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terça-feira, 30 de agosto de 2016

DILMA: UM DISCURSO PARA O PASSADO

Dilma no Senado. (Foto: El País, Madri). 

Nada de novo nas repetitivas intervenções da Presidente suspensa Dilma, tanto no discurso pronunciado na segunda-feira 29 de Agosto no Senado, quanto nas respostas dadas aos Senadores, ao longo do dia e até à noite. Foi a mesma ladainha. Está isenta de culpa. A responsabilidade pelo que aconteceu com ela é dos outros, da Imprensa à Oposição. Ela sempre foi a defensora da democracia brasileira. Não respondeu, a dizer verdade, a praticamente nenhuma das indagações dos Senadores acerca de se cometeu crime de responsabilidade ao avançar sobre o dinheiro da Nação nas famosas "pedaladas fiscais". Como de praxe, a petista "falou para a posteridade", no sentir dela. Mas, na verdade, somente falou para o passado. Esse é o discurso com que hoje os petistas tentam se defender. Fizeram da presença da Dilma no Senado um documentário do passado para apresentar no futuro, em campanhas eleitorais e em reuniões de oposicionistas ao governo Temer. Mas a indagada não explicou coisa nenhuma. Ela está absolutamente isenta de responsabilidade. Agiu como um poste. Ora, a atitude do "poste" deveria ser de remeter qualquer acusação para aquele que o colocou ali, o engenheiro do caos, Lula.

A retórica com que Dilma e a petralhada nos presentearam é de doer. Coisa embolorada. Retórica para brochar qualquer entusiasmo. Lembra aquelas fotografias do Comitê Central do Partido Comunista da extinta URSS. Uma gerontocracia decadente, corrupta, criminosa e repetitiva. A mensagem que as novas gerações podem tirar disso é, com certeza, a que o filósofo francês Gilles Lipovetski tirou quando abandonou a escuta do decadente discurso do Partido Comunista Francês e passou a ler os liberais. Na circunstância, o pensador escreveu: "Chega de Marx: quero Tocqueville!"

O discurso dilmista - e o lulopetralha, em geral - deve ser analisado, como recomendava Weber, "sine ira ac studio" ("sem paixão e com determinação acadêmica"), a fim de alertar as novas gerações contra o canto de sereia dos pregadores do caos. Bons exemplos do que se deve fazer com essa retórica caduca não faltam. Menciono um, recente, contido no magnífico artigo do professor Bolívar Lamounier publicado no domingo passado ("Cinco razões para darmos adeus a Dilma", Folha de S. Paulo, 28-08-2016, pg. A3). 

O professor Lamounier começa assim o seu artigo: "O excesso, não a falta, é o que dificulta enumerar os motivos para o afastamento definitivo de Dilma Rousseff da Presidência. Quem assume tal tarefa se vê diante de duas alternativas: resumi-los numa única sentença, dizendo que ela nunca deveria ter estado lá, ou elaborar um esquema lógico parcimonioso, que permita reduzi-los a um número manejável". O brilhante sociólogo optou pela segunda alternativa. Resume em cinco pontos as falhas do dilmismo e a explicação de por que Dilma deve ser tirada definitivamente da Presidência da República.

1º Ponto: A ilegalidade ou a "posição de ilegitimidade formal em que Dilma se colocou" em decorrência dos crimes de responsabilidade que embasam o impeachment. A respeito, Lamounier frisa: "Como Estado constitucional que é, o Brasil não poderia seguir em frente como se nada tivesse acontecido. Não poderia manter na Presidência um titular que, além de  reiteradamente demonstrar desapreço pelas instituições da democracia representativa, não hesitou a atropelar os limites da legalidade no tocante à administração financeira e à legislação orçamentária".

