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quinta-feira, 10 de junho de 2010

GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (1770-1831)


Coube a este pensador realizar a complementação da perspectiva transcendental kantiana, colocando-a no contexto da história. Em Kant, embora encontremos referências à problemática da razão no período iluminista, no entanto não aparece tematizada, de forma explícita, a dimensão histórica da mesma. Ora, Hegel realizou a sistematização da perspectiva transcendental, destacando a forma dialética em que o espírito humano perpassa pelos diferentes momentos da sua caminhada histórica.


Hegel nasceu em Stuttgart, em 1770 e faleceu em 1831, em Berlim, desempenhando o cargo de reitor da Universidade. Em 1790, o nosso autor obteve o grau de Magister Philosophiae no Seminário Teológico de Tübingen. Em 1795 publicou a sua primeira obra, a Vida de Jesus. Recomendado por Goethe, Hegel foi nomeado professor extraordinário da Universidade de Jena. Nos anos de 1806-1807 publicou a sua obra-mestra, a Fenomenologia do Espírito. Em 1811 casou-se com Marie Von Tucher. No ano de 1816 foi nomeado para a cátedra de filosofia da Universidade de Heidelberg. Em 1818 foi nomeado catedrático de filosofia da Universidade de Berlim. Em 1821, o nosso autor publicou os seus Princípios da Filosofia do Direito. Em 1829, Hegel foi eleito reitor da Universidade de Berlim.

As principais obras de Hegel são as seguintes:

Vida de Jesus (1795),
Fenomenologia do Espírito (1806-1807),
Ciência da lógica (1812-1813),
Enciclopédia das ciências filosóficas (1817),
Lições de história da filosofia (1817),
Princípios de filosofia do direito (1821),
Lições de filosofia da história (1821),
Lições de filosofia da religião (1821).

Nos seguintes 8 pontos pode ser sintetizada a concepção de Hegel, quanto à forma histórica em que se desenvolve a criação filosófica:

1 – Hegel é o fundador da História da Filosofia. Nas suas Lições de história da filosofia, o mestre alemão escrevia: “A história da filosofia só considera uma filosofia, um só ato, repartido, porém, em graus diferentes. Nunca houve senão uma filosofia, o conhecimento do espírito por ele mesmo” [Hegel, Introdução às Lições de história da filosofia, tradução francesa de Gibelin; tradução ao português de Roland Corbisier, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981, p. 41].

2 – A concepção histórica da filosofia pressupõe as várias manifestações do espírito, ao longo da história da civilização. Nas Lições de história da filosofia Hegel escreve a respeito: “Falar de numerosas filosofias significa dizer que são os graus necessários ao desenvolvimento da razão que se torna consciente dela mesma, do Uno (...). Só há uma razão (...). A filosofia é a razão que se apreende na forma do pensamento, que se torna consciente de modo a objetivar-se, a conhecer-se na forma do pensamento” [Hegel, Introdução às Lições de história da filosofia, ob. cit., p. 41].

3 - As numerosas filosofias são, de um lado, as várias manifestações nacionais da meditação filosófica e, de outro, os vários sistemas. A compreensão dessa totalidade é que constitui o cerne da história da filosofia, ou seja, a apreensão do espírito na sua ação criadora.

4 - Essa apreensão do espírito humano por si mesmo se dá no seio da tomada de consciência de um povo dos seus valores fundantes. É o que Hegel denominava de Volkgeist (Espírito do Povo). As filosofias nacionais surgem e evoluem, no contexto do esforço de um povo na busca da sua identidade. Quando as instituições se degradam, o espírito humano volta sobre si mesmo e desse movimento de identidade emerge uma nova síntese cultural. Compreender esse movimento dialético do espírito, eis a grande tarefa da história da filosofia. A respeito, escrevia o filósofo: “Para que a filosofia surja num povo, é preciso que esse povo comece a abandonar sua vida concreta, a satisfação que lhe proporciona sua vida real (...).  Sócrates e Platão surgiram quando desapareceu o interesse pelas coisas públicas, A realidade, a vida política, não mais lhes trazia satisfação, e a procuraram no pensamento; procuraram, em si mesmos, algo mais perfeito que o grau supremo em relação à constituição política” [Hegel, Introdução às Lições de história da filosofia, ob. cit., p. 38-39].

