), Psicologia Social (1978), Estudos Brasileiros (1979), curso de Mestrado em Ciência da Educação (1981), este feito nos Estados Unidos da América do Norte, na City University de Los Angeles.

O Reitor da Universidade Estadual de Londrina, José Carlos Pinotti, amigo e colega de magistério de Leonardo Prota, convidou-o para lecionar nessa Universidade, sendo imediatamente aproveitado no Curso de Especialização em Filosofia, incentivado pelo então coordenador do curso, Ricardo Vélez Rodríguez, a dedicar-se à História do Pensamento Brasileiro. Contratado, inicialmente, foi obrigado a assumir outras disciplinas, mediante concurso público, para em seguida substituir o professor Ricardo Vélez Rodríguez na Coordenação, ficando nessas atividades até 1996. Foi através de Ricardo Vélez Rodríguez que Leonardo Prota teve oportunidade de conhecer o professor Antônio Paim, quem o incentivou a fazer o doutorado na Universidade Gama Filho, defendendo a tese: Imperativo atual: a busca de modelo diversificado de Universidade (1986).

Convém que façamos uma pausa para ressaltar o papel do notável e extraordinário historiador do pensamento brasileiro, Antônio Paim, mestre e amigo daqueles que se voltam para o estudo da filosofia luso-brasileira. Depois que esteve no famoso apartamento do Leme, no Rio de Janeiro, onde residia aquele que a todos nós abria as portas do saber bibliográfico, para a melhor compreensão das obras de filosofia em português, começou uma nova fase na vida acadêmica de Leonardo Prota, que tece elogios e agradecimentos àquele que, de saída, lhe proporcionou o contato com mais de trinta livros sobre os assuntos de sua especialidade. Desde então, sob a orientação e exemplo de Paim, Prota começou a enamorar-se dos estudos filosóficos do Brasil.

O espírito axiológico de Leonardo Prota evidencia-se nos momentos em que, constatada uma necessidade, quer missionária, quer educacional, prontamente começa a estruturar o suprimento daquela lacuna. Se os jovens no Brasil alcançavam o terceiro grau de ensino, carentes dos conhecimentos das humanidades indispensáveis à complementação de uma cultura universitária, associou-se a Antônio Paim e a Ricardo Vélez Rodríguez, e resolveram criar um Curso de Humanidades, que supriria as lacunas do ensino no Brasil.

A formação primordial de Leonardo Prota foi, indiscutivelmente, moldada nos fundamentos pedagógicos de Dom Bosco, secundada pelo reformador do ensino John Dewey. Foi a época das grandes iniciativas educacionais que resultou, no Brasil, no empenho de Anísio Teixeira, fazendo inovações proveitosas com inúmeras reformas educacionais. A tese de Leonardo Prota transformou-se em livro, Um novo modelo de Universidade, publicado pela Editora Convívio em 1987. O que acontecia no Brasil e no mundo era o sentido prático, imediatista, das regras pedagógicas, sob a inspiração norte-americana, estruturada sob os entusiasmos de John Dewey, que optavam por conhecimentos objetivos, práticos, que possibilitassem ao educando um acesso mais rápido aos reclamos do trabalho, em detrimento do manancial maravilhoso do mundo que a cultura detivera como tesouro do passado. O saber humanístico vinha sendo sabotado por esse outro saber pragmático, objetivista, que deixava toda uma geração distanciada daquilo que se fizera importante no correr da história humana. Com este posicionamento, Prota e Paim, ao lado de Ricardo Vélez Rodríguez, estruturaram um curso intensivo que abrangeria todo o patrimônio de humanidades a serem relembradas, na ânsia de proporcionar à mocidade brasileira a sua vocação de uma cultura européia mais abrangente e, não, aquela norte-americana tão pobre de informações gerais sobre o esplendor dos conhecimentos na história do nosso mundo.

A posição de Prota lembra-nos a de Silvestre Pinheiro Ferreira que, vindo de Portugal em 1810, na época em que aqui estava Dom João VI, quis deixar entre nós a base de uma sólida iniciação filosófica. Se a educação brasileira estava macaqueando o pragmatismo norte-americano, seria necessário que se implantassem na mocidade os fundamentos indispensáveis de uma cultura fundamental de humanidades. E foi isto que a ousadia e a perseverança desse missionário de homens e do ensino implantou entre nós. Um Curso de Humanidades divulgado por Prota que se assemelha às Preleções Filosóficas de Silvestre Pinheiro Ferreira. É um monumento de informações daquilo que de mais valioso aconteceu no mundo da cultura. A primeira parte feita em 1987, trata da contribuição grega à sabedoria ocidental; do judaísmo antigo, do período helenístico e do nascimento do Cristianismo. Em outro tópico nos fala do Império Romano e suas instituições. Em seguida, enfoca a Idade Média e a noção de pessoa. Detém-se no Renascimento e assinala as grandes criações da Época Moderna. Ressalta o aparecimento das ciências e da moral social. Descreve a revolução das indústrias, a emergência dos valores urbanos na Época Vitoriana, a formação da mentalidade ocidental.