Os quatro pontos seguintes, no sentir de Bolívar Lamounier, tipificam o que denominou  de "ilegitimidade material, ou substantiva". Menciono eles apenas:

2º Ponto: para se eleger e se reeleger Presidente, Dilma tomou carona numa farsa bolada por Lula, alicerçada na popularidade deste, nos embustes publicitários e nos recursos de origem ilícita.

3º Ponto: "A incompetência gerencial de Dilma e sua interface com a corrupção".

4º Ponto: O despreparo de Dilma que "não decorre apenas de sua incompetência gerencial e de sua incultura econômica, mas de algo que, de certa forma, as precede: a pobreza de sua visão de mundo".

5º Ponto: A saída de Dilma Rousseff da Presidência da República "é a limpeza de terreno imprescindível para que o Brasil apresse a recuperação econômica e comece, o quanto antes, a repensar seu futuro".

É fácil imaginar a resposta que Dilma e o resto da petralhada darão a esses arrazoados do professor Lamounier: eles estão ditados pela lógica da "zelite", que luta até o último momento para preservar intocados os seus privilégios. Esse arrazoado constitui o Leitmotiv do populismo lulista, no qual o apedeuta não é original, pois tal expediente retórico foi, antes, formatado na onda populista latino-americana deflagrada pelo "Socialismo Bolivariano" apregoado pelo finado coronel Chávez, da Venezuela.

O que certamente chama a atenção nas atuais circunstâncias do auto sacramental piegas montado pela petralhada com motivo da deposição da Dilma, é a carona que a esquerda brasileira toma em todo esse conjunto de asneiras, para defender um regime insustentável. A presença do Chico Buarque nas galerias do Senado, ao lado de Lula, para apoiar os arrazoados descosturados da Dilma, é bem significativa. Isso decorre, como mostrou o professor Antônio Paim na sua obra Marxismo e descendência (2008), do fato de que parte significativa da intelectualidade republicana optou pelo discurso cientificista, originado no século XVIII com o Marquês de Pombal, e que foi formatado pelos positivistas. 

Nessa maluca opção pseudointelectual, a intelectualidade da esquerda brasileira não está sozinha: o grosso dos professores franceses na área das ciências sociais também ficou contagiado pelo mesmo mal, que os levou a defender, antes de qualquer raciocínio, um obscuro e vaporoso socialismo como saída para todos os males, prescindindo da paciente observação  e análise dos fatos sociais. É o fenômeno que o historiador Maurice Druon identificou no seu crítico livro intitulado: La France aux ordres d´un cadavre (A França às ordens de um cadáver), no qual mostra que o vírus do positivismo marxista penetrou fundo nos meios docentes, em decorrência do domínio dos comunistas no seio do Ministério da Função Pública, posto em mãos do líder comunista Maurice Thorez a partir de 1946. 

Resta a nós, liberais, bem como aos conservadores, elaborarmos um arrazoado de acordo aos comezinhos princípios de respeito pela realidade e de posição crítica em face dos "messianismos epistemológicos". 

Felizmente um segmento ilustrado da nossa esquerda intelectual (identificado com os social-democratas, de que são dignos representantes Fernando Henrique Cardoso, Bolívar Lamounier, José Serra, Simon Schwartzman, Miguel Reale Jr., Janaína Pascoal e outros) se pôs a salvo, há já várias décadas, desse vírus do cientificismo marxistoide. Talvez, por isso, os petralhas os odeiam tanto.

3 comentários:

  1. Professor, creio que os dois últimos parágrafo de seu texto resume o que resta de esperança para o Brasil... ou seja que conservadores, liberais e sociais-democratas se articulem em torno de uma ideia que possa nos erguer dos escombros deixados pelos governos do PT.

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    1. Obrigado pelo teu comentário, Marquinho. Concordo com a tua análise! Mãos à obra! Abraço grande.

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  2. Meu único medo, com todas as lambanças feitas pelo Senado, é uma chapa Lula e Dilma, para "salvar o Brasil", entretanto, os "avanços sobre os direitos dos trabalhadores também nos causam medos!!

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