Páginas

sexta-feira, 12 de abril de 2013

NÚCLEO DE ESTUDOS IBÉRICOS E IBERO-AMERICANOS: PANORAMA DAS ATIVIDADES REALIZADAS NESTES 10 ANOS



Este cronista em São João Del Rei, durante o IX Colóquio Antero de Quental (2011)


Da esq. para a dir.: Alexandre Ferreira de Souza, Marco Antônio Barroso, Bernardo Goytacazes de Araújo, Ernesto Castro Leal (da Universidade de Lisboa) e Humberto Schubert Coelho, durante o VIII Colóquio Antero de Quental, em S. João del Rei (2009)

Da esq. para a dir.: Leonardo Prota (Instituto de Humanidades), José Maurício de Carvalho (UFSJR), Arsênio Eduardo Corrêa (Instituto de Humanidades) e Antônio Paim (Instituto de Humanidades), durante o VIII Colóquio Antero de Quental, em S. João del Rei (2009) 
No início de 2003 foi criado, no Departamento de Filosofia da UFJF, o Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos. Surgiu em decorrência do interesse de estudantes do Curso de Filosofia pelo estudo do pensamento filosófico brasileiro, bem como do pensamento ibérico e ibero-americano, de forma geral. Considerei que a preocupação dos meus alunos com o estudo da filosofia brasileira estava fora de contexto, depois dos affaires de patrulhamento ideológico que tinham sido protagonizados, entre 1975 e 1985, pelo padre Henrique Cláudio de Lima Vaz e os seus discípulos, da Universidade Federal de Minas Gerais e da Faculdade de Filosofia dos Jesuítas em Belo Horizonte, que tinham tomado conta da comissão de filosofia da CAPES. Efetivamente, à sombra desse patrulhamento ideológico, tinham definhado os vários cursos de pós-graduação em pensamento brasileiro criados, entre 1972 e 1984, na PUC do Rio de Janeiro, na Universidade Gama Filho e na Universidade Federal de Juiz de Fora. Pessoalmente, depois de todos esses fracassos, não cogitava dedicar mais tempo às atividades de pesquisa e estudo sistemático do pensamento brasileiro no seio da Universidade, deixando para uma perspectiva puramente pessoal o aprofundamento nesses temas, ao ensejo da minha participação no Projeto “Ensaio Hispânico”, que o amigo José Luis Gómez Martinez tinha criado e dirigia na Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos. Mas os meus alunos do curso de graduação em filosofia da UFJF, em 2003, não estavam preocupados com o desânimo reinante em face das condições negativas para o estudo da filosofia brasileira. Queriam saber, mesmo, o que havia para ser estudado nessa seara e desejavam enveredar pelo caminho da pesquisa.



Para concretizar esse propósito, programei, contrariando as minhas expectativas pessoais negativas, uma primeira atividade. Foi desenvolvido, no período acadêmico desse ano, o seminário de introdução ao estudo da filosofia brasileira, que teve como fonte para as leituras a coletânea organizada pelo professor José Maurício de Carvalho, da Universidade Federal de São João Del Rei, sob o título: Filosofia brasileira. [1] Em 2004, por sugestão dos meus alunos, foi programado o seminário sobre a filosofia dos mitos indígenas.[2] No seio de uma tendência que se revelaria mais tarde de grande valor heurístico, presente em vários deles, acolhi a sugestão de enveredar pelo estudo das mitologias ameríndias.



