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sábado, 20 de maio de 2017

LULA, DILMA, TEMER E OS PECADOS DA CARNE NO FINAL DOS TEMPOS




Vou me acolher à imagem bíblica de Patmos, que deu nome ao mais recente capítulo da Operação Lava-Jato. Patmos, como sabemos, é o nome da ilha onde morou o quarto evangelista, onde escreveu o Apocalipse, aquela obra magnífica que dá fecho à Bíblia. Na visão apocalíptica de São João, as desgraças do povo de Deus correriam por conta da Grande Prostituta, Roma, com o seu poder imperial que tinha se tornado uma instância absoluta, fazendo dos Imperadores seres divinos, portanto inapeláveis pelos simples mortais. Pois bem: o pecado da Grande Rameira é o poder absoluto, descontrolado, que julga sem limites de lei e sem dar satisfações à opinião pública. O quarto evangelista prenunciava, assim, as desgraças que se abateriam sobre os Judeus, primeiro, e, depois, sobre os Cristãos, por obra desse poder leviatânico. 

No nosso caso, a imagem tem tudo a ver com as desgraças que a sociedade brasileira enfrenta a partir do Leviatã tupiniquim, tornado posse de família da casta que nos governa e que esperneia para não largar o osso. 

O grande pecado de Lula, Dilma e Temer consistiu em ter enxergado o poder como algo que não poderiam abandonar em nenhum momento. Convenhamos, claro, que na prática desse pecado houve gradações. Nem se compara em desfaçatez e enormidade o pecado de Temer, de fazer tramoias à margem da lei para garantir a governabilidade e as reformas, em face da verdadeira operação de engenharia política tramada por Lula e Dilma e os seus asseclas, de se apropriarem do Estado para no poder permanecerem indefinidamente, se enriquecendo sem limites com o dinheiro público ardilosamente desviado por empresários corruptos, em obras corruptas aprovadas pelos governantes com procedimentos corruptos e colocando as instituições republicanas no escanteio.

Bom: se é para acabar de vez com essa prática danosa de governar à margem das instituições, e se o atual presidente é considerado pelas autoridades da Magistratura e do Ministério Público como responsável por ter ultrapassado os limites assinalados pela lei nas conversas pouco republicanas com  o Joesley Batista, que o gravou no bate-papo noturno tido com o Presidente no Palácio do Jaburu e que foi identificado pelo próprio Joesley, no depoimento prestado ao Ministério Público, como beneficiário de uma doação fraudulenta de 4,6 milhões de dólares pagos pela JBS, que a lei seja cumprida. A melhor coisa que o presidente Temer poderia fazer seria renunciar, como já aconselhou, entre outras vozes republicanas, o próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Convenhamos que o presentinho recebido por Temer é trocado comparado com o montante recebido da mesma empresa pelo Lula (70 milhões de dólares) e pela Dilma (80 milhões de verdinhas)...Mas delito é delito, não importando para configurar a prática do recebimento de propina o tamanho do presente indevido. A lei é a lei e a Magistratura saberá dosar a pena de cada um de acordo com a quantia do dinheiro do crime praticado.

Mas que a lei seja cumprida para valer e que as dúvidas que ora emergem também sejam dilucidadas, para uma opinião pública perplexa que não aceita meias-verdades. Primeira dúvida: os irmãos Batista ficarão soltinhos da Silva, viajando alegremente entre São Paulo e Nova Iorque, como se não tivessem cometido falcatrua alguma? Como se não tivessem sido os beneficiários mores dos indevidos empréstimos do BNDES aprovados por Lula? Como se não tivessem lucrado bilhões com a desvalorização do Real causada pela bomba que o jornalista Lauro Jardim de O Globo despejou sobre as nossas salas de jantar no horário nobre do noticiário na semana finda (sempre as Organizações Globo como privilegiadas para saberem desse furo que não aconteceria sem a mediação oficial, que deve também ser investigada). Quem, de dentro do Ministério Público, da Polícia Federal ou da Magistratura, passou ao jornalista as informações bombásticas? 

Tudo bem que os felizardos irmãos empresários da carne se acolham à delação premiada e às outras figuras legais que cobrem a colaboração de empresas suspeitas. Mas a opinião pública fica com a pulga atrás da orelha, quando vê os grandes empreiteiros que transgrediram pagando pesadas condenas no xilindró e observa a dupla Batista num ir e vir saltitante e produtivo entre o Brasil e os Estados Unidos, como se nada de irregular tivessem feito nestas terras. Outra dúvida: como foi possível aos irmãos Batista costurar em dias uma delação premiada que outros empresários corruptos gastaram meses a fio para ver aprovada? Não somos bobos e toda essa operação não aconteceria sem o nosso dinheiro. Logo temos direito a saber, tintim por tintim, como os nossos suados reais foram gastos.

A sociedade brasileira é paciente e está pagando um preço caro pelos desmandos dos criminosos que a Operação Lava-Jato tem identificado e está punindo. Mas esperamos que os atuais passos sejam transparentes e não contem meias-verdades. Estamos cansados de sermos uma republiqueta com donos do poder. Não queremos trocar de donos. Queremos, simplesmente, que eles desapareçam e que as tramoias soturnas sejam substituídas simplesmente pelo império forte, transparente e democrático da Lei. Não queremos que surjam guardiões salvadores nem novos messias como já andam pedindo a gritos os militantes da petralhada em ruas e avenidas. Queremos, simplesmente, nos governarmos à sombra da Lei. Isso é democracia.

2 comentários:

  1. Belo texto Ricardo. Poucas vezes vi vc tratar a direita com o mesmo peso que a esquerda. Estamos juntos nos anseios republicanos. Temo que esta Republica já esteja morta. Vamos ver. Abçs

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  2. Comentando com amigos. Diante da situação: monarquia (não sou monarquista) ou Forças Armas ( sou contra pois o poder é civil). Então?

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