5 - Os sistemas filosóficos devem ser compreendidos nesse contexto dialético de busca de um povo pela sua identidade. Eles são filhos do seu tempo. A respeito, Hegel escrevia: “Todo princípio do entendimento é unilateral e esse caráter se revela em que o outro princípio lhe é oposto. Ora, esse outro princípio também é unilateral. A totalidade, enquanto unidade que os une, não se encontra neles, não existe, inteiramente, senão no curso da evolução. Assim é que o epicurismo se opõe ao estoicismo, como a substância de Espinosa (enquanto) unidade absoluta se opõe à Mônada de Leibniz, à individualidade concreta. O Espírito que se desenvolve integra também o aspecto exclusivo de um princípio, fazendo aparecer o outro. A segunda forma, forma superior da negação, consiste em unir, em uma totalidade, as diversas filosofias, de tal sorte que nenhuma permaneça em sua independência, mas pareçam todas ser as partes de uma só filosofia” [Hegel, Introdução às Lições de história da filosofia, ob. cit., p. 41].

6 – A história da filosofia abarca dois momentos: um, atrelado à história e que consiste no estudo das manifestações concretas da razão, materializadas nas filosofias nacionais e nos sistemas. Outro, global, identificado com o esforço da razão por se encontrar a si própria, em meio ao processo histórico, mas não se restringindo a um momento determinado. É o que Hegel identifica como “necessidade interna da razão”. A respeito, o nosso autor escrevia: “Recolhemos os pensamentos historicamente tais como se apresentaram nos indivíduos particulares (...). É uma evolução no tempo, mas conforme à necessidade interna da razão. Somente essa concepção é digna da história da filosofia; o verdadeiro interesse dessa história está em nos mostrar que, também aqui, tudo se passou no mundo de acordo com a razão (...). Essa história é o desenvolvimento da razão pensante; seu vir-a-ser deve ter-se passado de acordo com a razão” [Hegel, Introdução às Lições de história da filosofia, ob. cit., p. 43].

7 – Nem a história da filosofia ficaria completa sem o estudo das filosofias nacionais e dos sistemas, nem ficaria completa sem a visão de conjunto que revela a necessidade interna da razão. O filósofo dedicou, ao estudo do primeiro aspecto (filosofias nacionais e sistemas), as suas Lições de história da filosofia. Já para estudar o segundo aspecto (visão de conjunto que revela a necessidade interna da razão), o pensador escreveu o seu tratado fundamental, a Fenomenologia do espírito. A respeito da validade do estudo de ambos os aspectos mencionados, o nosso pensador escrevia o seguinte: “A progressão da filosofia é necessária. Toda filosofia surgiu, necessariamente, na época do seu aparecimento. Toda filosofia surgiu no momento em que devia: nenhuma ultrapassou seu tempo; todas apreenderam, pelo pensamento, o espírito de sua época (...) O conjunto da história da filosofia apresenta uma progressão em si, conseqüente, necessária; é racional em si, determinada por si mesma, pela idéia” [Hegel, Introdução às Lições de história da filosofia, ob. cit., p. 43].

8 -  A dinâmica da filosofia, segundo Hegel
  • Espírito Humano (Volkgeist)
  • Idéia
  • Manifestações do Espírito Absoluto (Arte, Religião, Filosofia)
  • Manifestações do Espírito Subjetivo (Psicologia, Antropologia, Fenomenologia do Espírito)
  • Manifestações do Espírito Objetivo (Moralidade Superior, Direito, Moralidade Jurídica)
  • Crise das Manifestações do Espírito
  • Espírito Humano (Volkgeist)

Um comentário:

  1. Eis o mais genuíno estereotipo que poderia produzir o suicida Sócrates e seu discípulo pederasta Platão. Eis o Carma do Ocidente agigantado pelo debilóide, cujo trabalho serviu de script aos notáveis desempenhos de Marx, Lenin, Hitler e Mussolini. Se isso for filosofia, a insensatez merece galardão.

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