De entrada, deixei claro que não queria dar feição burocrática ao grupo de estudos, preferindo que se sedimentasse numa agenda de atividades que efetivamente fossem realizadas, de maneira consensual, pelos seus integrantes. Surgiu, assim, o Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da UFJF. Os alunos fundadores foram: Alexandro Ferreira de Souza, Marco Antônio Barroso, César Rafael Pitt, Humberto Schubert Coelho, Camila dos Santos, Bernardo Goytacazes de Araújo, Júlia Junqueira e Jefferson Silveira Teodoro. Após a fundação do Núcleo, passaram a integrá-lo também o professor Fabrício Oliveira, mestre e pesquisador da Faculdade de Direito da UFJF, Flavio Carlos Octaviano, Paulo Roberto Machado Tostes, Rosilene de Oliveira Pereira (Doutora e docente da Faculdade de Educação), Regina Coeli Barbosa Pereira (Doutora e docente da mesma Faculdade) e os alunos do curso de Filosofia da UFJF: Bruno Maciel, Heloana Cardoso, Leonardo Rosa Maricato dos Santos, Eloiza Mara da Silva, Rosa Maria Marangon, Myriam Toledo Augusto, Sérgio Luna Couto e Sandra Rodrigues Eiterer.



Ao longo dos anos 2005 e 2006, efetivaram-se diversos seminários sobre as mitologias ameríndias, que deram ensejo à inclusão, no currículo do Curso de Filosofia da UFJF, de uma série de “Seminários sobre Temas Especiais de História da Filosofia”, que passaram a ser por mim oferecidos aos alunos da graduação, de forma ininterrupta, entre 2005 e 2010. Os trabalhos ali apresentados pelos alunos passaram a ser publicados na revista eletrônica Ibérica, criada por iniciativa de Alexandro Ferreira de Souza e Marco Antônio Barroso.



Tomei carona na iniciativa editorial dos meus alunos e ajudei a consolidar o Conselho Consultivo da mencionada publicação, convidando figuras exponenciais da pesquisa de história das idéias, no contexto luso-brasileiro e ibérico e ibero-americano. Passaram, assim, a formar parte do mencionado Conselho, Antônio Paim (do Instituto Brasileiro de Filosofia e do Instituto de Humanidades), Leonardo Prota (do Instituto de Humanidades), José Esteves Pereira (da Universidade Nova de Lisboa), Juan Carlos Torchía Estrada (da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e editor do Handbook of Latin American Thought), José Luis Gómez Martinez (criador e coordenador do Projeto Ensayo Hispánico na Universidade da Geórgia em Athens, Estados Unidos), Zdenek Kourim (do Centre de Recherches Scientifiques da França e um dos principais pesquisadores da Filosofia Brasileira nesse país), João Ricardo Moderno (presidente da Academia Brasileira de Filosofia, no Rio de Janeiro), Enrique Menéndez Ureña (da Universidade de Comillas, em Madri), etc.



Tanto pelo estímulo recebido dos membros do Conselho Consultivo quanto pelo empenho dos redatores, a Revista Ibérica consolidou-se, desde a sua fundação em 2005, como publicação de alto nível no terreno da história das idéias, tendo sido inclusive reconhecida pela CAPES como referência para os cursos de pós-graduação da área de ciências humanas. Num país onde as iniciativas culturais morrem rápido, o fato de uma publicação como Ibérica ter atingido mais de cinco anos de existência, é um feito notável. A esta iniciativa bem-sucedida, os meus alunos vieram somar outra: a revista eletrônica Cogitationes, destinada a discutir temas da história da cultura, que atingiu também o reconhecimento da CAPES como revista referencial na área de ciências humanas. Ambas as publicações passaram a ser acolhidas no Portal Sofia, criado e gerido por Alexandre Ferreira de Souza e Marco Antônio Barroso.



Outras realizações importantes do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos (que passou a formar parte, em 2007, do elenco de Núcleos de iniciação científica da UFJF apoiados pelo CNPQ) foram as seguintes: a conferência sobre a significação cultural e histórica da figura de Simón Bolívar no contexto ibero-americano, pronunciada, em Junho de 2003, por José Luis Gómez Martinez, da Universidade de Geórgia; a realização, em Setembro de 2006, do Colóquio de Pesquisadores da Filosofia Brasileira em Minas Gerais (no decorrer do qual lancei o meu livro intitulado: Luz nas trevas: ensaios sobre o Iluminismo, publicado pela editora Ex-Libris de Guarapari-ES); a participação de vários membros do Núcleo no Primeiro Congresso Luso-galaico-brasileiro, realizado na Universidade Católica Portuguesa, no Porto, em Outubro de 2007 (nessa oportunidade, o Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da UFJF passou a formar parte, oficialmente, das entidades organizadoras dos Colóquios “Antero de Quental”); a realização da Semana de Estudos sobre os duzentos anos da vinda da Corte Portuguesa para o Brasil (em Outubro de 2008), a participação de pesquisadores do Núcleo no Colóquio em Homenagem a Miguel Reale, realizado em Outubro de 2009, em Lisboa, pelo Instituto de Filosofia Luso-brasileira, bem como a participação regular dos membros do Núcleo nos Colóquios Luso-brasileiros de Filosofia, realizados pelo mesmo Instituto na Universidade Federal de São João del Rei, entre 2008 e 2011.