No setor da política, o Curso de Humanidades abordou vários tópicos, a saber:
  • A experiência política na Grécia Antiga e a contribuição inovadora de Aristóteles.
  • A discussão teórica na Roma Antiga.
  • O redirecionamento do debate teórico na Idade Média.
  • Mudanças nas condições históricas a partir do século XV e o caráter original do Estado Moderno.
  • O pensamento autoritário, a fundação do Liberalismo em Locke e Kant.
  • A democracia e a idéia liberal.
  • Assinala o confronto entre o Liberalismo e a Democracia, e a questão social.
  • Fala sobre uma sociedade próspera.
  • Faz análise crítica das doutrinas e da experiência socialista.
  • Ressalta a temática contemporânea do Liberalismo.
A terceira parte do Curso de Humanidades tratou dos assuntos morais: abordou os principais modelos éticos, deteve-se na Ética a Nicômaco de Aristóteles, falou do nascimento da Moral social, da Kantiana, da Eclética, da Ética Totalitária, da Moral com responsabilidade, e discutiu os principais temas da Moralidade.

A quarta parte desse curso tão ilustrativo de cultura geral ressaltou a religião, a vivência religiosa, a tradição mística grega e judaica, o fenômeno profético na perspectiva weberiana, a religiosidade no seio da tradição cristã primitiva e medieval, a tradição islâmica e a protestante, a problemática da aproximação racional à religiosidade, o mundo contemporâneo diante do fenômeno religioso.
A quinta parte do curso que Prota, Paim e Ricardo Vélez Rodríguez levaram a termo, seria o seu coroamento com os assuntos ligados à Filosofia:
  • Conceituação e estrutura da Filosofia.
  • Platão e Aristóteles.
  • As grandes vertentes da Filosofia Medieval.
  • Os principais temas da Filosofia na Renascença.
  • O idealismo clássico alemão e seus desdobramentos.
  • O conceito de Filosofia Contemporânea e suas vertentes, terminando com a formação das Filosofias Nacionais na Época Moderna, dando um enfoque especial para a Filosofia Brasileira.
Quem ficou responsável pelo Curso de Humanidades foi o Centro de Estudos Filosóficos de Londrina (CEFIL), que foi instituído visando ser uma associação dedicada à pesquisa. Durante seus dez anos de funcionamento, o CEFIL desempenhou papel relevante quanto à difusão das idéias. Organizou e sediou em Londrina os Encontros Nacionais de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira, cujo sétimo da série realizou-se entre 13 e 15 de setembro de 2001. Foram já publicados os Anais desses eventos bem como, em co-edição com a Universidade Estadual de Londrina, vários livros de Filosofia vieram à luz, assim como a Revista Crítica, a Revista de Filosofia Brasileira Paradigmas, que tantos aplausos vem merecendo por parte dos leitores interessados no pensamento nacional.

Com essa última parte do Curso de Humanidades desenvolveu-se em Prota o gosto pelas Filosofias Nacionais, matéria em que, ultimamente, vem se distinguindo. O aparecimento, em 2000, do livro As Filosofias Nacionais e a questão da Universalidade da Filosofia, é o resultado de onze anos de reflexões e debates, ao longo dos seis Encontros Nacionais de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira, uma vez que, já em 1989, no primeiro desses Encontros, foi esboçado o estudo das Filosofias Inglesa, Norte-Americana, Espanhola, Portuguesa, Alemã, Italiana e Francesa, visando estudos que possibilitassem uma conceituação esclarecedora acerca do processo constitutivo dessas manifestações peculiares, em cada cultura específica. Leonardo Prota identificou a Filosofia Espanhola com a problemática da questão humana, que se constitui como pano de fundo das três grandes correntes do pensamento espanhol contemporâneo, que coincidem com as linhas filosóficas pós-kantianas, predominantes em toda a Europa. Tomando como referência os Seminários realizados periodicamente na Universidade de Salamanca, afirma que é o raciovitalismo que expressa melhor essa problemática. Prota deteve-se numa análise mais concentrada em Unamuno e Ortega.

Quanto à Filosofia Italiana, Leonardo Prota a identifica com a expressão de liberdade e independência, durante o período do “Risorgimento”, e da formação da consciência nacional. É o momento político, mas, sobretudo, do espiritualismo, como uma “vigorosa reação contra a filosofia moderna individualista, sensista, crítica, atéia, desorganizadora da vida social, causa da anarquia nos espíritos”. O espiritualismo italiano difere do tradicionalismo francês; não condena em bloco o pensamento moderno, mas insiste sobre “alguns fundamentais problemas suscitados pela filosofia moderna e não resolvidos por ela”, redimensionando os conceitos de Estado, História, Sociedade, substituindo “o conceito de homo oeconomicus pelo conceito de homem sujeito espiritual”.
Leonardo Prota sustenta que o estudo das particularidades das Filosofias Nacionais não deve ser colocado como oposição ou exclusão da filosofia universal, isto porque são as investigações suscitadas pelos problemas filosóficos, em cada nacionalidade, que constituem e formam o pensamento universal. Leonardo Prota vem se empenhando arduamente para que os pensadores nacionais opinem sobre essa frutuosa pesquisa das particularidades nacionais filosóficas. É lógico que, assim agindo, chegaremos às delimitações daquilo que ocorre no Brasil, que Antônio Paim e alguns outros vêm assinalando como o mais típico nas preocupações filosóficas deste país.
Nessa ânsia de querer dar ao estudante brasileiro a recuperação da perdida cultura humanista, Prota confessa tudo dever à compreensão do professor Antônio Paim, que descortinou um novo horizonte a partir das reflexões sobre a experiência do St. John’s College, norte-americano, e da Open University, inglesa, reflexões essas que levaram à criação do Instituto de Humanidades. Por outro lado, tomando como referência a ciência moderna, Antônio Paim orientou Leonardo Prota para aprofundar-se nos dois caminhos pelos quais enveredou a Universidade, de colisão com a ciência ou de incorporação da mesma.

O pós-doutoramento, relacionado à filosofia italiana, foi feito na Universidade de Bari, na Itália, onde Leonardo Prota teve a orientação firme de um profundo estudioso do pensamento italiano, o professor Giuseppe Semerari, infelizmente falecido antes de constatar os resultados que obtiveram as pesquisas de Prota... O ponto de partida da tese defendida foi o de que Hegel, com a sua Fenomenologia do Espírito, estaria utilizando-se da Filosofia Italiana do século XVI; Bertrano Spaventa (1817-1883) já havia assinalado que a Alemanha exportava para a Itália aquilo que já lhe havia pertencido... Prota defendeu a hipótese da grande continuidade do interesse europeu pela meditação italiana, principalmente num dos aspectos em que Hegel enxergava no espírito o que seria o espírito objetivo. Desse ponto de vista, ressaltava a obra de Giambattista Vico (1668-1774), que equivaleria ao momento antecedente ao posicionamento de Hegel.

Quanto à religião, Leonardo Prota assevera que a tentativa de racionalização do misticismo, forçosamente levara à sua negação. Por outro lado, a revalorização da religiosidade, nos tempos atuais, irá nos conduzir a métodos diferentes daqueles defendidos na tradição escolástica. Nesse segundo aspecto, Prota se diz influenciado pelo livro de Rudolf Otto (1869-1937), A idéia do Sagrado, que ressalta ser a vivência religiosa uma transcendência. Os estudos de Mircea Eliade (1907-1986) sustentavam que os fenômenos religiosos podem ser apreendidos à luz do binômio sagrado-profano. Leonardo Prota luta veementemente pela necessidade de que os universitários tenham mais contatos com a cultura geral, dando ênfase à filosofia, que lhes proporcionará unidade e harmonia naquilo que incorporarem como cultura. Por isso, e por muito mais, Prota faz-se líder do movimento que valoriza o meditar brasileiro e é a alma dos Encontros de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira, na hospitaleira cidade de Londrina. Desejamos a Leonardo Prota todos os incentivos e aplausos daqueles que acreditam no futuro e desempenho esclarecido dos filósofos e pensadores do Brasil.

[Esta apresentação foi tirada do ensaio de Jorge Jaime, intitulado: “Leonardo Prota e sua Obra”, publicado nos Anais do 7o. Encontro Nacional de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira, edição preparada por Gilvan Luiz Hansen e Leonardo Prota, Londrina: Edições CEFIL, 2003, pg. 199-208].

Jorge Jaime

Fundador e Presidente Emérito da
Academia Brasileira de Filosofia, Rio de Janeiro
Actualizado: febrero de 2005

2 comentários:

  1. Legou-nos uma extensa e valiosa obra intelectual, pedagógica e material.
    LEONARDO: RIP

    ResponderExcluir
  2. Uma triste perda, uma pessoa amável e um intelectual brilhante.

    ResponderExcluir