Mencionava anteriormente que o estudo dos mitos ameríndios revelou-se idéia de grande valor heurístico entre os membros do núcleo. Pensei, inicialmente, que se tratava de simples curiosidade intelectual que não teria maior continuidade. Estava enganado. Os meus alunos queriam aprofundar mesmo nas raízes pré-racionais da cultura. Descobri isto quando vários deles foram aceitos no programa de pós-graduação em Ciência da Religião da UFJF.



Cursaram, ali, os seus estudos de mestrado e/ou doutorado: César Rafael Pitt, Jefferson Silveira Teodoro, Marco Antônio Barroso (com pesquisas sobre o pensamento de Henri Bergson e sobre a Filosofia da Religião em Benjamin Constant de Rebecque), Alexandro Ferreira de Souza (com pesquisa acerca dos fundamentos filosóficos do conceito de “sagrado” em Rudolf Otto) e Humberto Schubert Coelho (com pesquisa sobre a influência da mística de Jacob Böeme no idealismo transcendental de Kant). Estimulei o trabalho deles com orientação formal (no caso de Marco Antônio Barroso), com indicações temáticas e com ajuda bibliográfica (para o qual foi criada a Biblioteca “Sílvio Romero”). Tentei, em vão, que Marco Antônio Barroso, Alexandro Ferreira de Souza e Humberto Schubert Coelho, os mais destacados entre os meus alunos, fossem integrados ao Departamento de Filosofia, quando, em 2009, foram abertas vagas para contratação de docentes. Mas a falta de uma linha clara de desenvolvimento acadêmico do Departamento terminou impedindo que esses valiosos alunos passassem a integrar, como pós-graduados, o corpo docente.



No que tange às indicações temáticas, estas passaram a girar em torno a itens que eram do interesse dos meus alunos. Mencionarei, apenas para ilustrar, alguns dos temas que foram tratados em leituras e seminários realizados ao longo dos últimos quatro anos: a – Análise dos escritos políticos de Silvestre Pinheiro Ferreira; b – Estudo da concepção ética em autores luso-brasileiros, no decorrer do século XIX; c – Estudo dos conceitos fundamentais presentes nas obras de Alexis de Tocqueville: O Antigo Regime e a Revolução e Lembranças de 1848; d – Análise da literatura ibero-americana, do ângulo da idéia de poder patrimonial presente no universo construído pelos vários autores. Como fruto das reflexões desenvolvidas ao ensejo deste último tema, escrevi o livro intitulado: Análise do patrimonialismo através da literatura latino-americana: o Estado gerido como bem familiar (Rio de Janeiro: Documenta Histórica / Instituto Liberal, 2008). Os trabalhos escritos pelos meus alunos, ao ensejo das atividades descritas, foram publicados nas Revistas Ibérica e Cogitationes, bem como no Portal Defesa, órgão do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, que criei, na UFJF, em 2005.





[1] CARVALHO, José Maurício de (organizador). Filosofia brasileira. Londrina: Edições Humanidades, 2003.


[2] As leituras para este seminário estavam contidas na seguinte antologia: VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo (organizador). Seminário sobre a filosofia dos mitos indígenas. Universidade Federal de Juiz de Fora – Departamento de Filosofia – Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos, 2004, 54 páginas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário